– O REINO DIVIDIDO –

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"Um Modo de Entender - uma nova forma de viver"

“Conhecendo os seus pensamentos, Jesus lhes disse: Todo reino dividido contra si mesmo acaba em ruína e nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma poderá subsistir”.
(Mateus, 12:25)

Na atualidade, a psiquiatria e a psicologia encontram no transtorno obsessivo compulsivo – TOC – um quadro clínico cada vez mais frequente e que atinge as diversas raças, culturas e nacionalidades.

Esse distúrbio, mais conhecido como “mania” ou “esquisitice”, é uma vontade compulsiva que cria pensamentos ambíguos e embaraçosos, de caráter intrusivo e obstinado, os quais ecoam na casa mental num ciclo persistente e desagradável, gerando muita angústia.

Trata-se de doença aflitiva, associada e uma ideia persistente, que constrange o indivíduo a manifestar atos repetitivos, impulsos estranhos ou rituais inexplicáveis com o intuito de produzir uma sensação de alívio ou mesmo reduzir a ansiedade interna.

Esse desconforto emocional pode levar a criatura a ter desde um leve distúrbio até uma incapacitação externa no seu cotidiano.

Segundo os estudiosos do TOC, a “chave mestra” para compreendermos um indivíduo com essa compulsão é entender que o circuito interno que detecta quando há algo errado em sua intimidade está acelerado ou funcionando além do necessário.

Esse circuito, alterado por um problema estrutural e/ou funcional, trabalha continuamente, mesmo quando o erro é corrigido. Deixa o indivíduo em constante apreensão e desconforto, como se alguma coisa sempre estivesse errada com ele.

Desse modo, a criatura se sente constrangida a corrigir, de modo incessante, seus equívocos ou erros, reais ou imaginários.

T.O.C.

Comportamentos hipocondríacos, medo excessivo de contaminação, ideias frequente de alinhamento e simetria de objetos pessoais, preocupação exagerada com limpeza e lavagem, mania de verificação ou checagem, senso patológico de responsabilidade, culpa sem nexo, rituais de repetição, atitudes de colecionar objetos esdrúxulos e sem serventia. Esses são alguns entre os muitos comportamentos ligados às pessoas com o transtorno obsessivo compulsivo.

Elas, involuntariamente, possuem um padrão de raciocínio deste tipo: “Tenho minha própria proteção. Ela é forte e imprescindível para que eu possa socorrer os que estão sob meus cuidados. Tenho que afastar a incessante contaminação do mal que está em toda a parte. Através deste meu ritual, compenso com coisas boas para que as coisas não aconteçam”.

Outras, inconscientemente, alegam desta forma. “Sabe quais são as regras? É só contar e arrumar tudo milimetricamente, verificar sempre todas as coisas para que nada de errado aconteça. Eu sei disso, mas os outros podem não saber da existência do perigo. Preciso sempre fazer bem feito para contrabalançar o mal”.

Para melhor entendermos a atividade funcional do TOC, usaremos como elucidação a rede de células nervosas autônomas da estrutura humana.

Ela é assim chamada porque trabalha de modo inconsciente, não precisando, para tanto, de ordens conscientes.

O sistema autônomo de nervos transmite comandos vitais que mantêm em pleno funcionamento as funções do corpo. Regula os órgãos e os vasos sanguíneos – afetando a respiração, a circulação e o metabolismo – e ativa as ações glandulares e os músculos involuntários.

Se os órgãos internos podem funcionar de modo inconsciente, há situações e momentos em que os nervos sensoriais ativam intensamente o sistema autônomo. Por exemplo, se avistássemos ao longe um leopardo, uma mensagem seria disparada imediatamente para a rede de células nervosas autônomas, responsáveis pelas rápidas adaptações internas, em face de uma circunstância perigosa.

O automatismo nervoso entraria em ação, haveria uma aceleração do sistema respiratório, o coração pulsaria mais rápido, os brônquios se dilatariam, o sangue com maiores quantidades de adrenalina seria lançado aos músculos e outras reações ocorreriam para a preparação de um provável desgaste maior de energia, para a luta ou a fuga.

Agora, imaginemos que uma pessoa acione constantemente esse mecanismo autônomo diante de supostas sensações de ameaças ou de temores fictícios. A impressão de medo ora vem, mas logo em seguida passa, e ressurge novamente. Ela tenta se proteger de um perigo imaginário ou se defender de algo que não vê ou não entende, perpetuando uma atitude de defesa ante uma agressividade irreal.

Esse circuito descompensado é o que chamamos de compulsão repetitiva, pois, quanto mais o comportamento se repete, mais forçado a reproduzir-se.

No TOC, o distúrbio é uma “ruminação mental” onde impera uma constante sensação de erros e equívocos, ocasionando reiteradas correções e verificações cíclicas e aparentemente sem nexo.

Visando à clareza, utilizamos esta alegoria ao comparar dois mecanismos (o orgânico e o psicológico) que possuem certa similitude; no entanto não tivemos nenhuma pretensão de nos julgarmos especialista em qualquer tipo de conhecimento específico ou excepcional relativo ao assunto em pauta.

Um dos pensamentos obsessivos-compulsivos que provocam mais sofrimentos ao doente é aquele cujo conteúdo envolve o medo de causar dano ou morte a si mesmo ou a alguém a quem muito ama.

As pessoas que apresentam esse distúrbio criam rituais e gesticulações para controlar suas sensações, as quais, segundo elas, podem levar à doença ou à morte repentina, sua e de seus entes queridos. Por isso é que cumpre a elas fiscalizar e conter o teor de sua atividade mental, ainda que momentaneamente.

O problema é que essas pessoas supervalorizam a importância de seus pensamentos negativos, a ponto de considerar que tê-los é a mesma coisa que fazê-los acontecer, quando sabemos que simplesmente pensar não quer dizer, de jeito algum, que o que pensou vai se concretizar.

O indivíduo com ideias compulsivas não deveria dar créditos a elas, pois, em verdade, não são seus sentimentos e emoções que vão determinar o que vai acontecer ou não na vida dos outros, haja vista que cada ser recebe o legado de suas próprias experiências do ontem, com possibilidades de alterá-las conforme vivencia as do hoje.

Nossa vontade é força poderosa e determinante somente para nossa vida, não para a vida alheia (da família consanguínea ou da família do coração). Temos conosco o que procuramos, e os outros têm com eles o que procuram. Somos herdeiros de nossos próprios atos e atitudes.

Por essa razão é que Jesus de Nazaré, no episódio da cura de um obsedado, por conhecer a ação e o poder do pensamento sombrio, nos adverte: “Todo reino dividido contra si mesmo acaba em ruína e nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma poderá subsistir”.

Cada um de nós possui um “reino” ou “casa íntima” contendo uma vastidão de sentimentos e emoções, tendências e possibilidades, pensamentos e criações. Portanto, ter na própria intimidade o “reino dividido contra si mesmo” ou a “casa dividida contra si mesmo” equivale a dizer que: transitamos presos ao mundo das oposições, que se divide em dois, o de dentro e o de fora; vivemos temerosos entre erros e acertos, entre o bem e o mal, entre o certo e errado, entre a luz e as sombras, prisioneiros da polaridade.

sabedoria

Diz a sabedoria oriental: “os olhos e ouvidos são saqueadores externos; emoções, desejos, pensamentos são saqueadores internos. Mas, se a nossa mente estiver tranquila, alerta e desperta, poderá transitar serenamente entre esses saqueadores, sem os segregar ou dividir, e eles se transformarão em pacíficos membros do lar”.

Enquanto mantivermos uma luta discriminatória a fim de ter sob controle rigoroso nossos pensamentos, estaremos nos expondo ao risco de potencializá-los e de vê-los transformados em obsessões compulsivas. Não é preciso nem superestimá-los nem subestimá-los. A propósito, não querer pensar em alguém ou em alguma coisa já nos remete mecanicamente a pensar neles.

Os indivíduos que atribuem aos seus estímulos internos (pensamento, sentimento, emoção e outros tantos) um caráter absoluto, soberano e independente, não lhes dando um valor relativo, nem os colocando em contato direto com a realidade, se assemelham à “cidade ou casa dividida contra si mesma“.

Para que não se perpetue a desarmonia ou desequilíbrio na casa íntima é necessário tomarmos posse dos atributos considerados inerentes à alma humana: atividade, unidade, identidade, autonomia e posicionamento.

Sem comando mental, a criatura passa a ser influenciada pelos “saqueadores externos e internos”. É como se não agisse por si mesma, e sim como um ser de comportamento maquinal, executando tarefas ou seguindo ordens, destituído de consciência, raciocínio, vontade ou espontaneidade. Tudo o que sente, pensa e faz parece estar sendo dirigido por algo fora de sua autoridade.

Entreguemos nossas síndromes de ansiedade, medo e transtornos compulsivos nas mãos de Deus. Submetamos nossas enfermidades psíquicas sem causa específica à ação divinal.

Lembremo-nos de que o homem ávido de paz de espírito e de renovação mental esforça-se, confia e espera incessantemente, porque sabe que “a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam”. E, igualmente, não podemos nos esquecer de que, segundo o apóstolo João, devemos crer e jamais temer porque, em síntese “nós somos de Deus”.

“Um Modo de Entender – uma nova forma de viver”
Francisco do Espírito Santo Neto
ditado por HAMMED
 
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Um comentário sobre “– O REINO DIVIDIDO –

  1. Leitura clara, fácil e agradável.
    Foram novos conhecimentos que proporcionaram-me razões para decidir.
    A maioria eu os dissimulava com argumentos justificáveis porém inverídicos.
    Grato Francisco e HAMMED.

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