antes de Cristo

623 a.C. ou 624 a.C

Tales de Mileto (em grego antigo: Θαλῆς ὁ Μιλήσιος) foi um filósofo da Grécia Antiga, o primeiro filósofo ocidental de que se tem notícia. De ascendência fenícia,[carece de fontes] nasceu em Mileto, antiga colônia grega, na Ásia Menor, atual Turquia, por volta de 623 a.C. ou 624 a.C. e faleceu aproximadamente em 556 a.C. ou 558 a.C..

Tales é apontado como um dos sete sábios da Grécia Antiga. Além disso, foi o fundador da Escola Jônica. Considerava a água como sendo a origem de todas as coisas, e seus seguidores, embora discordassem quanto à “substância primordial” (que constituía a essência do universo), concordavam com ele no que dizia respeito à existência de um “princípio único” para essanatureza primordial.

Entre os principais discípulos de Tales de Mileto merecem destaque: Anaxímenes que dizia ser o “ar” a substância primária; eAnaximandro, para quem os mundos eram infinitos em sua perpétua inter-relação.

No Naturalismo esboçou o que podemos citar como os primeiros passos do pensamento Teórico evolucionista: “O mundo evoluiu da água por processos naturais”, disse ele, aproximadamente 2460 anos antes de Charles Darwin. Sendo seguido por Empédoclesde Agrigento na mesma linha de pensamento evolutivo: “Sobrevive aquele que está melhor capacitado” [carece de fontes].

Tales foi o primeiro a explicar o eclipse solar, ao verificar que a Lua é iluminada por esse astro. Segundo Heródoto, ele teria previsto um eclipse solar em 585 a.C. Segundo Aristóteles, tal feito marca o momento em que começa a filosofia. Os astrônomosmodernos calculam que esse eclipse se apresentou em 28 de Maio do ano mencionado por Heródoto.

Se Tales aparece como o iniciador da filosofia, é porque seu esforço em buscar o princípio único da explicação do mundo não só constituiu o ideal da filosofia como também forneceu impulso para o próprio desenvolvimento dela.

A tendência do filósofo em buscar a verdade da vida na natureza o levou também a algumas experiências com magnetismo que naquele tempo só existiam como curiosa atração por objetos de ferro por um tipo de rocha meteórica achado na cidade deMagnésia, de onde o nome deriva.


610 a.C — 547 a.C

Anaximandro (em grego: Ἀναξίμανδρος; 610 — 547 a.C.) foi um geógrafo, matemático, astrônomo, político e filósofo pré-Socrático; discípulo de Tales, seguiu a escola jônica1 . Os relatos doxográficos nos dão conta de que escreveu um livro intitulado “Sobre a Natureza”; contudo, essa obra se perdeu.

Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do Gnômon (relógio solar) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega).

Anaximandro acreditava que o princípio de tudo (o arché das coisas) era o apéiron, isto é, uma matéria infinita da qual todas as outras se cindem. Esse a-peiron é algo insurgido (não surgiu nunca, embora exista) e imortal.

Além de definir o princípio, Anaximandro se preocupa com os “comos e porquês” das coisas todas que saem do princípio.

Ele diz que o mundo é constituído de contrários, que se auto-excluem o tempo todo. O tempo é o “juiz” que permite que ora exista um, ora outro.

Por isso, o mundo surge de duas grandes injustiças: primeiro, da cisão dos opostos que “fere” a unidade do princípio; segundo, da luta entre os princípios onde sempre um deles quer tomar o lugar do outro para poder existir.


588 a.C. – 524 a.C.

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Anaxímenes de Mileto (Grego: Άναξιμένης; 588-524 a.C.) foi um filósofo pré-socrático do Período Arcaico, ativo na segunda metade do século VI a.C..2 3 Foi um dos três filósofos da escola milésia, é identificado como estudante de Anaximandro. Anaxímenes, tal como outros na sua escola de pensamento, praticou o materialismo monista. Esta tendência para identificar uma específica realidade composta de um elemento material constitui o âmago das contribuições que deu fama a Anaxímenes.

Escreveu a obra “Sobre a natureza”, em prosa. Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a luz da Lua é proveniente do Sol.

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571 a.C. – 490 a.C.

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Pitágoras de Samos (em grego antigo: Ὁ Πυθαγόρας ὁ Σάμιος, transliteração: Ho Pythagóras ho Sámios – trad.: “Pitágoras o Samiano”, ou simplesmente Ὁ Πυθαγόρας; Samos, entre ca. 571 a.C. e 570 a.C. — Metaponto, ca. 497 a.C. ou 496 a.C.) foi um filósofo e matemático grego.

A sua biografia está envolta em lendas. Diz-se que o nome significa altar da Pítia ou o que foi anunciado pela Pítia, pois mãe ao consultar a pitonisa soube que a criança seria um ser excepcional.

Pitágoras foi o fundador de uma escola de pensamento grega denominada em sua homenagem de pitagórica. Teve como sua principal mestra, a filósofa e matemática Temstocléia.

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570 a.C. — 460 a.C.

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Xenófanes de Cólofon (em grego antigo: Ξενοφάνης ὁ Κολοφώνιος; 570 a.C. — 460 a.C.) foi um filósofo grego, nascido na cidade de Cólofon, na Jónia (atual costa ocidental da Turquia). Cedo deixou sua cidade para levar vida errante na qualidade de rapsodo. Acredita-se que tenha passado algum tempo na Sicília e também em Eleia. Segundo a tradição, Xenófanes teria sido mestre de Parmênides de Eleia. Escreveu unicamente em versos em oposição aos filósofos jônios como Tales de Mileto,Anaximandro de Mileto e Anaxímenes de Mileto.

É a primeira pessoa conhecida a utilizar a observação de fósseis como evidência para a teoria da história da Terra. Ele verificou a existência de fósseis de peixes e conchas em terras secas, chegando a conclusão que tais locais em outras épocas estavam embaixo da água.

Da sua obra restaram uma centena de versos.

A sua concepção filosófica destaca-se pelo combate ao antropomorfismo, afirmando que se os animais tivessem o dom da pintura, representariam os seus deuses em forma de animais, ou seja, à sua própria imagem.

As suas críticas à religião não tinham como objectivo um ataque pleno à dita mas, “dar ao divino uma pura e elevada ideia: o verdadeiro deus é único, com poder absoluto, clarividência perfeita, justiça infalível, majestada imóvel; que em pouco se assemelha aos deuses homéricos sempre a deambular pelo mundo sob o império das paixões”, ou seja: só existe um deus único, em nada semelhante aos homens, que é eterno, não-gerado, imóvel e puro.

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530 a.C. – 460 a.C.

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Parménides de Eleia (em grego Παρμενίδης ὁ Ἐλεάτης) foi um filósofo grego. Nasceu entre 530 a.C. e 515 a.C. na cidade de Eleia, colônia grega do sul da Magna Grécia (Itália), cidade que lhe deveu também a sua legislação. Segundo Estrabão, foi graças à influência dos filósofos Parménides e Zenão de Eleia que a cidade foi bem governada, e o bom governo garantiu seu sucesso contra os Leucani e os Poseidoniatae, mesmo tendo Eleia território e população menores. Foi um dos representantes da escola eleática juntamente com Xenófanes, Zenão de Eleia e Melisso de Samos.

Parménides escreveu uma só obra, um poema em verso épico, do qual foram preservados fragmentos em citações de outros autores. Os especialistas consideram que a integridade do que conservamos é consideravelmente maior em comparação com o que foi preservado das obras de quase todos os restantes filósofos pré-socráticos, e por isso a sua doutrina pode ser reconstruída com maior precisão.

Apresenta o seu pensamento como uma revelação divina dividida em duas partes:

  • via da verdade, onde se ocupa «do que é» ou «ente», e expõe vários argumentos que demonstram seus atributos: é estranho à geração e corrupção e portanto é inegendrado (incriado) e indestrutível, e é o único que verdadeiramente existe — com o que nega a existência do nada — é homogêneo, imóvel e perfeito.
  • A via das opiniões dos mortais, onde trata de assuntos como a constituição e localização dos astros, diversos fenômenos meteorológicos e geográficos, e a origem do homem, construindo uma doutrina cosmológica completa.

Enquanto que a via da opinião se assemelha às especulações físicas dos pensadores anteriores, como os milésios e ospitagóricos, a via da verdade contém uma reflexão completamente nova que modifica radicalmente o curso da filosofia antiga: considera-se que Zenão de Eleia e Melisso de Samos aceitaram as suas premissas e continuaram o seu pensamento. Os físicos posteriores, como Empédocles, Anaxágoras e os atomistas, procuraram alternativas para superar a crise a que tinham sido atirado o conhecimento do sensível. Também a sofística de Górgias acusa uma enorme influência de Parménides, na sua forma argumentativa.

Tanto a doutrina platônica das formas como a metafísica aristotélica guardam uma dívida incalculável em relação à via da verdade de Parménides. É por esta razão que muitos filósofos e filólogos consideram que Parménides é o fundador da metafísica ocidental.

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535 a.C. – 475 a.C.

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Heraclito (português europeu) ou Heráclito (português brasileiro) de Éfeso (em grego: Ἡράκλειτος ὁ Ἐφέσιος—Hērákleitos ho Ephésios, Éfeso, aprox. 535 a.C. – 475 a.C.) foi um filósofo pré-socrático considerado o “pai da dialética”. Recebeu a alcunha de “Obscuro” principalmente em razão da obra a ele atribuída por Diógenes Laércio, Sobre a Natureza, em estilo obscuro, próximo ao das sentenças oraculares.

Na vulgata filosófica, Heráclito é o pensador do “tudo flui” (panta rei) e do fogo, que seria o elemento do qual deriva tudo o que nos circunda.

De seus escritos restaram poucos fragmentos (encontrados em obras posteriores), os quais geraram grande número de obras explicativas.

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499 a.C. – 428 a.C.

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Anaxágoras de Clazómenas (português europeu) ou Clazômenas (português brasileiro) (em grego antigo: Ἀναξαγόρας, Anaxagoras; ca.500 a.C. — 428 a.C.1 ), filósofo grego do período pré-socrático. Nascido em Clazômenas, na Jónia, fundou a primeira escola filosófica de Atenas, contribuindo para a expansão do pensamento filosófico e científico que era desenvolvido nas cidades gregas da Ásia. Era protegido de Péricles que também era seu discípulo. Em 431 a.C. foi acusado de impiedade e partiu para Lâmpsaco, uma colônia de Mileto, também na Jónia, e lá fundou uma nova escola.

Escreveu um tratado aparentemente pequeno intitulado Sobre a Natureza ou Da Natureza, em que tentava conciliar a existência do múltiplo frente à crítica de Parmênides de Eléia e sua escola, conhecida como “Eleatas”. Parmênides havia concebido o ser como o princípio absoluto de tudo o que é, identificando o ser com o Uno imutável.

Anaxágoras propôs, assim como os pluralistas, um princípio que atendesse tanto às exigências teóricas do “ser” imutável, princípio de tudo, quanto à contestação da existência das múltiplas manifestações da realidade. Esse novo princípio, Anaxágoras chamou homeomerias. As homeomerias seriam as sementes que dão origem à realidade em sua pluralidade de manifestações. Afirmava que o universo se constitui pela ação do Nous (νοῦς), conceito que geralmente é traduzido por inteligência. Segundo o filósofo, o Nous atua sobre uma mistura inicial formada pelas homeomerias, sementes que contém uma porção de cada coisa. Assim, o Nous, que é ilimitado, autônomo e não misturado com nada mais, age sobre estas sementes ordenando-as e constituindo o mundo sensível. Os fragmentos preservados versam sobre: cosmologia, biologia e percepção. Esta noção de causa inteligente, que estabelece uma finalidade na evolução universal, irá repercutir em filósofos posteriores, como Platão e Aristóteles. Influência também exercerá em Leibniz, que aproveitará a idéia de homeomerias.

Anaxágoras aparece ao lado de Pitágoras no quadro Escola de Atenas de Rafael, segurando a tableta com o número triangular1+2+3+4, a sagrada tetractys dos Pitagóricos.

Em 455 a.C., Anaxágoras teorizou que a Lua não passava de um pedaço da Terra que se desprendeu. A maioria de seus contemporâneos estavam convencidos de que a Lua era um deus, por isso sua ideia não teve muitos adéptos.

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490 a.C. – 430 a.C.

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Empédocles (em grego antigo: Ἐμπεδοκλῆς; Agrigento, 495/490 – 435/430 a.C.) foi um filósofo, médico, legislador, professor, mítico além de profeta, foi defensor da democracia e sustentava a idéia de que o mundo seria constituído por quatro princípios:água, ar, fogo e terra.

Tudo seria uma determinada mistura desses quatro elementos, em maior ou menor grau, e seriam o que de imutável e indestrutível existiria no mundo.

Para Empédocles, duas forças fundamentais responsáveis pela manutenção do universo: O AMOR que unia os elementos (raízes) e o ÓDIO que os separava. A morte para ele era simplesmente a desagregação dos elementos. Segundo ele, todos nós fazíamos parte do todo que se renovava em ciclos; reunindo-se (nascimento) e separando-se (morte).

O pensamento de Empédocles talvez influenciará os pensadores da escola atomista.

No Naturalismo esboçou o que podemos citar como os primeiros passos do pensamento teórico evolucionista: “Sobrevive aquele que está mais bem capacitado“, aproximadamente 2300 anos antes de Charles Darwin. Tendo seguido Tales de Mileto na mesma linha de pensamento evolutivo: “O mundo evoluiu da água por processos naturais“.

Na política opôs-se à oligarquia, defendendo a democracia. Cedo virou figura legendária: ele mesmo se atribuía poderes mágicos. Conta a lenda que ele teria se atirado na cratera do Etna, para provar que era um Deus.

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 490 a.C. – 430 a.C.

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Zenão de Eleianota, (em grego antigo: Ζήνων ὁ Ἐλεάτης; cerca de 490/485 a.C.-430 a.C.)1 foi um filósofo pré-socrático da escola eleática que nasceu em Eleia, hoje Vélia, Itália. Discípulo de Parmênides de Eleia, defendeu de modo apaixonado a filosofia do mestre. Seu método consistia na elaboração de paradoxos. Deste modo, não pretendia refutar diretamente as teses que combatia mas sim mostrar os absurdos daquelas teses (e, portanto, sua falsidade). Acredita-se que Zenão tenha criado cerca de quarenta destes paradoxos, todos contra a multiplicidade, a divisibilidade e o movimento (que nada mais são que ilusões, segundo a escola eleática). A citação padronizada usa DK292 para Zenão.

Ao contrário de Heráclito de Éfeso, Zenão exerceu atividade política. Consta que teria participado de uma conspiração contra o tirano local, sendo preso e torturado até a morte.

Aristóteles o considera o criador da dialética.

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490 a.C -420 a.C

Ficheiro:Leucippe (portrait).jpg

Leucipo de Mileto (em grego antigo: Λεύκιππος; primeira metade do século V a.C.) foi um filósofo grego. Tradicionalmente, Leucipo é considerado o mestre de Demócrito de Abdera e, talvez, o verdadeiro criador do atomismo (segundo a tese deAristóteles), que relatava que uma matéria pode ser dividida até chegar em uma pequena particula indivisivel chamada átomo.

Sobre suas origens praticamente nada é conhecido, mas o lugar mais provável de seu nascimento é Mileto na Ásia Menor; em seguida mudou-se para Abdera. Parece ter sido contemporâneo de Anaxágoras de Clazômenas e de Sócrates. A tradição lhe atribui a autoria de um único livro intitulado A grande ordem do mundo, também chamada Grande Cosmologia, um texto muito diferente da Pequena Cosmologia de Demócrito. Talvez tenha escrito um segundo livro, que teria se chamado Sobre o espírito, mas este escrito pode ter sido apenas um capítulo da obra anterior.

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485 a.C. -425 a.C.

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Melisso de Samos (em grego antigo: Μέλισσος ὁ Σάμιος) foi um militar, político, filósofo e poeta grego.

Ele nasceu na ilha de Samos, Mar Egeu, em c.470 a.C..1 Melisso foi um filósofo da Escola eleática, sendo, provavelmente, discípulo de Parmênides.

Provavelmente o filósofo é o mesmo Melisso que Plutarco menciona como comandante da frota de Samos, que derrotou os atenienses em 442 a.C.

Um estadista e comandante naval sâmio que também contribuiu com a filosofia, e produziu influência no atomismo de Leucipo e Demócrito, tornando-se um dos continuadores da escola eleática, os quais tenderam a conciliações. Inicialmente o militar, desempenhou papel de relevância na política grega, como comandante da esquadra naval que derrotou os atenienses de Péricles (441 a. C.). Praticamente este é a única ação que se sabe de sua vida e como filósofo, que tenha atingido o apogeu de sua existência pelos anos posteriores a esta batalha ( 444-441 a. C). Pela sua obra depreende-se que foi mais um polemista e defensor das idéias de Parmênides de Eleia, portanto antipitagórico, e sobretudo contra Empédocles, não se sabe todavia como teria tomado contato com as doutrinas da escola ocidental. Tratou de ajustar os extremismos do eleaticismo com a filosofia jônica, tornando-se responsável pela sistematização dessa doutrina, além de mudar alguns pontos de vista, e estabeleceu que o ser é infinito, tal como é infinito no tempo, ou seja eterno. Seu principal poema foi Sobre o ser ou Sobre a Natureza, do qual se conservaram até nossos dias dez fragmentos, e morreu em lugar incerto. Simplício se referiu a um seu livro, denominando-o Tratado sobre a física ou do ente.

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 480 a.C -410 a.C

Ficheiro:Salvator Rosa - Démocrite et Protagoras.jpg

Protágoras (em grego antigo: Πρωταγόρας; Abdera, c. 480 a.C. — Sicília, c. 410 a.C.) foi um sofista da Grécia Antiga, célebre por cunhar a frase:

O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são.

Tendo como base para isso o pensamento de Heráclito. Tal frase expressa bem o relativismo tanto dos Sofistas em geral quanto o relativismo do próprio Protágoras. Se o homem é a medida de todas as coisas, então coisa alguma pode ser medida para os homens, ou seja, as leis, as regras, a cultura, tudo deve ser definido pelo conjunto de pessoas, e aquilo que vale em determinado lugar não deve valer, necessariamente, em outro. Esta máxima (ou axioma) também significa que as coisas são conhecidas de uma forma particular e muito pessoal por cada indivíduo, o que vai contra, por exemplo, ao projeto de Sócrates de chegar ao conceito absoluto de cada coisa.

Assim como Sócrates, Protágoras foi acusado de ateísmo (tendo inclusive livros seus queimados em uma praça pública), motivo pelo qual fugiu de Atenas, estabelecendo-se na Sicília, onde morreu aos setenta anos.

Um dos diálogos platônicos tem como título Protágoras, onde é exposto um diálogo de Sócrates com o Sofista.

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469 a.C. -399 a.C.

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Sócrates (em grego: Σωκράτης, AFI: [sɔːkrátɛːs], transliteração: Sōkrátēs; Atenas, 469 a.C. – Atenas, 399 a.C.) foi um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga. Creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental, é até hoje uma figura enigmática, conhecida principalmente através dos relatos em obras de escritores que viveram mais tarde, especialmente dois de seus alunos, Platão e Xenofonte, bem como as peças teatrais de seu contemporâneo Aristófanes. Muitos defendem que os diálogos de Platão seriam o relato mais abrangente de Sócrates a ter perdurado da Antiguidade aos dias de hoje.

Através de sua representação nos diálogos de seu estudante, Sócrates tornou-se renomado por sua contribuição no campo da ética, e é este Sócrates platônico que legou seu nome a conceitos como a ironia socrática e o método socrático (elenchus). Este permanece até hoje a ser uma ferramenta comumente utilizada numa ampla gama de discussões, e consiste de um tipo peculiar de pedagogia no qual uma série de questões são feitas, não apenas para obter respostas específicas, mas para encorajar também uma compreensão clara e fundamental do assunto sendo discutido. Foi o Sócrates de Platão que fez contribuições importantes e duradouras aos campos da epistemologia e lógica, e a influência de suas ideias e de seu método continuam a ser importantes alicerces para boa parte dos filósofos ocidentais que se seguiram a ele.

Nas palavras do filósofo britânico Martin Cohen, Platão, o idealista, oferece “um ídolo, a figura de um mestre, para a filosofia. Um santo, um profeta do ‘Deus-Sol’, um professor condenado por seus ensinamentos como herege.”

Para Allan Kardec, no livro O Evangelho segundo o Espiritismo, Sócrates e Platão são precursores da idéia cristã e do espiritismo.

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460 a.C -360 a.C

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Demócrito de Abdera (em grego antigo: Δημόκριτος, Dēmokritos, “escolhido do povo”; 460 a.C. — 370 a.C.) nasceu na cidade de Abdera (Trácia),1 e é tradicionalmente considerado um filósofo pré-socrático. Cronologicamente é um erro, já que foi contemporâneo de Sócrates e, além disso, do ponto de vista filosófico, a maior parte de suas obras (segundo a doxografia) tratou da ética e não apenas da physis (cujo estudo caracterizava os pré-socráticos).

Demócrito foi discípulo e depois sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do fato de ele ter sido o maior expoente da teoria atômica ou do atomismo. De acordo com essa teoria, tudo o que existe é composto por elementos indivisíveis chamados átomos (do grego, “a“, negação e “tomo“, divisível. Átomo= indivisível). Não há certeza se a teoria foi concebida por ele ou por seu mestre Leucipo, e a ligação estreita entre ambos dificulta a identificação do que foi pensado por um ou por outro. Todavia, parece não haver dúvidas de ter sido Demócrito quem de fato sistematizou o pensamento e a teoria atomista. Demócrito avançou também o conceito de um universo infinito, onde existem muitos outros mundos como o nosso.

Embora amplamente ignorado em Atenas durante sua vida, a obra de Demócrito foi bastante conhecida por Aristóteles, que a comentou extensivamente. É famosa a anedota de que Platão detestava tanto Demócrito que queria que todos os seus livros fossem queimados.2 3 Há anedotas segundo as quais Demócrito ria e gargalhava de tudo e dizia que o riso torna sábio,4 5 o que o levou a ser conhecido, durante o renascimento, como “o filósofo que ri” ou “o filósofo hilário”, ou ainda como “o abderita hilário”.

Na Grécia antiga, Protágoras de Abdera teria sido seu discípulo direto e, posteriormente, o principal filósofo influenciado por ele foi Epicuro. No renascimento muitas de suas ideias foram aceitas (por exemplo, Giordano Bruno), e tiveram um papel importante durante o iluminismo. Muitos consideram que Demócrito é “o pai da ciência moderna”.

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445 a.C. – 365 a.C.

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Antístenes (em grego: Ἀντισθένης; Atenas, 445 a.C. — Atenas, 365 a.C.) foi um filósofo grego, pupilo de Sócrates. Aprendeu retórica com Górgias antes de se tornar um ardente discípulo socrático. Adotou e desenvolveu o lado ético dos ensinamentos de seu mestre, advogando uma vida ascética, vivida de acordo com a virtude. Escritores posteriores consideraram-no fundador da filosofia cínica.

Era filho de um ateniense com uma escrava trácia, por isso, não tinha nem o título nem o direito de cidadão ateniense. Nenhuma de suas obras sobreviveu, e de sua produção restaram apenas fragmentos.

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480 a.C – 410 a.C.

Antifonte, o Sofista viveu em Atenas, provavelmente, nas duas últimas décadas do século V a.C. Há uma controvérsia sobre se ele é o mesmo Antifonte (Ἀντιφῶν) do demo ateniense de Ramnunte na Ática (480–411 a.C.), o mais antigo dos dez oradores áticos. Neste artigo eles serão tratados como pessoas distintas.

Um tratado conhecido como Sobre a Verdade, do qual apenas fragmentos restaram, é atribuído a Antifonte, o Sofista. Ele é de grande valor para a teoria política, pois parece ser o precursor da teoria dos direitos naturais. As opiniões expressas nele sugerem que seu autor não poderia ser a mesma pessoa de Antifonte de Ramnunte, uma vez que ele foi interpretado como uma forte afirmação dos princípios igualitários e libertários apropriados à democracia – e, contrário às opiniões oligárquicas de Antifonte de Ramnunte, que foi fundamental no golpe de Estado antidemocrático de 411.2 Foi argumentado que essa interpretação se torna obsoleta à luz de um novo fragmento de texto de Sobre a Verdade descoberto em 1984. Novas evidências supostamente excluem uma interpretação igualitária do texto.3 Porém, este argumento não pode apoiar a texto real dos fragmentos que sobreviveram de Sobre a Verdade, que ataca especificamente as diferenças de classe e nacional como sendo baseadas, não na natureza, mas no preconceito convencional.

Aqueles que nasceram de pais ilustres nós respeitamos e honramos, enquanto que aqueles que vêm de uma casa medíocre nós nem respeitamos nem honramos. Assim nós nos comportamos como bárbaros uns para com os outros. Por natureza, nós todos somos iguais, tanto os bárbaros, quanto os gregos, têm uma origem inteiramente semelhante: para ela é apropriado realizar as satisfações naturais, que são necessárias a todos os homens: todos têm a capacidade de realizar estas, da mesma forma, e em tudo isto nenhum de nós é diferente, quer como bárbaros, ou como gregos; já que todos nós respiramos o ar pela boca e narinas e todos nós comemos com as mãos.

O impulso igualitário desta declaração é inconfundível e está em harmonia com a tendência grega em ver a liberdade como exigindo igualdade. Aristóteles, menciona isso como o consenso sobre a democracia, que defende a igualdade como uma forma de liberdade. Essa conjunção de igualdade com a liberdade seria aplicável tanto aos defensores da democracia, como Péricles ou seus adversários, como Platão. As passagens seguintes confirmam os compromissos fortemente libertários de Antifonte, o Sofista.

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435 a.C. – 355 a.C.

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Aristipo de Cirene (em grego: Αρίστιππος ο Κυρηναίος, transliteração: Arístippos ho Kyrēnaíos; 435 – 355 a.C.), conhecido simplesmente como Aristipo, foi um filósofo grego, discípulo de Sócrates, e fundador da escola cirenaica.

Ganhou a vida lecionando e escrevendo na corte de Dionísio de Siracusa. Do que escreveu, nada restou; nem mesmo fragmentos. Tudo o que se conhece da reflexão filosófica de Aristipo decorre do comentário de terceiros.

Como Sócrates, Aristipo se interessou quase que exclusivamente pela ética. Segundo o filósofo, a vida ética deveria ser praticada para atingir um fim específico que era o gozo de todo prazer imediato. Defendia, porém, um controle racional sobre o prazer para que não se desenvolvesse uma dependência dos prazeres.

Tanto a dor quanto o prazer eram vistos como uma espécie de movimento. O prazer seria um movimento leve e a dor um movimento violento. Já o êxtase, era visto como a ausência tanto de prazer quanto de dor e não era, portanto, nem agradável nem doloroso

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428/427 a.C. – 348/347 a.C.

Ficheiro:Plato Silanion Musei Capitolini MC1377.jpg

Platão (em grego antigo: Πλάτων, transliteração: Plátōn, “amplo”, Atenas, nota 1 428/427, nota 2 – Atenas, 348/347 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental.10 Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Arístocles.

 1 Vida

1.1 Origem

A mãe de Platão era Perictíone, cuja família gabava-se de um relacionamento com o famoso ateniense legislador e poeta lírico Sólon. Perictíone era irmã de Cármides e sobrinha de Crítias, ambas as figuras proeminentes na época da Tirania dos Trinta, a breve oligarquia que se seguiu sobre o colapso de Atenas no final da Guerra do Peloponeso(404–403 a.C). Além do próprio Platão, Aristão e Perictíone tiveram outros três filhos, estes foram Adimanto e Glaucão, e uma filha Potone, a mãe de Espeusipo (então o sobrinho e sucessor de Platão como chefe de sua Academia filosófica). De acordo com A República, Adimanto e Glaucão eram mais velhos que Platão. No entanto, emMemorabilia, Xenofonte apresenta Glaucão como sendo mais novo que Platão.

Aristão parece ter morrido na infância de Platão, embora a data exata de sua morte seja desconhecida . Perictíone então casou-se com Perilampes, irmão de sua mãe que tinha servido muitas vezes como embaixador para a corte persa e era um amigo de Péricles, líder da facção democrática em Atenas.

Em contraste com a sua reticência sobre si mesmo, Platão muitas vezes introduziu seus ilustres parentes em seus diálogos, ou a eles referenciou com alguma precisão: Cármides tem um diálogo com o seu nome; Crítias fala tanto em Cármides quanto em Protágoras e Adimanto e Glaucão têm trechos importantes em A República. Estas e outras referências sugerem uma quantidade considerável de orgulho da família e nos permitem reconstruir a árvore genealógica de Platão. De acordo com Burnet, “a cena de abertura de Cármides é uma glorificação de toda [família] ligação… os diálogos de Platão não são apenas um memorial para Sócrates, mas também sobre os dias mais felizes de sua própria família.

1.2 Infância e juventude

Platão nasceu em Atenas, provavelmente em 427-428 a.C., no sétimo dia do mês Thargêliốn/), cerca/ de um ano após a morte do estadista Péricles, e morreu em 348 a.C. (no primeiro ano da 108ª Olimpíada).

A data tradicional do nascimento de Platão (428/427) é baseada em uma interpretação dúbia de Diógenes Laércio que diz “Quando Sócrates foi embora, Platão se juntou a Crátilo e Hermógenes, que filosofou a maneira de Parmênides. Então, aos vinte e oito anos, Hermodoro diz, Platão foi para Euclides em Megara.” Em sua Sétima Carta, Platão observa que a sua idade coincidiu com a tomada do poder pelos Trinta Tiranos, comentando: “Mas um jovem com idade inferior a vinte seria motivo de chacota se tentasse entrar na arena política”. Assim, a data de nascimento de Platão seria 424/423 a.C.

De acordo com Diógenes Laércio, o filósofo foi nomeado Aristócles como seu avô, mas seu treinador de luta, Aristão de Argos, o apelidou de Platon, que significa “grande”, por conta de sua figura robusta. De acordo com as fontes mencionadas por Diógenes (todos datam do período alexandrino), Platão derivou seu nome a partir da “amplitude” (platytês) de sua eloquência, ou então, porque possuía a fronte (platýs) larga. Estudiosos recentes têm argumentado que a lenda sobre seu nome ser Aristocles originou-se no período helenístico. Platão era um nome comum, dos quais 31 casos são conhecidos apenas em Atenas. A juventude de Platão transcorre em meio a agitações políticas e a desordens devido à Guerra do Peloponeso, a instabilidade política reina na cidade de Atenas que é tomada pela Oligarquia dos Quatrocentos e assim submete-se ao governo dos Trinta Tiranos.

Apuleio nos informa que Espeusipo elogiou a rapidez mental e a modéstia de Platão como os “primeiros frutos de sua juventude infundidos com muito trabalho e amor ao estudo”. Platão deve ter sido instruído em gramática, música e ginástica pelos professores mais ilustres do seu tempo. Dicearco foi mais longe a ponto de dizer que Platão lutou nos jogos de Jogos Ístmicos. Platão também tinha frequentado cursos de filosofia, antes de conhecer Sócrates, primeiro ele se familiarizou com Crátilo (um discípulo de Heráclito, um proeminente filósofo grego pré-socrático) e as doutrinas de Heráclito.

1.3 Afastamento da política e primeira viagem

A execução de Sócrates em 399 abalou Platão profundamente, ele avaliou essa ação do Estado como uma depravação moral e evidência de um sistema político defeituoso.
Platão e Sócrates, representação medieval

Após o término da guerra em Atenas, cerca de 404, auxiliado pelo reinado espartano vitorioso, o terror da Tirania dos Trinta começou, o que incluía parentes de Platão: o primo e o irmão de sua mãe, Crítias e Cármides, participaram do governo, ele foi convidado a participar da vida política, mas recusou porque considerou o então regime criminoso. Mas, a situação política após a restauração da democracia ateniense em 403 também o desagradou, um ponto de viragem na vida de Platão foi a execução de Sócrates em 399, que o abalou profundamente, ele avaliou a ação do Estado contra seu professor, como uma expressão de depravação moral e evidência de um defeito fundamental no sistema político. Ele viu em Atenas a possibilidade e a necessidade de uma maior participação filosófica na vida política e tornou-se um crítico agudo. Essas experiências levaram-no a aprovar a demanda por um estado governado por filósofos.

Depois de 399, Platão foi para Megara com alguns outros socráticos, como hóspedes de Euclides (provavelmente para evitar possíveis perseguições que lhe poderiam sobrevir pelo fato de ter feito parte do círculo socrático). Diógenes Laércio conta “foi a Cirene, juntar-se a Teodoro, o matemático, depois à Itália, com os pitagóricos Filolau e Eurito. E daí para o Egito, avistar-se com os profetas, ele tinha decidido encontrar-se também com os magos, mas a guerras da Ásia o fez renunciar a isso”, é posto em dúvida se Platão foi mesmo ao Egito, há evidências de que a estadia foi inventada no Egito, para aproximar Platão à tradição de sabedoria egípcia.

1.4 Primeira viagem à Sicília

Por volta de 388 Platão empreendeu sua primeira viagem para a Sicília. Em Taranto, Platão conheceu os pitagóricos, e o mais proeminentes e politicamente bem sucedido entre eles o estadista Arquitas que o hospedou e protegeu, a mais famosa fonte da história do resgate de Platão por Arquitas está na Sétima Carta, onde Platão descreve seu envolvimento nos incidentes de seu amigo Dion de Siracusa e Dionísio I, o tirano de Siracusa, Platão esperava influenciar o tirano sobre o ideal do rei-filósofo (exposto em Górgias, anterior à sua viagem), mas logo entrou em conflito com o tirano e sua corte, mesmo assim cultivou grande amizade com Díon, parente do tirano, a quem pensou que este pudesse ser um discípulo capaz de se tornar um rei-filósofo. Dionísio I se irritou tanto com Platão a ponto de vendê-lo como escravo nota 3 a um embaixador espartano de Egina, felizmente tendo sido resgatado por Anicérides de Cirene, que estava em Egina, ou ainda, o navio em retornava foi capturado por espartanos o que o fez se mantido como um escravo.

Este relatos sobre a primeira estadia em Siracusa são em grande parte controversos, os historiadores tradicionais consideram os detalhes do encontro entre Platão e o tirano e posterior ruptura com ceticismo. Em todo caso, Platão teve contato com Dionísio e o resultado foi desfavorável para o filósofo já que sua sinceridade parece ter irritado o governante.

1.5 Fundação da escola e ensino

A Academia de Platão em Atenas
Mosaico em Pompéia, ca. séc. I

Depois de sua primeira viagem à Sicília, por volta de 388 a.C, aos 40 anos, decepcionado com o luxo e os costumes da corte de Dionísio I de Siracusa e de lá é expulso, Platão compra um ginásio perto de Colona, a nordeste de Atenas, nas vizinhanças de um bosque de oliveiras em homenagem ao heroi Academo. Ele amplia a propriedade e constrói alojamentos para os estudantes.

Os membros da Academia não eram estudantes no sentido moderno da palavra, aos jovens, juntavam-se também anciãos; provavelmente todos deviam contribuir para o financiamento das despesas; ademais, o objetivo último da Academia era o saber pelo seu valor ético-político.

Durante duas décadas, Platão assumiu suas funções na Academia e escreveu, nesse período, os diálogos chamados “da maturidade”: Fédon, Fedro, Banquete, Menexêno, Eutidemo, Crátilo; começou também a redação de República.

1.6 Segunda viagem à Sicília

Em 366/367 a.C., com a morte de Dionísio e encorajado por Dion, Platão transmite a direção da Academia a Eudóxio e retorna à Sicília. O velho Dionísio morrera em 367 a.C., logo após ter sabido que sua peça O resgate de Heitor, tinha recebido o primeiro prêmio no festival das Lenaias em Atenas. Seu filho Dionísio II sucedeu-lhe o trono e Dion era seu conselheiro. Dion teve trabalho em convencer Platão a voltar para Siracusa, ele insistiu com argumentos como a paixão do jovem tirano pela filosofia e educação e que a morte do velho tirano poderia ser o “destino divino” necessário para que enfim se realizasse a felicidade de um povo livre sob boas leis. Platão por fim, embarcou em 366 a.C., para sua segunda viagem à Sicília.

No início a influência de Platão sobre Dionísio II teve algum progresso, mas pouco durou, o jovem era um pouco rude e não possuía o vigor mental para aguentar um prolongado tratamento educacional, além de ser, pessoalmente desagradável. Invejoso da influência de Dion e de sua amizade com Platão, o obrigou a se exiliar, Platão então regressou a Atenas.

1.7 Terceira viagem à Sicília

Em 361 a.C, Platão viaja novamente para Siracusa com seus alunos Espeusipo e Xenócrates em um navio enviado por Dionísio II, numa tentativa final de pôr ordem as coisas. Passou quase um ano tentando elaborar algumas medidas práticas para unir os gregos da Sicília em face do perigo cartaginês. No final, a má vontade da facção conservadora provou ser um obstáculo insuperável. Platão conseguiu partir para Atenas em 360 a.C., não sem antes correr algum perigo de vida. Em seguida, Dion recuperou sua posição à força, mas apesar de advertências de Platão, mostrou-se um governante imprudente e acabou assassinado. Ainda assim, Platão incitou os seguidores de Dion a prosseguirem com a antiga política, mas os seus conselhos não foram ouvidos. O destino final da Sicília foi ser conquistada pelos estrangeiros, como Platão previra.

Platão escreveu sobre a morte de seu amigo comparando-o a um navegante que antecipa corretamente uma tempestade mas subestima sua força de destruição: “que eram perversos os homens que o puseram por terra, ele sabia, mas não a extensão de sua ignorância, de sua depravação e avidez.”

1.8 Velhice e morte

Ao regressar em 360 a.C., Platão voltou a ensinar e escrever na Academia permanecendo como um autor ativo até o fim da vida em 348/347 a.C. aos oitenta anos de idade; conta-se que fora sepultado no terreno da Academia, para dentro do muro de demarcação da propriedade, ou ainda no jardim da Academia. Com sua morte a academia passou a ser dirigida por Espeusipo forte simpatizante do aspecto matemático da filosofia de Platão.

2 Obra

Parte de P.Oxy. LII 3679, com trecho daRepública, de Platão.

Houve um período na Idade Média em que quase todas as suas obras eram desconhecidas, mas, antes disso e depois da redescoberta de seus textos (Petrarca no ´seculo XIV tinha um manuscrito de Platão), ele foi lido e tomado como ponto de referência.

2.1 Tradição e autenticidade

Todas as obras de Platão que eram conhecidos na antiguidade foram preservadas, com exceção da palestra sobre o bem, a partir do qual houve um pós-escrito de Aristóteles, se encontra perdida. Há também obras que foram distribuídas sob o nome de Platão, mas possivelmente ou definitivamente não são genuínas, elas também pertencem ao Corpus Platonicum (o conjunto das obras tradicionalmente atribuída a Platão), apesar de sua falsidade ser reconhecida mesmo nos tempos antigos. Um total de 47 obras são reconhecidas por terem sido escritas por Platão ou para o qual ele tomado como o autor.

Corpus platonicum é constituído de diálogos (incluindo Crítias de final inacabado), a Apologia de Sócrates, uma coleção de 13 cartas e uma coleção de definições, o Horoi. Fora do corpus há uma coleção de dieresis, mais duas cartas, 32 epigramas e um fragmento de poema (7 hexâmetros) que com exceção de uma parte desses poemas, não são obras de Platão.

É importante notar que na Antiguidade, vários diálogos considerados como falsamente atribuídos a Platão eram considerados genuínos, e alguns desses fazem parte do Canon de Trásilo, um filósofo e astrólogo alexandrino que serviu na corte de Tibério. Trásilo organizou os Diálogos de modo sistemático em nove grupos, chamados de Tetralogias, cujos escritos foram aceitos como de Platão. Segundo Diógenes Laércio(III, 61), se encontravam na nona tetralogia “uma carta a Aristodemo [de fato a Aristodoro]” (X), duas a Arquitas (IX, XII), quatro a Dionísio II (I, II, III, IV), uma a Hérmias, Erastos e Coriscos (VI), uma a Leodamas (XI), uma a Dion (IV), uma a Perdicas (V) e duas aos parentes de Dion (VII, VIII)”.

2.2 Forma literária

Com exceção de Epístolas e Apologia todas as outras obras não foram escritas em forma de poemas didáticos ou tratados – como eram escritos a maioria dos escritos filosóficos, – mas em forma de diálogo, a Apologia contém passagens ocasionais de diálogos, onde há um personagem principal, Sócrates e diferentes interlocutores em debates filosóficos separados por inserções e discursos indiretos, digressões ou passagens mitológicas. Além disso, outros alunos de Sócrates como Xenofonte, Ésquines, Antístenes, Euclides de Megara e Fédon de Elis têm obras escritas na forma de diálogo socrático (Σωκρατικοὶ λόγοι Sokratikoì logoi).

Platão foi certamente o representante desse gênero literário muito superior a todos os outros e, mesmo, o único representante, pois comenta neles se pode reconhecer a natureza autêntica do filosofar socrático que nos outros escritores degenerou em maneirismos; assim, o diálogo, em Platão é muito mais que um gênero literário, é sua forma de fazer filosofia. Nem todos os trabalhos no Corpus de Platão são diálogos. A Apologia parece ser o relatória da defesa de Sócrates e seu julgamento e Menêxeno é um pronunciamento para funeral. As treze cartas são ditas serem de Platão mas a maioria são rejeitadas pelos pesquisadores modernos como sendo ilegítimas. A Sétima Carta ou Carta VII é uma das mais importantes cuja disputa permanece por dois motivos: (a) oferece detalhes biográficos de Platão e (b) coloca afirmações filosóficas sem paralelos em outros diálogos. Provavelmente a Sétima Carta é uma obra ilegítima e portanto não é uma fonte confiável para a biografia e filosofia de Platão.

2.3 Cronologia

A questão da cronologia ainda continua a gerar opiniões conflitantes. Análises estilométricas dos diálogos demonstram que eles podem ser agrupados em três categorias definidas como obras do período Inicial, Médio e Tardio, embora exista este consenso comum, não há nenhum consenso sobre a ordem que as obras devem figurar em seus respectivos grupos. Outro método usado para determinar a ordem cronológica dos diálogos se baseia na conexão entre os vários trabalhos. O estudiosos têm usado a evidência de pontos de vista filosóficos similares nos diálogos para sugerir uma ordem cronológica interna. As referências textuais dentro dos diálogos também ajudam a construir uma cronologia, ainda há pouquíssimos casos de um diálogo se referir a outro. Finalmente, a cronologia pode ser determinada a partir do testemunho de fontes antigas.

3 Filosofia

Platão, em detalhe da Escola de Atenas, de Rafael Sanzio. Satanza della Segnatura. Palácio Apostólico, Vaticano.

Para Reale, os três grandes pontos focais da filosofia de Platão são a Teoria das Idéias, dos Princípios e do Demiurgo. A obra Fédonengloba todo o quadro da metafísica platônica e enfatiza essas três teorias, mas Platão advertiu os leitores de sua obra sobre a dificuldade existente em compreendê-las.

3.1 Teoria das Ideias

Teoria das Ideias ou Teoria das Formas afirma que formas (ou ideias) abstratas não-materiais (mas substanciais e imutáveis) é que possuem o tipo mais alto e mais fundamental da realidade e não o mundo material mutável conhecido por nós através da sensação. Em uma analogia de Reale, as coisas que captamos com os “olhos do corpo” são formas físicas, as coisas que captamos com os “olhos da alma” são as formas não-físicas; o ver da inteligência capta formas inteligíveis que são as essências puras. As Ideias são as essências eternas do bem, do belo etc. Para Platão há uma conexão metafísica entre a visão do olho da alma e o objeto em razão do qual tal visão não existe. Este “mais real do que o que vemos habitualmente” é descrito em sua Alegoria da caverna.

3.2 Epistemologia

Muitos têm interpretado que Platão afirma — e mesmo foi o primeiro a escrever — que conhecimento é crença verdadeira justificada, uma visão influente que informou o desenvolvimentos futuro da epistemologia. Esta interpretação é parcialmente baseada na uma leitura do Teeteto no qual Platão argumenta que o conhecimento se distingue da mera crença verdadeira porque o conhecedor deve ter uma “conta” do objeto de sua ou sua crença verdadeira. E essa teoria pode novamente ser visto no Mênon, onde é sugerido que a crença verdadeira pode ser aumentada para o nível de conhecimento, se está ligada a uma conta quanto à questão do “por que” o objeto da verdadeira crença é assim definido. Muitos anos depois, Edmund Gettier demonstraria os problemas das crenças verdadeiras justificadas no contexto do conhecimento.

3.3 Dialética

A dialética de Platão não é um método simples e linear, mas um conjunto de procedimentos, conhecimentos e comportamentos desenvolvidos sempre em relação a determinados problemas ou “conteúdos” filosóficos. O papel de dialética no pensamento de Platão é contestada, mas existem duas interpretações principais, um tipo de raciocínio e um método de intuição. Simon Blackburn adota o primeiro, dizendo que a dialética de Platão é “o processo de extrair a verdade por meio de perguntas destinadas a abrir o que já é implicitamente conhecida, ou de expor as contradições e confusões de posição de um oponente”. Uma interpretação semelhante foi colocada por Louis Hartz, que sugere que os elementos da dialética são emprestados a partir de Hegel. De acordo com este ponto de vista, os argumentos contrários melhoraram a partir uns dos outros, e a opinião predominante é formada pela síntese de muitas idéias conflitantes ao longo do tempo. Cada nova idéia expõe uma falha no modelo aceito, e a substância epistemológica do debate se aproxima continuamente da verdade. Hartz é de uma interpretação teleológica no núcleo, em que os filósofos acabarão por esgotar o corpo de conhecimento disponível e, assim, alcançar o “fim da história”. Karl Popper, por outro lado, afirma que a dialética é a arte da intuição para “visualizar os originais divinos, as formas ou idéias, de desvendar o grande mistério por trás do comum mundo das aparências do cotidiano do homem.”

3.4 Ética e justiça

Na República, Platão define a justiça como a vontade de um cidadão de exercer sua profissão e atingir seu nível pré-determinado e não interferir em outros assuntos. Para que a justiça tenha alguma validade, ela terá que ser uma virtude e, portando, contribuidora de modo constitutivo para a boa vida de quem é justo.

Na filosofia de Platão, é possível visualizar duas modalidades de justiça: uma, absoluta, e outra, relativa. A absoluta, ou divina, é a justiça perfeita que se reserva às almas no pós-morte e tem o caráter de recompensar o bem com o bem e o mal com o mal. A justiça relativa é a justiça humana que espelha-se nos princípios da alma e tenta dela se aproximar. Platão situa a justiça humana como uma virtude indispensável à vida em comunidade, é ela que propicia a convivência harmônica e cooperativa entre os seres humanos em coletividade.

3.5 Conceitos

3.5.1 Anima mundi

Considerada por Platão como o princípio do cosmos e fonte de todas as almas individuais, o termo é um conceito cosmológico de uma alma compartilhada ou força regente do universo pela qual o pensamento divino pode se manisfestar em leis que afetam a matéria. O termo foi criado por Platão pela primeira vez na obra República ou ainda na obra Timeu.

3.5.2 Demiurgo[editar | editar código-fonte]

O uso filosófico e o substantivo próprio derivam do diálogo Timeu, a causa do universo, de acordo com a exigência de que tudo que sofre transformação ou geração (genesis) sofre-a em virtude de uma causa. A meta perseguida pelo demiurgo platônico é o bem do universo que ele tenta construir. Este bem é recorrentemente descrito em termos de ordem, Platão descreve o demiurgo como uma figura neutra (não-dualista), indiferente ao bem ou ao mal.

4 A escola platônica e legado

Apesar de sua popularidade ter flutuado ao longo dos anos, as obras de Platão nunca ficaram sem leitores, desde o tempo em que foram escritas. O pensamento de Platão é muitas vezes comparado com a de seu aluno mais famoso, Aristóteles, cuja reputação, durante a Idade Média ocidental tão completamente eclipsada a de Platão que os filósofos escolásticos referiam-se a Aristóteles como “o Filósofo”. No entanto, no Império Bizantino, o estudo de Platão continuou.

Os filósofos escolásticos medievais não tinham acesso à maioria das obras de Platão, nem o conhecimento de grego necessário para lê-los. Os escritos originais de Platão estavam essencialmente perdidos para a civilização ocidental, até que foram trazidos de Constantinopla no século de sua queda, por Gemisto Pletão. Acredita-se que Platão passou uma cópia dos diálogos platônicos para Cosme de Médici, durante o Conselho de Ferrara, quando foi chamado para unificar as Igrejas grega e latina e então foi transferido para Florença onde fez uma palestra sobre a relação e as diferenças de Platão e Aristóteles, Pletão teria assim influenciado Cosme com seu entusiasmo.

Durante a era pré-islâmico, estudiosos persas e árabes traduziram muito de Platão para o árabe e escreveu comentários e interpretações sobre Platão, Aristóteles e obras de outros filósofos Platonistas (ver Al-Farabi, Avicena, Averróis, Hunayn ibn Ishaq). Muitos desses comentários sobre Platão foram traduzidos do árabe para o latim e, como tal, influenciou filósofos escolásticos medievais.

Filósofos ocidentais notáveis ​​continuaram a recorrer a obra de Platão desde aquela época. A influência de Platão tem sido especialmente forte em matemática e ciências. Ele ajudou a fazer a distinção entre a matemática pura e a matemática aplicada, ampliando o fosso entre a “aritmética”, agora chamada de teoria dos números e “logística”, agora chamada de aritmética. Ele considerou logística como apropriado para homens de negócios enquanto os homens de guerra “devem aprender a arte de números ou ele não vai saber como reunir suas tropas”, e a aritmética era apropriada para os filósofos “porque precisa emergir do mar de mudanças e lançar mão do verdadeiro ser”.

Segundo Stephen Körner, o platonismo é tendência natural do matemático , o que pode ser confirmado por nomes destacados de matemáticos que e reconhecem platônicos como Gottlob Frege, Bertrand Russel, A. N. Whitehead, Heinrich Scholz, Kurt Gödel, Alonzo Church, Georg Cantor etc. Partindo de [[Galileu, existe uma extensa tradição do platonismo fisicalista que vai até Werner Heisenberg, Roger Penrose, Frank Tipler, Stephen Hawking e muitos outros.

O austríaco Kurt Gödel, responsável por alguns dos mais importantes resultados da Lógica Matemática do século XX, por exemplo, foi um platonista da velha escola, como Platão, Gödel acreditava na existência independente de formas matemáticas que ele identificou aos conceitos matemáticos, como os de conjuntos, número real etc.

Leo Strauss é considerado por alguns como o principal pensador envolvido na recuperação do pensamento platônico em sua forma mais política e menos metafísica. Profundamente influenciado por Nietzsche e Heidegger, Strauss, no entanto rejeita a condenação de Platão e olha para seus diálogos como uma solução para o que todos os três pensadores reconhecem como “a crise do Ocidente”.

Hobbes considerou Platão como o melhor filósofo da Antiguidade clássica, pela razão de sua filososia ter como como ponto de partida ideias, enquanto que Aristóteles partia de palavras. Para Hobbes, Platão estaria apto a elaborar uma filososia política por evitar conclusões falaciosas acerca do “o que é”, “o que foi”, “o que deveria ser”.

Allan Kardec, no livro O Evangelho segundo o Espiritismo, explica porque Sócrates e Platão são precursores da idéia cristã e do espiritismo.

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413 a.C. – 323 a.C

Ficheiro:Diogenes von Sinope.jpg

Diógenes de Sinope (em grego antigo: Διογένης ὁ Σινωπεύς; Sinope, 404 ou 412 a.C.1 – Corinto, c. 323 a.C.2 ), também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia Antiga. Os detalhes de sua vida são conhecidos através de anedotas (chreia), especialmente as reunidas por Diógenes Laércio em sua obra Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes.

Diógenes de Sinope foi exilado de sua cidade natal e se mudou para Atenas, onde teria se tornado um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Tornou-se um mendigo que habitava as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; diz-se que teria vivido num grande barril, no lugar de uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Eventualmente se estabeleceu em Corinto, onde continuou a buscar o ideal cínico da autossuficiência: uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização. Por acreditar que a virtude era melhor revelada na ação e não na teoria, sua vida consistiu duma campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais do que ele via como uma sociedade corrupta.

Diógenes de Sinope (em grego antigo: Διογένης ὁ Σινωπεύς; Sinope, 404 ou 412 a.C.1 – Corinto, c. 323 a.C.2 ), também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia Antiga. Os detalhes de sua vida são conhecidos através de anedotas (chreia), especialmente as reunidas por Diógenes Laércio em sua obra Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes.

Diógenes de Sinope foi exilado de sua cidade natal e se mudou para Atenas, onde teria se tornado um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Tornou-se um mendigo que habitava as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; diz-se que teria vivido num grande barril, no lugar de uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Eventualmente se estabeleceu em Corinto, onde continuou a buscar o idealcínico da autossuficiência: uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização. Por acreditar que a virtude era melhor revelada na ação e não na teoria, sua vida consistiu duma campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais do que ele via como uma sociedade corrupta.

Muitas anedotas sobre Diógenes referem-se ao seu comportamento semelhante ao de um cão, e seu elogio às virtudes dos cães. Não é sabido se o filósofo se considerava insultado pelo epíteto “canino” e fez dele uma virtude, ou se ele assumiu sozinho a temática do cão para si. Os modernos termos “cínico” e “cinismo” derivam da palavra grega “kynikos“, a forma adjetiva de “kynon“, que significa “cão”.3 Diógenes acreditava que os humanos viviam artificialmente de maneira hipócrita e poderiam ter proveito ao estudar o cão. Este animal é capaz de realizar as suas funções corporais naturais em público sem constrangimento, comerá qualquer coisa, e não fará estardalhaço sobre em que lugar dormir. Os cães, como qualquer animal, vivem o presente sem ansiedade e não possuem as pretensões da filosofia abstrata. Somando-se ainda a estas virtudes, estes animais aprendem instintivamente quem é amigo e quem é inimigo. Diferentemente dos humanos, que enganam e são enganados uns pelos outros, os cães reagem com honestidade frente à verdade.

A associação de Diógenes com os cães foi rememorada pelos Coríntios, que erigiram em sua memória um pilar sobre o qual descansa um cão entalhado em mármore de Paros.

Precedente do anarquismo

O reencontro de Diógenes e de Alexandre.

Nas reflexões desenvolvidas pelo filósofos cínicos pode-se reconhecer importantes princípios do anarquismo ainda na Grécia Antiga. Segundo o historiador inglês Donald R. Dudley, em particular no pensamento de Diógenes podem ser identificados muitos elementos presentes no movimento anarquista da contemporaneidade.5

Em seu artigo “Aristóteles e o Anarquismo” (Aristotle and Anarchism) o filósofo estadunidense David Keyt afirma que as sementes do anarquismo filosófico podem ser mais facilmente encontradas nas ideias de Diógenes de Sinope do que nas de Sócrates. Este mesmo autor confere também a Diógenes a defesa do gérmen do proto-internacionalismo na Antiguidade, uma vez que o próprio Diógenes, refutando todas as identidades vinculadas as cidades estados e povos antigos, e negando assim a imprescindibilidade da pólis (apolis), se definia como cidadão do cosmos (kosmopolitê).6 O peso do pensamento ácrata de Diógenes na filosofia da Antiguidade faz este autor considerar a hipótese de Aristóteles estar em parte reagindo e se contrapondo às ideias de Diógenes quando faz sua defesa da pólis.

Em relação a temática do casamento Diógenes refuta o modelo familiar grego afirmando que as esposas deveriam ser mantidas em comum, não reconhecendo nenhuma legitimidade em qualquer união baseada na coerção, mas somente nas relações que se baseiem na persuasão entre pares.

Keyt apresenta ainda a perspectiva de Diógenes em relação à escravidão. Sua crítica à escravidão estaria focada no caráter de voluntarismo da parte dominada em relação à dominante: escravos sentem necessidade de mestres. Em relação a este tema a posição de Diógenes se aproxima das reflexões apresentadas por Étienne de La Boétie sobre a servidão voluntária. Além de ser outro importante precedente do anarquismo no final do medievo, La Boétie fora a seu tempo tradutor de diversos escritos relacionados aos cínicos, adotando também a metodologia cínica baseada na inventividade, no uso da ironia, em jogos de palavras e paradoxos.

Na casa de um rico não há lugar para se cuspir, a não ser em sua cara.
— Diógenes de Sinope

Da perspectiva apresentada por Roca e Álvarez Diógenes de Sinope pode ser considerado também um predecessor dos happenings como ferramenta de contestação política. Ainda na ótica destes autores, através de suas ações provocativas individuais com as quais contestava toda forma de autoridade (Diógenes adorava ridicularizar Platão enquanto autoridade filosófica) e de sacralidade, Diógenes pode ser considerado um importante precedente da vertente libertária conhecida como anarco-individualismo.

Obra

Talvez em parte por causa de seu comportamento escandaloso, que os escritos de Diógenes caíram no quase total esquecimento. Com efeito, a politeia (a República) escrita por Diógenes ataca numerosos valores do mundo grego, preconizando, entre outros, a antropofagia, a liberdade sexual total, a indiferença à sepultura, a igualdade entre homens e mulheres, a negação do sagrado, a supressão das armas e da moeda e o repúdio à arrecadação em prol da cidade e de suas leis. Por outro lado, Diógenes considerava o amor como sendo absurdo: não se deve apegar-se a outra pessoa.

Síndrome de Diógenes

O nome de Diógenes tem sido aplicado a um distúrbio comportamental caracterizada por auto-negligência involuntária e acumulação de objetos. O distúrbio afeta predominantemente os idosos e não tem relação com a rejeição hercúlea de Diógenes deliberada de conforto material.

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384 a.C. -322 a.C

Ficheiro:Aristotle Altemps Detail.jpg

Aristóteles (em grego antigo: Ἀριστοτέλης, transl. Aristotélēs; Estagira, 384 a.C. — Atenas, 322 a.C.) foi um filósofo grego, aluno dePlatão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Juntamente com Platão e Sócrates(professor de Platão), Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia ocidental. Em 343 a.C. torna-se tutor de Alexandre da Macedónia, na época com 13 anos de idade, que será o mais célebre conquistador do mundo antigo. Em 335 a.C. Alexandre assume o trono e Aristóteles volta para Atenas, onde funda o Liceu.

1 Vida

Aristóteles ensinando Alexandre, o Grande gravura de Charles Laplante

Aristóteles era natural de Estagira, na Trácia, sendo filho de Nicômaco, amigo e médico pessoal do rei macedônio Amintas III, pai de Filipe II. É provável que o interesse de Aristóteles por biologia e fisiologia decorra da atividade médica exercida pelo pai e pelo tio, e que remontava há dez gerações.

Segundo a compilação bizantina Suda, Nicômaco era descendente de Nicômaco, filho de Macaão, filho de Esculápio.

Com cerca de 16 ou 17 anos partiu para Atenas, maior centro intelectual e artístico da Grécia. Como muitos outros jovens da época, foi para lá prosseguir os estudos. Duas grandes instituições disputavam a preferência dos jovens: a escola de Isócrates, que visava preparar o aluno para a vida política, e Platão e sua Academia, com preferência à ciência (episteme) como fundamento da realidade. Apesar do aviso de que, quem não conhecesse Geometria ali não deveria entrar, Aristóteles decidiu-se pela academia platônica e nela permaneceu vinte anos, até a morte de Platão, no primeiro ano da 108a olimpíada (348 a.C.).

Em 347 com a morte de Platão, a direção da Academia passa a Espeusipo que começou a dar ao estudo acadêmico da filosofia um viés matemático que Aristóteles (segundo opinião geral, um não-matemático) considerou inadequado, assim Aristóteles deixa Atenas e se dirige, provavelmente, primeiro a Atarneu convidado pelo tirano Hérmias e em seguida a Assos, cidade que fora doada pelo tirano aos platônicos Erasto e Corisco, pelas boas leis que lhe haviam preparado e que obtiveram grande sucesso.

Durante 347 a.C e 345 a.C, dirige uma escola em Assos, junto com Xenócrates, Erasto e Corisco e depois em 345/344 a.C. conhece Teofrasto e com sua colaboração dirige uma escola em Mitilene, na ilha de Lesbos e lá se casa com Pítias, neta de Hérmias , com quem teve uma filha, também chamada Pítias e Nicômaco. Em 343/342 a.C Filipe IIescolhe Aristóteles como educador de seu filho Alexandre, então com treze anos, por intercessão de Hérmias.

Pouco se sabe sobre o período da vida de Aristóteles entre 341 a.C e 335 a.C, ainda que se questiona o período de tempo da tutela de Alexandre, alguns estimam em apenas dois ou três anos e outros em sete ou oito anos.

Em 335 a.C. Aristóteles funda sua própria escola em Atenas, em uma área de exercício público dedicado ao deus Apolo Lykeios, daí o nome Liceu. Os filiados da escola de Aristóteles mais tarde foram chamados de peripatéticos. Os membros do Liceu realizavam pesquisas em uma ampla gama de assuntos, os quais eram de interesse do próprio Aristóteles: botânica, biologia, lógica, música, matemática, astronomia, medicina, cosmologia, física, história da filosofia, metafísica, psicologia, ética, teologia, retórica, história política, do governo e da teoria política, retórica e as artes. Em todas essas áreas, o Liceu coletou manuscritos e assim, de acordo com alguns relatos antigos, se criou a primeira grande biblioteca da antiguidade.

Em 323 a.C, morre Alexandre e em Atenas começa uma forte reação antimacedônica, em 654 a.C. por causa de sua ligação com Alexandre, Aristóteles foge de Atenas e se dirige a Cálcides, onde sua mãe tinha uma casa, explicando, “Eu não vou permitir que os atenienses pequem duas vezes contra a filosofia”, uma referência ao julgamento de Sócrates em Atenas. Ele morreu em Cálcis, na ilha Eubéia de causas naturais naquele ano. Aristóteles nomeou como chefe executivo seu aluno Antípatro e deixou um testamento em que pediu para ser enterrado ao lado de sua esposa.

2 Campos de estudo

Em 335 a.C. Aristóteles funda sua própria escola em Atenas, em uma área de exercício público dedicado ao deus Apolo Lykeios, daí o nome Liceu.
A escola de Aristóteles, afresco de Gustav Adolph Spangenberg, 1883-1888

A filosofia de Aristóteles dominou verdadeiramente o pensamento europeu a partir do século XII e a revolução cientifica iniciou-se no século XVI, somente onde a filosofia aristotélica foi dominante sobreveio uma revolução científica.

As afirmações científicas de Aristóteles são totalmente desmentidas nos dias de hoje e a principal razão disso é que nos séculos XVI e XVII os cientistas aplicaram métodos quantitativos ao estudo da natureza inanimada, assim a Física e a Química de Aristóteles são irremediavelmente inadequadas em comparação com o trabalhos dos novos cientistas.

Apesar do alcance abrangente que as obras de Aristóteles gozaram tradicionalmente, os acadêmicos modernos questionam a autenticidade de uma parte considerável do Corpus aristotelicum.

2.1 Lógica

A Lógica de Aristóteles, que ocupa seis de suas primeiras obras, constitui o exemplo mais sistemático de filosofia em dois mil anos de história. Sua premissa principal envolve uma teoria de caráter semântico desenvolvida por ele para servir de estrutura para a compreensão da veracidade de proposições. Foi por meio de sua lógica que se estabeleceu a primazia da lógica dedutiva.

Aristóteles sistematizou a lógica, definindo as formas de interferência que eram válidas e as que não eram – em outras palavras, aquilo que realmente decorre de algo e aquilo que só aparentemente decorre; e deu nomes a todas essas diferentes formas de interferências. Por dois mil anos, estudar lógica, significou estudar a lógica de Aristóteles.

A lógica, como disciplina intelectual, foi criada no século IV a. C por Aristóteles. Sua teoria do silogismo constitui o cerne de sua lógica e através dela tenta caracterizar as formas de silogismo e determinar quais deles são válidas e quais não, o que conseguiu com bastante sucesso. Como primeiro passo no desenvolvimento da lógica, a teoria do silogismo foi extremamente importante.

2.2 Física

Aristóteles não reconhecia a ideia de inércia, ele imaginou que as leis que regiam os movimentos celestes eram muito diferentes daquelas que regiam os movimentos na superfície da Terra, além de ver o movimento vertical como natural, enquanto o movimento horizontal requeriria uma força de sustentação. Ainda sobre movimento e inércia, Aristóteles afirmou que o movimento é uma mudança de lugar e exige sempre uma causa, o repouso e o movimentos são dois fenômenos físicos totalmente distintos, o primeiro sendo irredutível a um caso particular do segundo. No livro II, Do Céu, ele afirma explicitamente que quando um objeto se desloca para seu estado natural o movimento não é causado por uma força, assim ele afirma que o movimento daquilo que está no processo de locomoção é circular, retilíneo ou uma combinação dos dois tipos.

2.3 Ótica

Na época de Aristóteles, a ótica matemática era ainda uma disciplina nova, contrariamente às outras matemáticas e especialmente à geometria, ele faz recorrentes referências àcor, à sua “unidade” e à sua constituição, nos mesmos contextos em que se fala de outros setores do real que pertencem a outras ciências matemáticas, e do que neles é unidade.

Aristóteles fez objeções à teoria de Empédocles e ao modelo de Platão que considerava que a visão era produzida por raios que se originavam no olho e que colidiam com os objetos então sendo visualizados. Ao refutar as teorias então conhecidas, ele formulou e fundamentou uma nova teoria, a teoria da transparência: a luz era essencialmente a qualidade acidental dos corpos transparentes, revelada pelo fogo.

Aristóteles sugeria que a ótica contempla uma teoria matemático-quantitativa da cor, que corresponde a uma teoria da medição da luz, assim ele afirma que a luz não era uma coisa material mas a qualidade que caracterizava a condição ou o estado de transparência: “Uma coisa se diz invisível porque não tem cor alguma, ou a tem somente em grau fraco”

2.4 Química

Os quatro elementos fundamentais segundo Aristóteles

Enquanto Platão, seu mestre, acreditava na existência de átomos dotados de formas geométricas diversas, Aristóteles negava a existência das partículas e considerava que o espaço estava cheio de continuum, um material divisível ao infinito.

Sua obra Meteorologia, sintetiza suas ideias sobre matéria e química, usando as quatro qualidades da matéria e os quatro elementos, ele desenvolveu explicações lógicas para explicar várias de suas observações da natureza. Para Aristóteles a matéria seria formada, não a partir de um único, mas por quatro elementos: terra, água, ar e fogo, mas existiria sim um substrato único para toda a matéria, mas que seria impossível de isolar – serviria apenas como um suporte que transmite quatro qualidades primárias: quente, frio, seco e úmido. A fundação da Alquimia se baseou nos ensinamentos de Aristóteles, curiosamente ele afirmou que as rochas e minerais cresciam no interior da Terra, assim como os humanos, os minirais tentavam alcançar um estado de perfeição através do processo de crescimento, a perfeição do mineral seria quando ele se torna-se ouro.

2.5 Astronomia

Aristóteles concorda com seu mestre (Platão) em considerar a astronomia uma ciência matemática em sentido pleno, não menos do que a geometria, ele também concordava que os movimentos estudados pela astronomia, como diz a A República, não se percebem “com a vista”.

O cosmos aristotélico é apresentado como uma esfera gigantesca, porém finita, à qual se prendiam as estrelas, e dentro da qual se verificava uma rigorosa subordinação de outras esferas, que pertenciam aos planetas então conhecidos e que giravam em torno da Terra, que se manteria imóvel no centro do sistema (sistema geocêntrico).

2.6 Biologia

Considerado o fundador das ciências como uma disciplina, Aristóteles deixou obras naturalistas como História dos AnimaisAs partes dos animaisA geração dos animais e opúsculos como Marcha dos animaisMovimentos dos animais e Pequeno tratado de história natural e muitas outras obras sobre anatomia e botânica que se perderam e tratavam sobre o estudo de cerca de 400 animais que buscou classificar, tendo dissecado e cerca de 50 deles. Também realizou observações anatômicas, embriológicas e etológicas detalhadas de animais terrestres e aquáticos (moluscos e peixes), fez observações sobre cetáceos e morcegos. Embora suas conclusões sejam muitas vezes equivocadas atualmente, sua obra não deixa de ser notável. Seus escritos de biologia e zoologia correspondem a mais de uma quinta parte de sua obra, nelas trabalha sobre a noção de animal, a reprodução, a fisiologia e a classificação.

Segundo alguns cientistas da atualidade, Aristóteles teria “descoberto” o DNA, por ele identificar a forma, isto é, o eidos preexistente no pai que é reproduzido na prole.

Aristóteles foi quem iniciou os estudos científicos documentados sobre peixes sendo o precursor da ictiologia (a ciência que estuda os peixes), catalogou mais de cem espécies de peixes marinhos e descreveu seu comportamento. É considerado como elemento histórico da evolução da piscicultura e da aquariofilia, separou mamíferos aquáticos de peixes e sabia que tubarões e raias faziam parte de grupo que chamou de Selachē (Chondrichthyes).

O papel da mulher

A análise sobre a procriação de Aristóteles descreve um elemento masculino ativo, animante trazendo vida a um elemento do sexo feminino inerte e passivo. Por este motivo, as feministas acusam Aristóteles de misoginia e sexismo. No entanto, Aristóteles deu igual peso para a felicidade das mulheres assim com dos homens e comentou em sua obra A Retórica que uma sociedade não pode ser feliz a menos que as mulheres também estejam felizes. Sobre as mulheres, ainda disse que eram totalmente incapazes de serem amigas, e ele com certeza não esperava que a esposa se relacionasse com o marido em nível de igualdade.

A homossexualidade

Visto não contribuir para a fundação de famílias, Aristóteles tinha a homossexualidade em conta de desperdício, não apenas inútil, mas até perigoso. Porém, isso não significa que o a condenava sempre em toda parte, ele tomou em consideração as circunstancia em que era praticada, assim, em Creta, onde havia um problema de superpopulação, a relação entre o mesmo sexo era difundida, ele propôs que esse tipo de relação fosse regulamentada e tolerada pelo Estado, a fim de contornar a superpopulação, pois a ilha dispunha de poucos recursos. Em um fragmento sobre amor físico, embora referindo-se ao tema com indulgência, parece ter feito distinção entre a homossexualidade congênita anormal e o vício homossexual adquirido.

2.7 Metafísica

Platão e Aristóteles na Escola de Atenas(1509-1510), fresco de Rafael Sanzio, naStanza della Segnatura, nos Museus Vaticanos

O termo Metafísica não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era chamado por Aristóteles de “filosofia primeira”, sendo por isso identificada com a teologia.

Não é fácil discutir a metafísica de Aristóteles, em parte porque está profusamente espalhada por toda a obra, e em parte por uma certa ausência de uma exposição bem detalhada.

A Metafísica de Aristóteles, é em essência, uma modificação da Teoria das ideias de Platão. Grande parte dessa obra parece uma tentativa de moderar as muitas extravagâncias de Platão. Seus dois principais aspectos são a distinção entre o “universal” e a mera “substância” ou “forma particular” e a distinção entre as três substâncias diferentes que formar a realidade cada uma com sua essência fundamental.

2.8 Psicologia

Na medida em que se ocupa das mais elaboradas entidades naturais, a psicologia foi considerada também o ápice da filosofia natural de Aristóteles. A palavra psychê (de que deriva nosso termo psicologia) costumar ser traduzida como “alma”, e sobre a rubricapsyche Aristóteles de fato inclui as características dos animais superiores que pensadores posteriores tendem a a associar com a alma. Objeto geral da psicologia aristotélica é o mundo animado, isto é, vivente, que tem por princípio a alma e se distingue essencialmente do mundo inorgânico, pois, o ser vivo diversamente do ser inorgânico possui internamente o princípio da sua atividade, que é precisamente a alma, forma do corpo.

Muitas da hipóteses de Aristóteles sobre a natureza da lembrança e do esquecimentos deram origem a grande número de experimentos na área da aprendizagem. Sua doutrina da associação afirmava que a memória é facilitada quer pela semelhança e dessemelhança de um fato atual e um passado, quer por sua estreita relação no tempo e espaço.

Sua obra De Anima (Sobre a Alma) trata-se do primeiro objetivo em larga escala para estudar a psicologia. Muitas das questões que levanta continuam por responder até hoje, e ainda são objeto de exame. Aristóteles formulou teorias sobre desejos, apetites, dor e prazer, reações e sentimentos. Sua doutrina da catarse ensinava, por exemplo que os temores podem ser transferidos ao herói da tragédia – ideia que muita mais tarde veio formar uma das teses da psicanalise e da terapia do jogo.

2.9 Ética

Alguns vêem Aristóteles como o fundador da Ética, o que se justifica desde que consideremos a Ética como uma disciplina específica e distinta no corpo das ciências. Em suas aulas, Aristóteles fez uma análise do agir humano que marcou decisivamente o modo de pensar ocidental. O filósofo ensinava que todo o conhecimento e todo o trabalho visa a algum bem. O bem é a finalidade de toda a ação. A busca do bem é o que difere a ação humana da de todos os outros animais.

Para Aristóteles, estudamos a ética, a fim de melhorar nossas vidas e, portanto, sua preocupação principal é a natureza do bem-estar humano. Aristóteles segue Sócrates e Platão ao dispor as virtudes no centro de uma vida bem vivida. Como Platão, ele considera as virtudes éticas (justiça, coragem, temperança etc), como habilidades complexas racionais, emocionais e sociais, mas rejeita a ideia de Platão de que a formação em ciências e metafísica é um pré-requisito necessário para um entendimento completo de bem. Segundo ele, o que precisamos, a fim de viver bem, é uma apreciação adequada da maneira em que os bens tais como a amizade, o prazer, a virtude, a honra e a riqueza se encaixam como um todo. Para aplicar esse entendimento geral para casos particulares, devemos adquirir, através de educação adequada e hábitos, a capacidade de ver, em cada ocasião, qual curso de ação é mais bem fundamentada. Portanto, a sabedoria prática, como ele a concebe, não pode ser adquirida apenas ao aprender regras gerais, também deve ser adquirida através da prática. E essas habilidades deliberativas, emocionais e sociais é que nos permitem colocar nossa compreensão geral de bem-estar em prática em formas que são adequados para cada ocasião.

2.10 Retórica

Aristóteles de Francesco Hayez,1811

A retórica de Aristóteles teve uma enorme influência sobre o desenvolvimento da arte da retórica. Não apenas sobre os autores que escrevem na tradição peripatética, mas também os famosos professores romanas de retórica, como Cícero e Quintiliano, frequentemente usaram elementos decorrentes da doutrina aristotélica.

É na obra Retórica de Aristóteles que se assentam os primeiros dados cuja articulação passa a definir a Retórica como a “faculdade de descobrir especulativamente sobre todo dado o persuasivo”.

No proêmio do Livro I de sua Arte Retórica, ele se refere à possibilidade se ter uma técnica da retórica, de um método rigoroso não diferente do que seguem as ciências lógicas, políticas e naturais. É evidente a diferença entre as concepções de Aristóteles sobre a arte da oratória entre o Livro I e o Livro II, enquanto neste último destaca o estudo das paixões, desfazendo a caracterização da retórica como puramente dialética, no Livro I Aristóteles valoriza a função da sedução da alma. A retórica deve ser portanto, demonstrativa e emocional.

2.11 Artes

Aristóteles concedia às artes uma importância valiosa, na medida em que poderiam reparar as deficiências da natureza humana, contribuindo na formação moral dos indivíduos.

2.11.1 Música

Em Política, Aristóteles questiona a participação da música na educação, pois sua associação imediata com o prazer faz com que o autor oponha a música a qualquer atividade, pois esta parece se adequar melhor ao desfrute no tempo livre. No decorre do texto, ele enfatiza que o ensino da música deve ter ênfase na escuta e não à prática instrumental, já que a execução de instrumentos se relaciona aos trabalhos manuais, atividade imprópria para a educação de um homem livre. A obra Problemas constitui uma das mais antigas discussões sobre música, se no livro VII da Política Aristóteles procurou mostrar a importância da música na educação, no livro XIX de Problemas ele levanta questões de várias ordens: referentes à acústica, às escalas, aos intervalos, à voz, aos encordoamentos, aos harmônicos, aos tipos de composição etc, o autor levanta cinquenta problemas e a esses ele mesmo procura responder.

2.11.2 Poética

Aristóteles foi o primeiro filósofo a consagrar todo um tratado, ainda que incompleto, ao exame do fenômeno poético, a Arte Poética. Ele propunha-se a refletir acerca do objeto estético, ou antes, acerca da criação do objeto estético.

Em Arte Poética, o filósofo trata da arte poética a partir de duas perspectivas, a definição da poética como imitação e a apresentação da estrutura da poesia de acordo com suas diferentes espécies. No primeiro caso, reduz a essência da poética à imitação – que crê ser congênita no homem. A sua importância contudo, deriva do fato de que a mimese é capaz de fornecer, ao ser humano , dois elementos essenciais: prazer e conhecimento.

Aristóteles era um apurado colecionador sistemático de enigmas, folclores e provérbios, ele e sua escola tinham um interesse especial nos enigmas da Pítia e estudaram também as fábulas de Esopo.

2.12 Política

A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o fim último do estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios necessários para isso. O estado é um organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro da suprema atividade contemplativa. A política, contudo, é distinta da moral, porquanto esta tem como objetivo o indivíduo, aquela a coletividade. A ética é a doutrina moral individual, a política é a doutrina moral social. Desta ciência trata Aristóteles precisamente na Política, de que acima se falou.

Em Ética a Nicômaco Aristóteles descreve o assunto como ciência política, que ele caracteriza como a ciência mais confiável. Ela prescreve quais as ciências são estudadas na cidade-estado, e os outros – como a ciência militar, gestão doméstica e retórica – caem sob a sua autoridade. Desde que rege as outras ciências práticas, suas extremidades servem como meios para o seu fim, que é nada mais nada menos do que o bem humano.

A escravidão

Aristóteles não nega a natureza humana ao escravo, para ele a escravidão faz parte da própria natureza, de modo que o escravo nasce para ser escravo e é na sua função de escravo que ele realiza finalidade para a qual existe. Ele não sacrifica nada, pois sua natureza não exige mais do que compete na sociedade. Ele discorda da opinião daqueles que pretendem que o poder do patrão é contra a natureza, para ele, a natureza em vista da conservação, criou alguns seres para mandar e outros para obedecer, é ela que dispõe que o ser dotado de previdência mande como patrão, e que o ser, capaz por faculdades corporais execute ordens.

3 Obra

Começo do livro 7 da Metafísica de Aristóteles, traduzido para o latim por Guilherme de Moerbeke. Manuscrito do século 14

De acordo com a distinção que se origina com o próprio Aristóteles, seus escritos são divididos em dois grupos: os “exotéricos” e os “esotéricos”. É difícil para muitos leitores modernos aceitar que alguém pudesse tão seriamente admirar o estilo daquelas obras atualmente disponíveis para nós. No entanto, alguns estudiosos modernos têm advertido que não podemos saber ao certo se o elogio de Cícero foi dirigido especificamente para as obras exotéricas. Alguns estudiosos modernos têm realmente admirado o estilo de escrita concisa encontrado nas obras existentes de Aristóteles.

As obras de Aristóteles que sobreviveram desde a antiguidade através da transmissão de manuscrito medieval são coletados no Corpus Aristotelicum. Esses textos, ao contrário de obras perdidas de Aristóteles, são tratados filosóficos técnicos de dentro da escola de Aristóteles. A referência a eles é feita de acordo com a organização da edição da obra de August Immanuel Bekker (Aristotelis Opera edidit Academia Regia Borussica, Berlin, 1831–1870) pela Academia Real da Prússia , que por sua vez é baseado em classificações antigas dessas obras. Acredita-se que a maior parte de sua obra tenha sido perdida, e apenas um terço de seus trabalhos tenham sobrevivido.

4 Legado

Mais de 2.300 anos depois de sua morte, Aristóteles continua sendo uma das pessoas mais influentes que já viveu. Ele contribuiu para quase todos os campos do conhecimento humano e foi o fundador de muitas áreas novas. De acordo com o filósofo Bryan Magee, “é duvidoso que qualquer ser humano saiba o tanto quanto ele sabia”. Entre inúmeras outras conquistas, Aristóteles foi o fundador da lógica formal e pioneiro no estudo da Zoologia, deixando cada futuro cientista e filósofo antecipadamente em débito consigo por suas contribuições para o método científico. Apesar dessas conquistas, a influência dos erros de Aristóteles é considerada por alguns como tendo sido de grande empecilho para o desenvolvimento da ciência. Bertrand Russell observa que “quase todo o avanço intelectual sério teve de começar com um ataque a alguma doutrina aristotélica”. Russell também se refere à ética de Aristóteles como “repulsiva”, e sobre sua lógica disse ser “definitivamente antiquada como a astronomia ptolomaica”.

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372 a.C. – 285 a.C

Ficheiro:Theophrastus.jpg

Teofrasto (em grego: Θεόφραστος; Eresos, 372 a.C. — 287 a.C.) foi um filósofo da Grécia Antiga, sucessor de Aristóteles na escola peripatética. Era oriundo de Eressos, em Lesbos, seu nome original era Tirtamo, mas ficou conhecido pela alcunha de ‘Teofrasto’, que lhe foi dada por Aristóteles, segundo se diz, para indicar as qualidades de orador.

Depois de ter recebido uma primeira introdução à filosofia em Lesbos, de parte de um Leucipo ou Alcipo, foi para Atenas e conseguiu integrar-se como membro do círculo platónico. Depois da morte de Platão, ligou-se a Aristóteles e provavelmente acompanhou-o a Estagira: a amizade íntima de Teofrasto com Calistenes, o aluno e companheiro de Alexandre Magno, a menção no testamento a uma quinta em Estagira e os repetidos apontamentos sobre a cidade e os museus na História das Plantas são fatos que levam a esta conclusão.

Aristóteles, no testamento, nomeou-o como tutor dos filhos, legando-lhe a biblioteca e os originais dos trabalhos e designando-o como sucesor no Liceu, quando se mudou para Calcis. Eudemo de Rodes também alude a esta situação e diz-se que Aristóxeno ficou ressentido com esta decisão de Aristóteles.

1 Liceu

Teofrasto presidiu à escola peripatética durante trinta e cinco anos e morreu em 287 a.C.. Sob a direção, a escola floresceu admiravelmente — chegando a ter em torno de 2000 estudantes — e quando Aristóteles morreu, Teofrastos adquiriu um jardim próprio, com a ajuda de seu amigo íntimo Demétrio de Faleros.

Menandro, o poeta cômico, foi um dos alunos1 . A popularidade manifestou-se no respeito que lhe tinham Filipe II da Macedónia,Cassandro e Ptolomeu I e pela improcedência de uma acusação de irreligiosidade que fora interposta contra ele. Foi honrado com um funeral público, e “a totalidade da população de Atenas honrou-o grandemente, seguindo o cortejo até à sepultura”, segundo relata Diógenes Laércio.

Pelas listas dos antigos se conclui que as atividades se estenderam a todos os campos do conhecimento contemporâneo. Os escritos diferem provavelmente pouco do tratamento aristotélico dos mesmos temas, embora com detalhes suplementares. Influenciou o tempo como um grande divulgador da ciência. Os escritos mais importantes são dois volumosos tratados botânicos:

Historia plantarum [História das plantas], em nove livros (originalmente dez).
De causis plantarum [Sobre as causas das plantas], em seis livros (originalmente oito).

Estes tratados constituem a mais importante contribuição à ciência botânica de toda a antiguidade até ao Renascimento.

Também nos chegaram fragmentos de outra parte da obra, como uma História da física, um tratado Sobre as pedras, um trabalho Sobre as sensações [De sensibus] e um sobre Metafísica Airoptai, que provavelmente era parte de um tratado sistemático. Alguns fragmentos científicos menores foram compilados nas edições de J. G. Schneider (1818-21) e F. Wimmer (1842-62) e na edição de bolso Analecta Theophrastea.

A obra O carácter merece uma menção à parte. O trabalho consiste num panorama breve, vigoroso e mordaz dos tipos morais, que contém uma valiosa descrição da vida da época. Trata-se, definitivamente, da primeira tentativa de escrever uma sistematização dos escritos de uma sistemática do carácter. O livro foi considerado por alguns especialistas como um trabalho independente; outros inclinam-se para o ponto de vista de que Teofrasto só terá escrito um rascunho, que foi recompilado e editado depois da morte; outros são da opinião que O carácter fazia parte de um trabalho sistemático mais amplo; mas o estilo do livro contradiz esta opinião. Teofrasto teve muitos imitadores nesta maneira de escrever, notavelmente Hall (1608), Sir Thomas Overbury (1614-16), o bispo John Earle (1628) e Jean de La Bruyère (1688), que chegou a traduzir O carácter.

Diógenes Laércio cita entre as frases de Teofrasto esta: “Se és ignorante, comportas-te prudentemente, mas se tens educação, comporta-te estultamente”. Também cita que aos discípulos, que lhe perguntaram qual era a sua última mensagem, respondeu antes de morrer:

Nada tenho a declarar em particular, a não ser que, como a vida demonstra, muitos prazeres são mera aparência. Com efeito, mal começamos a viver e logo morremos. Nada é mais nocivo que a ambição desmedida. Desejo-vos boa sorte, e renunciai à minha doutrina, que custa muitas fadigas, ou dedicai-vos a ela denodadamente, porquanto a glória é grande. A vida proporciona mais decepções que vantagens. Mas, agora que já não é possível deliberarmos sobre a conduta reta, escolheis vós mesmos o que deveis fazer“.

2 Referência aos judeus

Em um dos fragmentos da obra de Teofrasto, De Pietate (Perì Eusebeías), encontramos a seguinte referência aos judeus, que ele entende constituírem uma parte do povo sírio:

Os sírios, de quem os judeus constituem uma parte, até hoje sacrificam vítimas vivas, segundo o seu antigo modo de sacrificar; se alguém nos mandasse sacrificar do mesmo modo, nós nos recusaríamos. Pois eles não comem as vítimas, mas queimam-nas totalmente de noite e, derramando sobre elas mel e vinho, eles rapidamente destroem a oferenda, para que o sol que tudo vê não possa olhar para a coisa terrível. E eles fazem isto jejuando em dias intercalados. Durante todo o tempo, sendo filósofos por raça, eles conversam entre si sobre a divindade e à noite eles observam as estrelas, contemplando-as e rezando para Deus. Eles foram os primeiros a instituir sacrifícios de seres vivos e de si mesmos; mas eles fazem isso por necessidade e não porque gostam“.

Plantas, animais e mesmo seres humanos eram oferecidos à divindade, sendo completamente queimados durante o holocausto (i.e. “cremação”), sacrifício ritualístico praticado no Templo de IHVH, em Jerusalém.

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360 a.C. -270 a.C

 

Pirro de Élis (360 a.C. — 270 a.C.) foi um filósofo grego, nascido na cidade de Élis, considerado o primeiro filósofo cético e fundador da escola que veio a ser conhecida como pirronismo.

Diógenes Laércio, citando Apolodoro de Atenas, diz que ele foi um pintor e que existiam pinturas suas no ginásio de Elis. Posteriormente foi atraído para a filosofia pelas obras de Demócrito, e travou contato com o pensamento dialético da Escola Megárica por intermédio de Bríson, aluno de Estílpon.

Pirro, junto com Anaxarco, viajou com Alexandre, o Grande em suas explorações no oriente, e estudou na Índia com os gimnosofistas e com os Magi na Pérsia. Da filosofia oriental parece ter adotado uma vida de reclusão. Voltando a Elis, viveu pobremente, mas foi muito reconhecido pelos habitantes de Elis e também pelos atenienses, que lhe concederam a cidadania. Suas doutrinas são conhecidas principalmente pelos escritos satíricos de seu pupilo Tímon, o Silógrafo.

Os princípios de sua obra são expressos, em primeiro lugar, pela palavra acatalepsia, que define a impossibilidade de se conhecer a própria natureza das coisas. Qualquer afirmação pode ser contraditada por argumentos igualmente válidos. Em segundo lugar, é necessário preservar uma atitude de suspensão intelectual, ou, como Timon expressa, nenhuma afirmação pode ser considerada melhor que outra. Em terceiro lugar, estes resultados são aplicados na vida em geral. Pirro conclui que, dado que nada pode ser conhecido, a única atitude adequada é ataraxia, “despreocupação”.

A impossibilidade do conhecimento, mesmo em relação à nossa própria ignorância ou dúvida, deve induzir o homem sábio a resguardar-se, evitando o stress e a emoção que acompanha o debate sobre coisas imaginárias. Este ceticismo drástico é a primeira e mais completa exposição de agnosticismo na história do pensamento. Seus resultados éticos podem ser comparados com a tranquilidade ideal dos estóicos e os epicuristas.

O caminho do sábio, diz Pirro, é perguntar-se três questões. Primeiro deve perguntar o que são as coisas e de que são constituídas. Segundo, como estamos relacionados a estas. Terceiro, perguntar qual deve ser nossa atitude em relação a elas. Sobre o que as coisas são, podemos apenas responder que não sabemos nada. Sabemos apenas de sua aparência, mas somos ignorantes de sua substância íntima.

A mesma coisa aparece diferentemente a diferentes pessoas, e assim é impossível saber qual opinião é a correta. A diversidade de opiniões entre os sábios, como entre os leigos, prova isso. A cada afirmação pode-se contrapor outra contraditória, mas com base igualmente boa, e qualquer que seja minha opinião, a opinião contrária é defendida por alguém que é tão inteligente e competente para julgar quanto eu. Podemos ter opiniões, mas certeza e conhecimento são impossíveis. Daí nossa atitude frente às coisas (a terceira pergunta) deve ser a completa suspensão do julgamento. Não podemos ter certeza de nada, mesmo as afirmações mais triviais.

Diz-se que Pirro era tão cético que isso o teria levado a agir de maneira insensata. Segundo Diógenes Laércio, não se guardava de risco algum que estivesse em seu caminho, carroças, precipícios ou cães. Certa vez, quando Anaxarco caiu em um poço, Pirro manteve-se imperturbável, conforme a sua filosofia, não socorrendo o mestre. Enesidemo argumenta, porém, que Pirro “filosofava segundo o discurso da suspensão do juízo, mas que não agia de maneira inaudita”. Parece confirmar essa observação o fato de Pirro ter vivido até os 90 anos.

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360 a.C. — 300 a.C.

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Aristóxenes de Tarento foi educado e aprendeu música com o pai, Spintaro (ou Mnesias), que tinha sido discípulo de Sócrates. Também estudou com Lampro da Eritreia e Xenófilo, com quem aprendeu teoria musical. Por fim seguiu os ensinamentos de Aristóteles em Atenas. Aborreceu-se quando Teofrasto foi escolhido diretor da escola aristotélica em seu lugar.

Contribuições

Seus escritos, em número de quatrocentos e cinquenta e três (embora poucos sobrevivessem até a modernidade), seguiam o estilo aristotélico, centrando-se na filosofia, na ética e na música. A tendência empírica de seu pensamento se mostra na sua teoria de que a alma e o corpo se relacionam com a mesma harmonia que as partes de um instrumento musical.

Na teoria musical, afirmava que as notas da escala não devem ser julgadas por proporções matemáticas, como faziam os pitagóricos e sim pelo ouvido.

De seus tratados matemáticos, se conservaram dois livros dos Elementos de Harmonia e alguns fragmentos dos Elementos da Rítmica.

Em seus escritos, Aristóxenes se distancia de seus predecessores ao colocar pela primeira vez em dúvida a subordinação da música e da teoria da música à filosofia, estabelecendo um novo padrão para a estética musical da sua época.

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341 a.C. -270 a.C

Ficheiro:Epikur.jpg

Epicuro de Samos (em grego antigo: Ἐπίκουρος, Epikouros, “aliado, camarada”; 341 a.C., Samos — 271 ou 270 a.C., Atenas) foi um filósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi muito difundido e numerosos centros epicuristas se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador.

1 Vida

Epicuro nasceu na Ilha de Samos, em 341 a.C., mas ainda muito jovem partiu para Téos, na costa da Ásia Menor. Quando criança estudou com o platonista Pânfilo por quatro anos e era considerado um dos melhores alunos. Certa vez, ao ouvir a frase de Hesíodo, todas as coisas vieram do caos, ele perguntou: e o caos veio de que? Retornou para a terra natal em 323 a.C.. Sofria de cálculo renal, o que contribuiu para que tivesse uma vida marcada pela dor.

Epicuro ouviu o filósofo acadêmico Pânfilo em Samos, que não lhe foi de muito agrado. Por isso foi mandado para Téos pelo seu pai. Com Nausífanes de Téos, discípulo de Demócrito de Abdera, Epicuro teria entrado em contato com a teoria atomista — da qual reformulou alguns pontos. Epicuro ensinou filosofia em Lâmpsaco, Mitilene e Cólofon até que em 306 a.C. fundou sua própria escola filosófica, chamada O Jardim, onde residia com alguns amigos, na cidade de Atenas. Lecionou em sua escola até a morte, em 270 a.C., cercado de amigos e discípulos e tendo sua vida marcada pelo ascetismo, serenidade e doçura.

Na Divina Comédia, de Dante Alighieri, Epicuro é colocado no Inferno como um Herege. Ele está na 6ª Prisão, junto com seus seguidores, na cidade de Dite. A pena dos hereges é serem enterrados em túmulos ardentes e abertos, tendo os membros queimados pela areia quente.

2 Filosofia e obra

O propósito da filosofia para Epicuro era atingir a felicidade, estado caracterizado pela aponia, a ausência de dor (física) e ataraxia ou imperturbabilidade da alma. Ele buscou na natureza as balizas para o seu pensamento: o homem, a exemplo dos animais, busca afastar-se da dor e aproximar-se do prazer. Estas referências seriam as melhores maneiras de medir o que é bom ou ruim. Utilizou-se da teoria atômica de Demócrito para justificar a constituição de tudo o que há. Das estrelas à alma, tudo é formado de átomos, sendo, porém de diferentes naturezas. Dizia que os átomos são de qualidades finitas, de quantidades infinitas e sujeitos a infinitas combinações. A morte física seria o fim do corpo (e do indivíduo), que era entendido como somatório de carne e alma, pela desintegração completa dos átomos que o constituem. Desta forma, os átomos, eternos e indestrutíveis, estariam livres para constituir outros corpos. Essa teoria, exaustivamente trabalhada, tinha a finalidade de explicar todos os fenômenos naturais conhecidos ou ainda não e principalmente extirpar os maiores medos humanos: o medo da morte e o medo dos deuses. Naqueles tempos, Epicuro percebeu que as pessoas eram muito supersticiosas e haviam se afastado da verdadeira função das religiões e dos deuses. Os deuses, segundo ele, viviam em perfeita harmonia, desfrutando da bem-aventurança (felicidade) divina. Não seria preocupação divina atormentar o homem de qualquer forma. Os deuses deveriam ser tomados como foram em tempos remotos, modelos de bem-aventurança que servem como modelo para os homens e não seres instáveis, com paixões humanas, que devem ser temidos.

Desta forma procurou tranquilizar as pessoas quanto aos tormentos futuros ou após a morte. Não há por que temer os deuses nem em vida e nem após a vida. E além disso, depois de mortos, como não estaremos mais de posse de nossos sentidos, será impossível sentir alguma coisa. Então, não haveria nada a temer com a morte.

No entanto, a caminho da busca da felicidade, ainda estão as dores e os prazeres. Quanto às dores físicas, nem sempre seria possível evitá-las. Mas Epicuro faz questão de frisar que elas não são duradouras e podem ser suportadas com as lembranças de bons momentos que o indivíduo tenha vivido. Piores e mais difíceis de lidar são as dores que perturbam a alma. Essas podem continuar a doer mesmo muito tempo depois de terem sido despertadas pela primeira vez. Para essas, Epicuro recomenda a reflexão. As dores da alma estão frequentemente associadas às frustrações. Em geral, oriunda de um desejo não satisfeito.

Encontra-se aqui um dos pontos fundamentais para o entendimento dessa curiosa doutrina, que também foi tomada por seus seguidores e discípulos como um evangelho ou boa nova, o equacionamento entre dores e prazeres.

Das 300 obras escritas pelo filósofo, restaram apenas três cartas que versam sobre a natureza, sobre os meteoros e sobre amoral, e uma coleção de pensamentos, fragmentos de outras obras perdidas. Estas cartas, com os fragmentos, foram coligidos por Hermann Usener sob o título de Epicurea, em 1887, mas mais tarde descobriu ser de Leucipo para Hermann Diels. Por suas proposições filosóficas Epicuro é considerado um dos precursores do pensamento anarquista no período clássico.

2.1 A certeza

Segundo Epicuro, para atingir a certeza é necessário confiar naquilo que foi recebido passivamente na sensação pura e, por consequência, nas idéias gerais que se formam no espírito (como resultado dos dados sensíveis recebidos pela faculdade sensitiva).

2.2 O atomismo

Epicuro defendia ardorosamente a liberdade humana e a tranquilidade do espírito. O atomismo, acreditava o filósofo, poderia garantir ambas as coisas desde que modificado. A representação vulgar do mundo, com seus deuses, o medo dos quais fez com que se cometessem os piores atos, é obstáculo à serenidade. Todas as doutrinas filosóficas, salvo o atomismo, participam dessas superstições.

No sistema epicurista, os átomos se encontram fortuitamente, por uma leve inclinação em sua trajetória, que o faria chocar com outro átomo para constituir a matéria. Esta é a grande modificação em relação ao atomismo de Demócrito, onde o encontro dos átomos é necessário. A inclinação a que o átomo se desvia poderia ser por uma vontade, um desejo ou por afinidade com outro átomo. Precisamente este é o ponto fosco na teoria atômica de Epicuro. Provavelmente tenha explicado melhor em alguma de suas obras perdidas. Certo é que este encontro fortuito dos átomos que garante a liberdade (se assim não fosse, tudo estaria sob o jugo da Natureza) e garante a explicação dos fenômenos, sua elucidação, fazendo com que possam ser explicados racionalmente. Assim, ao compreender como opera a Natureza, o homem pode livrar-se do medo e das superstições que afligem o espírito.

2.3 O prazer

A doutrina de Epicuro entende que o sumo bem reside no prazer e, por isso, foi uma doutrina muitas vezes confundida com o hedonismo. O prazer de que fala Epicuro é o prazer do sábio, entendido como quietude da mente e o domínio sobre as emoções e, portanto, sobre si mesmo. É o prazer da justa-medida e não dos excessos. É a própria Natureza que nos informa que o prazer é um bem. Este prazer, no entanto, apenas satisfaz uma necessidade ou aquieta a dor. A Natureza conduz-nos a uma vida simples. O único prazer é o prazer do corpo e o que se chama de prazer do espírito é apenas lembrança dos prazeres do corpo. O mais alto prazer reside no que chamamos de saúde. Entre os prazeres, Epicuro elege a amizade. Por isso o convívio entre os estudiosos de sua doutrina era tão importante a ponto de viverem em uma comunidade, o “Jardim”. Ali, os amigos poderiam se dedicar à filosofia, cuja função principal é libertar o homem para uma vida melhor.

epicuro desejo

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336 a.C. -264 a.C

Ficheiro:Zeno of Citium pushkin.jpg

Zenão de Cítio (em grego: Ζήνων ὁ Κιτιεύς, transl. Zēnōn ho Kitieŭs; Cítio, 333 a.C. — Atenas, 263 a.C.) foi um filósofo da Grécia Antiga. Nasceu na ilha de Chipre. Lecionou em Atenas, onde fundou a escola filosófica estoica por volta de 300 a.C. Com base nas ideias dos cínicos, o estoicismo enfatizava a paz de espírito, conquistada através de uma vida plena de virtude, de acordo com as leis da natureza. O estoicismo floresceu como a filosofia predominante no mundo greco-romano até o advento do cristianismo.

1 Vida

Zenão nasceu em Cítio, na ilha de Chipre. Possuía origem fenícia. A maioria dos detalhes que se sabem acerca da sua vida foram preservados por Diógenes Laércio na sua obra Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes. Diógenes relata a lenda segundo a qual Zenão seria um comerciante e que, após sobreviver a um naufrágio na costa da Ática, teria sido atraído por alguns escritos sobre Sócrates a um local de compra de livros em Atenas, para onde se teria transferido por volta de 312 ou 311 a.C. Teria perguntado como poderia encontrar tal homem. Em resposta, o livreiro teria indicado Crates de Tebas, o mais famoso cínico vivo naquele tempo na Grécia.

Zenão é descrito como tendo uma aparência desgastada e bronzeada,4 levando uma vida simples e ascética. Isto coincide com os ensinamentos do cinismo, que foram, pelo menos em parte, continuados na sua filosofia estoica.

Em Atenas, Zenão foi discípulo de Crates de Tebas e estudou os antigos filósofos (dentre estes, Heráclito de Éfeso, que muito o influenciou). Teve também influência da escola megárica, incluindo Estílpon, e dos dialéticos Diodoro Cronos,7 e Fílon.8 Também é referido ter estudado filosofia platónica sob direção de Xenócrates, e Polemão.

Zenão começou os seus ensinamentos nos pórticos cobertos da ágora de Atenas conhecidos como Stoà Poikíle, em 301 a.C.. Os seus discípulos foram inicialmente como zenonianos, mas, eventualmente, começaram a ser denominados estoicos, um nome previamente aplicado a poetas que se congregavam na Stoà Poikíle.

Entre os admiradores de Zenão, encontrava-se Antígono II Gónatas da Macedónia, que, sempre que vinha a Atenas, visitava Zenão. É referido que Zenão terá recusado um convite para visitar Antígono na Macedónia, apesar de a sua correspondência preservada por Laércio ser uma invenção de um retórico posterior. Zeno teria enviado o seu amigo e discípulo Perseu de Cítio, que viveu na casa de Zenão. Entre outros discípulos de Zenão, encontravam-se Aristo de Cítio, Sphaerus e Cleantes de Assos, que sucedeu Zenão como escolarca (líder da academia) da escola estóica de Atenas.

2 Filosofia

Seguindo as ideias da Academia platónica, Zenão propôs uma tripartição na filosofia: lógica (incluindo retórica, gramática e as teorias da percepção e pensamento), física (não apenas do ponto de vista de ciência, mas também a natureza divina do universo) e ética. A lógica fornece um critério de verdade. A física constitui um materialismo monista e panteísta. A ética regula as ações humanas, cujo objetivo é a conquista da felicidade. Esta deve ser perseguida “segundo a natureza”.

A doutrina filosófica de Zenão de Cítio afirma que o ser humano atinge a plenitude e a felicidade quando abandona todas as paixões terrenas, contrariedades, aborrecimentos e desassossegos. Para Zenão, a única forma de viver sem essas contrariedades é viver em ataraxia ou apatia, ou seja, abandonado ao destino, impassivamente, nada receando e nada esperando.

Apesar de compartilhar diversos conceitos básicos da filosofia de Epicuro de Samos, Zenão e o estoicismo em geral divergem do epicurismo por entender que a virtude, e não o prazer, constitui o bem supremo. Além disso, consideram que o princípio-chave do universo é a lei racional da natureza, e não e o movimento aleatório dos átomos.

Porque as ideias de Zenão foram trabalhadas posteriormente por Crisipo de Solis e outros estóicos, pode ser difícil determinar, em algumas temáticas, precisamente o que pensava, mas a sua visão geral pode ser resumida abaixo.

2.1 Física

O universo, na visão de Zenão, é Deus: uma entidade divina racional, onde todas as partes pertencem ao todo. Neste sistema panteísta, ele incorpora a física de Heráclito; o universo contém fogo-artesão divino, que controla todas as coisas e que, estando imerso em todo o universo, deve produzir todas as coisas.

Este fogo divino ou éter, é a base de toda a atividade no Universo, operando em matéria anteriormente passiva, ela própria nem aumentando nem diminuindo. A substância primária no universo vem do fogo, passa pelo estado de ar, e depois torna-se água: a parte mais concentrada torna-se terra e a menos concentrada torna-se ar novamente, rarefazendo-se de novo em fogo. As almas individuais fazem parte do mesmo fogo, como a alma-mundo do universo. Seguindo Heráclito, Zenão adotou a visão de que o universo passou por ciclos regulares de formação e destruição.

A natureza do universo é tal que realiza o que é certo e previne o que é oposto, e é identificado como destino incondicional, ao mesmo tempo permitindo o livre-arbítrio que lhe é atribuído.

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315 a.C. -240 a.C

Ficheiro:Arcesilaus and Carneades.jpg

Arcesilau (em grego: Ἀρκεσίλαος) (316/5-241/0 a.C.) foi um filósofo grego e fundador da Segunda ou Média Academia—a fase de ceticismo acadêmico. Arcesilau sucedeu Crates como o sexto diretor (escolarca) da Academia 264 a.C. Ele não preservou seus pensamentos por escrito, assim, suas opiniões só podem ser colhidas indiretamente do que foi preservado por escritores posteriores. Foi o primeiro acadêmico a adotar uma posição de ceticismo filosófico, isto é, ele duvidava da capacidade dos sentidos para descobrir a verdade sobre o mundo, embora possa ter continuado a acreditar na existência da própria verdade. Isso resultou na fase cética da Academia. Seus principais oponentes foram os estoicos e sua crença de que a realidade pode ser compreendida com certeza.

1 Vida

Arcesilau nasceu em Pitane, na Eólia. Sua educação primária foi fornecida por Autólico, o matemático, com quem migrou paraSárdis. Posteriormente, estudou retórica em Atenas; mas adotou a filosofia e tornou-se discípulo, primeiro de Teofrasto e depois de Crântor. Em seguida, se tornou íntimo de Polemo e Crates e, finalmente, tornou-se diretor da escola (σχολάρχης).

Diógenes Laércio diz que, assim como seu sucessor Lácides, Arcesilau morreu de tanto beber, mas o testemunho de outras pessoas (por exemplo, Cleantes) e de seus próprios preceitos desacredita a história, e ficou conhecido por ter sido muito respeitado pelos atenienses.

2 Filosofia

Arcesilau não deixou nada escrito, suas opiniões foram imperfeitamente conhecidas por seus contemporâneos, e agora só podem ser obtidas através das declarações confusas de seus adversários. Isso torna sua filosofia difícil de ser avaliada e parcialmente inconsistente. Isso levou os estudiosos a verem seu ceticismo de várias maneiras. Alguns veem a sua filosofia como completamente negativa ou destrutiva de todos os pontos de vista filosóficos. Outros o consideram como tendo a posição de que nada pode ser conhecido com base em seus argumentos filosóficos. Outros afirmaram que ele não tinha opiniões positivas sobre qualquer tema filosófico, incluindo a possibilidade de conhecimento.

Por um lado, é dito que ele restaurou as doutrinas de Platão, em uma forma incorrupta; enquanto que, por outro lado, de acordo com Cícero, ele resumiu suas opiniões na fórmula, que ele não sabia de nada, nem mesmo de sua própria ignorância”. Há duas maneiras de conciliar a dificuldade: ou podemos supor que ele lançou tais aforismos como um exercício para os seus alunos, como quer nos fazer acreditar Sexto Empírico, que o chama de cético, ou ele pode ter realmente duvidado do pensamento esotérico de Platão, e ter suposto que suas obras tenham origem nas fantasias dos dogmáticos, enquanto ele estava na verdade tirando-lhes todos os princípios determinados.

Os estoicos foram os principais oponentes de Arcesilau; ele atacou a sua doutrina de uma concepção convincente (katalêptikê phantasia), como entendido ser um meio entre a ciência e a opinião – um meio que ele afirmou não poderia existir, e era apenas a interpolação de um nome. Envolveu uma contradição nos termos, como a própria ideia dephantasias implicava a possibilidade de falsidade, bem como as verdadeiras concepções do mesmo objeto.

É uma questão de alguma importância sobre a forma como o ceticismo acadêmico da Média e Nova Academia era distinta daquela do pirronismo. Admitindo-se a fórmula de Arcesilau, “que ele não sabia de nada, nem mesmo da sua própria ignorância”, para ser uma exposição de seus sentimentos verdadeiros, era impossível em um sentido que o ceticismo poderia prosseguir adiante: mas os céticos acadêmicos parecem não ter duvidado da existência da verdade, por si só, apenas das nossas capacidades para a sua obtenção. É diferente também dos princípios do cético puro na tendência prática de suas doutrinas: enquanto o objeto de uma era a realização da perfeita equanimidade, a outra parece antes ter se retirado do campo estéril da especulação para a vida prática, e ter reconhecido alguns vestígios de uma lei moral dentro de, no máximo, mas um guia provável, cuja posse, no entanto, formou a verdadeira distinção entre o sábio e o insensato. Pouca diferença pode aparecer entre as afirmações especulativas das duas escolas, uma comparação entre a vida de seus fundadores e seus respectivos sucessores leva à conclusão de que uma moderação prática foi a característica dos céticos acadêmicos.

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214 a.C. -129 a.C

Carnéades, dito o platônico (em grego antigo: Καρνεάδης, transl. Karneádēs), foi um filósofo grego nascido em Cirene no ano de 214 a.C.. Suas idéias filosóficas iam contra vários antigos preceitos. Foi um crítico do estoicismo, criando as bases do ceticismo. De fato, Carnéades foi um cético radical e o primeiro filósofo a apontar o fracasso dos metafísicos, que pretendiam encontrar um significado racional nas crenças religiosas. Foi escolarca da Academia Platônica.

Em 155 a.C. ele e mais dois filósofos, Critolau, o peripatético, e Diógenes, o estóico, foram levados em missão diplomática, de Atenas a Roma, onde fizeram conferências. Em uma delas, Carnéades afirmou que os deuses não existiam e que a justiça e injustiça são questão de pura conveniência. Essa declaração fez com que Catão fosse ao Senado, propondo que os três filósofos fossem mandados de volta a Atenas.

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106 a.C. -43 a.C

Ficheiro:CiceroBust.jpg

Marco Túlio Cícero, em latim Marcus Tullius Cicero (Arpino, 3 de Janeiro de 106 a.C. — Formia, 7 de Dezembro de 43 a.C.), foi um filósofo, orador, escritor, advogado e político romano.

Cícero é normalmente visto como sendo uma das mentes mais versáteis da Roma antiga. Foi ele quem apresentou aos Romanos as escolas da filosofia grega e criou um vocabulário filosófico em Latim, distinguindo-se como um linguista, tradutor, e filósofo. Um orador impressionante e um advogado de sucesso, Cícero provavelmente pensava que a sua carreira política era a sua maior façanha. Hoje em dia, ele é apreciado principalmente pelo seu humanismo e trabalhos filosóficos e políticos. A sua correspondência, muita da qual é dirigida ao seu amigo Ático, é especialmente influente, introduzindo a arte de cartas refinadas à cultura Europeia. Cornelius Nepos, o biógrafo de Ático do século I a.C., comentou que as cartas de Cícero continham tal riqueza de detalhes “sobre as inclinações de homens importantes, as falhas dos generais, e as revoluções no governo” que os seus leitores tinham pouca necessidade de uma história do período.

Durante a segunda metade caótica do século I a.C., marcada pelas guerras civis e pela ditadura de Júlio César, Cícero patrocinou um retorno ao governo republicano tradicional. Contudo, a sua carreira como estadista foi marcada por inconsistências e uma tendência para mudar a sua posição em resposta a mudanças no clima político. A sua indecisão pode ser atribuída à sua personalidade sensível e impressionável: era propenso a reagir de modo exagerado sempre que havia mudanças políticas e privadas. “Oxalá que ele pudesse aguentar a prosperidade com mais auto-controlo e a adversidade com mais firmeza!” escreveu C. Asínio Pólio, um estadista e historiador Romano seu contemporâneo.

1 Vida pessoal

1.1 Primeiros anos

Cícero nasceu em 106 a.C. em Arpino, uma cidade numa colina, 100 quilômetros a sul de Roma. Por isso, ainda que fosse um grande mestre de retórica e composição Latina, Cícero não era “Romano” no sentido tradicional, e sempre se sentiu envergonhado disto durante toda a sua vida.

Durante este período na história Romana, se, alguém quisesse ser considerado uma pessoa com cultura, era necessário falar Grego e Latim. A classe alta Romana até preferia usar a língua Grega em correspondência privada, sabendo que tinha expressões mais refinadas e precisas, era mais subtil, e em parte por causa da grande variedade de nomes abstratos. Cícero, como a maioria dos seus contemporâneos, foi educado com os ensinamentos dos antigos filósofos, poetas e historiadores gregos. Os professores mais proeminentes de oratória na altura também eram Gregos. Cícero usou o seu conhecimento da língua Grega para traduzir muitos dos conceitos teóricos da filosofia grega em Latim, apresentando-os desta forma a uma maior audiência. Foi precisamente a sua educação que o ligou à elite Romana tradicional.

O pai de Cícero era um rico equestre com bons contatos em Roma. Apesar de ter problemas de saúde que o impediam de entrar na vida pública, compensou por isto ao estudar extensivamente. Apesar de pouco ser conhecido sobre a mãe de Cícero, Hélvia, era comum as mulheres de importantes cidadãos Romanos serem responsáveis pela casa. O irmão de Cícero, Quinto, escreveu uma carta a dizer que ela era uma dona de casa frugal.

O cognome de Cícero em Latim significa grão-de-bico. Os Romanos normalmente escolhiam sobrenomes realistas. Plutarco explica que o nome foi originalmente dado a um dos antepassados de Cícero porque ele tinha uma covinha na ponta do nariz que parecia um grão-de-bico. Plutarco diz também que foi dito a Cícero para mudar este nome depreciativo quando ele decidiu entrar na política, mas que este recusou, dizendo que ele ia fazer Cícero mais glorioso do que Escauro (“com tornozelos inchados”) e Catulo(“Cachorrinho”).

De acordo com Plutarco, Cícero era um estudante extremamente talentoso, cuja aprendizagem atraiu a atenção de toda a Roma, dando-lhe a oportunidade de estudar a lei Romana sob Quinto Múcio Cévola.9 Outros estudantes eram Caio Mário, o Jovem, Sérvio Sulpício Rufo (que se tornou advogado, um dos poucos que Cícero considerava serem superiores a ele próprio em assuntos legais), e Tito Pompónio. Os dois últimos tornaram-se amigos de Cícero por toda a vida, e Pompónio (que mais tarde recebeu o apelido de “Ático” por causa do seu amor pela cultura helénica) iria ser o maior conselheiro e suporto emocional de Cícero.

Cícero queria seguir uma carreira no serviço público civil nos passos do Cursus honorum. Em 90 a.C.–88 a.C., Cícero serviu Cneu Pompeu Estrabão e Lúcio Cornélio Sula durante a Guerra Social, apesar de não ter interesse nenhum na vida militar. Cícero era, antes de tudo, um intelectual. Cícero começou a sua carreira como advogado a cerca de 83-81 a.C. O seu primeiro caso importante de que se tem registo aconteceu em 80 a.C., e foi a defesa de Sexto Róscio, acusado de parricídio. Aceitar este caso foi um ato corajoso: parricídio era considerado um crime horrível, e as pessoas acusadas por Cícero, o mais famoso sendo Crisógono, eram favoritos do ditador Sula. Nesta altura, teria sido fácil para Sula mandar alguém assassinar o desconhecido Cícero. A defesa de Cícero foi um desafio indireto ao ditador, e o seu caso foi forte o suficiente para absolver Róscio.

Em 79 a.C., Cícero partiu para a Grécia, Ásia Menor e Rodes, talvez devido à ira potencial de Sula. Cícero viajou para Atenas, onde se encontrou de novo com Ático, que se tinha tornado num cidadão honorário de Atenas e apresentou Cícero a alguns Atenienses importantes. Em Atenas, Cícero visitou os lugares sagrados dos filósofos. Mas antes de tudo, ele consultou retóricos diferentes para aprender um estilo de falar menos exaustivo. O seu maior instrutor foi Apolónio Mólon de Rodes. Ele ensinou a Cícero uma forma de oratória mais expansiva e menos intensa que iria caracterizar o estilo individual de Cícero no futuro.

No fim dos anos 90 e inícios dos 80 a.C., Cícero apaixonou-se pela filosofia, o que iria ter grande importância na sua vida. Eventualmente, ele iria introduzir a filosofia grega ao romanos e criaria um vocabulário filosófico latino. Em 87 a.C., Filão de Larissa, o chefe da Academia fundada por Platão em Atenas 300 anos antes, chegou a Roma. Cícero, “inspirado por um extraordinário zelo pela filosofia”, sentou-se entusiasticamente aos seus pés e absorveu a filosofia de Platão, chegando a dizer que Platão era o seu deus. Admirava especialmente a seriedade moral e política de Platão, mas também respeitava a sua imaginação. Mesmo assim, Cícero rejeitou a teoria das Ideias dele.

1.2 Família

Cícero provavelmente casou-se com Terência quando tinha 27 anos, em 79 a.C. De acordo com os costumes da classe alta da época, era um casamento de conveniência, mas existiu harmoniosamente durante uns 30 anos. A família de Terência era rica, mas embora tivesse origem nobre, tinha ligações familiares com a plebe, eram os Terenti Varrones, e preenchendo os requerimentos das ambições políticas de Cícero em termos ambos econômicos e sociais. Ela tinha uma meia-irmã (ou talvez prima) chamada Fábia, que em criança se tinha tornado numa virgem vestal, o que era uma grande honra. Terência era uma mulher independente e (citando Plutarco) “tinha mais interesse na carreira política do marido do que o deixava a ele ter nos assuntos da casa”. Era uma mulher pia e provavelmente com os pés bem realista.

Nos anos 40 a.C., as cartas de Cícero a Terência tornaram-se mais curtas e frias. Ele queixou-se aos amigos que Terência o tinha traído, mas não explicou em que sentido. Talvez o casamento simplesmente não pudesse aguentar a pressão do tumulto político em Roma, o envolvimento de Cícero nele, e várias outras disputas entre os dois. Parece que o divórcio aconteceu em 45 a.C. No fim de 46 a.C., Cícero casou-se com um jovem moça patrícia, Publília, de quem ele tinha sido o guardião. Pensa-se que Cícero precisava do dinheiro dela, especialmente depois de ter de pagar de volta o dote de Terência. Este casamento não durou muito tempo.

Apesar do seu casamento com Terência ter sido um de conveniência, sabe-se que Cícero tinha grande afeição pela sua filha Túlia. Quando ela ficou doente subitamente em fevereiro de 45 a.C. e morreu depois de aparentemente ter recuperado de dar à luz em Janeiro, Cícero ficou arrasado. “Perdi a única coisa que me ligava à vida” escreveu ele a Ático. Ático disse-lhe para o visitar durante as primeiras semanas depois deste evento, para que ele o pudesse consolar. Na grande biblioteca de Ático, Cícero leu tudo o que os filósofos gregos tinham escrito sobre como vencer a tristeza, “mas a minha dor derrota toda a consolação.” Júlio César, Bruto e Sérvio Sulpício Rufo mandaram-lhe cartas de condolência.

Cícero esperava que o seu filho Marco se tornasse num filósofo como ele, mas Marco queria uma carreira militar. Ele juntou-se ao exército de Pompeu em 49 a.C. e depois da derrota de Pompeu na Farsália em 48 a.C., foi perdoado por Júlio César. Cícero enviou-o para Atenas para estudar como um discípulo do filósofo peripatético Cratipo em 48 a.C., mas o jovem usou a ausência “do olho vigilante do seu pai” para “comer, beber e ser feliz.” Depois do assassinato de Cícero, ele juntou-se ao exército dos Liberatores, mas foi mais tarde perdoado por Augusto dos Júlios. Os remorsos de Augusto por ter posto Cícero na lista de proscrição durante o segundo triunvirato fê-lo dar considerável ajuda à carreira de Marco, o filho de Cícero. Este tornou-se num áugure, e foi nomeado cônsul em 30 a.C. juntamente com Augusto, e mais tarde feito procônsul da Síria e da província da Ásia.

1.3 Obras

Cícero foi declarado um pagão justo pela Igreja católica, e por essa razão muitos dos seus trabalhos foram preservados. Santo Agostinho e outros citavam os seus trabalhos “De re publica” (Da República) e “De Legibus” (Das Leis), devido a essas citações é que se podem recriar diversos de seus trabalhos usando os fragmentos que restam. Cícero também articulou um conceito abstrato de direitos, baseado em lei antiga e costume. Dos livros de Cícero, seis sobre retórica sobreviveram, assim como partes de oito livros sobre filosofia. Dos seus discursos, oitenta e oito foram registados, mas apenas cinquenta e oito sobreviveram.

Seu livro De Natura Deorum, que discute teologia, foi considerado, por Voltaire, possivelmente o melhor livro de toda a Antiguidade .

2 Carreira pública

Marco Túlio Cícero

2.1 Questor

O seu primeiro cargo foi como um dos vinte questores anuais, um trabalho de treino para a administração pública em áreas diferentes, mas com ênfase tradicional na administração e a contabilidade rigorosa de dinheiro público sob a orientação de um magistrado veterano ou comandante provincial.
Cícero serviu como questor na Sicília Ocidental em 75 a.C. e demonstrou grande honestidade e integridade na forma como lidava com os habitantes. Como resultado, os gratos Sicilianos pediram a Cícero que processasse Caio Verres, um governador da Sicília, que tinha pilhado a ilha. A sua acusação de Caio Verres foi um grande sucesso forense para Cícero. Depois do fim deste caso, Cícero tomou o lugar de Hortênsio, advogado de Verres, como o maior orador de Roma. A oratória era considerada uma grande arte na Roma antiga, e uma ferramenta importante para espalhar conhecimento e promover-se a si próprio em eleições, em parte porque não havia meios de comunicação regulares na altura. Apesar dos seus grandes sucessos como advogado, Cícero não tinha uma genealogia com reputação: não era nem nobre nem patrício.

Cícero cresceu num tempo de confusão civil e guerra. A vitória de Sula na primeira de muitas guerras civis deu lugar a uma infra-estrutura constitucional que sabotava a liberdade, o valor fundamental da República Romana. De qualquer modo, as reformas de Sula fortaleceram a posição dos equestres, contribuindo para o aumento do poder político dessa classe. Cícero era um eques Italiano e um novus homo, mas acima de tudo, era um constitucionalista romano. A sua classe social e lealdade à República certificaram-se que ele iria “comandar o suporto e confiança do povo assim como as classes médias Italianas.” O facto dos optimates nunca o terem aceitado realmente, prejudicou os seus esforços para reformar a República ao mesmo tempo que preservava a constituição. Mesmo assim, ele foi capaz de subir o cursus honorum, ocupando cada posto exatamente na idade mais jovem possível, ou perto dela: Questor em 75 a.C. (31 anos), Edil em 69 a.C. (37 anos), e Pretor em 66 a.C. (40 anos), onde serviu como presidente do Tribunal de “Reclamação” (ou extorsão). Foi depois eleito Cônsul quando tinha 43 anos.

2.2 Cícero e Pompeu

2.3 Cônsul

Cícero foi eleito Cônsul em 63 a.C. O seu co-cônsul nesse ano, Caio António Híbrida, teve um papel menor. Nesse cargo, ele destruiu uma conspiração para derrubar a República, liderada por Lúcio Sérgio Catilina. O Senado deu a Cícero o direito de usar o Senatus Consultum de Re Publica Defendenda (uma declaração de lei marcial), e ele fez Catilina deixar a cidade com quatro discursos (as famosas Catilinárias), que até hoje são exemplos estupendos do seu estilo retórico. As Catilinárias enumeraram os excessos de Catilina e os seus seguidores, e denunciaram os simpatizantes senatoriais dele como sendo patifes e devedores dissolutos, que viam Catilina como uma esperança final e desesperada. Cícero exigiu que Catilina e os seus seguidores deixassem a cidade. Quando acabou o seu primeiro discurso, Catilina saiu do Templo de Júpiter Stator. Nos seus próximos discursos, Cícero não se dirigiu directamente a Catilina, mas ao Senado. Com estes discursos, Cícero queria preparar o Senado para o pior caso possível, e também entregou mais provas contra Catilina. [carece de fontes]

Cícero denuncia Catilina, fresco por Cesare Maccari, 1882-1888.

Catilina fugiu e deixou para trás outros conspiradores para começarem a revolução de dentro, enquanto Catilina iria atacar a cidade com um exército de “falidos morais e fanáticos honestos”. Catilina tinha tentado ter ajuda dos Alobroges, uma tribo da Gália Transalpina, mas Cícero, trabalhando com os Gauleses, conseguiu recuperar cartas que incriminavam cinco conspiradores e os forçaram a confessar os seus crimes em frente ao Senado.

O Senado então decidiu qual seria o castigo dos conspiradores. Como era o corpo conselheiro dominante das várias assembleias legislativas e não um corpo judicial, o seu poder tinha limites. Contudo, o país estava a funcionar em lei marcial, e temia-se que as opções normais (prisão domiciliária ou exílio), não eram o suficiente para remover a ameaça contra o estado. A princípio, a maioria dos Senadores queriam usar a “pena extrema”, mas muitos foram desencorajados por Júlio César, que criticou o precedente que iria ser criado, e falou a favor de prisão perpétua em vária cidades italianas.Catão então defendeu a pena de morte e todo o Senado concordou. Cícero ordenou que os conspiradores fossem levados a Tullianum, onde foram estrangulados. O próprio Cícero acompanhou o ex-cônsul Públio Cornélio Lêntulo Sura, um dos conspiradores, a Tullianum. Cícero recebeu o honorífico “Pater Patriae” por ter suprimido a conspiração, mas desde então viveu com medo de ser julgado ou exilado por ter condenado cidadãos Romanos à morte sem julgamento.

2.4 Exílio e retorno

Em 60 a.C., Júlio César convidou Cícero para ser o quarto membro do grupo que era formado por ele, Pompeu e Crasso, o que mais tarde seria chamado o Primeiro Triunvirato. Cícero recusou porque suspeitava que isto prejudicasse a República.

Em 58 a.C., Públio Clódio Pulcro, o tribuno dos plebeus, introduziu uma lei (a Leges Clodiae) com a ameaça do exílio a quem quer que tivesse executado um cidadão Romano sem julgamento. Cícero, tendo executado membros da conspiração de Catilina quatro anos antes sem um julgamento formal, e tendo atraído a ira de Clódio ao arruinar o seu álibi num caso, era o alvo da nova lei. Cícero disse que o senatus consultum ultimum o protegia de castigo, e tentou ganhar o suporto de senadores e cônsules, especialmente de Pompeu. Quando a ajuda não se materializou, ele foi exilado. Chegou à Tessalónica, na Grécia, no dia 23 de Maio de 58 a.C.25 26 27 O exílio fê-lo cair em depressão, como é possível ver numa carta em que diz a Ático que foram os pedidos deste último que o impediram de se suicidar. Depois novo Tribuno Tito Ânio Papiano Milão ter intervindo, o Senado, com a excepção de Clódio, foi unânime no seu voto a favor de chamar Cícero de volta. Cícero voltou para a Itália no dia 5 de Agosto de 57 a.C., em Brundisium. Foi acolhido por uma multidão e pela sua querida filha Túlia.

Cícero tentou reintegrar-se na política, mas falhou no seu ataque de uma lei de César. A conferência em Luca, em 56 a.C., forçou Cícero a mudar a sua posição e a dar o seu suporto ao Triunvirato. Com isto, Cícero voltou aos seus trabalhos literários e abandonou a política durante os próximos anos.

2.5 A Guerra Civil de Júlio César

Caio Júlio César.

A luta entre Pompeu e Júlio César ficou mais intensa em 50 a.C.. Cícero escolheu o lado de Pompeu, mas ao mesmo tempo também evitou alienar César abertamente. Quando César invadiu a Itália em 49 a.C., Cícero fugiu de Roma. César, querendo a legítima cia que o patrocina-mento de um senador e veterano lhe daria, tentou atrair o favor de Cícero, mas este saiu de Itália e viajou para (Dyrrachium), na Ilíria, onde o pessoal de Pompeu estava. Cícero depois viajou com as forças de Pompeu até Farsália em 48 a.C., apesar de estar a perder a fé na competência e intenções do grupo de Pompeu. Eventualmente, ele provocou a hostilidade de Catão, que lhe disse que ele teria sido mais útil aos optimates se tivesse ficado em Roma. Depois da vitória de César, Cícero voltou a Roma, mas com cuidado. César perdoou-o e Cícero tentou ajustar-se à situação e manter o seu trabalho político, esperando que César ressuscitasse a República e as suas instituições.

Numa carta a Varro em c. 20 de Abril de 46 a.C., Cícero criou a sua estratégia sob a ditadura de César. Contudo, ele foi completamente surpreendido pela ação dos Liberatores, que assassinaram César nos Idos de Março em 44 a.C.. Cícero não tinha sido incluído na conspiração, apesar dos conspiradores terem a certeza de que ele simpatizava com eles. Marco Júnio Bruto chamou o nome de Cícero e pediu-lhe que restaurasse a República quando levantou o punhal ensaguentado depois do assassinato. Numa carta escrita em Fevereiro de 43 a.C. a Trebónio, um dos conspiradores, Cícero disse que desejava ter sido convidado para “aquele glorioso banquete nos Idos de Março”! Cícero tornou-se num líder popular durante o período de instabilidade depois do assassínio. Ele não tinha nenhum respeito por Marco António, que queria vingar-se dos assassinos de César. Em troca da amnistia dos assassinos, Cícero fez com que o Senado concordasse em não considerar César um tirano, o que permitiu aos Cesarianos terem suporto legal.

2.6 Oposição a Marco António, e morte

Cícero e Marco António transforaram-se nos dois homens mais importantes de Roma: Cícero era o porta-voz do Senado, e Marco António o cônsul, líder da facção Cesariana, e executor oficial do testamento de César. Os dois homens nunca tinham estado em termos amigáveis e a relação deles piorou com a opinião de Cícero que Marco António estava a tomar liberdades com a sua interpretação dos desejos e intenções de César. Quando Otaviano, o herdeiro e filho adotivo de César, chegou a Itália em Abril, Cícero formou um plano para o usar contra Marco António. Em Setembro, Cícero começou a atacar Marco António numa série de discursos chamadas Filípicas, em honra das denunciações Demóstenes contra Filipe II da Macedónia. Elogiando Otaviano, ele disse que o jovem apenas queria honra e não iria fazer o mesmo erro que o seu pai adotivo. Durante este tempo, a popularidade de Cícero não tinha par.

Cícero apoiou Décimo Júnio Bruto Albino como governador da Gália Cisalpina e disse ao Senado para declarar Marco António como um inimigo do estado. O discurso de Lúcio Pisão, o sogro de César, atrasou isto, mas Marco António foi considerado um inimigo do estado quando se recusou a acabar o cerco de Mutina, que estava nas mãos de Décimo Bruto. O plano de Cícero, contudo, falhou. Marco António e Otaviano reconciliaram-se e tornaram-se aliados, juntamente com Lépido, formando assim o Segundo Triunvirato depois das batalhas sucessivas de Forum Gallorum e Mutina. O Triunvirato começou a usar proscrições para se livrarem dos seus inimigos e rivais potenciais imediatamente depois de legislarem a aliança e a legalizarem por um termo de cinco anos com imperium consular. Cícero e todos os seus contatos e apoiantes estavam entre aqueles considerados inimigos do estado e, segundo Plutarco, Otaviano discutiu durante dois dias contra colocar Cícero na lista.

Cícero foi procurado viciosamente. Era visto com simpatia por grande parte do público e muitas pessoas recusaram-se a reportá-lo. Foi apanhado no dia 7 de Dezembro de 43 a.C. ao deixar a sua villa em Fórmias numa liteira para ir para a costa, onde ele esperava embarcar num barco a caminho da Macedónia. Quando os assassinos, Herénio (um centurião) e Popílio (um tribuno), chegaram, os escravos de Cícero disseram que não o tinham visto, mas reportado por Filólogo, um liberto do seu irmão Quinto Cícero.

Depois de ser descoberto, diz-se que as últimas palavras de Cícero foram: “Não há nada correto no que estás a fazer, soldado, mas tenta matar-me corretamente.” Fez uma vénia aos seus captores, inclinando a cabeça para fora da liteira num gesto gladiatorial para facilitar a tarefa. Ao mostrar o seu pescoço e garganta aos soldados, estava a indicar que não iria resistir. Segundo Plutarco, Herénio matou-o primeiro, e depois cortou-lhe a cabeça. Seguindo ordens de Marco António, as suas mãos, que tinham escrito as Filípicas, também foram cortadas e pregadas, juntamente com a sua cabeça, na Rostra no Fórum Romano de acordo com a tradição de Mário e Sula, que tinham feito o mesmo às cabeças dos seus inimigos. Cícero foi a única vítima das proscrições a ter este tratamento. Segundo Dião Cássio (numa história por vezes atribuída a Plutarco por engano), a esposa de Marco António, Fúlvia, pegou na cabeça de Cícero, arrancou-lhe a língua, e trespassou-a com o seu gancho de cabelo numa vingança final contra o seu poder de discursar.

O filho de Cícero, Marco, vingou a morte do seu pai quando foi cônsul em 30 a.C., ao anunciar a derrota naval de Marco António em Áccio em 31 a.C. contra Otaviano e Agripa. Na mesma reunião, o Senado votou para proibir os futuros descendentes Antônio de usarem o nome Marco. Otaviano iria mais tarde encontrar um dos seus netos a ler um livro escrito por Cícero. O rapaz tentou esconder o livro, com medo da reação do avô. Otaviano, agora Augusto, tirou-lhe o livro, leu parte, e devolveu-lho, dizendo: “Ele era um homem sábio, cara criança, um homem sábio que amava a sua pátria.”

3 Legado

Cícero era um escritor talentoso e enérgico, com um interesse numa grande variedade de tópicos de acordo as tradições filosóficas e helenísticas nas quais ele tinha sido treinado. A qualidade e acessibilidade de textos dele favoreceram grande distribuição e inclusão nos currículos escolares. Os seus trabalhos estão entre os mais influenciais na cultura Europeia, e ainda hoje constituem um dos corpos mais importantes de material primário para a escrita e revisão da história romana.

Depois da guerra civil, Cícero sabia que o fim da República esta perto. A guerra tinha destruído a República e a vitória de César tinha sido absoluta. O assassinato de César não restituiu a República, apesar de mais ataques à liberdade pelo “próprio capanga de César, Marco António.” A sua morte apenas sublinhou a estabilidade do governo de um único homem, visto que foi seguida pelo caos e mais guerras civis entre os assassinos de César, Bruto e Cássio, e finalmente entre os seus apoiantes, Marco António e Otaviano.

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98 a.C. -55 a. C.

Ficheiro:Lucretius1.png

Tito Lucrécio Caro (em latim: Titus Lucretius Carus; 99 a.C. – 55 a.C.) foi poeta e filósofo latino que viveu no século I a.C..

Nasceu 99 a.C. e viveu 44 anos. “Assim como Tertuliano, um dos primeiros Padres da Igreja, inventou a história de que o materialista Demócrito teria furado os próprios olhos por não suportar o desejo sexual despertado pela visão de jovens mulheres, assim também são Jerônimo inventou que Lucrécio teria bebido um filtro de amor, enlouquecido e escrito seu poema nos intervalos de lucidez, terminando por se suicidar. O mínimo que um leitor atento do Sobre a Natureza das Coisas (De Rerum Natura) pode afirmar é que essa obra jamais poderia ter sido escrita em ‘intervalos de lucidez!” (CHAUÍ, M. Introdução à História da Filosofia. Ed. Companhia das Letras, p. 253). Seus vários livros foram editados por Cícero.

Para Lucrécio, a alma é mortal. Após o decesso, resta um simulacro (simulacrum), os fantasmas que assombram os vivos. Deste modo, ele resgata a ideia epicurista de eidolon, termo grego. Ele afirma que o medo da morte criou o mito da imortalidade da alma. A Teosofia sustenta a tese da alma morredoura, mas defende que o espírito, princípio que anima a alma, é o Ser que realmente sobrevive à morte.

É provável que tenha nascido em Roma, onde foi educado. Sua fama decorre do poema De rerum natura (Sobre a natureza das coisas), onde expõe a filosofia de Epicuro de Samos. Para Lucrécio, o epicurismo era a chave que poderia desvendar os segredos do universo e garantir a felicidade humana. Tão entusiasmado ficou que se propôs a tarefa de libertar os romanos do domínio religioso através do conhecimento da filosofia epicurista.

Em De rerum natura Lucrécio apresenta a teoria de que a luz visível seria composta de pequenas partículas. Teoria incompleta, apesar de bastante consistente, é uma espécie de visão antiga da atual teoria dos fótons. Também neste poema, Lucrécio sustenta a ideia da existência de criaturas vivas que, apesar de invisíveis, teriam a capacidade de causar doenças. Esta ideia representa na realidade a base da microbiologia.

Além de fonte preciosa para o conhecimento do epicurismo, o poema de Lucrécio tem grande importância literária e seus versos consagram o autor como um dos maiores poetas latinos.

Segundo o padre São Gerônimo, Lucrécio matou-se aos 44 anos de idade e seu poema foi escrito em intervalos de ataques de loucura. A bem da verdade, as “circunstâncias da vida e da morte de Lucrécio são desconhecidas. A habitual informação de que ele se suicidou em razão de crises de loucura, acrescidas de perturbações amorosas, não é plenamente confiável. Só há um registro nesse sentido, transmitido por São Jerônimo, que, em seu tempo, foi um grande opositor de Epicuro e do epicurismo” (SPINELLI, Miguel. “O devotamento de Lucrécio a Epicuro e ao epicurismo”. In Os Caminhos de Epicuro. São Paulo: Loyola, 2009, p. 215ss).

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120 a.C. – 70 a.C

Ficheiro:Spartacus1.jpg

Espártaco (em latim: Spartacus; em grego: Σπάρτακος; 120 a.C. – 70 a.C.) foi um gladiador de origem trácia, líder da mais célebre revolta de escravos na Roma Antiga, conhecida como “Terceira Guerra Servil”, “Guerra dos Escravos” ou “Guerra dos Gladiadores”. Espártaco liderou, durante a revolta, um exército rebelde que contou com quase 100 mil ex-escravos.

1 A origem de Espártaco e a revolta dos escravos

A República Romana por volta de 100 a.C.

De acordo com vagas referências de autores romanos (Apiano, Floro e Plutarco), Espártaco era de origem trácia e, por ter desertado de uma tropa auxiliar do exército romano, foi capturado e reduzido à escravidão. Devido à sua força física, foi comprado por um mercador a serviço do lanista, Lêntulo Batiato, e levado para a escola de gladiadores de Cápua, na Campânia (Itália).

Sobre ele, dizem os autores antigos:

  • Plutarco: “Era um homem inteligente e culto, mais helênico do que bárbaro
  • Floro: “… mercenário da Trácia, admitido em nosso exército, soldado desertor, bandido promovido a gladiador por sua força

Em 73 a.C., cerca de duzentos escravos da escola de Batiato revoltaram-se, devido (segundo Plutarco) aos maus-tratos que recebiam do lanista, e armados apenas com facas de cozinha, atacaram os guardas da escola. Ainda segundo Plutarco, setenta e oito deles (ou apenas trinta, segundo Floro) conseguiram fugir. No caminho, depararam-se com umas carretas carregadas de armas usadas pelos gladiadores, apoderando-se delas. Com esse armamento, repeliram a guarnição de Cápua, enviada para capturá-los.

2 Roma manda uma expedição contra Espártaco

Roma então organizou a primeira expedição contra os revoltosos. À frente de três mil homens, o pretor romano Caio Cláudio Glabro sitia-os em seu forte, um outeiro de subida penosa e estreita rodeado de altos rochedos talhados a pique, tendo no cimo grande quantidade de videiras selvagens. Sendo a subida guardada por Cláudio, os sitiados cortaram os rebentos mais longos e fortes de tais videiras, fizeram com eles compridas escadas que roçavam a planície, e, amarrando-as no alto, por elas desceram todos sossegadamente. Apenas um deles ficou em cima, para jogar-lhes as armas, findo o que também se pôs a salvo. Os romanos não suspeitaram da operação; rodeado o outeiro, os sitiados atacaram-nos pela retaguarda, afugentando-os e tomando-lhes o acampamento. Muitos boiadeiros e pastores que guardavam seus rebanhos juntaram-se aos fugitivos, sendo uns armados por eles e outros mandados a espionar.

3 Outra expedição contra Espártaco

Charge de Espártaco.

Nessa ocasião, Roma enviou o comandante Públio Varínio a fim de desbaratá-los. Em um primeiro combate derrotaram o tenente denominado Fúrio, juntamente com dois mil homens e três ursos. Em seguida também derrotaram um outro tenente,Cossino, que lhe haviam impingido como conselheiro e companheiro, e com grande poder. Houve uma tentativa de aprisionar Espártaco quando este se banhava num lugar chamado Salinas, no entanto o comandante, custosamente, conseguiu salvar-se. Não obstante, Espártaco apoderou-se de sua bagagem, e, perseguindo-o tenazmente apoderou-se também de seu acampamento, tendo-lhe custado a vida de muitos dos seus homens, dentre os quais, Cossímo. Tendo também vencido em muitos combates o próprio pretor-chefe, aprisionando os sargentos que conduziam os machados à sua frente, bem como seu próprio cavalo. Espártaco adquiriu tal valor que todos passaram a temê-lo. Todavia, calculando cuidadosamente suas forças e dotes, e vendo que elas não podiam superar as dos romanos, levou seu exército para os Alpes, considerando que, uma vez transpostos, cada qual voltasse para sua terra, isto é, para a Gália e para a Trácia. Seus homens, porém, fiados em seu número, e prometendo grandes realizações, não o quiseram atender, e recomeçaram a percorrer e a saquear toda a península Itálica.

4 Roma encarrega os cônsules de derrotar Espártaco

Achando-se o senado inquieto, não só pela vergonha e afronta de serem seus homens vencidos por escravos sublevados, como pela apreensão e pelo perigo em que se achava toda a península Itálica, mandou para ali os dois cônsules, como se fosse uma das mais árduas e perigosas guerras que deveriam enfrentar. Lúcio Gélio Publícola, um dos cônsules, atacando de surpresa uma tropa de germanos, que por altivez e desprezo, se havia separado e afastado do acampamento de Espártaco, submeteu-a toda ao fio de espada; Lêntulo, seu companheiro, com numerosas forças sitiou Espártaco e todos os que o seguiam, atacou-os, venceu-os, e apoderou-se de toda a sua bagagem. Razão por que, avançando para os Alpes, Cássio, pretor e governador da Gália do subúrbio do rio Pó, enfrentou-o com um exército de dez mil homens. Travou-se um grande combate, no qual ele foi derrotado, tendo perdido muitos soldados e conseguido salvar-se a muito custo e às pressas. Ciente disto, o senado declarou-se bastante descontente de seus cônsules; ordenando-lhes que não mais se envolvessem nesta luta, atribuiu todo o encargo a Marco Licínio Crasso em 71 a.C., que foi seguido por numerosos moços nobres, graças à sua elevada reputação e à grande estima que lhe votavam.

5 Crasso é encarregado de acabar com Espártaco

Estátua de mármore de Espártaco, por Louis-Ernest Barrias, (1871), jardins do Palácio das Tulherias, (Paris)

Crasso foi assentar seu acampamento na Romanha, para esperar a pé firme Espártaco, que se dirigia para ali, e mandou Múmio, um dos seus tenentes, com duas legiões, envolver o inimigo pela retaguarda, ordenando segui-lo sempre no encalço, e proibindo-lhe expressamente atacá-lo e escaramuçá-lo de qualquer modo. Não obstante todas estas determinações, logo que Múmio se viu na possibilidade de fazer alguma coisa, atacou-o, sendo derrotado, com perda de muitos dos seus homens. Os que conseguiram salvar-se na fuga, apenas perderam suas armas. Crasso irritou-se bastante com ele; e, recolhendo os fugitivos, deu-lhes outras armas, exigindo-lhes fiadores que garantissem seu melhor serviço dali por diante, coisa que nunca fora feito antes. E, os quinhentos que estiveram nas primeiras filas, e que foram os primeiros a iniciar a fuga, ele dividiu-os em cinquenta dezenas, em cada uma das quais sorteou um,(dizimação) sujeito à pena de morte. Reviveu assim o antigo modo dos romanos castigarem os soldados covardes, coisa que de há muito havia sido abandonada, por ser ignominiosa, e produzir horror e espanto à assistência, quando realizada publicamente.

A Rota de Espártaco

A perseguição de Crasso a Espártaco

A batalha final

Castigando assim seus soldados, Crasso lançou-os diretamente contra Espártaco, que recuou sempre e tanto que, pela região dos lucanianos, chegou à costa, encontrando alguns navios de corsários cilícios no estreito de Messina. Isto animou-o a ir à Sicília; e, para enviar para lá dois mil homens, para sublevar escravos de lá. Mas Crasso tomou medidas para o impedir de enviar homens para a para a Sicília para amotinar os escravos da ilha. Razão por que, lançando-se inesperadamente longe da praia, ele foi assentar seu acampamento na península dos régios, onde Crasso foi encontrá-lo; e, vendo que a natureza do lugar mostrava-lhe como devia agir, decidiu cercar de muralhas o istmo da península, dando assim ocupação aos seus homens e impedindo que os inimigos recebessem víveres. Trabalho demorado e difícil, que ele executou em bem pouco tempo, contra a opinião de todo o mundo, e fez abrir uma trincheira através da península, de quinze léguas de comprimento, quinze pés de largura e quinze pés de profundidade. Sobre a trincheira fez construir uma muralha muito alta e forte, da qual Espártaco a princípio zombou. Quando, porém, sua pilhagem começou a falhar, e se viu na impossibilidade de obter víveres em toda a península, devido àquela muralha, numa noite bastante áspera, de neve espessa e vento impetuoso, ele mandou encher de terra, pedras e galhos de árvores um trecho não muito extenso da trincheira, por onde fez passar um terço do seu exército.

A princípio, Crasso receou que Espártaco tomasse a resolução de seguir para Roma. Logo, porém, tranquilizou-se, pois soube haver sério desentendimento, entre eles, e que uma grande tropa, amotinada contra Espártaco, separara-se dele e fora acampar junto a um lago da Lucânia, cuja água de tempos a tempos torna-se doce, e a seguir tão salgada que não pode ser bebida. Tendo-os atacado, Crasso expulsou-os dali, mas não conseguiu matar grande número, nem afastá-los para muito longe, porque Espártaco apareceu de repente com seu exército, e fez cessar a perseguição.

Crasso, que havia escrito ao senado ser necessário chamar Lúculo da Trácia e Pompeu da Hispânia, arrependido de havê-lo feito, esforçava-se o mais possível de dar fim a esta guerra antes que eles chegassem, por saber que atribuiriam toda a glória da sua conclusão ao recém-chegado que lhe fosse em auxílio, e não a ele. Por isso ele resolveu primeiramente atacar os que se haviam revoltado e entrincheirado à parte, às ordens dos capitães Caio Canício e Casto. Para tal, fez seguir seis mil soldados de infantaria, para assenhorear-se de uma eminência, ordenando-lhes que tudo fizessem para não serem vistos nem descobertos pelos inimigos. O que eles procuraram realizar o melhor possível, cobrindo seus morriões e elmos. Não obstante, eles foram percebidos por duas mulheres que às escondidas faziam sacrifícios em favor dos inimigos, e estiveram em risco de ficar todos perdidos. Crasso, porém, socorreu-os a tempo, dando aos inimigos o combate mais áspero de quantos se realizaram naquela guerra. Na luta, pereceram doze mil e trezentos homens, lutando valorosamente frente a frente.

Depois desta derrota, Espártaco retirou-se para as montanhas de Petélia, perseguido e escaramuçado sem trégua, pela retaguarda, por Quinto, um dos tenentes de Crasso, e seu tesoureiro Escroía. No fim do dia, porém, tudo mudou de repente, e Espártaco derrotou os romanos, sendo o tesoureiro gravemente ferido e salvo a custo. Esta vantagem obtida sobre os romanos deu origem à ruína final de Espártaco, porque seus guerreiros, quase todos escravos fugitivos, encheram-se de tamanho orgulho e audácia que não quiseram deixar de combater, nem obedeceram mais seu comandante. Pelo contrário, como se achavam a caminho, cercaram-nos e disseram-lhes que, quisessem ou não, era preciso que voltassem depressa e os conduzissem pela Lucânia contra os romanos, que era o que Crasso pedia, pois sabia que Pompeu se aproximava, à que muitos em Roma discutiam e brigavam por sua causa, dizendo que a vitória final desta guerra lhe era devida, e que logo que ele ali chegasse tudo seria decidido com um único combate.

6 O fim de Espártaco

A queda de Espártaco.

Por isso, procurando combater, e aproximando-se o mais possível dos inimigos, Crasso mandou um dia abrir uma trincheira, que os fugitivos procuraram impedir, carregando furiosamente sobre os que se ocupavam de tal tarefa. A luta tornou-se violenta. E, como, a todo momento, chegassem reforços de parte a parte, Espártaco viu-se obrigado a lançar mão de todos os recursos. Sendo-lhe levado o cavalo em que devia combater, ele desembainhou a espada, e, matando-o à vista de todos, disse:

Cquote1.svg Se eu for vencido neste combate, ele de nada me servirá. E, se eu for vitorioso, muitos deles, belíssimos e excelentes, terei dos inimigos à minha disposição. Cquote2.svg

Isto feito, lançou-se através da pressão dos romanos, procurando aproximar-se de Crasso, sem o conseguir, e matou dois centuriões romanos que o enfrentaram. Por fim todos os que o rodeavam fugiram, e ele permaneceu firme em seu posto, completamente cercado, lutando valentemente, sendo retalhado.

Embora Crasso fosse muito feliz e satisfizesse todos os seus deveres de bom comandante e de homem valente, expondo-se a todos os perigos, não pôde impedir que a honra do termo daquela guerra fosse atribuída a Pompeu, porque os que escaparam deste último combate caíram-lhe às mãos e ele aniquilou-os, escrevendo ao senado que Crasso vencera os fugitivos em combate regular, mas ele destruíra todas as raízes desta guerra! Pompeu teve assim entrada triunfal em Roma, por haver vencido Sertório e reconquistado a Hispânia. A Crasso foi-lhe concedida uma ovação após a sua vitória. Não recebeu um triunfo por ter sido ganha contra escravos, mas o senado permitiu-lhe portar a coroa de loureiro em vez da de mirto, considerando a importância desta vitória.

Crasso puniu os que sobreviveram à sua investida contra Espártaco, mandando crucificar 6000 revoltosos ao longo da Via Ápia (de Cápua até Roma).

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160 a.C. – século I a.C.

Ficheiro:Sextus.jpg

Sexto Empírico (em grego antigo: Σέξτος Εμπειρικός, transl. Séxtos Empeirikós; em latim: Sextus Empiricus) foi um médico e filósofo grego que viveu entre os séculos I a II a.C..

Seus trabalhos filosóficos são um dos melhores exemplos do ceticismo pirrônico e fonte da maioria dos dados referentes a essa corrente filosófica, opondo-se à astrologia e outras magias. Seus escritos foram publicados em latim pela primeira vez em 1562, por Henricus Stephanus. Seus conceitos influenciaram Montaigne e Hume.

Não se sabe de onde era originário, embora tenha vivido em Atenas, Alexandria e Roma. Recebeu o apelido de Empírico por suas concepções filosóficas porém, especialmente, por sua prática médica. Seus escritos, muito influenciados pelos de Pirro de Élis e Enesidemo, estão dirigidos contra a defesa dogmática da pretensão de conhecer a verdade absoluta, tanto na moral como nas ciências.

Escritos

As três obras conhecidas de Sexto Empírico são as Hipotiposes Pirronicas, e duas outras preservadas sobre o mesmo título, Contra os Matemáticos (Adversus Mathematicos), a qual uma delas nos chegou incompleta.

Os primeiros seis livros do Contra os Matemáticos são geralmente conhecidas como Contra os Professores, mas cada livro tem um título tradicional (Contra os Gramáticos (Livro I), Contra os Retóricos (Livro II), Contra os Geometras (Livro III), Contra os Aritméticos (Livro IV), Contra os Astrólogos (Livro V), Contra os Músicos (Livro VI). É geralmente acreditado, com exceções de alguns estudiosos da obra de Sexto como Richard Bett, que esses livros compõe a obra madura e tardia do filósofo.

Os livros VII-XI, formam um todo incompleto; acadêmicos acreditam que pelo menos um, mas possivelmente todos os cinco livros finais, não compunham a obra inicial de que foi intitulada de Tratados Céticos (Skeptika Hupomnēmata). Os livros finais são tradicionalmente intitulados como, Contra os Lógicos (Livros VII-VIII), Contra os Fisícos (Livros IX-X) e Contra os Éticos (Livro XI).

Em suas Hipotiposes Pirronianas (em grego: Πυῤῥώνειοι ὑποτύπωσεις) define o ceticismo da maneira seguinte: «o ceticismo é a faculdade de opor de todas as maneiras possíveis os fenômenos e os noumenos; e daí chegarmos, pelo equilíbrio das coisas e das razões opostas (isostenía), primeiro à suspensão do julgamento (epokhé) e, depois, à indiferença (ataraxia)».

Defende uma posição relativista e fenomenalista a partir de uma posição cética antimetafísica e empirista. Segundo ele, as coisas existem, porém só o que podemos saber e dizer delas é de que maneira nos afetam, não o que são em si mesmas. Não obstante, sua epokhé não é tão radical como a de Pirro. Defende também uma ética do sentido comum e, ainda como pirrônico, aceita a indiferença (adiaphora) com respeito a todas as soluções morais, reivindica também a importância do empírico, razão pela qual defende que a vida prática deve reger-se por quatro guias: a experiência da vida, as indicações que a natureza nos dá através dos sentidos, as necessidades do corpo e as regras das artes. Faz uma crítica do silogismo, que considera um círculo vicioso, e coloca sob suspeita a noção de signo, especialmente tal como o entendiam os estóicos. Critica ateologia estóica assinalando as contradições da noção estóica de divindade. Para os estóicos tudo quanto existe é corpóreo, portanto, assinala Sexto, também o há de ser a divindade. Porém um corpo pode ser simples ou composto. Se é composto pode decompor-se e, por tanto, é mortal. Se for simples, é um dos elementos: terra, ar, água ou fogo e, então, é inerte e inanimado. Daí se segue que a divindade, ou bem é mortal, ou bem é inanimada, o que é, em ambos casos, absurdo. Além deste argumento, Sexto Empírico atacava a noção de divindade apelando a outros raciocínios. Em todos eles reforçava a idéia cética da necessidade da epokhé ou da suspensão do julgamento. Ademais, destacou, também, a noção de causa.

Em geral, sua obra é importante porquanto é uma das fontes do conhecimento do pensamento antigo. Concretamente, sua Adversus mathematicus aporta dados importantes para o conhecimento da história da astronomia, da gramática e da ciência antiga, assim como da teologia estóica. Outras obras a destacar são: Esboços Pirrônicos e Contra os Dogmáticos.

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