Moderna

1462 – 1525

Ficheiro:Pietro Pomponazzi.jpg

Pietro Pomponazzi (Mantua, 16 de setembro de 1462 – Bolonha, 18 de maio de 1525) Filósofo italiano.

Seus estudos

Estudo filosofia em Pádua, onde foi professor até o fechamento da Universidade, partindo logo à Universidade de Bolonha, desde 1512 até 1525. Durante seu período de docente ele influenciou muitos intetuais e alunos, dentre eles conta-se Paolo Ricci, cuja obra seria prefaciada por seu mestre (Pomponazzi). Com Pomponazzi começa a tradução do aristotelismo, nesta época o aristotelismo era ainda parte oficial do temário universitário estabelecido durante o século XIII. Pietro Pomponazzi é o representante mais famoso de Aristóteles em sua época, em especial quanto à polêmica da imortalidade da alma humana.

Ele defendeu que a imortalidade da alma era uma verdade de fé, mas que filosoficamente não podia chegar a conhecer-se. A outra vertente do Renascimento, mais destacada que o aristotelismo, é o Humanismo (de influência platônica), com um fundo interesse em destacar a ética.

O aristotelismo desta época tem preocupações mais acadêmicas, próprias da vida universitária, e ligadas à medicina, a lógica e a filosofia da natureza. Tem interesse em compreender o que pensou Aristóteles e quais dos ensinos da tradição peripatética são adicionados posteriores. Cosives diz que essa nova preocupação pela alma se converte na nova filosofia da consciência.

Pomponazzi tenta escapar às duas tradições principais dentro da tradição peripatética (seguidores de Aristóteles), o dos seguidores de Averróis e o dos de Alexandre de Afrodisias (Alexandristas). Pomponazzi não é um aristotélico antiplatônico.

Seu pensamento

Sua obra “Sobre os encantamentos” (“De incantationibus”) tenta oferecer explicações naturais, os efeitos atribuídos pelos astrólogos aos planetas não são mais que causas naturais; a maioria dos mesmos milagres podem ser explicados como produzidos de modos naturais, o que faz desta obra um livro incluído no “Índice de Livros Proibidos”. O “Tratado sobre a imortalidade da alma” (“De immortalitate animae”), sua obra mais conhecido, foi publicada em 1516. Começa afirmando que o homem é de natureza múltiplo e ambígua, múltiplo porque inclui três almas: vegetativa, sensitiva e intelecção, e ambígua porque ocupa um ponto intermédio entre as coisas mortais e imortais. Repassa os posicionamentos históricos até ele, sobre o tema mortal–imortal. Como algo pode ser dito em dois sentidos, próprio e impróprio, o mortal e o imortal podem ser ditos destes dois modos. Além disso, o número pode ser único para a espécie ou para cada indivíduo. Basicamente, então, cabem seis possibilidades ou posições (o homem 1- é em só em espécie imortal absolutamente, e mortal absolutamente; 2- é em cada indivíduo imortal absolutamente e mortal em sentido relativo; 3- é em cada indivíduo imortal em sentido relativo e mortal absolutamente; 4- é absolutamente mortal e só é em algum aspecto imortal; 5- em cada indivíduo absolutamente mortal e absolutamente imortal; 6- único em espécie absolutamente mortal e só imortal em sentido impróprio), ficando as últimas duas de antemão rechaçadas por absurdas.

  • 1. É a posição de Averróis e, conforme diz, de Temístio. O primeiro expor que havia uma só alma imortal que é comum a todos os seres humanos, e de uma vez uma alma individual, mas mortal. Rechaça essa idéia da unidade do entendimento de todos os homens, expõe que é um e o mesmo ser o que recebe as impressões sensíveis e os que a reflete, defende-se a idéia de uma consciência individual, para ele não é justificável que a separação entre duas funções da alma, constituem duas substâncias distintas, nossa experiência nos mostra que o intelecto não pode atuar separado do corpo, e não temos evidência de que o intelecto seja separável do corpo ou de que possa viver separado dele. O intelecto não pode conhecer nada sem corpo, necessita-o para obter percepções.
  • 2. Concepção atribuída ao Platão segundo a qual a pessoa individual tem uma alma imortal, e o corpo é mortal (Pomponazzi lhe atribui uma alma sensitiva). Rechaça tal posição.
  • 3. Opinião de Tomás de Aquino, segundo a qual a alma só tem uma natureza e é absolutamente imortal, e só em alguns aspectos é mortal. Pomponazzi afirma: “não tem, Tomás de Aquino, duvida sobre a imortalidade da alma porque o mantém as Sagradas Escrituras”, mas ele sustenta que não é compatível com o Aristóteles.
  • 4. Posição identificada com o Alejandro da Afrodisia: a alma é absolutamente mortal e só é em algum aspecto imortal. Dada a posição intermédia do homem, necessita do corpo para encontrar conhecimento, e não posso atuar sem os sentimentos, portanto deve considerar-se como absolutamente mortal, mas a diferença dos animais participam dos conceitos universais.

Sua posição

A de número 4 é a posição que defende, portanto para ele a correta interpretação do Aristóteles não pode haver uma luta entre sentidos e entendimento, a qual é só a distinção de duas fases de um mesmo processo. Não há modo de expor que a alma racional se encontra a metade de caminho entre os seres: não pode alcançar os universais em toda sua pureza, mas tampouco esteja excluído deles. Assim, a única segurança do conhecimento se encontra nos sentidos.

A imortalidade da alma é um ato de fé, e não é demonstrável pela razão, nos argumentos do Aristóteles não é possível demonstrar a imortalidade da alma. A relevância ética disto parece ser que a vida moral perdesse seu centro, pois a idéia da imortalidade da alma é o instrumento de temor ou recompensa, portanto se deduz que ao não poder justificá-lo, o homem será o animal mais desventurado (Ficino). Pomponazzi diz que o homem é capaz de encontrar o sentido de sua vida até sem existir a imortalidade. No Aristóteles o fim ultimo do homem é a vida contemplativa, que é a forma de vida do próprio Deus. É verdade que há muitas pessoas que prefeririam a desonra e o vício, se com a morte termina tudo, isso prova unicamente que essas pessoas não entendem a verdadeira natureza da virtude, ela é sua própria recompensa, acrescentada a qualquer outra recompensa ela diminuiria o valor da virtude, ela não é um meio para conseguir outra coisa, a idéia da imortalidade é deslocada pela idéia de progresso, assim a humanidade inteira seria como um indivíduo, as leis morais não precisam sustentar-se nem no medo, nem a esperança, mas sim nascem da mesma força noma de nosso próprio ser, com o que se formula por primeira vez o princípio da autonomia moral. Uma moral independente de todo critério externo, portanto o fim do homem não é o conhecimento, a não ser a felicidade moral.

——————————————————————————————-

1463 – 1494

Ficheiro:Pico della mirandola.jpg

Giovanni Pico della Mirandola (Mirandola, 24 de fevereiro de 1463 — Florença, 17 de novembro de 1494) foi um erudito, filósofo neoplatônico e humanista do Renascimento italiano.

 Vida

Giovanni, o filho mais jovem de Gian Francesco I e Giulia Boiardo, conde e condessa de Concordia e de Mirandola no Ducado de Modena, desde a infância impressionava por seus dotes intelectuais que incluíam uma extraordinária memória e dons artísticos muito desenvolvidos. Decidiu dedicar a sua vida inteiramente aos estudos e com apenas quatorze anos de idade, partiu para a Universidade de Bolonha com o objetivo de estudar Direito Canônico e preparar-se para seguir a carreira eclesiástica. Entretanto, insatisfeito com os estudos puramente jurídicos, decidiu aprofundar-se em Filosofia e Teologia que despertaram-lhe a predileção.

Giovanni passou ainda sete anos viajando pela Itália e França, estudando em suas principais faculdades em Ferrara, Pádua e Paris, enquanto se dedicava a aprender os idiomas latino, grego, hebraico, árabe e sírio.

Gravura medieval representando a Árvore da Vida cabalística.

Após adquirir, em suas viagens pela Europa, cerca de sessenta manuscritos atribuídos ao sacerdote e escriba judeu Esdras, filho do sumo sacerdote Seraías e autor bíblico de um dos livros históricos de mesmo nome do Antigo Testamento (cfe. mencionado em II Reis 25:18-21), Giovanni veio a interessar-se pelo estudo da Cabala e do Talmud, tendo a idéia de combinar esse conhecimento místico-religioso com a filosofia.

O seu objetivo principal era conciliar religião e filosofia. Assim como o seu mestre Marcílio Ficino, Giovanni baseava as suas concepções principalmente em Platão, em oposição à Aristóteles. Todavia Giovanni era em essência um eclético e em muitos aspectos, ele representava uma reação contra os exageros do humanismo. De acordo com ele, deveríamos estudar as fontes hebraicas e talmúdicas, enquanto que as melhores conquistas da escolástica deveriam ser preservadas. O seu Heptaplus, uma exposição místico-alegórica da criação do mundo de acordo com os sete sentidos bíblicos, segue essa ideia; ao mesmo período pertence De ente et uno, com explanações de várias passagens dos livros mosaicos, platônicos e aristotélicos.

Já em Roma, no ano de 1486, Giovanni com apenas 23 anos de idade, publica as suas polêmicas 900 teses intituladas Conclusiones philosophicae, cabalisticae et theologicae, onde ele acreditava ter desvelado as bases de todo o conhecimento da humanidade, combinando elementos do neoplatonismo, hermetismo e cabalismo, além de versar sobre lógica, matemática, física. Ele se oferece para pagar as despesas de qualquer um que estivesse disposto a vir até Roma e enfrentá-lo em uma discussão pública sobre as teses. Neste ano publica o seu trabalho mais conhecido, De hominis dignitate oratio (Discurso sobre a Dignidade do Homem), que serve como uma introdução às 900 teses.

Torá, também conhecido como o Pentateuco de Moisés.

Entretanto, das 900 teses, treze foram consideradas heréticas pela Igreja Católica e ele é proibido de ir adiante com as discussões públicas. Uma comissão de inquérito da igreja convida Giovanni para retratar-se, o que ele efetivamente faz. Giovanni tenta ainda defender as suas treze teses com o opúsculo Apologia Ioannis Pici Mirandolani, concordiae comitis, mas não obtém sucesso. Contrafeito com a condenação, decide viajar novamente, visitando a França e em seguida retornando à Florença.

Ao final de sua vida, destrói seus trabalhos poéticos e torna-se um defensor do Cristianismo contra os judeus, muçulmanos e astrólogos. Morre jovem em 1494, aos 31 anos, após sucumbir a uma febre, no dia em que Carlos VIII da França entrou em Florença, após expulsar Piero de Médici. Giovanni é considerado o primeiro erudito cristão a mesclar elementos da doutrina cabalística e teologia cristã.

Seu sobrinho, o também filósofo e erudito Giovanni Francesco Pico della Mirandola, escreveu uma detalhada biografia de Giovanni em 1496, chamada Ioannis Pici Mirandulae Vita.

Filosofia

Na Oratio, Giovanni justifica a importância da busca humana pelo conhecimento numa perspectiva neoplatônica. Ele afirma que Deus, tendo criado todas as criaturas, foi tomado pelo desejo de gerar uma outra criatura, um ser consciente que pudesse apreciar a criação, mas não havia nenhum lugar disponível na cadeia dos seres, desde os vermes até os anjos. Então Deus criou o homem, que ao contrário dos outros seres, não tinha um lugar específico nessa cadeia. Em lugar disso, o homem era capaz de aprender sobre si mesmo e sobre a natureza, além de poder emular qualquer outra criatura existente. Desta forma, segundo Giovanni, quando o homem filosofa, ele ascende a uma condição angélica e comunga com a Divindade, entretanto, quando ele falha em utilizar o seu intelecto, pode descer à categoria dos vegetais mais primitivos. Giovanni, deste modo, afirma que os filósofos estão entre as criaturas mais dignificadas da criação.

A ideia que o homem pode ascender na cadeia dos seres pelo exercício de suas capacidades intelectuais foi uma profunda garantia de dignidade da existência humana na vida terrestre. A raiz da dignidade reside na sua afirmação que somente os seres humanos podem mudar a si mesmos pelo seu livre-arbítrio. Ele observou na história humana que filosofias e instituições estão sempre evoluindo, fazendo da capacidade de auto-transformação do homem a única constante.

Em conjunto com sua crença que toda a criação constitui um reflexo simbólico da Divindade, a filosofia de Giovanni teve uma profunda influência nas artes, ajudando a elevar ostatus de escritores, poetas, pintores e escultores, como Leonardo da Vinci e Michelangelo, de um papel de meros artesãos medievais a um ideal renascentista de artistas considerados gênios que persiste até os dias atuais.

Obras

Suas principais obras são:

  • Heptaplus, (Florença, 1480)
  • De ente et uno, (1480)
  • De hominis dignitate oratio, (1480)
  • Conclusiones philosophicae, cabalisticae et theologicae, (Roma, 1486)
  • Apologia Ioannis Pici Mirandolani, concordiae comitis, (1489)
  • Disputationes adversus astrologiam divinatricem, (Bolonha, 1495)
  • Aureae ad familiares epistolae, (Paris, 1499)

——————————————————————————————-

1469 – 1527

Ficheiro:Portrait of Niccolò Machiavelli by Santi di Tito.jpg

Nicolau Maquiavel (em italiano: Niccolò di Bernardo dei Machiavelli; Florença, 3 de maio de 1469 — Florença, 21 de junho de 1527) foi um historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento. É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo fato de ter escrito sobre o Estado e o governo como realmente são e não como deveriam ser. Os recentes estudos do autor e da sua obra admitem que seu pensamento foi mal interpretado historicamente.

Desde as primeiras críticas, feitas postumamente pelo cardeal inglês Reginald Pole, as opiniões, muitas vezes contraditórias, acumularam-se, de forma que o adjetivo maquiavélico, criado a partir do seu nome, significa esperteza, astúcia, aleivosia, maldade.

Maquiavel viveu a juventude sob o esplendor político da República Florentina durante o governo de Lourenço de Médici e entrou para a política aos 29 anos de idade no cargo de Secretário da Segunda Chancelaria. Nesse cargo, Maquiavel observou o comportamento de grandes nomes da época e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra. Depois de servir em Florença durante catorze anos foi afastado e escreveu suas principais obras. Conseguiu também algumas missões de pequena importância, mas jamais voltou ao seu antigo posto como desejava.

Como renascentista, Maquiavel se utilizou de autores e conceitos da Antiguidade clássica de maneira nova. Um dos principais autores foi Tito Lívio, além de outros lidos através de traduções latinas, e entre os conceitos apropriados por ele, encontram-se o de virtù e o de fortuna.

Contexto histórico

A península Itálica no período do Renascimento (1494).

Durante o Renascimento, as cinco principais potências na península Itálica eram: o Ducado de Milão, a República de Veneza, a República de Florença, o Reino de Nápoles e os Estados Pontifícios. A maior parte dos Estados da península era ilegítima, tomados por mercenários chamados “condottieri”.

Foram incapazes de se aliar durante muito tempo estando entregues à intriga diplomática e às disputas, e, por suas riquezas, eram atrativos para as demais potências europeias do período, principalmente Espanha e França. A política italiana era, portanto, muito complexa e os interesses políticos estavam sempre divididos. Batalhando entre si, ficavam à mercê das ambições estrangeiras, mas a influência de alguém como Lourenço de Médici havia impedido uma invasão. Com a morte deste em 1492, e a inaptidão política de seu filho, a Itália foi invadida por Carlos VIII, causando a expulsão dos Médici de Florença.

Esta era palco do conflito entre duas tendências: a da exaltação pagã do indivíduo, da vida e da glória histórica, representada por Lourenço de Médici e seu irmão Juliano de Médici; e a da contemplação cristã do mundo, voltada para o além, que se formava como resposta ao ressurgimento da primeira nos mais variados aspectos da vida como a arte e até na Igreja, representada por religiosos como Girolamo Savonarola.

Anunciando a chegada de Carlos VIII como a de um salvador, contrário aos Médici e com grande apoio popular, o pregador Girolamo Savonarola tornou-se a figura mais importante da cidade dando ao governo um viés teocrático-democrático. Com sua crescente autoridade e influência, Savonarola passou a criticar os padres de Roma como corruptos e o Papa Alexandre VI por seu nepotismo e imoralidade. Em 12 de maio de 1497, o papa excomungou o frade, mas a excomunhão foi declarada inválida por ele. No entanto, Savonarola acabou preso e executado pelo governo provisório em 23 de maio de 1498. Com a demissão de seus simpatizantes, cinco dias depois da morte do frade, Maquiavel, com 29 anos, foi nomeado para o cargo de secretário da Segunda Chancelaria de Florença.

Juventude

Catarina Sforza Riario, por Lorenzo di Credi, na Pinacoteca Cívica de Forlì

Pouco se conhece da biografia de Maquiavel antes de entrar para a vida pública. Ele era o terceiro de quatro filhos de Bernardo e Bartolomea de’ Nelli. Sua família era toscana, antiga e empobrecida. Iniciou seus estudos de latim com sete anos e, posteriormente, estudou também o ábaco, bem como os fundamentos da língua grega antiga. Comparada com a de outros humanistas sua educação foi fraca, principalmente por causa dos poucos recursos da família.

Não se sabe ao certo o que teria levado à escolha de Maquiavel para a chancelaria em 19 de junho de 1498. Alguns autores afirmam que ele teria trabalhado aí como auxiliar em 1494 ou 1495, hipótese contestada atualmente. Outros preferem atribuir a sua entrada à escolha de um antigo professor seu, Marcelo Virgilio Adriani, o qual ele teria conhecido em aulas na Universidade Pública de Florença e naquele momento era Secretário da Primeira Chancelaria.

Segunda Chancelaria

A principal instituição de Florença nesse período era a Senhoria com diversos órgãos auxiliares como as duas chancelarias. A primeira chancelaria era responsável pela política externa e pela correspondência com o exterior. A segunda ocupava-se com as guerras e a política interna. No entanto, essas funções muitas vezes se sobrepunham e a autoridade da primeira chancelaria prevalecia sobre a da segunda. Entre as funções exercidas por Maquiavel, estavam tarefas burocráticas e de assessoria política, de diplomacia e de comando no Conselho dos Dez, um outro órgão auxiliar da Senhoria.

Primeiras missões diplomáticas

A primeira de suas missões foi a de convencer um condottiero a continuar recebendo o mesmo soldo. Nesse momento, o governo da República de Florença desejava reaver o controle de Pisa que havia aproveitado a passagem de Carlos VIII para rebelar-se, de forma que, ao realizar essa primeira missão de forma satisfatória, foi enviado em julho de 1499 para negociar com Catarina Sforza, duquesa de Ímola e Forlì a renovação da “condotta” de seu filho Otaviano e para tentar conseguir o auxílio dela com soldados e artilharia para a tomada de Pisa.

Estátua de Maquiavel na Galleria degli Uffizi, Florença.

O governo de Florença contratara o filho da duquesa por 15 mil ducados sabendo-o mau estrategista militar e Maquiavel tinha como instruções, diminuir o soldo e conseguir tropas e munição para a retomada de Pisa. Ele conseguiu de forma satisfatória reduzir o soldo a 12 mil ducados e não comprometeu a cidade na defesa de Ímola e Forlì como queria Catarina. A partir dessa primeira missão, escreveu o Discorso fatto al Magistrato dei Dieci sopra le cose di Pisa, de 1499, seu primeiro escrito político.

Missão à corte francesa

Pouco depois Luís XII, sucessor de Carlos VIII, conquistou o Ducado de Milão a Ludovico Sforza e, em troca de seu apoio, a República de Florença solicitou o auxílio deste na guerra contra a República de Pisa. Luís XII enviou um exército mercenário que se mostrou indisciplinado e desinteressado pela luta, tendo até mesmo prendido um comissário de Florença. Logo foi necessário enviar representantes à corte francesa em Nevers para relatar a situação e encontrar uma solução sem, entretanto, irritar o rei. Para isso, foram enviados Francisco della Casa e Maquiavel. Pouco antes de ir, seu pai morreu e ficou só com o irmão Totto, que em breve se dedicaria à vida eclesiástica, pois as duas irmãs já haviam se casado.

Aos dois, o rei respondeu que parte da culpa pelo fracasso era de Florença e inclusive insistiu para que o ataque a Pisa continuasse às custas da cidade para reparar a honra do rei. Sem poderes para negociar, Maquiavel limitou-se a aconselhar a Senhoria durante o período em que acompanhou a corte através de França e a solicitar o envio de embaixadores que pudessem tratar destes assuntos com mais autoridade. Aí pôde conhecer um pouco mais sobre uma nação que se havia unificado em torno de um rei, diferentemente da Itália. Depois de mais duas viagens à França anos depois, reuniria suas observações sobre a política francesa em dois textos: “Ritrati delle cose di Francia” (1510) e “De natura gallorum“.

De volta à cidade, em 1501, casou-se com Marietta Corsini, com quem teria quatro filhos e duas filhas (Bernardo, Ludovico, Piero, Guido, Bartolomea e outra menina morta na primeira infância), mas teve logo que viajar de novo, pois os partidos políticos de Pistoia, outra cidade submetida a Florença, haviam se unido e ameaçavam rebelar-se. Maquiavel foi de opinião que se deveria dar fim e proibir tais partidos.

César Bórgia

César Bórgia, por Altobello Melone, na Galleria dell’Accademia Carrara, Bérgamo

Entre 1502 e 1503, Maquiavel teve contato com César Bórgia, filho do papa Alexandre VI, um cruel e ambicioso condottiero.

César Bórgia (conhecido também como Duque Valentino), por volta de 1501 como condottiero da Igreja e filho do papa, vinha conquistando territórios na Toscana, como Faenza, em 25 de abril. Acercou-se de Florença com seus exércitos e exigiu que a cidade se aliasse a ele, pagasse-lhe um tributo e mudasse seu governo para um mais favorável a si. Quando os florentinos, sem opção, estavam prestes a ceder, Luís XII de França pressionou César Bórgia que foi obrigado a levantar acampamento. Dirigiu-se para Piombino, conquistando-a facilmente e também Pesaro e Rimini, após o quê voltou para Roma.

César Bórgia percebeu que, com a aliança francesa, Florença seria um empecilho a seu plano de expansão e por isso solicitou o envio de representantes com os quais tratar de seus interesses. Para essa missão, em 24 de junho de 1502, foi enviado Francisco Soderini, tendo Maquiavel como secretário e auxílio. Durante a ida, surpreendeu-os a notícia da conquista do ducado de Urbino pelo duque Valentino: ele pediu um reforço de artilharia para a cidade e quando este lhe foi enviado, voltou-se contra o ducado.

Chegadas as tropas francesas, os enviados puderam retornar. Após a retirada das tropas de Bórgia da Toscana, Maquiavel escreveu o “Sobre o modo de tratar os povos rebelados da Valdichiana” (1502) sua primeira obra sem relação com as atividades da Chancelaria, e foi neste período (22 de setembro de 1502) que ocorreu uma reforma na constituição florentina tornando o cargo de gonfaloneiro vitalício. Ele era ocupado por Piero Soderini, de quem Maquiavel tornou-se próximo.

Nesse meio tempo, César Bórgia conquistou a seus próprios condottieri Città di Castello e Bolonha. Temendo o duque, estes se reuniram emMagione para conspirar contra ele. César Bórgia solicitou a Florença um embaixador para negociar uma aliança e enviaram-lhe Maquiavel, sem poderes de embaixador, em 5 de outubro de 1502, apenas com a incumbência de entregar os conjurados, afirmando que eles haviam convidado Florença para participar da conspiração, mas que esta havia se negado.

A 9 de dezembro, César Bórgia marchou para Cesena com a intenção de dar fim ao conluio. Lá, mandou prender seu lugar-tenente, Ramiro de Lorque, que apareceu morto no dia seguinte. Dirigiu-se para Pesaro e depois, para Fano, ordenando que Orsini e Vitellozzo Vitelli, dois de seus subordinados, conquistassem Senigallia (26 de dezembro)4 aonde, juntamente com Oliverotto de Fermo deveriam aguardá-lo. Foi aí que, ao chegar com suas tropas, mandou prender e, mais tarde, executar os três. Desse acontecimento deu Maquiavel sua análise no escrito: “Descrição da forma como procedeu o Duque Valentino para matar Vitellozzo Vitelli, Oliverotto da Fermo, o senhor Paolo e o Duque de Gravina Orsini” (1503).

Pedindo ajuda florentina, mas sem esperá-la, partiu para conquistar Città di Castello, Perugia, Corinaldo, Sassoferrato e Gualdo, de onde Maquiavel foi chamado de volta por ter sido nomeado um embaixador. Chegou a Florença em 23 de janeiro de 1508. Com a morte de Alexandre VI e tendo Júlio II se tornado Papa, César Bórgia perdeu seu apoio e veio a se enfraquecer. Feito prisioneiro duas vezes, morreu lutando pelo exército de Navarra, mas a figura de César Bórgia ficaria marcada para Maquiavel como a do perfeito representante de seu príncipe.

Guarda florentina

Com a morte de César Bórgia, surgiu um novo problema: a expansão da República de Veneza pela Romanha que surpreendeu o Papa, os florentinos e o imperador Maximiliano. Sentindo os perigos externos se avolumarem e, por outro lado, conhecendo a ineficiência das tropas mercenárias, Maquiavel solicitou a Soderini a permissão para criar um exército formado por cidadãos de Florença. Recebida a autorização após alguma resistência, iniciou imediatamente seus trabalhos e apenas cinco meses depois, em 15 de fevereiro de 1506 as novas tropas desfilaram na Piazza della Signoria. Pouco antes havia terminado o Decennale primo, poema de 550 versos em “terça rima” que narravam os últimos dez anos e ao qual se seguiria o Decennale secondo (em 1509).

Por essa época, o Papa Júlio II decidiu retomar os domínios da Igreja conquistados por Veneza e pelos homens de Bórgia: Baglioni e Bentivoglio. Marchando contra eles, pediu ajuda de Florença mediante envio de tropas. Sem querer desguarnecer Pisa ou desgostar o Papa, decidiu-se enviar Maquiavel para ganhar tempo. Ele acompanhou o papa até Perugia, onde assistiu espantado à rendição de Baglioni, pois não compreendia como ele havia deixado passar a oportunidade de prender o Papa, na sua visão, um príncipe invadindo seus domínios como outro qualquer. Não estava presente na tomada da Bolonha por que Florença finalmente enviou as tropas solicitadas, bem como um embaixador para substituí-lo.

Queda de Soderini

Nesse período, Maximiliano I declarou ter a intenção de conquistar a Itália para restaurar o antigo Sacro Império Romano-Germânico fazendo-se coroar em Roma. Com isso, os florentinos decidiram enviar representantes para saber a que custo poderiam preservar a cidade. Maquiavel e Francesco Vettori — que se tornariam amigos daí em diante — foram encarregados dessa negociação, passam por Trento, Bolzano e Innsbruck em dezembro de 15074 e chegaram à corte, em Viena, em janeiro de 1508.

Em 16 de junho de 1508, Maquiavel e Vettori retornam a Florença, pois Maximiliano seria derrotado pela República de Veneza. Ao retornar, Maquiavel passou a organizar as operações contra a República de Pisa, vencida em 4 de junho de 1509, após 15 anos de guerra. Da experiência com a viagem ao império, Maquiavel escreveria o “Ritratti delle cose dell’Alemagna” (1508-1512).

Entrementes as hostilidades entre o papa e Veneza chegaram ao máximo. Em 25 de março de 1509, o papa Júlio II alia-se à Liga de Cambrai. Esta vence a República de Veneza em Agnadello (14 de maio), tomando a maior parte das possessões venezianas em terra firme. Por outro lado, decidindo que não poderia deixar a Itália cair em mãos estrangeiras, o papa formou uma aliança com a Espanha e Veneza contra a França.

Os florentinos que sempre contaram com a ajuda do rei francês e que não queriam desagradar o papa viram-se divididos. Maquiavel foi enviado pela terceira vez à corte francesa para explicar a prudência dos florentinos apesar da exigência do rei de que esta se declarasse a seu favor. Sem sucesso, retornou em outubro de 1510 com a certeza de que haveria uma guerra entre a França e os Estados da Igreja.

Após Luís XII ter convocado um concílio cismático contra o papa e este decidido reunir-se em Pisa, domínio florentino, o papa ameaçou Florença com a excomunhão e Maquiavel teve que negociar o afastamento da reunião. Apesar do sucesso da missão — os padres dirigiram-se para Milão — o papa resolveu dar fim ao governo de Soderini. Uniu-se ao rei de Aragão contra a França e como Florença se recusou a apoiá-lo, a Dieta de Mântua atacou a cidade e destituiu Soderini, trazendo os Médici de volta ao poder.

Escrita das principais obras

Casa de Maquiavel durante seu exílio em Sant’Andrea in Percussina

Em 7 de novembro de 1512, Maquiavel foi demitido sob a acusação de ser um dos responsáveis por uma política anti-Médici e grande colaborador do governo anterior. Foi multado em mil florins de ouro e proibido de se retirar da Toscana durante um ano.

Para piorar sua situação, no ano seguinte dois jovens, Agostino Capponi e Pietropolo Boscoli, foram presos e acusados de conspirarem contra o governo. Um deles deixou cair involuntariamente uma lista de possíveis adeptos do movimento republicano, entre os quais estava o de Maquiavel, que foi preso e torturado. Para sua sorte, com a morte do papa Júlio II em 21 de fevereiro de 1513 e a eleição de João de Médici, um florentino, como Leão X, todos os suspeitos de conspiração foram anistiados como sinal de regozijo e com eles Maquiavel, depois de passar 22 dias na prisão.

Papa Júlio II, retrato de Rafael Sanzio, 1512, National Gallery, Londres.

Libertado, seguiu para uma propriedade no distrito de Sant’Andrea in Percussina distante 3,3 quilômetros da comuna de San Casciano dei Bagni, província de Florença. Foi durante esse ostracismo e inatividade, o qual duraria até sua morte, que ele escreveu suas obras mais conhecidas: “O Príncipe” e os “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio” (1512-1517). Foi também nesse período que conheceu vários escritores no Jardim Rucellai, círculo de literatos, e se aproximou de Francesco Guicciardini apesar de já conhecê-lo há tempos. Entre os escritos desse período estão o poema Asino d’oro (1517), a peça A Mandrágora(1518), considerada uma obra prima da comédia italiana, e Novella di Belfagor (romance, 1515), além de vários tratados histórico-político, poemas e sua correspondência particular (organizada pelos descendentes) como Dialogo intorno alla nostra língua (1514), Andria(1517), Discorso sopra il riformare lo stato di Firenze (1520), Sommario delle cose della citta di Lucca (1520), Discorso delle cose florentine dopo la morte di Lorenzo (1520), Clizia, comédia em prosa (1525), Frammenti storici (1525) e outros poemas como Sonetti,CanzoniOttave, e Canti carnascialeschi.

Com a morte de Lourenço II em 1520, Júlio de Médici, que depois tornou-se papa com o nome de Clemente VII, assumiu o poder em Florença. Ele via Maquiavel com melhores olhos que seus antecessores e o contratou como historiador da república para escrever uma História de Florença, obra a qual dedicaria os sete últimos anos de sua vida. Nesse mesmo ano, ele estava ocupado escrevendo A Arte da Guerra (1519-1520).1 E é a partir de uma viagem a trabalho a Lucca que ele escreveu a “Vita di Castruccio Castracani da Lucca” (1520).

Após a queda dos Médici, em 1527, com a invasão e saque de Roma pelas tropas espanholas de Carlos I, a república instalou-se novamente na cidade com o restabelecimento do Grande Conselho anteriormente instituído por Savonarola. Maquiavel viu mais uma vez suas esperanças de voltar a servir à cidade serem desfeitas, pois havia trabalhado para os Médici e foi tratado com desconfiança pela nova república.

Poucos dias depois, ficou doente, sentindo dores intestinais. Morreu obscuramente em 21 de junho e no dia seguinte foi enterrado no túmulo da família na Igreja de Santa Croce em Florença.

O Príncipe

Lourenço II de Médici, por Cristofano dell Altissimo, 1550.

O “Príncipe” é provavelmente o livro mais conhecido de Maquiavel e foi completamente escrito em 1513, apesar de publicado postumamente, em 1532. Teve origem com a união de Juliano de Médici e do Papa Leão X, com a qual Maquiavel viu a possibilidade de um príncipe finalmente unificar a Itália e defendê-la contra os estrangeiros, apesar de dedicar a obra a Lourenço II de Médici, mais jovem, de forma a estimulá-lo a realizar esta empreitada. Outra versão sobre a origem do livro, diz que ele o teria escrito em uma tentativa de obter favores dos Médici, contudo ambas as versões não são excludentes.

Está dividido em 26 capítulos. No início ele apresenta os tipos de principado existentes e expõe as características de cada um deles. A partir daí, defende a necessidade do príncipe de basear suas forças em exércitos próprios, não em mercenários e, após tratar do governo propriamente dito e dos motivos por trás da fraqueza dos Estados italianos, conclui a obra fazendo uma exortação a que um novo príncipe conquiste e liberte a Itália. Em uma carta ao amigo Francesco Vettori, datada de 10 de dezembro de 15134 , Maquiavel comenta sobre o escrito:

E como Dante diz que não se faz ciência sem registrar o que se aprende, eu tenho anotado tudo nas conversas que me parece essencial, e compus um pequeno livro chamado “De Principatus”, onde investigo profundamente o quanto posso cogitar desse assunto, debatendo o que é um principado, que tipos de principado existem, como são conquistados, mantidos, e como se perdem – Carta de Nicolau Maquiavel a Francesco Vettori, de 10 de dezembro de 1513.

Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio

Os “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio” opõem-se a “O Príncipe” pelo tema, apesar de ambos compartilharem alguns conceitos. Foram pensados como análise e comentário a toda a obra de Tito Lívio, mas permaneceram incompletos, não passando da primeira década.

Esta obra surgiu da vontade do autor de comparar as instituições da antiguidade, em especial as da Roma clássica, com as de Florença no período. Assim, seguindo a obra de Tito Lívio, analisa como surgem, se mantém e se extinguem os Estados. Ficou assim dividido em três partes, estudando na primeira a fundação e a organização, em seguida o enriquecimento e a expansão e por fim sua decadência.

A Arte da Guerra

Entre 1519 e 1520, escreveu Dell’arte della guerra (A Arte da Guerra), o único de seus trabalhos sobre política publicado em seu tempo de vida. Em síntese, ele dá conselhos sobre como obter e manter força militar e defende que o preparo militar dos cidadãos é necessário para eles e seu Estado mantenham a liberdade.

Interpretações comuns

Folha de rosto da edição de 1550 de O Príncipe e de A vida de Castruccio Castracani da Lucca, de Nicolau Maquiavel

A obra de Maquiavel relaciona-se diretamente com o tempo no qual foi produzida. O método utilizado por ele rompe com a tradição medieval ao fundamentar-se no empirismo e na análise dos fatos recorrendo a experiência histórica da Roma Antiga ganha por ele em seus estudos. Além disso, ele foi o primeiro a propor uma ética para a política diferente da ética religiosa, ou seja, a finalidade da política seria a manutenção do Estado.

O primeiro a se pronunciar sobre sua obra foi o cardeal inglês Reginald Pole, se dizendo horrorizado com a influência que ela teria sobre Thomas Cromwell. Os jesuítas o acusaram de ser contra a Igreja e convenceram o Papa Paulo IV a colocá-lo no Index Librorum Prohibitorum em 1559. Na França, um huguenote chamado Innocent Gentillet escreveu uma obra na qual o acusou de ateísmo e, seus métodos, de causadores do Massacre da noite de São Bartolomeu. Esta obra foi muito difundida na Inglaterra, contribuindo para a visão apresentada no teatro do século XVI. Em geral seus críticos se basearam em O Príncipe, analisando a obra isoladamente das demais obras de Maquiavel e sem levar em conta o contexto no qual foi produzida.

Houve também aqueles que quiseram conciliar seu pensamento com a Igreja ou torná-lo um nacionalista; sem muito sucesso, pois manipulavam seu pensamento da mesma forma. No presente, as análises feitas procuram levar em conta principalmente os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio e sua A Arte da Guerra, contextualizando seus escritos e declarando que Maquiavel não inventou uma teoria política, apenas descreveu as práticas que viu refletindo sobre elas.

Conselheiro de tiranos

Busto de Maquiavel em Florença no Palazzo Vecchio.

Essa análise começou a difundir-se com a Reforma e a Contra-Reforma. Se até então suas obras eram ignoradas, a partir daí, o autor e suas obras passaram a ser vistos como perniciosos, sendo forjada a expressão “os fins justificam os meios”, não encontrada em sua obra.

Essa interpretação está ligada também a visão de seus escritos como base teórica do absolutismo, ao lado de Thomas Hobbes e Jacques-Bénigne Bossuet, sem, no entanto, contemplar-se os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio em que faz elogios à forma republicana de governo.

Em sua obra O Príncipe, defendeu a centralização do poder político e não propriamente o absolutismo. Suas considerações e recomendações aos governantes sobre a melhor maneira de administrar o governo caracterizam a obra como uma teoria do Estado moderno. Ele é, de fato, considerado o “pai da moderna teoria política”.

Uma leitura apressada ou enviesada de Maquiavel poderia levar-nos a entendê-lo como um defensor da falta de ética na política, em que “os fins justificam os meios”. Para entender sua teoria é necessário colocá-lo no contexto da Itália renascentista, em que se lutava contra os particularismos locais. Durante o século XVI, a península Itálica estava dividida em diversos pequenos Estados, entre repúblicas, monarquias,ducados, além dos Estados da Igreja. As disputas de poder entre esses territórios era constante, a ponto de os governantes contratarem os serviços do condottieri (mercenários) com o intuito de obter conquistas territoriais.

Foi muito difundida no século XVI e encontram-se aproximadamente 400 peças que citam Maquiavel, todas vinculando seu nome à maldade, a ardilosidade e a falta de escrúpulos. William Shakespeare, por exemplo, o coloca em uma fala de Ricardo, Duque de Gloucester na sua peça sobre Henrique VI (Henry VI, Part 1Henry VI, Part 2Henry VI, Part 3)

Conselheiro do povo

Uma segunda interpretação diz que ao escrever O Príncipe, Maquiavel tentava alertar o povo sobre os perigos da tirania, tendo entre seus adeptos, Baruch de Espinoza e Jean-Jacques Rousseau. Este último escreveu “(…) é o que Maquiavel fez ver com evidência. Fingindo dar lições aos reis, deu-as, e grandes, aos povos.” Foi defendida recentemente por estudiosos da obra dele como Garret Mattingly.

Há os que afirmam ser O Príncipe uma sátira dos costumes dos governantes ou que o autor não acreditaria no que escreveu, baseando esta afirmação na preferência que teria Maquiavel pela República como forma de governo. Contudo o autor também faz críticas a República.

Nacionalista

Maquiavel era um verdadeiro republicano, mas ele acreditava que somente a força de um líder especial poderia criar o um Estado italiano forte como ele imaginava. Isso, muito tempo depois, na Europa do século XIX, durante as Guerras Napoleônicas, com a Alemanha e a Itália fragmentadas e com os nacionalismos internos surgindo, gerou uma visão de Maquiavel como um nacionalista exaltado, disposto a tudo pela união e defesa da Itália, como demonstrado no último capítulo de “O Príncipe”:

“Não se deve, portanto, deixar passar esta ocasião: a Itália, tanto tempo passado, há de ver enfim, a chegada de seu redentor. E faltam-me palavras para exprimir com que amor seria ele recebido em todas aquelas províncias que padeceram com o alúvio invasor dos estrangeiros; com que sede de vingança, com que inabalável fé, com que devoção, com que lágrimas. Que portas fechar-lhe-iam? Que povos negar-lhe-iam a obediência? Que inveja ser-lhe-ia oposta? Que italiano negar-lhe-ia o respeito?”

A obra de Maquiavel revela a consciência diante do perigo da divisão política da península em vários estados, que estariam expostos à mercê das grandes potências europeias.Hegel, Herder, Macaulay e Burd foram alguns de seus defensores, certamente fundamentando sua interpretação no capítulo final de O Príncipe em que Maquiavel faz uma apaixonada defesa de uma Itália unificada, afirmando que um povo só pode ser feliz e próspero se estiver unido.

Pensamento

Maquiavel não foi um pensador sistemático. Ele utiliza o empirismo para escrever através de um método indutivo e pensa em seus escritos como conselhos práticos, sendo além disso antiutópico e realista. A teoria não se separa da prática em Maquiavel. Os conceitos desenvolvidos por ele rompem com a tradição medieval teológica e também com a prática, comum durante o Renascimento, de propor Estados imaginários perfeitos, os quais os príncipes deveriam ter sempre em mente. A partir da observação da política de seu tempo e da comparação desta com a da Antiguidade vai formular o seu pensamento por acreditar na imutabilidade da natureza humana.

Virtù e fortuna

Os conceitos de virtù e fortuna são empregados várias vezes por Maquiavel em suas obras. Para ele, a virtù seria a capacidade de adaptação aos acontecimentos políticos que levaria à permanência no poder. A virtù seria como uma barragem que deteria os desígnios do destino. Mas segundo o autor, em geral, os seres humanos tendem a manter a mesma conduta quando esta frutifica e assim acabam perdendo o poder quando a situação muda.

A ideia de fortuna em Maquiavel vem da deusa romana da sorte e representa as coisas inevitáveis que acontecem aos seres humanos. Não se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar alguém ao poder como tirá-lo de lá, embora não se manifeste apenas na política. Como sua vontade é desconhecida, não se pode afirmar que ela nunca lhe favorecerá.

História

O túmulo de Maquiavel na Basílica da Santa Cruz.

Maquiavel escreve história mais como pensador político do que como historiador. Assim ele não se preocupa tanto com a referência precisa de afirmações contidas nas suas obras, ainda que tenha ido aos arquivos de Florença – prática incomum na época – e deixa transparecer nas suas obras históricas a defesa de algumas das suas ideias através da narração dos factos históricos. Ele também acredita que a história se repete, tornando a sua escrita útil como exemplo para que os homens, tentados a agir sempre da mesma maneira, evitassem cometer os mesmos erros.

Assim, enquanto alguns dos seus biógrafos atribuem-lhe os fundamentos da escrita moderna da história, outros admitem que ele não possuía uma visão crítica o suficiente para poder separar os fatos históricos dos mitos e aceitou como verdade, por exemplo, a fundação mitológica de Roma, Outros, ainda, atribuem-lhe uma “concepção dogmática e ingênua da história”.

Ética

A ética em Maquiavel se contrapõe à ética cristã herdada por ele da Idade Média. Para a ética cristã, as atitudes dos governantes e os Estados em si estavam subordinados a uma lei superior e a vida humana destinava-se à salvação da alma. Com Maquiavel a finalidade das ações dos governantes passa a ser a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, não o próprio, de forma que uma atitude não pode ser chamada de boa ou má a não ser sob uma perspectiva histórica.

Reside aí um ponto de crítica ao pensamento maquiavélico, pois com essa justificativa, o Estado pode praticar todo tipo de violência, seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados. Ao mesmo tempo, o julgamento posterior de uma atitude que parecia boa, pode mostrá-la má.

Natureza humana

Para ele, a natureza humana seria essencialmente má e os seres humanos querem obter os máximos ganhos a partir do menor esforço, apenas fazendo o bem quando forçados a isso. A natureza humana também não se alteraria ao longo da história fazendo com que seus contemporâneos agissem da mesma maneira que os antigos romanos e que a história dessa e de outras civilizações servissem de exemplo. Falta-lhe um senso das mudanças históricas.

“Mesmo as leis mais bem ordenadas são impotentes diante dos costumes” (…)
— Nicolau Maquiavel

Como consequência acha inútil imaginar Estados utópicos, visto que nunca antes postos em prática e prefere pensar no real. Sem querer com isso dizer que os seres humanos ajam sempre de forma má, pois isso causaria o fim da sociedade, baseada em um acordo entre os cidadãos. Ele quer dizer que o governante não pode esperar o melhor dos homens ou que estes ajam segundo o que se espera deles.

——————————————————————————————-

1466 – 1536

Ficheiro:Holbein-erasmus3.jpg

Erasmo de RotterdamRoterdão (português europeu) ou Roterdã (português brasileiro) (nascido Gerrit Gerritszoon ou Herasmus Gerritszoon; em latim: Desiderius Erasmus Roterodamus; Roterdão, 28 de outubro de 1466 — Basileia, 12 de julho de 1536) foi um teólogo e um humanista neerlandês que viajou por toda a Europa (inclusive Portugal).

Erasmo cursou o seminário com os monges agostinianos e realizou os votos monásticos aos 25 anos, vivendo como tal, sendo um grande crítico da vida monástica e das características que julgava negativas na Igreja Católica.

Frequentou o Collège Montaigu, em Paris, e continuou seus estudos na Universidade de Paris, então o principal centro da escolástica, apesar da influência crescente do Renascimento da cultura clássica, que chegava de Itália. Erasmo optou por uma vida de acadêmico independente, independente de país, independente de laços acadêmicos, de lealdade religiosa e de tudo que pudesse interferir com a sua liberdade intelectual e a sua expressão literária.

Os principais centros da sua atividade foram Paris, Lovaina, Inglaterra e Basileia. No entanto, nunca pertenceu firmemente a nenhum destes locais. O tempo passado na Inglaterra foi frutífero, tendo feito amizades para a vida com os líderes ingleses, mesmo nos dias tumultuosos do rei Henrique VIII: John Colet, Thomas More, John Fisher, Thomas Linacre e Willian Grocyn. Na Universidade de Cambridge foi o professor de Teologia de Lady Margaret e teve a opção de passar o resto de sua vida como professor de inglês. Ele esteve no Queens’ College, em Cambridge, e é possível que tenha sido alumnus.

Foram-lhe oferecidas várias posições de honra e proveito através do mundo acadêmico, mas ele declinou-as todas, preferindo a incerteza, tendo no entanto receitas suficientes da sua atividade literária independente.

Entre 1506 e 1509 esteve em Itália. Passou ali uma parte do seu tempo na casa editorial de Aldus Manutius, em Veneza.

De acordo com suas cartas, ele esteve associado com o filósofo natural veneziano, Giulio Camillo, mas, além deste, ele teve uma associação com acadêmicos italianos menos ativa do que se esperava.

A sua residência em Lovaina expôs Erasmo a muitas críticas mesquinhas por parte daqueles que eram hostis aos princípios do progresso literário e religioso aos quais ele devotava a vida. Ele interpretava esta falta de simpatia como uma perseguição e procurou refúgio em Basileia, onde, sob abrigo de hospitalidade suíça, pôde expressar-se livremente e estava rodeado de amigos. Foi lá que esteve associado por muitos anos com o grande editor Froben, e onde uma multidão de admiradores de (quase) todos os cantos da Europa o vieram visitar.

Primeiros anos

Desidério Erasmo nasceu em 28 de outubro na década de 1460. O ano exato de seu nascimento é debatido, com a maioria dos biógrafos citando o ano de 1467. Algumas evidencias podem ser encontradas nas próprias palavras de Erasmo: de 23 declarações feitas sobre sua idade, boa parte indica 1466. Ele foi batizado de “Erasmo”, após o santo de mesmo nome. Embora associado ao Roterdão, ele morou lá por apenas quatro anos, e nunca mais voltou. Informações sobre sua família e início da vida vem principalmente de referências vagas em seus escritos. Seus pais quase certamente não eram casados ​​legalmente. Seu pai, Gerard, era um padre e pároco católico em Gouda. Pouco se sabe de sua mãe se não o seu nome que era Margaretha Rogers e ela era a filha de um médico; ela pode ter sido governanta de Gerard. Embora tenha nascido fora de um casamento, Erasmo foi cuidado por seus pais até a morte precoce de peste negra em 1483, mas ele acreditou que isso seria uma mancha, e lançou uma cortina de fumaça em torno de sua juventude.

Escritos religiosos

Kings’s College, Universidade de Cambridge.

A produtividade literária de Erasmo começou relativamente tarde na sua vida. Apenas quando ele dominou o Latim é que começou a escrever sobre grandes temas contemporâneos em Literatura e em Religião.

A sua revolta contra as formas de vida da igreja não resultou tanto de dúvidas quanto à verdade da doutrina tradicional, nem de alguma hostilidade para com a organização da Igreja. Sentiu antes a necessidade de aplicar os seus conhecimentos na purificação da doutrina e na liberalização das instituições do cristianismo.

Como acadêmico, tentou libertar os métodos da Escolástica da rigidez e do formalismo das tradições medievais, mas não ficou satisfeito. Ele viu-se como o pregador da retidão. A sua convicção em toda a vida foi que o que era necessário para regenerar a Europa era uma aprendizagem sã, aplicada liberalmente e sem receios pela administração de assuntos públicos da Igreja e do Estado. Esta convicção confere unidade e consistência a uma vida que, de outra forma, pode parecer plena de contradições. Erasmo viu-se livre e distante de quaisquer obrigações comprometedoras; no entanto, Erasmo foi, num sentido singularmente verdadeiro, o centro do movimento literário do seu tempo.2 Ele se correspondeu com mais de quinhentos homens da maior importância no mundo da política e do pensamento, e o seu conselho em vários assuntos era procurado avidamente, se bem que nem sempre seguido.

Aquando da sua estadia em Paris, Erasmo iniciou a examinação sistemática dos manuscritos do Novo Testamento, por forma a preparar uma nova edição e uma tradução para Latim. Esta edição foi publicada por Froben de Basileia em 1516 e foi a base da maioria dos estudos científicos da Bíblia durante o período da Reforma. Erasmo também escreveu sobre o guerreiro frísio Pier Gerlofs Donia, embora com muito mais críticas do que elogios aos feitos dele, chamando-o de “bruto estúpido que preferia a força à sabedoria”.

Ele publicou uma edição crítica do Novo Testamento Grego em 1516 – Novum Instrumentum omne, diligenter ab Erasmo Rot. Recognitum et Emendatum. A edição incluiu uma tradução em Latim e anotações. Baseou-se também em manuscritos adicionais recentemente descobertos.

Na segunda edição, o termo mais familiar “Testamentum” foi usado em vez de “Instrumentum”. Esta edição foi usada pelos tradutores da versão da Bíblia do Rei Jaime I de Inglaterra. O texto ficou conhecido mais tarde como o textus receptus. Erasmo publicou mais três edições – 1522, 1527 e 1535. Foi a primeira tentativa por parte de um acadêmico competente e liberal de averiguar aquilo que os escritores do Novo Testamento tinham efetivamente dito. Erasmo dedicou o seu trabalho ao Papa Leão X, como patrono da aprendizagem, e considerou o seu trabalho como o seu principal serviço à causa do Cristianismo. Imediatamente depois, começou a publicação das suas paráfrases do Novo Testamento, uma apresentação popular do conteúdo de vários livros. Este, como todos os seus livros, foi publicado em Latim, mas as suas obras eram imediatamente traduzidas noutras línguas, com o seu encorajamento.

Protestantismo

Erasmo por Holbein, o novo

O movimento de Martinho Lutero começou no ano seguinte à publicação do Novo Testamento, e foi um teste ao carácter de Erasmo. A discussão entre a sociedade europeia e a Igreja Católica Romana tinha-se tornado tão aberta que poucos se podiam furtar a um pedido de uma opinião. Erasmo, no auge da sua fama literária, foi inevitavelmente chamado a tomar partido por um dos lados, mas partidarismo era algo de estranho à sua natureza e hábitos.

Em toda a sua crítica às tolices clericais e aos abusos, ele tinha sempre afirmado que não estava a atacar as instituições da Igreja em si e não era um inimigo do clero. O mundo inteiro tinha rido com as suas sátiras, mas poucos interferiram com as suas atividades. Ele acreditava que o seu trabalho até então o recomendava às melhores mentes e aos poderes dominantes no mundo religioso.

Erasmo tinha uma simpatia pelos pontos principais da crítica luterana à Igreja. Tinha um grande respeito pessoal por Martinho Lutero e Lutero sempre falava de Erasmo com reverência pelo seu conhecimento. Lutero esperava obter a sua cooperação num trabalho que parecia o resultado natural do seu próprio. Na sua troca de correspondência inicial, Lutero expressou uma intensa admiração por tudo o que Erasmo tinha feito pela causa de um cristianismo saudável e razoável e encorajou-o a unir-se ao movimento.

Erasmo declinou qualquer compromisso, argumentando que ao o fazer estaria a colocar em risco a sua posição como líder de um movimento por uma sabedoria pura, o que ele via como o objectivo de sua vida. Apenas como um acadêmico independente poderia ele aspirar a influenciar a reforma da religião. A obra de Lutero foi a de providenciar uma nova base doutrinal para as tentativas até então dispersas de iniciar uma reforma. Ao reavivar os princípios quase esquecidos da teologia de Agostinho, Lutero tinha fornecido o necessário impulso para o interesse pessoal na religião, o que é a essência da Reforma Protestante. Erasmo, no entanto, temia qualquer mudança na doutrina e acreditava que não havia espaço dentro das fórmulas existentes para o tipo de reforma que ele apreciava tanto.

Por duas vezes durante o debate, ele entrou no campo da controvérsia doutrinal, uma área que era estranha à sua natureza e práticas prévias. Um dos tópicos com que lidou foi a liberdade da vontade, um ponto crucial. No seu “De libero arbitrio diatribe sive collatio” (1524), ele analisa com inteligência e bom humor os exageros Luteranos sobre as óbvias limitações da liberdade humana. Ele apresenta ambos os lados da discussão de forma imparcial. A sua posição foi de que o Homem estava obrigado a pecar, mas que tinha o direito à misericórdia de Deus apenas se ele a procurasse pelos meios que lhe eram oferecidos pela própria Igreja. A “diatribe” não encorajava qualquer ação definida; este era o seu mérito aos olhos dos Erasmianos e o seu defeito aos olhos dos Luteranos.

Emblema da cidade de Basileia

Quando Erasmo hesitou em apoiá-lo, isto pareceu aos olhos de Lutero, um homem direto, um evitar de responsabilidade que era devido ou a cobardice ou a falta de visão. No entanto, o lado Católico Romano, que pretendia igualmente manter o apoio de um homem que se tinha declarado tantas vezes como leal aos princípios da Igreja, viu na relutância de Erasmo em tomar partido um sinal de suspeita da deslealdade perante o Catolicismo. A atitude de Erasmo para com a Reforma Protestante pode no entanto ser vista como consistente.

Os males que ele combateu foram os de forma ou foram males de um tipo curável apenas por uma longa e lenta regeneração na moral e vida espiritual na Europa. O programa da “Reforma de Erasmo” era de usar a aprendizagem para remover os piores excessos. No entanto, falhou em oferecer qualquer método tangível para aplicar os seus princípios ao sistema da Igreja existente. Quando Erasmo foi acusado de ter “posto o ovo que Lutero chocou” ele admitiu parcialmente a verdade da acusação mas disse que tinha esperado uma outra espécie de pássaro completamente diferente.

À medida que a opinião pública começa a reagir às opiniões de Lutero, as desordens sociais que Erasmo temia começaram a aparecer. A Guerra dos Camponeses, os distúrbios do Anabaptistas na Alemanha e nos Países Baixos, iconoclastia e radicalismo por toda a parte, parecem confirmar as suas previsões mais obscuras. Se este era o resultado da reforma, ele preferia estar de fora. No entanto, ele começava a ser acusado cada vez mais pela “tragédia”. Na Suíça, ele estava ainda mais exposto pela sua associação com homens que eram suspeitos de doutrinas extremamente racionalistas.

A questão-teste era a doutrina dos Sacramentos, e o cerne da questão a observância da Eucaristia. Em parte para livrar-se de suspeitas, Erasmo publicou em 1530 uma nova edição do tratado ortodoxo de Algerus contra o herético Berengário de Tours no século XI. Ele acrescentou uma dedicatória, afirmando acreditar na realidade do corpo de Jesus Cristo após a consagração da Eucaristia, mas admitia que a forma em que este mistério deveria ser expressa fosse matéria de debate. Era-lhe aceitável que a Igreja pregasse a doutrina à maioria dos cristãos e a especulação ficasse mais segura nas mãos dos filósofos. Aqui e acolá Erasmo aponta o princípio de que um homem pode ter duas opiniões sobre assuntos religiosos, uma para si mesmo e seus amigos mais íntimos e outra para o público. Aqueles que se opunham aos Sacramentos, liderados por Oecolampadius de Basileia, estavam, como Erasmo diz, mencionando-o como alguém com ideias semelhantes. Ele nega isto, mas na sua negação traiu aquilo que em conversas particulares é tido como uma visão racional da doutrina da Eucaristia. Tal como no caso da vontade livre, não tinha aqui a aprovação da Igreja.

Últimos anos

Erasmo por Hans Holbein, o novo

A sua obra mais conhecida, “Laus Stultitiae” (“Elogio da Loucura”), escrita em 1509, foi dedicada ao seu amigo Sir Thomas More. Em 1536 ele escreveu “De puritate ecclesiae christianae”, na qual ele tentou reconciliar os diferentes partidos. Muito dos seus escritos apelam a uma grande audiência e lidam com assuntos do interesse humano geral; ele parece ter considerado estes como uma diversão, uma atividade de lazer. Os seus escritos mais sérios começaram cedo com a “Enchiridion Militis Christiani” , o “Manual (ou adaga) do cavalheiro cristão” (1503). Nesta breve obra, Erasmo esquematiza as perspectivas da vida cristã normal, uma tarefa que se lhe tornaria constante na sua vida. O principal mal dos seus dias, diz ele, é o formalismo, um respeito por tradições sem consideração pelo verdadeiro ensinamento de Cristo. O remédio é que cada homem se pergunte a cada ponto “Qual a coisa essencial?”, fazendo-o sem receio. Formas podem esconder ou sufocar o espírito. Na sua examinação dos perigos do formalismo, Erasmo discute a vida monástica, a veneração dos santos, a guerra, o espírito de classe e as fraquezas da “sociedade”, mas o “Enchiridion” é mais um sermão do que uma sátira. O seu texto acompanhante, o “Institutio Principis Christiani” (Basileia, 1516), foi escrito como conselho ao jovem Rei Carlos de Espanha, mais tarde Carlos V, Sacro-Imperador Romano. Erasmo aplica os princípios gerais de honra e de sinceridade às especiais funções do Príncipe, quem ele apresenta como um servidor do povo.

Como resultado das suas atividades reformadoras, Erasmo viu-se em conflito com ambas as grandes posições. Os seus últimos anos de vida foram ofuscados por controvérsias amargas com pessoas para quem ele seria normalmente simpático. Notavelmente entre estes encontrava-se Ulrich von Hutten, um gênio brilhante mas errático, que se entregara à causa de Lutero e tinha declarado que Erasmo, se tivesse uma faísca que fosse de honestidade, faria o mesmo. Na sua resposta “Spongia adversus aspergines Hutten” (1523), Erasmo demonstra o seu pleno domínio da semântica. Ele acusa Hutten de ter interpretado mal o seu discurso sobre a reforma e reitera a sua determinação em não tomar partido nunca.

Placa comemorativa da estadia de Erasmo em Friburgo

Quando a cidade de Basileia se tornou oficialmente “reformada” em 1529, Erasmo deixou de residir ali, tendo-se mudado para a cidade imperial de “Friburgo em Brisgóvia”. Parece indicar que ele viu como mais fácil manter a sua neutralidade sob o domínio Católico Romano do que em condições protestantes. A sua atividade literária permaneceu inabalada, maioritariamente na composição religiosa e didática. A obra mais importante deste último período é a “Eclesiastes”, ou “Pregador do Evangelho” (Basileia, 1535), na qual ele aponta a função de pregador como o serviço mais importante do padre cristão, uma ênfase protestante. O seu pequeno tratado de 1533, “Preparação para a Morte”, no qual ele coloca ênfase na importância de uma boa vida como condição essencial para uma morte feliz, mostra outra tendência.

Erasmo retornou a Basileia, a sua casa mais feliz, em 1535, após ausência de seis anos. Lá, de novo entre o grupo de acadêmicos protestantes que eram seus amigos de longa data, e sem ter qualquer contacto que seja conhecido com a Igreja Católica Romana, Erasmo faleceu. Durante a sua vida, as autoridades da Igreja Católica nunca o tinham chamado a justificar as suas opiniões. Os ataques à sua pessoa não foram institucionais, e os seus protetores tinham sido figuras de alto escalão. Em 1535 o papa Paulo III intentou eleva-lo à condição de Cardeal, mas Erasmo alegou a sua avançada idade e estado de saúde para recusar. Após a sua morte, como reação da Igreja Católica Romana, os seus escritos viriam a ser colocados no Index dos livros proibidos (ver Index Librorum Prohibitorum).

Erasmo faleceu em Basileia, Suíça. Encontra-se sepultado na Catedral de Basileia, Basileia, na Suíça.

Legado

A popularidade extraordinária dos seus livros fica patente pelo número de edições e traduções que surgiram desde o século XVI, e no interesse permanente que é suscitado pela sua personalidade esquiva mas fascinante. Dez colunas do catálogo da “British Library” estão ocupados com a mera enumeração de suas obras e subsequentes reedições. Grandes nomes da era clássica e dos pais da igreja foram traduzidos, editados ou comentados por Erasmo, incluindo Santo Ambrósio de Milão, Aristóteles, Santo Agostinho, São Basílio de Cesareia, São João Crisóstomo, Cícero, e Jerônimo de Estridão.

O seu livro mais famoso, “O Elogio da Loucura”, (Laus Stultitiae), escrito em 1509, foi dedicado ao seu amigo Sir Thomas More.

——————————————————————————————-

1478 – 1535

Ficheiro:Hans Holbein d. J. 065.jpg

São Sir Thomas More, por vezes latinizado em Thomas Morus ou aportuguesado em Tomás Morus (Londres, 7 de Fevereiro de 1478 — Londres, 6 de Julho de 1535) foi homem de estado, diplomata, escritor, advogado e homem de leis, ocupou vários cargos públicos, e em especial, de 1529 a 1532, o cargo de “Lord Chancellor” (Chanceler do Reino – o primeiro leigo em vários séculos) deHenrique VIII da Inglaterra. É geralmente considerado como um dos grandes humanistas do Renascimento. Foi canonizado como santo da Igreja Católica em 19 de Maio de 1935 e sua festa litúrgica celebra-se em 22 de Junho.

“De família não célebre, mas honesta”

Thomas More chegou a se auto-descrever como “de família honrada, sem ser célebre, e um tanto entendido em letras”. Era filho do juiz Sir John More, investido cavaleiro por Eduardo IV, e de Agnes Graunger. Casou-se com Jane Colt em 1505, em primeiras núpcias, tendo tido como filhos: Margaret, Elizabeth, Cecily e John. Jane morreu em 1511 e Thomas More casou-se em segundas núpcias com Lady Alice Middleton. More era homem de muito bom humor, caseiro e dedicado à família, muito próximo e amigo dos filhos. Dele se disse que era amigo de seus amigos, entre os quais se encontravam os mais destacados humanistas de seu tempo, como Erasmo de Rotterdam e Luis Vives.

Deu aos filhos uma educação excepcional e avançada para a época, não discriminando a educação dos filhos e das filhas. A todos indistintamente fez estudar latim, grego, lógica, astronomia, medicina, matemática e teologia. Sobre esta família escreveu Erasmo: “Verdadeiramente, é uma felicidade conviver com eles.”

Fez carreira como advogado respeitado, honrado e competente e exerceu por algum tempo a cátedra universitária. Em 1504, fazia parte da Câmara dos Comuns da qual foi eleito Speaker (ou presidente), tendo ganho fama de parlamentar combativo. Em 1510, foi nomeado Under-Sheriff de Londres, no ano seguinte juiz membro da Commission of Peace. Entrou para a corte de Henrique em 1520 foi várias vezes embaixador do rei e tornou-se cavaleiro (Knight) em 1521. Foi nomeado vice-tesoureiro e depois Chanceler do Ducado de Lancaster e, a seguir, Chanceler da Inglaterra.

Estudo para um retrato da família de Tomás Moro, por Hans Holbein, o jovem, 1527

A sua obra mais famosa é “Utopia” (1516) (em grego, utopos = “em lugar nenhum”) . Neste livro criou uma ilha-reino imaginária que alguns autores modernos viram como uma proposta idealizada de Estado e outros como sátira da Europa do século XVI. Um dos aspectos desta obra de More é que ela recorreu à alegoria (como no Diálogo do conforto, ostensivamente uma conversa entre tio e sobrinho) ou está altamente estilizada, ou ambos, o que lhe abre um largo campo interpretativo .

Como intelectual, ele foi inicialmente um humanista no sentido consensual do termo. Latinista, escreveu uma “História de Ricardo III” em texto bilíngüe latim-inglês, em que Shakespeare, mais tarde se basearia para escrever a peça de igual nome. Foi um grande amigo de Erasmo de Roterdão que lhe dedicou o seu “In Praise of Folly” (a palavra “folly” equivale à “moria” em grego).

Era um leitor das obras de Santo Agostinho e traduziu para o vernáculo “A Vida de Pico della Mirandolla”, obras que exerceram sobre ele grande influência. Escolheu John Colet, sacerdote, como diretor espiritual, que lhe estabeleceu um plano intenso de práticas pietistas.

De Morus teria dito Erasmo: “É um homem que vive com esmero a verdadeira piedade, sem a menor ponta de superstição. Tem horas fixas em que dirige a Deus suas orações, não com frases feitas, mas nascidas do mais profundo do coração. Quando conversa com os amigos sobre a vida futura, vê-se que fala com sinceridade e com as melhores esperanças. E assim é More também na Corte. Isto, para os que pensam que só há cristãos nos mosteiros.”

O divórcio de Henrique VIII

Thomas Wolsey, Arcebispo de York, não foi bem sucedido na sua tentativa de conseguir nem o divórcio nem a anulação do casamento do rei com Catarina de Aragão como Henrique VIII de Inglaterra pretendia e foi forçado a demitir-se em 1529. More foi nomeado chanceler em sua substituição, sendo evidente que Henrique ainda não se tinha apercebido da retidão de caráter de More nesta matéria.

A sua chancelaria (1529-32) distinguiu-se pela sua exemplaridade, tratando pessoalmente, de todos os litígios existentes, até mesmo os herdados, sendo extremamente eficiente, imparcial e justo em suas decisões.

Sendo profundo conhecedor de teologia e do direito canônico e homem religioso – ao ponto de se mortificar por Deus – usava por baixo das roupas uma camisa cilício – More via no anulamento do sacramento do casamento uma matéria da jurisdição do papado, e a posição do Papa Clemente VII era claramente contra o divórcio em razão da doutrina sobre a indissolubilidade do matrimônio. Contrário às Reformas Protestantes então já efetuadas e percebendo que na Inglaterra poderia acontecer o mesmo (devido às questões pessoais do soberano que conduziram à crise político-diplomática com Roma), More – apoiante das decisões da Santa Sé e arreigadamente católico – deixa seu cargo de Lord Chancellor do rei em 16 de maio de 1532, provocando desconfiança na Corte e em Henrique VIII particularmente.

A reacção de Henrique VIII foi atribuir-se a si mesmo a liderança da Igreja em Inglaterra sendo o sacerdócio obrigado a um juramento ao abrigo do Ato de Supremacia que consagrava o soberano como chefe supremo da Igreja.

More escapara, entretanto, a uma tentativa de o implicar numa conspiração. Em 1534, o Parlamento promulgou o “Decreto da Sucessão” (Succession Act), que incluía um juramento (1) reconhecendo a legitimidade de qualquer criança nascida do casamento de Henrique VIII com Ana Bolena, e (2) repudiando “qualquer autoridade estrangeira, príncipe ou potentado”. Tal como no juramento de supremacia, este apenas foi exigido àqueles especificamente chamados a fazê-lo, por outras palavras, a todos os funcionários públicos e àqueles suspeitos de não apoiarem Henrique.

Martírio

More foi convocado, excepcionalmente, para fazer o juramento em 17 de abril de 1534, e, perante sua recusa, foi preso na Torre de Londres, juntamente com o Cardeal e Bispo de Rochester John Fisher, tendo ali escrito o “Dialogue of Comfort against Tribulation”. A sua decisão foi manter o silêncio sobre o assunto. Pressionado pelo rei e por amigos da corte, More decidiu não enumerar as razões pelas quais não prestaria o juramento.

Inconformado com o silêncio de More, o rei determinou o seu julgamento, sendo condenado à morte, e posteriormente executado em Tower Hill a 6 de Julho. Nem no cárcere nem na hora da execução perdeu a serenidade e o bom humor e, diante das próprias dificuldades reagia com ironia.

Pela sentença o réu era condenado “a ser suspenso pelo pescoço” e cair em terra ainda vivo. Depois seria esquartejado e decapitado. Em atenção à importância do condenado o rei, “por clemência”, reduziu a pena a “simples decapitação”. Ao tomar conhecimento disto, Tomás comentou: “Não permita Deus que o rei tenha semelhantes clemências com os meus amigos.” No momento da execução suplicou aos presentes que orassem pelo monarca e disse que “morria como bom servidor do rei, mas de Deus primeiro.”

A sua cabeça foi exposta na ponte de Londres durante um mês, foi posteriormente recolhida por sua filha, Margaret Roper. A execução de Thomas More na Torre de Londres, no dia 6 de julho de 1535 “antes das nove horas”, ordenada por Henrique VIII, foi considerada uma das mais graves e injustas sentenças aplicadas pelo Estado contra um homem de honra, consequência de uma atitude despótica e de vingança pessoal do rei. Ele está sepultando na Capela Real de São Pedro ad Vincula.

Canonização

Sua trágica morte – condenado a pena capital por se negar a reconhecer Henrique VIII como cabeça da Igreja da Inglaterra, é considerada pela Igreja Católica como modelo de fidelidade à Igreja é à própria consciência, e representa a luta da liberdade individual contra o poder arbitrário.

Devido à sua retidão e exemplo de vida cristã, foi reconhecido como mártir, declarado beato em 29 de dezembro de 1886 por decreto do Papa Leão XIII e canonizado, conjuntamente com São João Fisher em 19 de maio de 1935 pelo Papa Pio XI. O seu dia festivo é 22 de Junho.

Deixou vários escritos de profunda espiritualidade e de defesa do magistério da Igreja. Em 1557, seu genro, William Roper, escreveu sua primeira biografia. Desde a sua beatificação e posterior canonização publicaram-se muitas outras.

Patrono dos políticos e dos governantes

Estátua de Thomas More em frente do Chelsea Old Church, localizado na esquina de Old Church Street e Cheyne Walk, Londres.

Em 2000, São Thomas More foi declarado 2 “Patrono dos Estadistas e Políticos” pelo Papa João Paulo II:

“Esta harmonia do natural com o sobrenatural é talvez o elemento que melhor define a personalidade do grande estadista inglês: viveu a sua intensa vida pública com humildade simples, caracterizada pelo proverbial «bom humor» que sempre manteve, mesmo na iminência da morte.

Esta foi a meta a que o levou a sua paixão pela verdade. O homem não pode separar-se de Deus, nem a política da moral: eis a luz que iluminou a sua consciência. Como disse uma vez, “o homem é criatura de Deus, e por isso os direitos humanos têm a sua origem n’Ele, baseiam-se no desígnio da criação e entram no plano da Redenção. Poder-se-ia dizer, com uma expressão audaz, que os direitos do homem são também direitos de Deus” (Discurso, de abril de 1998).

É precisamente na defesa dos direitos da consciência que brilha com luz mais intensa o exemplo de Tomás Moro. Pode-se dizer que viveu de modo singular o valor de uma consciência moral que é “testemunho do próprio Deus, cuja voz e juízo penetram no íntimo do homem até às raízes da sua alma” (Carta enc. Veritatis splendor, 58), embora, no âmbito da ação contra os hereges, tenha sofrido dos limites da cultura de então.”

Obras de More (editadas em várias línguas)

  • The Workes of Sir Thomas More Knyght, sometyme Lorde Chauncellour of England, written by him in the Englysh tongue (“Trabalhos de Sir Thomas More” escrito em inglês). Ed. William Rastell, London, 1557.
  • Thomae Mori Opera Omnia Latina. Lovaina, 1565. Reimpresso em Frankfurt, 1963.
  • Um homem para todas as horas (Correspondência de Tomás Moro). The Correspondence of Sir Thomas More. Princeton: Elizabeth F. Rogers Edit., 1947.
  • Thomas More’s Prayer Book. Louis L. Martz & Richard S. Sylvester. New Haven, Connecticut, 1969.
  • Diálogo da fortaleza contra a tribulação.
  • A Agonia de Cristo.
  • A Apologia.
  • Um homem só (Cartas da torre).
  • Os Novíssimos.
  • Réplica a Martinho Lutero.
  • Diálogo contra as heresias.
  • Súplica das Almas.
  • Refutação da Resposta de Tyndale.
  • Debelação de Salem e Bizancio.
  • Tratado sobre a Paixão de Cristo.
  • Expositio Passionis.
  • Tratado para receber o Corpo de Nosso Senhor.
  • Piedosa Instrução.
  • Orações.
  • Epitáfio.
  • Vida de Pico della Mirandola.
  • História de Ricardo III.
  • Utopia.

Relíquias

Os padres jesuítas em Stonyhurst possuem uma notável coleção de relíquias secundárias, a maioria das quais lhes chegou vindas do padre Thomas More, S.J., falecido em 1795, o último herdeiro masculino do mártir. Estas incluem o seu chapéu, boné, crucifixo de ouro, um selo de prata, “George”, e outros artigos.

A camisa de cilício usada por ele durante muitos anos e enviada a sua filha Margaret Roper na véspera do seu martírio, é preservada pelos agostinianos canoneses de Abbots Leigh, Devonshire, onde foi levada por Margaret Clements, filha adotiva de Sir Thomas. Uma série de autógrafos e cartas estão no Museu Britânico.

Filme

Em 1966, foi feito o filme A Man for All Seasons, que no Brasil recebeu o título de O Homem que Não Vendeu sua Alma. O filme, de Fred Zinnemann, conta a história de Thomas Morus, desde o divórcio de Henrique VIII até a perseguição feita pelo rei a Thomas Morus. Thomas foi interpretado por Paul Scofield

——————————————————————————————-

1483 – 1546

Ficheiro:Luther46c.jpg

Martinho Lutero, em alemão Martin Luther, (Eisleben, 10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546) foi umsacerdote católico agostiniano e professor de teologia germânico que foi figura central da Reforma Protestante. Que ficando contra os conceitos da Igreja Católica veementemente contestando a alegação de que a liberdade da punição de Deus sobre o pecado poderia ser comprada, confrontou o vendedor de indulgências Johann Tetzel com suas 95 Teses em 1517. Sua recusa em retirar seus escritos a pedido do Papa Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 resultou em sua excomunhão pelo Papa e a condenação como um fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano Antigo.

Lutero ensinava que a salvação não se consegue com boas ações, mas é um livre presente de Deus, recebida apenas pela graça, através da fé em Jesus como único redentor do pecador. Apesar disso, em suas teses não negava a necessidade da confissão, considerando-a necessária para o perdão da falta. Sua teologia desafiou a autoridade papal na Igreja Católica Romana, pois ele ensinava que a Bíblia é a única fonte de conhecimento divinamente revelada e opôs-se ao sacerdotalismo, por considerar todos os cristãos batizados como um sacerdócio santo. Aqueles que se identificavam com os ensinamentos de Lutero eram chamados luteranos.

Em seus últimos anos, Lutero tornou-se algo antissemita, chegando a escrever que as casas judaicas deveriam ser destruídas, e suas sinagogas queimadas, dinheiro confiscado e liberdade cerceada. Essas afirmações fizeram de Lutero uma figura controversa entre muitos historiadores e estudiosos.

Primeiros anos de vida

Martinho Lutero, cujo nome em alemão era Martin Luther ou Luder, era filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann. Mudou-se para Mansfeld, onde seu pai dirigia várias minas de cobre. Tendo sido criado no campo, Hans Luther desejava que seu filho viesse a se tornar um funcionário público, melhorando, assim, as condições da família. Com esse objetivo, enviou o já velho Martinho para escolas em Mansfeld, Magdeburgo e Eisenach.

Aos dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde tocava alaúde e onde recebeu o apelido de O Filósofo. Ainda na Universidade de Erfurt, estudou a filosofia nominalista de Ockham (as palavras designam apenas coisas individuais; não atingem os “universais”, as realidades presentes em todos os indivíduos, como por exemplo a natureza humana; em consequência, nada pode ser conhecido com certeza pela razão natural, exceto as realidades concretas: esta pessoa, aquela coisa). Esse sistema dissolvia a harmonia multissecular entre a ciência e a fé que tanto havia sido defendida pela escolástica de “São Jesus Cristo”, pois essa filosofia baseava-se unicamente na vontade de Deus. O jovem estudante graduou-se bacharel em 1502 e concluiu o mestrado em 1505, sendo o segundo entre dezessete candidatos. Seguindo os desejos maternos, inscreveu-se na escola de direito da mesma universidade. Mas tudo mudou após uma grande tempestade com descargas elétricas, ocorrida naquele mesmo ano (1505): um raio caiu próximo de onde ele estava passando, ao voltar de uma visita à casa dos pais. Aterrorizado, teria, então, gritado: “Ajuda-me, Sant’Ana! Eu me tornarei um monge!”

Tendo sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu todos os seus livros, com exceção dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, de Frankfurt, a 17 de julho de 1505.

Vida monástica e acadêmica

Lutero com a tonsura monástica.

O jovem Martinho Lutero dedicou-se por completo à vida no mosteiro, empenhando-se em realizar boas obras a fim de agradar a Deus e servir ao próximo através de orações por suas almas. Dedicou-se intensamente à meditação, às autoflagelações, às muitas horas de oração diárias, às peregrinações e à confissão. Quanto mais tentava ser agradável ao Senhor, mais se dava conta de seus pecados.

Johann von Staupitz, o superior de Lutero, concluiu que o jovem necessitava de mais trabalhos, para afastar-se de sua excessiva reflexão. Ordenou, portanto, ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em 1507, Lutero foi ordenado sacerdote. Em 1508, começou a lecionar teologia na Universidade de Wittenberg. Lutero recebeu seu bacharelado em estudos bíblicos em 19 de março de 1508. Dois anos depois, visitou Roma, de onde regressou bastante decepcionado.

Em 19 de outubro de 1512, Martinho Lutero graduou-se Doutor em Teologia e, em 21 de outubro do mesmo ano, foi “recebido no Senado da Faculdade Teológica” com o título de “Doutor em Bíblia”. Em 1515, foi nomeado vigário de sua ordem tendo sob sua autoridade onze monastérios.

Durante esse período, estudou grego e hebraico, para aprofundar-se no significado e origem das palavras utilizadas nas Escrituras – conhecimentos que logo utilizaria para a sua própria tradução da Bíblia.

A controvérsia acerca das indulgências

Além de suas atividades como professor, Martinho Lutero ainda colaborava como pregador e confessor na igreja de Santa Maria, na cidade. Também pregava habitualmente na igreja do Castelo (chamada de “Todos os Santos” – porque ali havia uma coleção de relíquias, estabelecidas por Frederico III da Saxônia). Foi durante esse período que o jovem sacerdote se deu conta dos problemas que o oferecimento de indulgências aos fiéis, como se esses fossem fregueses, poderia acarretar.

A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal imputado a alguém por conta dos seus pecados (aplicável apenas a alguém que esteja em estado de graça, ou seja, livre de pecados graves, e arrependido de todos os seus pecados veniais. Naquele tempo, o papa havia concedido uma indulgência plenária para quem doasse qualquer quantia para a reforma da Basílica de São Pedro. O frade Johann Tetzel fora recrutado para viajar através dos territórios episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, mas sua campanha tomou a linha de uma venda, pois este frade, posteriormente punido por isso, dizia que “Assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do Purgatório”.

Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Proferiu, então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a tradição, em 31 de outubro de 1517 foram afixadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas. Essas teses condenavam o que Lutero acreditava ser a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgências significavam. Para todos os efeitos, contudo, nelas Lutero não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais indulgências.

As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas se haviam espalhado por toda a Alemanha e, em dois meses, por toda a Europa. Este foi o primeiro episódio da História em que a imprensa teve papel fundamental, pois facilitou a distribuição simples e ampla do documento.

A resposta do Papado

Depois de fazer pouco caso de Lutero, dizendo que ele seria um “alemão bêbado que escrevera as teses“, e afirmando que “quando estiver sóbrio mudará de opinião” o Papa Leão X ordenou, em 1518, ao professor de teologia dominicano Silvestro Mazzolini que investigasse o assunto. Este denunciou que Lutero se opunha de maneira implícita à autoridade do Sumo Pontífice, quando discordava de uma de suas bulas. Declarou ser Lutero um herege e escreveu uma refutação acadêmica às suas teses. Nela, mantinha a autoridade papal sobre a Igreja e condenava as teorias de Lutero como um desvio e uma apostasia.

Lutero replicou de igual forma (academicamente), dando assim início à controvérsia.

Enquanto isso, Lutero tomava parte da convenção dos agostinianos em Heidelberg, onde apresentou uma tese sobre a escravidão do homem ao pecado e a graça divina. No decorrer da controvérsia sobre as indulgências, o debate se elevou até o ponto de duvidar do poder absoluto e autoridade do Papa, pois as doutrinas de “Tesouraria da Igreja” e “Tesouraria dos Merecimentos”, que serviam para reforçar a doutrina e venda e das indulgências, haviam se baseado na bula papal “Unigenitus“, de 1343, do Papa Clemente VI. Por causa de sua oposição a esta doutrina, Lutero foi qualificado como heresiarca e o Papa, decidido a suprimir por completo os seus pontos de vista, ordenou que ele fosse chamado a Roma, viagem que deixou de ser realizada por motivos políticos.

Lutero, que anteriormente professava a obediência implícita à Igreja, negava agora abertamente a autoridade papal e apelava para que fosse realizado um Concílio. Também declarava que o papado não formava parte da essência imutável da Igreja original.

Desejando manter relações amistosas com o protetor de Lutero, Frederico, o Sábio, o Papa engendrou uma tentativa final de alcançar uma solução pacífica para o conflito. Uma conferência com o representante papal Karl von Miltitz em Altenburg, em janeiro de 1519, levou Lutero a decidir guardar silêncio, tal qual seus opositores. Também escreveu uma humilde carta ao Papa e compôs um tratado demonstrando suas opiniões sobre a Igreja Católica. A carta nunca chegou a ser enviada, pois não continha nenhuma retratação; e no tratado que compôs mais tarde, negou qualquer efeito das indulgências no Purgatório.

Quando Johann Ecko desafiou um colega de Lutero, Andreas Carlstadt, para um debate em Leipzig, Lutero juntou-se à discussão (27 de junho-18 de julho de 1519), no curso do qual negou o direito divino do solidéu papal e da autoridade de possuir o as chaves do Céu que, segundo ele, haviam sido outorgadas apenas ao próprio Apóstolo Pedro, não passando para seus sucessores. Negou que a salvação pertencesse à Igreja Católica ocidental sob a autoridade do Papa, mas que esta se mantinha na Igreja Ortodoxa, do Oriente. Depois do debate, Eck afirmou que forçara Lutero a admitir a semelhança de sua própria doutrina com a de João Huss, que havia sido queimado na fogueira da Inquisição. Alguns meses após a chegada dos cardeais vindos de Roma, Martinho Lutero, monge da Igreja Católica, doutor em Humanidades pela Universidade de Erfurt e professor da Universidade de Wittenberg.

Aumenta a cisão

Lutero durante os acontecimentos

Martinho Lutero.

Não parecia haver esperanças de entendimento. Os escritos de Lutero circulavam amplamente, alcançando França, Inglaterra e Itália, em 1519, e os estudantes dirigiam-se a Wittenberg para escutar Lutero que, naquele momento, publicava seus comentários sobre a Epístola aos Gálatas e suas “Operationes in Psalmos” (Trabalho nos Salmos).

As controvérsias geradas por seus escritos levaram Lutero a desenvolver suas doutrinas mais a fundo, e o seu “Sermão sobre o Sacramento Abençoado do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades”, ampliou o significado da Eucaristia para incluir também o perdão dos pecados e ao fortalecimento da fé naqueles que a recebem. Além disso, ele ainda apoiava a realização de um concílio a fim de restituir a comunhão.

O conceito luterano de “igreja” foi desenvolvido em seu “Von dem Papsttum zu Rom” (Sobre o Papado de Roma), uma resposta ao ataque do franciscano Augustin von Alveld, em Leipzig (junho de 1520). Enquanto o seu “Sermon von guten Werken” (Sermão das Boas Obras), publicado na primavera de 1520, era contrário à doutrina católica das boas obras e dos atos como meio de perdão, mantendo que as obras do crente são verdadeiramente boas, quer para o secular como para o clérigo, se ordenadas por Deus.

Os tratados de 1520

A Nobreza alemã

A disputa havida em Leipzig, em 1519, fez com que Lutero travasse contato com os humanistas, especialmente Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdã, que por sua vez também influenciara ao nobre Franz von Sickingen. Von Sickingen e Silvestre de Schauenbur queriam manter Lutero sob sua proteção, convidando-o para seus castelos na eventualidade de não ser-lhe seguro permanecer na Saxônia, em virtude da proscrição papal.

Sob essas circunstâncias de crise, e confrontando aos nobres alemães, Lutero escreveu “À Nobreza Cristã da Nação Alemã” (agosto de 1520), onde recomendava ao laicado, como um sacerdote espiritual, que fizesse a reforma requerida por Deus, mas abandonada pelo Papa e pelo clero. Pela primeira vez Lutero referiu-se ao Papa como o Anticristo.

As reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões doutrinárias, mas também aos abusos eclesiásticos:

  • a diminuição do número de cardeais e outras exigências da corte papal;
  • a abolição das rendas do Papa;
  • o reconhecimento do governo secular;
  • a renúncia da exigência papal pelo poder temporal;
  • a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a excomunhão;
  • a abolição das peregrinações nocivas;
  • a eliminação dos excessivos dias santos;
  • a supressão dos conventos para monjas, da mendicidade e da suntuosidade; a reforma das universidades;
  • a ab-rogação do celibato do clero;
  • e, finalmente, uma reforma geral na moralidade pública.

Muitas destas propostas refletiam os interesses da nobreza alemã, revoltada com sua submissão ao Papa e, principalmente, com o fato de terem que enviar riquezas a Roma.

O cativeiro babilônico

Lutero gerou muitas polêmicas doutrinárias com seu “Prelúdio no Cativeiro Babilônico da Igreja“, em especial no que diz respeito aos sacramentos.

  • Eucaristia – apoiava que fosse devolvido o “cálice” ao laicado; na chamada questão do dogma da transubstanciação, afirmava que era real a presença do corpo e do sangue do Cristo na eucaristia, mas refutava o ensinamento de que a eucaristia era o sacrifício oferecido por Deus.
  • Batismo – ensinava que trazia a justificação apenas se combinado com a fé salvadora em o receber; de fato, mantinha o princípio da salvação inclusive para aqueles que mais tarde se convertessem.
  • Penitência – afirmou que sua essência consiste na palavra de promessa de desculpas recebidas com fé.

Para ele, apenas estes três sacramentos podiam assim ser considerados, pois sua instituição era divina e a promessa da salvação de Deus estava conexa a eles. Contudo, em sentido estrito, apenas o batismo e a eucaristia seriam verdadeiros sacramentos, pois apenas eles tinham o “sinal visível da instituição divina”: a água no batismo e o pão e vinho da eucaristia. Lutero negou, em seu documento, que a confirmação (Crisma), o matrimônio, a ordenação sacerdotal e a extrema-unção fossem sacramentos.

Liberdade de um Cristão

Da mesma forma, o completo desenvolvimento da doutrina de Lutero sobre a salvação e a vida cristã foi exposto em “A Liberdade de um Cristão” (publicado em 20 de novembro de 1520, onde exigia uma completa união com Cristo mediante a palavra através da fé, e a inteira liberdade do cristão como sacerdote e rei sobre todas as coisas exteriores, e um perfeito amor ao próximo).

As duas teses que Lutero desenvolve nesse tratado são aparentemente contraditórias, mas, em verdade, são complementares:

  • “O cristão é um senhor libérrimo sobre tudo, a ninguém sujeito”;
  • “O cristão é um servo oficiosíssimo de tudo, a todos sujeito”.

A primeira tese é válida “na fé”; a segunda, “no amor”.

A excomunhão

A 15 de junho de 1520, o Papa advertiu Lutero, com a bula “Exsurge Domine“, onde o ameaçava com a excomunhão, a menos que, num prazo de setenta dias, repudiasse 41 pontos de sua doutrina, destacados pela Igreja..

Em outubro de 1520, Lutero enviou seu escrito “A Liberdade de um Cristão” ao Papa, acrescentando a frase significativa:

Eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus“.

Enquanto isso, um rumor chegara de que Johan Ech saíra de Meissem com uma proibição papal, enquanto este se pronunciara realmente a 21 de setembro. O último esforço de paz de Lutero foi seguido, em 12 de dezembro, da queima da bula, que já tinha expirado há 120 dias, e o decreto papa de Wittenberg, defendendo-se com seus “Warum des Papstes und seiner Jünger Bücher verbrannt sind” e “Assertio omnium articulorum“. O Papa Leão X excomungou Lutero a 3 de janeiro de 1521, na bula “Decet Romanum Pontificem“.

A execução da proibição, com efeito, foi evitada pela relação do Papa com Frederico III da Saxônia, e pelo novo imperador, Carlos I de Espanha (Carlos V de Habsburgo), que julgou inoportuno apoiar as medidas contra Lutero, diante de sua posição face à Dieta.

Castelo Wartburg em Eisenach.

A Dieta de Worms

O Imperador Carlos V inaugurou a Dieta real a 22 de janeiro de 1521. Lutero foi chamado a renunciar ou confirmar seus ditos e foi-lhe outorgado um salvo-conduto para garantir-lhe o seguro deslocamento.

A 16 de abril, Lutero apresentou-se diante da Dieta. Johann Eck, assistente do Arcebispo de Trier, mostrou a Lutero uma mesa cheia de cópias de seus escritos. Perguntou-lhe, então, se os livros eram seus e se ele acreditava naquilo que as obras diziam. Lutero pediu um tempo para pensar em sua resposta, o que lhe foi concedido. Este, então, isolou-se em oração e depois consultou seus aliados e amigos, apresentando-se à Dieta no dia seguinte. Quando a Dieta veio a tratar do assunto, o conselheiro Eck pediu a Lutero que respondesse explicitamente à seguinte questão:

Lutero, repeles seus livros e os erros que eles contêm?

Lutero, então, respondeu:

Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão – porque não acredito nem no Papa nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos – pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável.

De acordo com a tradição, Lutero, então, proferiu as seguintes palavras:

Não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude!”

Nos dias seguintes, seguiram-se muitas conferências privadas para determinar qual o destino de Lutero. Antes que a decisão fosse tomada, Lutero abandonou Worms. Durante seu regresso a Wittenberg, desapareceu.

O Imperador redigiu o Édito de Worms a 25 de maio de 1521, declarando Martinho Lutero fugitivo e herege, e proscrevendo suas obras.

Processo Romano

Martinho Lutero e o Cardeal Caetano, em 1557

Em Junho de 1518, foi aberto o processo contra Lutero, com base na publicação das suas 95 Teses. Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em heresia. Nas aulas que ministrava na Universidade de Wittenberg, espiões registravam seus comentários negativos sobre a excomunhão. Depois disso, em agosto de 1518, o processo foi alterado para heresia notória. Lutero foi convidado a ir a Roma, onde teria que desmentir sua doutrina.

Lutero recusou-se a fazê-lo, alegando razões de saúde; e pretendeu uma audiência em território alemão. O seu pedido baseava-se no argumento (Gravamina) da Nação Alemã. Seu pedido foi aceito, ele foi convidado para uma audiência com o cardeal Caetano de Vio (Tomás Caetano), durante a reunião das cortes (Reichstag) imperiais de Augsburg. Entre 12 e 14 de outubro de 1518, Lutero falou a Caetano. Este pediu-lhe que revogasse sua doutrina. Lutero recusou-se a fazê-lo.

Do lado romano, o caso pareceu terminado. Por causa da morte de Imperador Maximiliano I (janeiro de 1519), houve uma pausa de dois anos no andamento do processo. O Imperador tinha decidido que o seu sucessor seria Carlos (futuro Carlos V). Por causa das pertenças de Carlos em Itália, o papa renascentista Leão X receava o cerco do Estado da Igreja e procurava evitar que os príncipes-eleitores alemães (Kurfürsten) renunciassem a Carlos.

O papel de protetor de Lutero assumido por Frederico, o sábio, levou a que Roma pedisse que Karl von Miltiz intercedesse junto ao príncipe por uma solução razoável. Após a escolha de Carlos V como imperador (26 de junho de 1519), o processo de Lutero voltaria a ser alvo de preocupações e trabalhos.

O selo de Lutero.

Em junho de 1520, reapareceu a ameaça no escrito “Exsurge Domini” e, em janeiro de 1521, a bula “Decet Romanum Pontificem”excomungou Lutero. Seguiu-se, então, a ameaça oficial do imperador (Reichsacht).

Notável é, no entanto, que Lutero foi, mais uma vez, recebido em audiência, o que também deixou claras as diferenças entre o papado e o império. Carlos foi o último rei (após uma reconciliação) a ser coroado imperador pelo papa. Nos dias 17 e 18 de abril de 1521 Lutero foi ouvido na Dieta de Worms (conferência governativa) e, após ter negado a revogação da sua doutrina, foi publicado o Édito de Worms, banindo Lutero.

Exílio no Castelo de Wartburg

O seqüestro de Lutero durante a sua viagem de regresso da Dieta de Worms foi arranjado. Frederico, o sábio ordenou que Lutero fosse capturado por um grupo de homens mascarados a cavalo, que o levaram para o Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde ele permaneceu por cerca de um ano. Deixou crescer a barba e tomou as vestes de um cavaleiro, assumindo o pseudônimo de Jörg. Durante esse período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua célebre tradução da Bíblia para o alemão.

Martinho Lutero pregando no Castelo Wartburg, quadro de Hugo Vogel.

Com o início da estadia de Lutero em Wartburg, começou um período muito construtivo de sua carreira como reformista. Em seu “Deserto” ou “Patmos” (como ele mesmo chamava, em suas cartas) de Wartburg, começou a tradução da Bíblia, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de 1522.

Em Wartburg, ele produziu outros escritos, preparou a primeira parte de seu Guia para Párocos e “Von der Beichte” (Sobre a Confissão), em que nega a obrigatoriedade da confissão, e admite como saudável a confissão privada voluntária. Também escreveu contra o Arcebispo Albrecht, a quem obrigou, com isso, a desistir de retomar a venda das indulgências. Em seus ataques a Jacobus Latomus, avançou em sua visão sobre a relação entre a graça e a lei, assim como sobre a natureza revelada pelo Cristo, distinguindo o objetivo da graça de Deus para o pecador que, por acreditar, é justificado por Deus devido à justiça de Cristo, pois a graça salvadora reside dentro do homem pecador. Ainda mostrou que o “princípio da justificação” é insuficiente, ante a persistência do pecado depois do batismo – pela inerência do pecado em cada boa obra.

Lutero, amiúde, escrevia cartas a seus amigos e aliados, respondendo-lhes ou perguntando-lhes por seus pontos de vista e respondendo-lhes aos pedidos de conselhos. Por exemplo, Felipe Melanchthon lhe escreveu perguntando como responder à acusação de que os reformistas renegavam a peregrinação e outras formas tradicionais de piedade. Lutero respondeu-lhe em 1 de agosto de 1521:

“Se és um pregador da misericórdia, não pregues uma misericórdia imaginária, mas sim uma verdadeira. Se a misericórdia é verdadeira, deve penitenciar ao pecado verdadeiro, não imaginário. Deus não salva apenas aqueles que são pecadores imaginários. Conheça o pecador, e veja se os seus pecados são fortes, mas deixai que tua confiança em Cristo seja ainda mais forte, e que se alegre em Cristo que é o vencedor sobre o pecado, a morte e o mundo. Cometeremos pecados enquanto estivermos aqui, porque nesta vida não há um só lugar onde resida a justiça. Nós todos, sem embargo, disse Pedro (2ª Pedro 3:13), estamos buscando mais além um novo céu e uma nova terra onde a justiça reinará“.

Seu quarto no castelo de Wartburg, em Eisenach.

Enquanto isso, alguns sacerdotes saxônicos haviam renunciado ao voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos. Lutero, em seu De votis monasticis (Sobre os votos monásticos), aconselhava-os a ter mais cautela, aceitando, no fundo, que os votos eram geralmente tomados “com a intenção da salvação ou à busca de justificação“. Com a aprovação de Lutero em seu “De abroganda missa privata (Sobre a abrogação da missa privada), mas contra a firme oposição de seu prior, os agostinianos de Wittenberg realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas. Sua violência e intolerância certamente desagradaram Lutero que, em princípios de dezembro, passou alguns dias entre eles. Ao retornar para Wartburg, escreveu “Eine treue Vermahnung … vor Aufruhr und Empörung” (Uma sincera admoestação por Martinho Lutero a todos os cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião). Apesar disso, em Wittengerg, Carlstadt e o ex-agostiniano Gabriel Zwilling reclamavam a abolição da missa privada e da comunhão em duas espécies, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e a ab-rogação do celibato.

Regresso a Wittenberg e os Sermões Invocavit

No final do ano de 1521, os anabatistas de Zwickau se entregam à anarquia. Contrário a tais concepções radicais e temendo seus resultados, Lutero regressou em segredo a Wittenberg, em 6 de março de 1522. Durante oito dias, a partir de 9 de março (domingo de Invocavit) e concluindo no domingo seguinte, Lutero pregou outros tantos sermões que tornaram-se conhecidos como os “Sermões de Invocavit“.

Nessas pregações, Lutero aconselhou uma reforma cuidadosa, que leve em consideração a consciência daqueles que ainda não estivessem persuadidos a acolher a Reforma. A consagração do pão foi restaurada por um tempo e o cálice sagrado foi ministrado somente àqueles do laicado que o desejaram. O cânon das missas, devido ao seu caráter imolatório, foi suprimido. Devido ao sacramento da confissão ter sido abolido, verificou-se a necessidade que muitas pessoas ainda tinham de confessar-se em busca do perdão. Esta nova forma de serviço foi dada a Lutero em “Formula missæ et communionis” (Fórmula da missa e Comunhão), de 1523. Em 1524 surgiu o primeiro hinário de Wittenberg, com quatro hinos.

Como aquela parte da Saxônia era governada pelo Duque Jorge, que proibira seus escritos, Lutero declarou que a autoridade civil não podia promulgar leis para a alma. Fez isso em sua obra: “Über die weltliche Gewalt, wie weit man ihr Gehorsam schuldig sei” (Autoridade Temporal: em que medida deve ser obedecida).

Matrimônio e família

Catarina von Bora, esposa de Lutero (retrato feito por Lucas Cranach o Velho – 1526).

Em abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a escaparem do cativeiro no Convento de Nimbschen. Entre essas freiras encontrava-se Catarina von Bora, filha de nobre família, com quem veio a se casar, em 13 de junho de 1525. Desta união nasceram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaretha. Dos seis filhos, Margaretha foi a única que manteve a linhagem até os dias de hoje. Um descendente ilustre da família Lutero é o ex-presidente alemão Paul von Hindenburg.

O casamento de Lutero com a ex-freira cisterciense incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.

Anti-semitismo

Texto anti-semita de Martinho Lutero: Sobre os judeus e suas mentiras (1543)

Martinho Lutero foi anti-semita:

“A Alemanha deve ficar livre de judeus, aos quais após serem expulsos, devem ser despojados de todo dinheiro e jóias, prata e ouro, e que fossem incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas derrubadas e destruídas (…), postos sob um telheiro ou estábulo como os ciganos(…), na miséria e no cativeiro assim que estes vermes venenosos se lamentassem de nós e se queixassem incessantemente a Deus”. – “Sobre os judeus e suas mentiras” de Martinho Lutero.

O historiador Robert Michael escreve que Lutero estava preocupado com a questão judaica toda a sua vida, apesar de dedicar apenas uma pequena parte de seu trabalho para ela. Seus principais trabalhos sobre os judeus são Von den Juden und Ihren lügen (“Sobre os judeus e suas mentiras”), e Vom Schem Hamphoras und vom Geschlecht Christi (“Em Nome da Santa linhagem de Cristo”) – reimpressas cinco vezes dentro de sua vida – ambas escritas em 1543, três anos antes de sua morte. Nesses trabalhos Lutero afirmou que os judeus já não eram o povo eleito, mas o “povo do diabo“. A sinagoga era como “uma prostituta incorrigível e uma devassa maléfica” e os judeus estavam “cheios das fezes do demónio,… nas quais se rebolam como porcos“. Lutero aconselhou as pessoas a incendiarem as sinagogas, destruindo os livros judaicos, proibir os rabinos de pregar, e apreender os bens e dinheiro dos Judeus e também expulsá-los ou fazê-los trabalhar forçosamente. Lutero também parecia aconselhar seus assassinatos, escrevendo “É nossa a culpa em não matar eles.

A campanha contra os judeus de Lutero foi bem sucedida na Saxónia, Brandenburg, e Silésia. Josel de Rosheim (1480-1554), que tentou ajudar os judeus na Saxónia, escreveu em seu livro de memórias a situação de intolerância foi causada por “(…) esse sacerdote cujo nome é Martinho Lutero – (…) seu corpo e alma vinculada até no inferno!! – que escreveu e publicou muitos livros heréticos no qual disse que quem ajudasse judeus seriam condenados à perdição.” Josel teria pedido a cidade de Estrasburgo para proibir a venda das obras antijudaicas de Lutero; porém seu pedido foi-lhe negado quando um pastor luterano de Hochfelden argumentou em um sermão que os seus paroquianos deviam assassinar judeus. O anti-semitismo de Lutero persistiu após a sua morte, ao longo de todo o ano 1580, motins expulsaram judeus de vários estados luteranos alemães.

A opinião predominante entre os historiadores é que a sua retórica antijudaica contribuiu significativamente para o desenvolvimento do anti-semitismo na Alemanha, e na década de 1930 e 1940 auxiliou na fundamentação do ideal do nazismo de ataques a judeus. O próprio Adolf Hitler em sua autobiografia Mein Kampf considerou Lutero uma das três maiores figuras da Alemanha, juntamente com Frederico, o Grande, e Richard Wagner. Em 5 de outubro de 1933, o Pastor Wilhelm Rehm de Reutlingen declarou publicamente que “Hitler não teria sido possível, sem Martinho Lutero“. Julius Streicher, o editor do jornal Nazista Der Stürmer, argumentou durante sua defesa no julgamento de Nuremberg “que nunca havia dito nada sobre os judeus que Martinho Lutero não tivesse dito 400 anos antes”. Em novembro de 1933, uma manifestação protestante que reuniu um recorde de 20.000 pessoas, aprovou três resoluções:

  • Adolf Hitler é a conclusão da Reforma;
  • Judeus Batizados devem ser retirados da Igreja;
  • O Antigo Testamento deve ser excluído da Sagrada Escritura.

Diversos historiadores (entre os quais se destacam William L. Shirer e Michael H. Hart) sugerem que a influência de Lutero tenha auxiliado a aceitação do nazismo na Alemanha pelos protestantes no século XX. Shirer fez a seguinte observação em Ascensão e queda do Terceiro Reich:

“É difícil compreender a conduta da maioria dos protestantes nos primeiros anos do nazismo, salvo se estivermos prevenidos de dois fatos: sua história e a influência de Martinho Lutero (para evitar qualquer confusão, devo explicar aqui que o autor é protestante). O grande fundador do protestantismo não foi só anti-semita apaixonado como feroz defensor da obediência absoluta à autoridade política. Desejava a Alemanha livre de judeus (…) – conselho que foi literalmente seguido quatro séculos mais tarde por Hitler, Göring e Himmler.

Por outro lado, especialmente Shirer recebeu críticas por essa sua observação, sendo acusado de não conhecer suficientemente a história alemã e por ter interpretado incorretamente certos acontecimentos ou mesclado suas opiniões pessoais em seu livro.41 Também os cristãos luteranos afirmam que a Igreja Luterana tem esse nome em homenagem ao seu mais famoso líder, porém não acata todos os escritos teológicos de Lutero, principalmente os escritos que atacam os judeus. Desde os anos 1980, alguns órgãos da Igreja Luterana formalmente denunciaram e dissociaram-se dos escritos de Lutero sobre os judeus. Em novembro de 1998, no 60º aniversário de Kristallnacht, a Igreja Luterana da Baviera emitiu uma afirmação: “é imperativo para a Igreja Luterana, que sabe que é endividada ao trabalho e a tradição de Martinho Lutero, de levar a sério também as suas declarações anti-judaicas, reconhece a sua função teológica, e reflete nas suas conseqüências. Temos que nos distanciar de cada [expressão de] antissemitismo na teologia Luterana.”

A guerra dos camponeses

A guerra dos camponeses (1524-1525) foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de Lutero e de outros reformadores. Revoltas de camponeses já tinham existido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na França (1358), na Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o século XVIII. Mas muitos camponeses julgaram que os ataques verbais de Lutero à Igreja e sua hierarquia significavam que os reformadores iriam igualmente apoiar um ataque armado à hierarquia social. Por causa dos fortes laços entre a nobreza hereditária e os líderes da Igreja que Lutero condenava, isso não seria surpreendente.

Já em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, seu seguidor Thomas Münzer, comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada, Lutero por sua vez defendia que a existência de “senhores e servos” era vontade divina, motivo pelo qual eles romperam. Lutero, desde cedo, argumentou com a nobreza e os próprios camponeses sobre uma possível revolta e também sobre Müntzer, classificando-o como um dos “profetas do assassínio” e colocando-o como um dos mentores do movimento camponês. Lutero escreveu a “Terrível História e Juízo de Deus sobre Tomas Müntzer“, inaugurando essa linha de pensamento.

Na iminência da revolta (1524), Lutero escreveu a “Carta aos Príncipes da Saxônia sobre o Espírito Revoltoso“, mostrando a tirania dos nobres que oprimiam o povo e a loucura dos camponeses em reagir através da força e a confiar em Müntzer como pregador. Houve pouca repercussão sobre esse escrito.

Ainda em 1524, Müntzer mudou-se para a cidade imperial de Mühlhausen, oferecendo-se como pregador. Lutero escreveu a “Carta Aberta aos Burgomestres, Conselho e toda a Comunidade da Cidade de Mühlhausen“, com o propósito de alertar sobre as intenções de Müntzer. Também esse escrito não teve repercussão, pois o conselho da cidade se limitou a pedir informações sobre Müntzer na cidade imperial de Weimar.

O principal escrito dos camponeses eram os “Doze Artigos“, onde suas reivindicações eram expostas. Neles havia artigos de fundo teológico (direito de ouvir o Evangelho através de pregadores chamados por eles próprios) e artigos que tratavam dos maus tratos (exploração nos impostos, etc.) impostos a eles pelos nobres. Os artigos eram fundamentados com passagens bíblicas e dizia-se que se alguém pudesse provar pelas Escrituras que aquelas reivindicações eram injustas, eles as abandonariam. Entre aqueles que se consideravam dignos de fazer tal coisa estava o nome de Martinho Lutero.

De fato, Lutero escreveu sobre os “Doze artigos” em seu livro “Exortação à Paz: Resposta aos Doze artigos do Campesinato da Suábia“, de 1525. Nele, Lutero ataca os príncipes e senhores por cometerem injustiças contra os camponeses e ataca os camponeses pela rebelião e desrespeito à autoridade.

Também esse escrito não teve repercussão e, durante uma viagem pela região da Turíngia, Lutero pôde testemunhar as revoltas camponesas, o que o motivou a escrever o “Adendo: Contra as Hordas Salteadoras e Assassinas dos Camponeses“, onde disse: “Contras as hordas de camponeses (…), quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que um rebelde“. Tratava-se de um apêndice de “Exortação à Paz …“, mas que, rapidamente, tornou-se um livro separado. O Adendo foi publicado quando a revolta camponesa já estava no final e os príncipes cometiam atrocidades contra os camponeses derrotados, de modo que o escrito causou grande revolta da opinião pública contra Lutero. Nele, Lutero encorajava os príncipes a castigarem os camponeses até mesmo com a morte.

Essa repercussão negativa obrigou Lutero a pregar um sermão no dia de pentecostes, em 1525, que se tornou o livro “Posicionamento do Dr. Martinho Lutero Sobre o Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e Assassinos“, onde o reformador contesta os críticos e reafirma sua posição anterior.

Como ainda havia repercussão negativa, Lutero novamente se posicionou sobre a questão no seu “Carta Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho Contra os Camponeses“, onde lamenta e exorta contra a crueldade que estava sendo praticada pelos príncipes, mas reafirma sua posição anterior.

Por fim, a pedido de um amigo, o cavaleiro Assa von Kram, Lutero redigiu “Acerca da Questão, Se Também Militares Ocupam uma Função Bem-Aventurada“, em 1526, com o propósito de esclarecer questões sobre consciência do cristão em caso de guerra e sua função como militar.

A discordância com João Calvino

João Calvino (Retrato de Calvino jovem, da coleção da Biblioteca de Genebra)

No movimento reformista (também chamado de Reforma), Lutero não concordou com o “estilo” de reforma de João Calvino. Martinho Lutero queria reformar a Igreja Católica, enquanto João Calvino, acreditava que a Igreja estava tão degenerada, que não havia como reformá-la. Calvino se propunha a organizar uma nova Igreja que, na sua doutrina (e também em alguns costumes), seria idêntica à Igreja Primitiva. Já Lutero decidiu reformá-la, mas afastou-se desse objetivo, fundando, então, o Protestantismo, que não seguia tradições, mas apenas a doutrina registrada na Bíblia, e cujos usos e costumes não ficariam presos a convenções ou épocas. A doutrina luterana está explicitada no “Livro de Concórdia“, e não muda, embora os costumes e formas variem de acordo com a localidade e a época.

Falecimento

O ex-monge agostiniano Martinho Lutero teve morte natural, embora não haja um consenso entre os seus biógrafos acerca da sua causa de morte. O historiador Frantz Funck-Brentano, por exemplo, escreveu em sua obra “Martim Lutero”:

“Os dois médicos, que o tinham tratado nos últimos momentos, não puderam chegar a um acordo sobre a causa de sua morte, opinando um por um ataque de apoplexia, outro por uma angina pulmonar.”

A propósito, em 1521, por ocasião da Dieta de Worms (uma espécie de audiência imperial), foi publicado pelo Imperador Carlos V o Edito de Worms, pelo qual qualquer pessoa, ao menos teoricamente, estaria livre para matar Lutero sem correr o risco de sofrer qualquer sanção penal, já que, pelo referido Edito do Imperador, Lutero foi banido do Império como um fora-da-lei. Por receio de que algo de mal pudesse acontecer a Lutero durante viagem de regresso de Worms, Frederico III (ou Frederico, o Sábio), Príncipe-Eleitor da Saxônia, ordenou que Lutero fosse capturado e levado para o Castelo de Wartburg, onde estaria a salvo.

Provavelmente, foi por causa desse risco de morte que Lutero passou a correr que seu amigo disse que “tentaram matá-lo”. Encontra-se sepultado na Igreja de Wittenberg em Wittenberg.

Obras importantes

As 95 Teses, de Lutero

Foi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia para alemão, algo que não era permitido até então sem especial autorização eclesiástica. Lutero, contudo, não foi o primeiro tradutor da Bíblia para alemão. Já havia várias traduções mais antigas. A tradução de Lutero, no entanto, suplantou as anteriores porque foi uma forma unificada do Hochdeutsch (dialetos alemães da região central e sul) e foi amplamente divulgada em decorrência da sua difusão por meio da imprensa, desenvolvida por Gutenberg, em 1453.

Lutero introduziu a palavra alleyn, que não aparece no texto grego original no capítulo 3:28 da Epístola aos Romanos. O que gerou controvérsia. Lutero justificou a manutenção do advérbio como sendo uma necessidade idiomática do alemão como por ser a intenção de Paulo.

O latim, língua do extinto Império Romano, permanecia a língua franca européia, imediatamente conotada com o passado romano unificado, sendo também a língua da Vulgata traduzida por São Jerônimo no século V, tal como tinham sido transmitidos às províncias do Império. Por mais longínquas que fossem, nos menos de cem anos que separam a oficialização da religião cristã pelo Imperador Romano Teodósio I em 380 d.C. e a deposição do último imperador de Roma pelo Germânico Odoacro, em 476 d.C. (data avançada por Edward Gibbon e convencionalmente aceita como ano da queda do Império Romano do Ocidente), toda a região do antigo Império, ao longo dos seguintes 500 anos, e de forma mais ou menos homogênea, se cristianizou. O fim da perseguição à religião cristã pelo império romano se deu em 313 d.C. (Ver: Édito de Milão, Concílio de Niceia, Constantino I, A história do declínio e queda do império romano, Jerónimo de Estridão).

No entanto, o domínio do latim era, no século XVI, no fim da Idade Média (terminada oficialmente em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos Otomanos) e princípio da chamada Idade Moderna, apenas o privilégio de uma percentagem ínfima de população instruída, entre os quais os elementos da própria Igreja. A tradução de Lutero para o alemão foi simultaneamente um ato de desobediência e um pilar da sistematização do que viria a ser a língua alemã, até aí vista como uma língua inferior, dos servos e ignorantes. É preciso adicionar que Lutero não se opunha ao latim, e chegou mesmo a publicar uma edição revisada da tradução latina da Bíblia (Vulgata). Lutero escrevia tanto em latim como em alemão. A tradução da Bíblia para o alemão não significou, portanto, rejeição do latim como língua acadêmica.

Foi também autor da polêmica obra “Sobre os judeus e suas mentiras” (Von den Juden und ihren Lügen). Pouco conhecida, mas muito apreciada pelo próprio Lutero, foi sua resposta a “Diatribe” de Erasmo de Roterdã intitulada De servo arbitrio (Título da publicação em português: Da vontade cativa).

Martinho Lutero defendia o princípio da mortalidade da alma contrastando com a crença de João Calvino, que chamou à crença de Lutero “sono da alma”.

Reabilitação de Lutero?

Segundo a Revista editada em conjunto pela Igreja Evangélica Metodista Portuguesa e a Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, Portugal Evangélico, em sua edição nº 932, de 2008, o Papa Bento XVI, poderia vir a reabilitar Lutero. Segundo o texto, “Vozes autorizadas do Vaticano adiantavam que o Papa reabilitaria Martinho Lutero argumentando que nunca teria sido sua intenção dividir a Igreja mas sim lutar contra os abusos e práticas de corrupção da mesma”. E complementa dizendo que “O Cardeal Walter Kasper, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, antecipava que estas declarações dariam nova coragem ao diálogo ecumênico e contradiriam, até certo ponto, as afirmações feitas em Julho do ano anterior denegrindo a fé, a ortodoxa e protestante, ao não considerar estes dois ramos do cristianismo como verdadeiras Igrejas”. Porém, nesse mesmo ano, o site Agência Ecclesia, agência de notícias da Igreja Católica em Portugal, desmentiu essa notícia citando uma declaração do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi dada ao jornal britânico Financial Times. Segundo o religioso, essa afirmação “não tem nenhum fundamento” e que o termo “reabilitação” nunca seria o correto neste caso. Depois dessas notícias não houve mais informações até o momento sobre uma possível reabilitação de Lutero pela Igreja Católica.

Declaração conjunta sobre a doutrina da Justificação pela Fé

Em 31 de outubro de 1999, foi assinada uma Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação pela Fé, redigida e aprovada pela Federação Luterana Mundial e pela Igreja Católica Apostólica Romana. O preâmbulo do documento diz que a declaração “quer mostrar que, com base no diálogo, as Igrejas luteranas signatárias e a Igreja católica romana estão agora em condições de articular uma compreensão comum de nossa justificação pela graça de Deus na fé em Cristo. Esta Declaração Comum (DC) não contém tudo o que é ensinado sobre justificação em cada uma das Igrejas, mas abarca um consenso em verdades básicas da doutrina da justificação e mostra que os desdobramentos distintos ainda existentes não constituem mais motivo de condenações doutrinais”. A declaração pode ser resumida neste trecho: “Confessamos juntos que o pecador é justificado pela fé na acção salvífica de Deus em Cristo; essa salvação lhe é presenteada pelo Espírito Santo no baptismo como fundamento de toda a sua vida cristã. Na fé justificadora o ser humano confia na promessa graciosa de Deus; nessa fé estão compreendidos a esperança em Deus e o amor a Ele”.

——————————————————————————————-

1509 – 1564

Ficheiro:John Calvin - best likeness.jpg

João Calvino (Noyon, 10 de julho de 1509 — Genebra, 27 de maio de 1564) foi um teólogo cristão francês. Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, uma influência que continua até hoje. Portanto, a forma de Protestantismo que ele ensinou e viveu é conhecida por alguns pelo nome Calvinismo, embora o próprio Calvino tivesse repudiado contundentemente este apelido. Esta variante do Protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.

Nascido na Picardia, ao norte da França, foi batizado com o nome de Jean Cauvin. A tradução do apelido de família “Cauvin” para o latim Calvinus deu a origem ao nome “Calvin”, pelo qual se tornou conhecido.

Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como “padre”. Vítima das perseguições aos protestantes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo Europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça.

Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Para muitos, Calvino terá sido para a língua francesa aquilo que Lutero foi para a língua alemã – uma figura quase paternal. Lutero era dotado de uma retórica mais direta, por vezes grosseira, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado e geométrico, quase de filigrana. Citando Bernard Cottret, biógrafo (francês) de Calvino: “Quando se observa estes dois homens podia-se dizer que cada um deles se insere já num imaginário nacional: Lutero o defensor das liberdades germânicas, o qual se dirige com palavras arrojadas aos senhores feudais da nação alemã; Calvino, o filósofo pré-cartesiano, precursor da língua francesa, de uma severidade clássica, que se identifica pela clareza do estilo”.

Biografia

Família

Calvinismo
John Calvin.jpg
João Calvino
Bases históricas:
Cristianismo Agostinho de Hipona Reforma
Marcos:
Institutio Christianæ Religionis de Calvino Os Cinco Solas Cinco Pontos (TULIP) Princípio regulador Confissões de fé Bíblia de Genebra
Influências:
Teodoro de Beza John Knox Ulrico Zuínglio Jonathan Edwards Teologia puritana
Igrejas:
Reformadas Presbiterianas Congregacionais Batistas Reformadas

O avô de João Calvino morava nas proximidades de Noyon. Teve três filhos: Richard, que foi serralheiro e se instalou em Paris, Jacques, igualmente serralheiro e, finalmente, Gérard Cauvin, pai de João Calvino, que foi aquele que talvez mais se destacou dos três, tendo feito carreira em Noyon como funcionário administrativo.

Gérard Cauvin estabeleceu-se em Noyon em 1481. Foi inicialmente um simples secretário do restaurante Ataliba. Seria, depois, representante do bispado de Nyon; mais tarde, funcionário relacionado com a cobrança de impostos e, finalmente, o promotor (representante) do bispado, antes de entrar em conflito com este. Faleceu em 1531 após uma disputa com o bispado, pela qual foi excomungado. A mãe de Calvino, Jeanne Le Franc, de seu nome de solteira, era filha de um dono de uma hospedaria em Cambrai, que tinha enriquecido. Jeanne faleceu em 1515, quando João Calvino tinha apenas 6 anos de idade.

Gérard e Jeanne tiveram cinco filhos:

  • Patricia
  • Charles (Carlos) – o mais velho, foi padre. Morreu em 1536.
  • João Calvino.
  • Antoine (Antônio) – iria mais tarde viver em Genebra, junto do irmão.
  • François (Francisco) – morreu ainda em tenra idade.

Haveria ainda duas irmãs, que nasceram do segundo casamento de Gérard. Uma chamou-se Marie (Maria) e iria também viver em Genebra. Da outra irmã sabe-se pouco.

João Calvino nasceu em 10 de julho de 1509, nos últimos anos do reinado de Luís XII. Frequentou inicialmente o “Collège des Capettes” em Nyon, onde adquiriu conhecimentos básicos de latim.

Em 1 de janeiro de 1515 o rei Francisco I de França (François, roi des françois), sucedeu a Luís XII. Inicialmente moderado em matéria de religião, a postura deste rei foi endurecendo ao longo do seu reinado, terminando na perseguição declarada aos protestantes.

Pela Concordata de Bolonha, assinada no início do seu reinado, o papa Leão X concedia ao rei da França o direito a nomear os titulares dos rendimentos da igreja. Em contrapartida, o Papa via reforçados os seus direitos sobre a Igreja em França.

Transferência a Paris

Em 1521, com doze anos, João Calvino ganhou o direito a uma “beneficie”, ou seja, um rendimento anual que era concedido a elementos e familiares da hierarquia da igreja. No seu caso, consistia numa determinada quantia anual de cereais pagos por uma comunidade de La Gésine.

Em 1521 ou 1523 (data incerta) o pai enviou-o a Paris. Terá provavelmente vivido inicialmente com o tio Richard, na zona de Sain-Germain-l’Auxerrois. Calvino começa por frequentar o Collège de la Marche, onde foi aluno de Maturin Cordier, um grande pedagogo do tempo. Estabeleceu, aí, amizade com as crianças da família d’Hangest, do bispo de Noyon, que se assumia, de certa forma, como protetor dos Cauvins. Os seus amigos eram Joachin (Joaquim), Yves (Ivo) e Claude (Cláudio), a quem mais tarde dedicaria o seu comentário a “De Clementia” de Séneca, um autor conhecido pelo seu estoicismo.

Foi, de seguida, admitido no Collège Montaigu, uma escola de má reputação, conhecida pela sua rigidez, pelas sovas e má comida. A lista de professores em Montaigu, nesta época, incluía o espanhol Antonio Coronel e o escocês John Mair (que foi professor de Inácio de Loyola), mas não há provas definitivas de que eles tenham sido professores de Calvino.

Em fevereiro de 1525, o rei Francisco I foi encarcerado temporariamente em Pavia pelas tropas do imperador Carlos V. Com a intervenção do papa Clemente VII a favor de Francisco, a influência papal junto do rei de França aumenta consideravelmente. Numa bula de 17 de maio de 1525 dirige-se a Francisco para que tome providências contra o crescente número de “blasfemos” em França e contra os ataques a imagens religiosas.

Em 1 de junho de 1528 teve lugar em Paris o caso da Rue des Roisiers. Uma figura de madeira situada nessa rua (uma madona) foi decapitada por desconhecidos. O rei reage de forma veemente, organizando procissões, que passaram a ser repetidas anualmente. O incidente ainda era lembrado no século XIX.

Vida em Orleães

Em 1529, pouco antes de atingir os vinte anos de idade, a vida de Calvino sofreu uma súbita viragem. Vindo inicialmente para Paris com uma renda anual concedida pela Igreja, com o fim de estudar Teologia, ficará a saber que o pai mudou de planos em relação ao seu futuro e quer que ele siga Direito. A “ciência das leis torna normalmente ricos aqueles que se debatem com ela”, referia o seu pai (ele próprio um advogado do bispado), segundo as próprias palavras de Calvino.

Cumpriu a vontade do pai e foi estudar Direito para Orleães, mas nunca deixou de preferir a teologia. Como disse mais tarde: “Se Deus me deu forças para que eu cumprisse a vontade de meu pai, determinou ele pela providência oculta que eu tomasse finalmente um outro caminho” (o da Teologia).

Inicialmente Calvino preparava-se para ser padre, enveredaria pelo estudo do direito, mas Deus trouxe-o de novo ao caminho da Teologia.

O biógrafo francês de Calvino, Bernard Cottret, escreve: “Direito e leis: Calvino, o teólogo, é no fim, também, Calvino, o jurista. O seu pensamento fica marcado pela austeridade, a adstringência e a geometria da lei, pelo seu fascínio ou aspiração a ela. No início do século XVI assiste-se no Direito a uma verdadeira revolução. A retórica de Cícero toma a primazia sobre a filosofia medieval, que se sustenta nos seus silogismos. Com a interpretação de textos jurídicos, Calvino toma contacto pela primeira vez com a Filologia humanista”. O humanismo e o renascimento são, pois, os movimentos culturais que o vão influenciar em primeiro lugar.

Em Orleães, Calvino foi influenciado pelo seu professor Pierre de l’Estoile.

Em 1529 dirige-se também a Bourges, para assistir a aulas do famoso professor de direito italiano Andrea Alciati, onde também assiste a aulas do alemão Gräzist Wolmar, que o entusiasmou pela literatura grega da antiguidade.

Em 1529, Louis de Berquin foi queimado vivo em Paris, numa altura em que o rei, Francisco, estava fora da cidade.

Em 1531, Calvino, num prefácio ao livro de um amigo, toma partido pelo seu professor Pierre de l’Estoile num texto que explora a disputa entre este e Andrea Alciati, talvez por lealdade e nacionalismo. O que prova que o Calvino de 1531 ainda não é um reformador mas, acima de tudo, um humanista. Neste mesmo ano morre o pai, Gerard Cauvin. Calvino vai a Bourges, a Orleães e regressa de novo a Paris, onde se instala em Chaillot.

O humanista Erasmo de Roterdão também se interessou pela obra de Séneca.

Em 1532 foi doutorado em Direito em Orleães. O seu primeiro trabalho publicado foi um comentário sobre o texto do filósofo romano Séneca“De Clementia”. Calvino cobre os custos da publicação do livro com dinheiro do seu próprio bolso. Aos 23 anos era já um famoso humanista, seguindo os passos de Erasmo de Roterdão, que também escreveu sobre Séneca nestes anos. Em “De Clementia” não há da parte de Calvino uma alusão explicitamente religiosa. É antes uma obra que reflete o estoicismo de Séneca e a predestinação no sentido estóico. Séneca escrevera o texto como forma de apelar Nero à moderação e à razão.

Até 1532 não há, como se viu, qualquer indício de que Calvino tenha aderido à nova fé – nos seus diferentes focos e graus que surgem pela Europa – onde o Luteranismo surge como um movimento mais moderado e os anabaptistas como uma força mais radical.

A conversão de Calvino ao protestantismo permanece envolta em mistério. Sabe-se apenas que ela se deu entre 1532 e 1533 (Calvino tem 23 ou 24 anos). Um texto escrito por Calvino em 1557 como prefácio ao seu comentário sobre os salmos oferece-nos alguns parcos pormenores:

“Após tomar conhecimento da verdadeira fé e de lhe ter tomado o gosto, apossou-se de mim um tal zelo e vontade de avançar mais profundamente, de tal modo que apesar de eu não ter prescindido dos outros estudos, passei a ocupar-me menos com eles. Fiquei estupefacto, quando antes mesmo do fim do ano, todos aqueles que desejavam conhecer a verdadeira fé me procuravam e queriam aprender comigo – eu, que ainda estava apenas no início! Pela minha parte, por natureza algo tímido, sempre preferi o sossego e permanecer discreto, de modo que comecei a procurar um pequeno refúgio que me permitisse recolher dos Homens. Mas, pelo contrário, todos os meus refúgios se tornavam em escolas públicas. Em resumo, apesar de eu sempre ter pretendido viver incógnito, Deus guiou-me por tais caminhos, onde não encontrei sossego, até que ele me puxou para a luz forte, contrariando o meu carácter, e como se costuma dizer, me colocou em jogo. E, na verdade, deixei a França e dirigi-me para a Alemanha para que ali pudesse viver em local desconhecido, incógnito, como sempre tinha desejado.”

Note-se que a França e Alemanha não existiam no sentido de hoje mas sim em termos de zonas de língua francófona ou alemã.

Entretanto, o papa Clemente VII pressionava o rei de França a reprimir os protestantes franceses. Em bulas de 30 de Agosto de 1533 e de 10 de Novembro do mesmo ano, o papa exortava à “aniquilação da heresia Luterana e de outras seitas que ganham influência neste reino”. Os dois encontram-se, então, nesse mesmo ano, em Marselha, onde discutem entre outras coisas a “guerra contra os turcos, lá fora, e a repressão das heresias cá dentro”.

O discurso de Nicolas Cop

Retrato de Calvino jovem (da coleção da Biblioteca de Genebra).

Em 1 de novembro de 1533, o novo reitor da Universidade de Paris, o humanista Nicolas Cop, proferiu um discurso de abertura do ano lectivo na Igreja dos Franciscanos, em Paris, frente aos mais altos representantes das quatro faculdades: Teologia, Direito, Medicina e Artes. O seu discurso fazia eco de temas facilmente associados à nova teologia da reforma. Nesse discurso, Nicolas fez, particularmente, o paralelismo entre a perseguição aos primeiros cristãos e a que ocorria agora, século XVI, na França, e que visava os cristãos protestantes. Argumentava: Não eram também chamados de heréticos os primeiros seguidores do cristianismo? O resultado foi a perseguição do próprio Nicolas Cop, que teve de se refugiar em Basileia.

Simultaneamente, João Calvino fugia também de Paris. O seu quarto no Collège de Fortet é revistado, e seus papéis e correspondência são confiscados. Calvino encontra refúgio em Angoulême, em casa do seu amigo Du Tillet.

Não foi até hoje esclarecido completamente o que se passou. Encontrou-se, contudo, em Genebra, um fragmento do discurso de Nicolas Cop, escrito pela mão de Calvino. O documento original completo encontra-se em Estrasburgo. Foi levantada a tese de que Calvino poderia, pelo menos, ter participado na elaboração do discurso.

Calvino permanece em Angoulême até abril de 1534, altura em que se dirige a Nérac, onde se encontra com Lefèvre d’Étaples. Regressa depois a Noyon, onde em Maio de 1534 renuncia às suas “beneficies”. Volta, então, a Paris e a Orleães.

A Psychopannychia

Em 1534, Calvino escreve o seu segundo livro, que será também o primeiro sobre religião. Chamar-se-á “Psychopannychia”, palavra que deriva do grego e que significa: “A vigília da alma”5 . A tradução francesa “Psychopannychia, un traité sur le sommeil de l’âme” (“A vigília da alma – contra o sono da alma”) introduziu a frase “sono da alma” como uma descrição crítica da crença na mortalidade da alma, ou “mortalismo cristão”, que foi ensinada por Martinho Lutero, entre outros. É um livro relativamente pouco conhecido, em comparação com as outras obras de Calvino. Calvino faz uma crítica severa aos anabaptistas, que acusa de serem uma seita tresmalhada. O livro coloca questões teológicas, mais do que oferecer respostas. Calvino, nos seus 24 anos de idade, está em processo de busca. Defende nessa obra a imortalidade da alma. O título completo era: “Psychopannychia – tratado pelo qual se prova que as almas permanecem vigilantes e vivas uma vez que tenham deixado os corpos, o que contraria o erro de alguns ignorantes que sustentam que elas dormem até ao último momento” – o que é, também, um ataque aos anabaptistas. Apesar de escrito em 1534, o livro seria apenas publicado em 1542.

O caso dos cartazes de 1534 ou O Caso dos Placards

Em 18 de outubro de 1534, a história do protestantismo francês viveu um dos seus momentos mais tensos: a disputa dos placards (paineis ou cartazes). Os placards, de 37 cm por 25 cm, afixados em vários locais, criticavam a celebração da missa tal como ela era realizada oficialmente pela igreja católica. O ano de 1534 foi o da criação da Companhia de Jesus e da organização do papa Paulo III, que viria a excomungar o rei Henrique VIII, o criador da Igreja anglicana. Calvino ajudou seus conterrâneos picardos Antonie Marcout e Fefevre d´Etaples a espalhar os cartazes em algumas cidades próximas a Paris condenando a missa como blafematória. Os placards foram vistos em Paris, em Orleans e até em Amboise, onde residia o rei Francisco I. Estava decretada a perseguição aos reformados. Os protestantes pregaram proclamações contra a missa até na própria porta do rei, no Castelo de Amboise. Até então, Francisco I tinha mostrado muita abertura de espirito, sem hesitar aliar-se aos protestante da Alemanha ou ao sultão. Em represaria ao que ficou chamada affaire des placards, ordenou a caça aos heréticos. Depois de anos de trégua, a intolerância religiosa recomeçaria.

Etapa em Basileia

Emblema da cidade de Basileia.

Em janeiro de 1535, Calvino dirige-se (alguns sustentam que teria fugido) para Basileia, cidade onde viveu até março de 1536. Basileia era uma cidade conhecida por ter sido o lar de Erasmo de Roterdão e do reformador Johannes Oekolampad, falecido em 1531, sendo o seu seguidor Oswald Mykonius.

A tradução da bíblia de Olivétan

Em 1535 é publicada a primeira bíblia traduzida por um protestante, em francês. Tratava-se de uma tradução direta do Hebraico (o antigo testamento) e do Grego (o novo testamento) – línguas originais das escrituras – e não das versões então em uso, em latim. Algo totalmente natural no século do humanismo e de Erasmo de Roterdão. O autor é Olivétan, aliás Pierre Robert (1506-1538), primo de João Calvino e proveniente também de Noyon. Foi publicada em Neuchâtel por Pierre de Vingle.

Apesar de Pierre Robert ter demonstrado um bom conhecimento de Hebraico e Grego, o seu estilo de escrita foi considerado de difícil compreensão, além de uma certa falta de fluidez discursiva. O texto seria revisto (com a colaboração de Calvino) e publicado novamente em 1546.

O Édito de Coucy

Em 16 de Julho de 1535, o rei Francisco I faz publicar o Édito de Coucy, uma medida de contemporização para com os protestantes e que corresponde também a uma nova guerra de Francisco I contra Carlos V (Guerra de 1535-1538). Necessitando do apoio dos protestantes alemães para o esforço de guerra e não convinha, necessariamente, perseguir os “Luteranos” na França. É prometido que se deixarão os protestantes em paz desde que vivam como “bons cristãos” e renunciem à sua fé. Mas, em dezembro de 1538, o Édito de Coucy é suspenso e as perseguições aos protestantes retomam a intensidade anterior.

Institutio religionis Christianae

Em março de 1536 é publicada em Basileia a primeira edição de “Institutio religionis Christianae”. No prefácio menciona a sua estadia em Basileia, “enquanto na França são queimados na fogueira crentes e pessoas santas”. Fala de santos mártires. Dirige-se no livro ao Rei Francisco I, que procura convencer das boas intenções da Reforma. Ao mesmo tempo, a sua teologia começa a adquirir contornos mais marcados e mais autônomos em relação ao Luteranismo. Uma tendência que se fortalecerá no futuro. Critica a vida dos mosteiros, que compara a bordéis. Calvino pretende não só a reforma da Igreja mas de todos os indivíduos. A institutio é “a organização da sociedade daqueles que acreditam em Jesus Cristo”.

Em março de 1536, Calvino viaja até Ferrara na companhia de Louis Du Tillet. Calvino esperava um acolhimento aberto às ideias protestantes na sua estadia em Ferrara. Enganava-se. Teria de interromper a visita logo em Abril. Foi então até Paris. Mas Calvino não tem futuro em França. Numa carta ao amigo Nicolas Duchemin, compara a sua situação com a dos judeus no Egito. A França era o seu Egipto. Queixa-se na mesma carta dos rituais da missa, considerando-os idólatras. Calvino sai definitivamente da França em 1536, procurando terras politicamente independentes da França e de espíritos mais abertos para a reforma. Dirige-se, então, para cidades dos territórios que hoje constituem a Suíça.

A reforma em Genebra

Genebra é nesta altura já uma cidade de espíritos progressivos e abertos para a reforma protestante. Politicamente, a cidade está desde 1285 sob vassalagem aos condes de Saboia ou à casa episcopal (ao bispo de Genebra), quase sempre ocupada por um bispo também da casa de Saboia desde que o papa Félix V (Amadeu VIII de Saboia) se auto-nomeou bispo da cidade. Na prática, no entanto, Genebra é quase uma cidade-estado, uma república que desde cedo se emancipou na conquista da sua liberdade municipal. Em 1522 inicia-se um conflito entre os pejorativamente chamados “mamelucos”, que são conservadores e partidários da casa de Saboia e os “confederados” (alemão: Eidgenossen; francês: Eidguenot) de onde possivelmente se formará a palavra Huguenotes (francês: huguenot). Estes últimos opõem-se a Saboia. Em 1524, Karl III, Duque de Saboia, tinha ocupado militarmente Genebra. Porém, em 1526, Genebra decide-se pela união com Berna e Friburgo, iniciando-se no caminho helvético. A reforma protestante não terá tido um papel determinante neste processo, segundo Bernard Cottret. Mas a partir daqui começam a reunir-se em Genebra elementos da Reforma. Em 1533 há o primeiro culto protestante de que há conhecimento nesta cidade. São então cunhadas moedas com a inscrição: “Post tenebras lux” (após as trevas, a luz).

O ano de 1536 marca uma viragem na cidade de Genebra. Neste ano, a reforma é adaptada oficialmente pela cidade. Os clérigos da igreja católica são intimados a deixar de celebrar a missa como o faziam, com o cerimonial papista e seus abusos (idolatria, aos olhos dos protestantes) e a juntarem-se aos protestantes. Num novo fôlego de zelo religioso, as raparigas são obrigadas a usar o véu, cobrindo os seus cabelos. Já desde 1532 que se registavam ataques e destruições de imagens religiosas, estátuas, figuras, etc. A adoração destas figuras era vista pelos protestantes como idolatria. Há um episódio carismático deste fenômeno: num destes ataques à “idolatria papista”, uma multidão apodera-se de cerca de 50 hóstias de um padre, dando-as a comer a cão. “Se as hóstias pertencem mesmo ao corpo de Deus, não se irão deixar comer por um cão!” – é argumentado. Em Junho de 1536, são abolidos em Genebra, por decisão de um conselho, todos os feriados, excepto os domingos. Todas estas transformações deram-se sem a influência de Calvino. Aliás, ainda nem sequer aí tinha chegado.

Chegada de Calvino a Genebra

Genebra nos dias de hoje, uma das cidades mais ricas do mundo.

1536 é também o ano da chegada de Calvino a Genebra. Calvino tem nessa altura 26 anos.

Após a estadia em Ferrara, na primavera de 1536, Calvino tinha estado em Paris, aproveitando-se de um período de relativa calma na perseguição aos protestantes. Tratou de assuntos pessoais e da família. Em junho faz em Paris uma procuração em nome do seu irmão. Em Julho de 1536, João Calvino, pretendendo dirigir-se a Estrasburgo, inicia a viagem, juntamente com o irmão Antoine e a irmã Marie. Em vez de tomar o caminho mais curto, Calvino faz um desvio pelo sul, evitando a área onde a guerra entre as forças de Francisco I e Carlos V são uma ameaça. Por coincidência, Calvino chega a Genebra, onde permaneceu, apesar de ter inicialmente pretendido continuar viagem, o que foi vivamente desaconselhado pelo reformador Guillaume Farel (na altura de 47 anos de idade). O caminho para Estrasburgo encontrava-se inseguro por causa da guerra. A Genebra que Calvino encontra vive ainda a agitação dos conflitos entre Mamelucos e Confederados.

João Calvino já tinha viajado até Estrasburgo durante as guerras otomanas, e passado através dos cantões da Suíça. Aquando da sua estadia em Genebra, Guillaume Farel pediu ajuda a Calvino na sua causa pela igreja. Calvino escreveu sobre este pedido: “senti como se Deus no céu tivesse colocado a sua poderosa mão sobre mim para barrar-me o caminho””. 18 meses depois, as mudanças de Calvino e Farel levariam à expulsão de ambos.

A disputa teológica de Lausana

Entre 1 e 8 de Outubro de 1536, tem lugar na Catedral de Notre-Dame em Lausana uma disputa teológica entre protestantes e católicos, na qual Calvino e Farel vão participar. Este tipo de conferências de disputa tem por modelo os debates que Ulrico Zuínglio tinha organizado em Zurique (1523) e Berna (1528). Do lado católico encontra-se Pierre Caroli, que iria acusar, em Berna, Calvino e Farel de heresia. Calvino é também acusado por Caroli de arianismo.

A saída atribulada de Genebra

A 16 de janeiro de 1537, as autoridades da cidade de Genebra aprovam o documento escrito pelo líder protestante Farell, que se destina a servir de confissão de fé e orientação para todos os habitantes de Genebra. Calvino faz também algumas sugestões, parte das quais são rejeitadas. Cerca de vinte artigos dispõem, entre outras coisas, que os idolatras, querelantes, assassinos, ladrões, bêbados (entre outros) sejam futuramente excomungados. As lojas devem fechar ao domingo, assim que soem os sinos da igreja.

Estas disposições, apesar de aceites pelas autoridades vão criar atritos com Farell e Calvino. O estigma da excomunhão é extremamente discriminador e destruidor de relações sociais no século XVI.

Em Março, os líderes anabaptistas de origem holandesa Hermann de Gerbihan e Benoît d’Anglen são expulsos de Genebra, juntamente com os seus seguidores.

Em Abril de 1537, por sugestão de Calvino, é constituído um “syndic” (síndico) que tem por objectivo ir de casa em casa e inquirir sobre a confissão dos moradores. A acção é contestada. Alguns moradores recusam-se a pronunciar-se sobre a sua fé.

Em junho de 1537 as autoridades de Genebra decidem que o Domingo é o único dia feriado. Futuramente nenhum outro feriado será considerado. 30 de Outubro é definido como o prazo para todos os moradores de Genebra se pronunciarem quanto à sua religião. Aqueles que não reconhecem os decretos de Farell são obrigados a deixar a cidade em 12 de Novembro.

Após esta data, a situação complica-se para Farell e Calvino. Particularmente provocante é o facto de um estrangeiro (francês), como Calvino, decidir sobre a excomunhão e expulsão de habitantes naturais de Genebra. As autoridades, perante estes protestos, passam a ser mais críticas para com os líderes protestantes.

A 3 de fevereiro de 1538 são eleitos para as autoridades da cidade de Genebra 4 pessoas que são inimigos de Calvino e dos protestantes. Em Março, estas novas autoridades proíbem Calvino e Farell de se pronunciarem sobre assuntos não religiosos.

Calvino e Farell negam-se a celebrar a comunhão de acordo com a tradição de Berna. São proibidos de celebrar os serviços religiosos. No entanto, no Domingo seguinte, 21 de abril de 1538, Farell e Calvino celebram o culto de Ceia como habitualmente, Farell na Igreja de Saint-Gervais e Calvino na de Saint-Pierre. As autoridades dar-lhes-ão três dias para saírem da cidade.

Estrasburgo

Em 1538, Farell irá refugiar-se em Neuchâtel. Calvino dirige-se a Estrasburgo, após ter inicialmente pretendido ir para Basileia. Estrasburgo era na altura parte da zona de língua alemã, mas a proximidade da fronteira com a França significava que ali se tinha desenvolvido uma comunidade de exilados franceses. Tal como em Genebra Farell reconhecera o potencial de Calvino, em Estrasburgo Martin Bucer será o protector de Calvino. Durante três anos Calvino dirigiu em Estrasburgo uma igreja de protestantes franceses, a convite de Bucer.

Segundo o biógrafo Courvoisier, Estrasburgo é a cidade onde Calvino se torna verdadeiramente Calvino. O seu sistema de pensamento é aqui consubstanciado em algo de mais marcadamente original. A sua obra Institutio é aqui re-editada (1539). É agora três vezes maior do que a primeira edição.

Em outubro de 1539, Pierre Caroli chega a Estrasburgo, onde permanece pouco tempo. Caroli e Calvino, inimigos desde há anos, têm uma disputa. Caroli está agora algures entre o catolicismo e o protestantismo. Ele acusa Calvino de o ter confundido na sua fé. Calvino sofre uma crise nervosa.

Neste outono de 1539, Calvino escreve também um comentário à carta de Paulo aos Romanos. Este tema é particularmente querido do protestantismo, porque ali se encontra a justificação através da fé como a base de sustentação do movimento protestante, pois somente a fé salva e justifica. A igreja é por este prisma mais uma comunidade de crentes do que um enquadramento jurídico. Os sacramentos só recebem o seu sentido através da fé. Sem fé não têm qualquer efeito. Já Lutero tinha destacado a carta de Paulo aos romanos como o cerne do Novo Testamento e o mais alto do evangelho.

Matrimônio

Em Estrasburgo, Calvino casa-se em agosto de 1540 com a viúva Idelette de Bure, que tinha sido previamente adepta do anabaptismo. Traz duas crianças do seu prévio casamento. Calvino tem 31 anos de idade. A cerimônia do casamento foi dirigida por Guillaume Farel.

Em 1541 a peste negra (ou peste bubónica) recrudesce em Estrasburgo. Idelette e as duas crianças procuram abrigo em casa de um irmão dela, nas redondezas.

Regresso a Genebra

Após a expulsão de Calvino, Genebra tinha adotado os ritos de Berna. O natal, ascensão de Cristo e outras festividades cristãs voltaram a ser praticadas. Mas os católicos e os anabaptistas continuavam a ser perseguidos e “convidados” a deixar a cidade. A 18 de março de 1539 o jogo tinha sido proibido em Genebra. Pedintes e vagabundos eram expulsos da cidade. A ausência de Calvino não tinha significado qualquer laxismo na moral estrita imposta na cidade.

As relações de Genebra com Berna permanecem tensas. Entretanto, os líderes que se opunham a Calvino (os chamados “artichoques”) começam a perder influência. São acusados de simpatia por Berna. Jean Philip (João Filipe), um de seus líderes, é torturado e decapitado em 1540. Os oponentes, favoráveis a Calvino, chamados de “guillermins” ganham o poder.

Calvino foi convidado em Outubro de 1540 a regressar a Genebra, para reaver o seu posto na igreja, tal como o tivera antes da expulsão. A 13 de setembro de 1541 Calvino chegou, pela segunda vez, a Genebra, mas, desta vez, definitivamente. Começou, então, a organizar e estruturar, de acordo com as linhas bíblicas, os ministérios e a ação dos professores e diáconos.

Zelo religioso radical

Estátua de João Calvino no Museu Internacional da Reforma Protestante de Genebra.

São ainda de 1541 as propostas de Calvino, no sentido da reorganização da igreja. As “Ordonnances de 1541” dispõem a formação de quatro corpos:

  • Pasteurs (pastores, que pregam)
  • Docteurs (ensinam)
  • Anciens (os mais velhos, que chamam à ordem aqueles que prevaricam)
  • Diacres (diáconos, que ocupam-se dos pobres e doentes) – mendigar é estritamente proibido

É decidida também a criação de um consistório – composto de elementos da igreja e de laicos – que se reúne regularmente para julgar os comportamentos individuais, como um tribunal, “de acordo com a palavra de Deus”, sendo a excomunhão de pessoas a mais grave sentença que pode decidir.

A eucaristia só é praticada quatro vezes por ano.

Em 1542 Calvino publica em Genebra o seu livro de catecismo: “Catéchisme de l’Église de Genève, c’est-a-dire, le formulaire d’instruire les enfants en la chrétienté”. A chave do projeto de Calvino passa pela pedagogia. O seu objectivo é a profunda transformação das mentalidades. Cada resquício de superstição, de práticas de magia, ou de catolicismo é perseguido como idolatria.

O consistório, do qual Calvino fazia parte, ocupava-se desses e de outros casos. Refiram-se alguns:

  • Em 1542, uma mulher chamada Jeanne Petreman é acusada de se recusar a participar da eucaristia, de dizer o pai-nosso em língua “romana” e de proclamar que a Virgem Maria era a sua defensora. Diz também que se nega a acreditar noutra fé que não a sua. É excomungada.
  • Em 2 de setembro de 1546, aparece em Genebra um franciscano que pedia na rua um jantar em nome de Deus e da Virgem Maria. Devemos pressupor que ele obteve o seu jantar mas foi também levado ao consistório, que logo constatou que o “papista” mal conhecia a bíblia, além de ser inofensivo. Foi expulso da cidade, para o lado da fronteira, com os católicos.
  • A 23 de junho de 1547 comparecem perante o consistório várias mulheres que tinham sido apanhadas a dançar – uma delas era a esposa de um dos membros do consistório. O caso ganhou contornos de escândalo. As mulheres foram condenadas a alguns dias de prisão, apesar de vários apelos. Em reação à decisão, são colocados na cidade cartazes contra Calvino. O autor dos cartazes, Jacques Gruet, é torturado. Depois de confessar a sua autoria, é executado.
  • Em 1548, Louis Le Barbier é interrogado sobre a sua fé. Declara que não tem fé. Entretanto, descobrem livros de bruxaria e de escárnio na sua posse. É admoestado perante o consistório mas não será perseguido.

Os nomes de batismo são regulamentados. Devem ser nomes que figuram na Bíblia. Um decreto de 22 de Novembro de 1546 dispõe que certos nomes são proibidos, entre os quais:

  • Suaire, Claude, Mama (lembram a idolatria)
  • Baptistes, Juge, Evangéliste
  • Dieu le Fils, Espoir, Emmanuel, Sauveur, Jésus (destinados apenas a nosso senhor)
  • Sépulcre, Croix, Noël, Pâques, Chrétien (nomes estúpidos ou absurdos)

O luxo e a pompa são desprezados. Em setembro de 1558, Nicolas des Gallars, um amigo de Calvino, inicia uma grande campanha na cidade em desprezo do supérfluo, as modas entre as mulheres e as más leituras. São queimados vários exemplares do livro “Amadis de Gaula”, na posse de um comerciante. O zelo religioso tomava a forma de censura moral.

Peste Negra em Genebra

Em 1542, há um surto de peste negra em Genebra. A peste negra permanecia então um fenómeno incompreensível – para lidar com a epidemia, era normal que se multiplicassem os casos de feitiçaria e de rituais contra a peste. Este tipo de práticas já era conhecido em Genebra antes da reforma e, tal como antes, os protestantes replicam com a perseguição, tortura e morte dos suspeitos. Aquelas que são identificadas como bruxas são queimadas vivas, enquanto se propaga a ideia de que estas desgraças são um castigo de Deus.

Em 1542, o filho de Calvino, Jacques, morre pouco depois de nascer em 28 de Julho.

Crescimento demográfico

A partir de 1542 e sobretudo na década de 1550, a cidade de Genebra vai conhecer um grande crescimento demográfico, com a chegada de refugiados franceses, protestantes perseguidos em França. Consequentemente, há uma fase de expansão econômica (relojoaria, tecelagem…) e a língua francesa começa a ter preponderância sobre o dialecto franco-provençal da região.

Mas é também uma época marcada pelo crescimento de sentimentos xenófobos, em parte devidos a ressentimentos contra Calvino:

  • Em Janeiro de 1546 é preso Pierre Ameaux, que tinha injuriado publicamente Calvino, ao referir-se a este como um “picard”, pregador de uma falsa fé.
  • Um outro senhor Ameaux é preso mais tarde por razões semelhantes. Este senhor tinha boas razões para não gostar do extremo zelo religioso imposto por Calvino, já que era fabricante de cartas de jogo. Foi condenado a percorrer a cidade de uma ponta à outra, descalço, em camisa, com uma vela na mão.
  • A 23 de Setembro de 1547, François Favre comparece em tribunal por ter afirmado que Calvino se auto-nomeara bispo de Genebra e que os franceses tinham escravizado a sua cidade natal.
  • Mais tarde, em 1548, um senhor chamado Nicole Bromet declara que os franceses deveriam ser todos colocados num barco e enviados pelo rio Reno abaixo.

Em 1547, Henrique II de França sucede a Francisco I. Henrique será um rei menos reconhecido, em comparação com Francisco. É caracterizado como menos carismático, menos entusiasta pelas artes e ciências, mais introvertido e frio.

Em 29 de março de 1549 morre Idellete Calvino, após doença. Calvino não voltará a casar. Dedica-se ainda mais decididamente ao trabalho.

Em 1550 a repressão dos huguenotes em França cresce. É estabelecida a chambre ardente. A censura é fortalecida.

Miguel Servet

Miguel Servet foi um cientista e reformador protestante, sentenciado à morte a fogueira por suas ideias teológicas pelo Conselho de Genebra.

Miguel Servet foi um cientista e reformador, primeiro a descrever a circulação pulmonar,6 condenado à morrer na fogueira por suas idéias teológicas pelo Conselho de Genebra. A relação entre Servet e Calvino inicia-se em 1553, quando Servet publicou uma obra religiosa com exibições anti- trinitárias, intitulada Restituição do Christianismo, um trabalho que rejeitou a idéia de predestinação e que Deus condenava almas para o inferno, independentemente do valor ou mérito. Deus, insistiu Servet, não condenaria ninguém, Calvino, que havia recentemente escrito o resumo de sua doutrina em Institutas da Religião Cristã, considerou o livro de Servet um ataque a suas teorias, e enviou uma cópia de seu próprio livro como resposta. Servet prontamente devolveu, cuidadosamente anotando observações críticas. Servet escreveu a Calvino “eu não te odeio, nem te desprezo, nem quero vos perseguir, mas eu gostaria de ser tão duro como o ferro, quando eis que insultaste a doutrina com som e audácia tão grande.” As resposta de Calvino ficaram cada vez mais violentas, até que ele parou de falar com Servet. Servet enviou diversas outras cartas, mais Calvino se recusou à respondê-las e considerou-as heréticas. Posteriormente Calvino demonstrou suas opiniões sobre Servet, quando escreve ao seu amigo Guilherme Farel em 13 de fevereiro de 1546:

Servet acaba de me enviar um volume considerável dos seus delírios. Se ele vir aqui (…), se minha autoridade valer algo, eu nunca lhe permitiria sair vivo (“Si venerit, modo valeat mea autoritas, patiar nunquam vivum exire“).

Em 13 de agosto de 1553, Servet passou em Genebra, e quando ouvia um sermão de Calvino em Genebra e foi imediatamente reconhecido e preso.  Calvino insistiu na condenação de Servet usando todos os meios ao seu comando.

Em seu julgamento pelo Conselho de Genebra, segundo a maioria dos historiadores, Servet foi condenado pela difusão e pregação do Antitrinitarismo e por ser contra o batismo infantil. O procurador (procurador-chefe público), acrescentou algumas acusações como “se ele não sabia que sua doutrina era perniciosa, considerando que ela favorece os judeus e os turcos, por inventar desculpas para eles, e se ele não estudou o Alcorão, a fim de desmentir e rebater as doutrina e a religião das igrejas cristãs(…)”.

Calvino acreditava que Servet mereceu ser morto por causa do que ele denominou como “blasfêmias execráveis”. Todavia, não concordou que ele fosse morto à fogueira, mas sim à guilhotina. Porém, o Conselho não deu ouvidos à Calvino. Calvino então consultou outros reformadores sobre a questão de Servet, como os sucessores imediatos de Martinho Lutero, bem como reformadores de locais como Zurique, Berna, Basel e Schaffhausen, todos concordaram universalmente com sua execução. Em 24 de outubro Servet foi condenado à morte na fogueira por negar a Trindade e o batismo infantil. Calvino sugeriu que Servet fosse executado por decapitação, em vez de fogo, mais seu pedido não foi atendido. Em 27 de outubro de 1553 a pena foi aplicada nos arredores de Genebra com o que se acreditava ser a última cópia de seu livro acorrentado a perna de Servet. Após o ocorrido Calvino escreveu:

Quem sustenta que é errado punir hereges e blasfemadores, pois nos tornamos cúmplices de seus crimes (…). Não se trata aqui da autoridade do homem, é Deus que fala (…). Portanto se Ele exigir de nós algo de tão extrema gravidade, para que mostremos que lhe pagamos a honra devida, estabelecendo o seu serviço acima de toda consideração humana, que não poupamos parentes, nem de qualquer sangue, e esquecemos toda a humanidade, quando o assunto é o combate pela Sua glória.

Relacionamento com a reforma inglesa

Por volta de 1550, Calvino escreve ao rei Eduardo VI de Inglaterra, um protestante, encorajando-o nas suas reformas. O rei Eduardo VI fez acolher protestantes franceses, perseguidos no país natal. Após o reinado de Eduardo VI (1547-1553) o catolicismo regressa à Inglaterra sob a liderança de Maria Tudor.

A discordância com Lutero

No movimento reformista, Lutero não concordou com o “estilo” de reforma de João Calvino. Martinho Lutero queria reformar a Igreja Católica, enquanto João Calvino acreditava que a Igreja estava tão degenerada que não havia como reformá-la. Calvino se propunha a organizar uma nova Igreja que, na sua doutrina (e também em alguns costumes), seria idêntica à Igreja Primitiva. Já Lutero decidiu reformá-la, mas afastou-se desse objetivo, fundando, então, o Protestantismo, que não seguia tradições, mas apenas a doutrina registrada na Bíblia, e cujos usos e costumes não ficariam presos a convenções ou épocas. A doutrina luterana está explicitada no “Livro de Concórdia“, e não muda, embora os costumes e formas variem de acordo com a localidade e a época.

Novas dificuldades

Entre 1553 e 1555, em Genebra, a relação tensa entre a igreja – particularmente o consistório, onde Calvino é uma figura de relevo – e as autoridades seculares da cidade, eleitas entre os habitantes (ricos) da cidade, atinge o seu auge. Discutia-se, então, a questão de saber se o consistório teria ou não o direito de excomungar pessoas, algo que se vinha a passar com relativa frequência. As amargas trocas de palavras entre estes dois pólos multiplicaram-se. Por um lado, o zelo religioso dos Calvinistas, do outro, a autoridade política da cidade. Em Janeiro de 1555 há uma procissão noturna de pessoas em Genebra, caminhando de vela na mão, com a pretensão de ridicularizar Calvino.

Apesar disso, e em parte por causa do peso relativo da população protestante francesa que se tinha refugiado na cidade, as eleições dos 4 novos “Syndics” de Genebra em Fevereiro de 1555 é favorável aos Calvinistas, que se impõem contra os “Enfants de Genève” sob a liderança de Perrin. Após as eleições, porém, há desacatos na rua entre as duas partes. Perrin e outros líderes da revolta são presos e serão decapitados e esquartejados. Os pedaços dos cadáveres foram, depois, exibidos nas ruas da cidade.

Também a doutrina da Predestinação foi muito atacada nestes anos, principalmente por um monge carmelita chamado Hiérome Bolsec, nascido em Paris, que se tinha estabelecido em Genebra. Argumentava que se Deus fosse o responsável por tudo o que se passa, então, também seria responsável pelos nossos pecados. Calvino responde que nunca disse isso e as autoridades apoiam-no. Em Berna, os críticos de Calvino são expulsos da cidade em 1555.

Em 1555 são erguidas as primeiras igrejas calvinistas em França, nomeadamente em Paris, Meaux, Angers, Poitiers e Loudun. Nos três anos seguintes surgem as comunidades de Orleães, Rouen, La Rochelle, Toulouse, Rennes e Lyon.

Em 8 de Junho de 1558, Calvino escreve a Antoine de Bourbon, o Rei de Navarra e consorte de Jeanne d’Albret, exortando-o a seguir na sua vida privada os mesmos valores ascéticos que os seus súbditos.

Entre 26 e 29 de maio de 1559 realiza-se em Paris um sínodo nacional protestante. Cerca de 30 paróquias aparecem aí representadas. O sínodo será responsável pela elaboração de um texto de linhas orientadoras (com a participação de Calvino na sua criação), que se chamará Confession de La Rochelle (texto confirmado nesta cidade em 1571).

Em 1559 Calvino fundou uma escola e um hospital.

Em abril de 1559 é assinado o pacto de paz entre a França e a Espanha, em Cateau-Cambrésis.

Morte

Nos seus últimos anos de vida, a saúde de Calvino começou a vacilar. Sofrendo de enxaquecas, hemorragia pulmonar, gota e pedras nos rins foi, por vezes, levado carregado para o púlpito. Calvino continuava a ter detratores declarados que lhe dirigiam ameaças constantes.

Entretanto, apreciava passar os seus tempos livres no lago de Genebra, lendo as escrituras e bebendo vinho tinto. No fim de sua vida disse a seus amigos que estavam preocupados com o seu regime diário de trabalho: “Qual quê? Querem que o Senhor me encontre ocioso quando ele chegar?”

João Calvino morreu em Genebra a 27 de maio de 1564. Foi enterrado numa sepultura simples e não marcada, conforme o seu próprio pedido no Cimetière des Rois, Genebra na Suíça.

Publicações de Calvino

O livro Institutas da Religião Cristã (edição genebrina de 1559).

  • De Clementia – Obra anotada de Séneca (1532)
  • Psychopannychia (1534)
  • Institutas da Religião Cristã
    • publicado em Latim: 1536
    • publicado em Francês: 1541
  • Catéchisme de l’Église de Genève (1542)
  • Calvino também publicou vários volumes de comentários sobre a Bíblia

Calvinismo

As suas publicações espalharam as suas ideias de uma igreja corretamente reformada, para muitas partes da Europa. O calvinismo tornou-se a religião principal na Escócia (Ver: John Knox), nos Países Baixos e em partes da Alemanha, tendo sido influente na Hungria e na Polônia. A maioria dos colonos de certas zonas do novo mundo, como Nova Inglaterra, eram igualmente calvinistas, incluindo os puritanos e os colonos neerlandeses que se estabeleceram em Nova Amsterdam (Nova Iorque). A África do Sul foi fundada em grande parte por colonos neerlandeses (também com franceses e portugueses) calvinistas do início de século XVII, que ficaram conhecidos como africânderes.

Em França, os calvinistas eram chamados de Huguenotes.

A Serra Leoa foi em grande parte colonizada por colonos calvinistas da Nova Escócia. John Marrant tinha organizado a congregação local sob o auspício da conexão Huntingdon. Os colonos eram na sua maioria loialistas negros, afro-americanos que tinham combatido pelos ingleses na guerra da independência americana.

Calvino, inventor do capitalismo?

O livro A ética protestante e o espírito do capitalismo (edição alemã de 1904).

São muitos os que atribuem a Calvino a invenção do capitalismo baseados na leitura do livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, do sociólogo alemão Max Weber. Em um artigo para a revista Portugal Evangélico, em sua edição nº 933, o pastor protestante espanhol Carlos Capó rebate essa afirmação: “Tratar Calvino como fundador do capitalismo é simplesmente cair num anacronismo e num reducionismo. Não se trata de desmerecer a obra de Weber. Pelo contrário, com ela, ele levava a cabo uma meticulosa e acertada análise dos mecanismos que levaram ao desenvolvimento do capitalismo. Mecanismos, certamente relacionados com a ética protestante. Mas o capitalismo é um conceito que não pertence ao tempo de Calvino, tendo sido definido posteriormente a ele. É um conceito econômico e é um conceito político sujeito a uma polêmica num mundo dividido entre dois modos de entender a sociedade e a economia: o capitalista e o comunista. Querer meter Calvino nessa polêmica está fora de questão”.

——————————————————————————————-

1533 – 1592

Ficheiro:Michel de Montaigne 1.jpg

Michel Eyquem de Montaigne (Saint-Michel-de-Montaigne, 28 de fevereiro de 1533 — Saint-Michel-de-Montaigne, 13 de setembro de 1592) foi um político, filosofo, escritor e cético francês, considerado como o inventor do ensaio pessoal. Nas suas obras e, mais especificamente nos seus “Ensaios”, analisou as instituições, as opiniões e os costumes, debruçando-se sobre os dogmas da sua época e tomando a generalidade da humanidade como objecto de estudo. É considerado um céptico e humanista.

Vida e obra

Montaigne nasceu no Castelo de Montaigne, em Saint-Michel-de-Montaigne, após seu nascimento, o pai entregou-lhe a uma enfermeira de uma aldeia vizinha e veio com três anos de volta para a família.1 Seu pai lhe deu um tutor alemão que lhe falava apenas somente em latim. Assim, o latim era quase a língua materna de Montaigne. Este tinha um espírito por um lado vigilante e metódico e por outro, aberto às novidades. Após estes estudos enveredou pelo direito. Exerceu a função de magistrado primeiro em Périgueux (de 1554 a 1570) depois em Bordéus onde travou profunda amizade com La Boétie.

Retirou-se para o seu Castelo de Montaigne quando tinha 34 anos para se dedicar ao estudo e à reflexão. Levou nove anos para redigir os dois primeiros livros dos Essais. Depois viajou pela primeira vez por Alemanha, Suíça e Itália durante dois anos (1580-1581). Faz o relato desta viagem no livro Journal de Voyage, que só foi publicado pela primeira vez em 1774.

Foi presidente da Câmara de Bordéus durante quatro anos. Regressou ao seu castelo e continuou a corrigir e a escrever os Essais, tendo em vista o estilo parisiense de exposição doutrinária. Os seus Ensaios compreendem três volumes (três livros) e vieram a público em três versões: Os dois primeiros em 1580 e 1588. Na edição de 1588, aparece o terceiro volume. Em 1595, publica-se uma edição póstuma destes três livros com novos acrescentos.

Seus Essais são principalmente autorretratos de um homem, mais do que o autorretrato do filósofo. Montaigne apresenta-se-nos em toda a sua complexidade e variedade humanas. Procura também encontrar em si o que é singular. Mas ao fazer esse estudo de auto-observação acabou por observar também o Homem no seu todo. Por isso, não nos é de espantar que neles ocorram reflexões tanto sobre os temas mais clássicos e elevados ao lado de pensamentos sobre a flatulência. Montaigne é assim um livre pensador, um pensador sobre o humano, sobre as suas inconsistências, diversidades e características. E é um pensador que se dedica aos temas que mais lhe apetecem, vai pensando ao sabor dos seus interesses e caprichos.

Se por um lado se interessa sobremaneira pela Antiguidade Clássica, esta não é totalmente passadista ou saudosista. O que lhe interessa nos autores antigos, especialmente os latinos mas também gregos, é encontrar máximas e reflexões, que o ajudem na sua vida diária e na sua auto-descoberta. Montaigne tenta assim compreender-se, através da introspecção, e tenta assim compreender os homens.

Montaigne não tem um sistema. Não é um moralista, nem um doutrinador. Mas não sendo moralista, não tendo um sistema de conduta, uma moral com princípios rígidos, é um pensador ético. Procura indagar o que está certo ou errado na conduta humana. Propõe-se mais estudar pelos seus ensaios certos assuntos do que dar respostas. No fundo, Montaigne está naquele grupo de pensadores que estão a perguntar em vez de responder, e é na sua incerteza em dar respostas, que surge um certo cepticismo em Montaigne. Como não está interessado em dar respostas apriorístico tem uma certa reserva em relação a misticismos e crenças. É de notar um certo alheamento em relação ao Cristianismo e às lutas de religião que se viviam em França na época.1 Embora não deixe de refletir em assuntos como a destruição das novas índias pelos espanhóis. Ou seja, as suas reflexões visam os clássicos e a sua própria contemporaneidade. Tanto fala de um episódio de Cipião como fala de algum acontecimento do seu século como fala de um qualquer seu episódio doméstico.

O fato de ter introduzido uma outra forma de pensar através de ensaios, fez com que o próprio pensamento humano encontrasse uma forma mais legítima de abordar o real. A verdade absoluta deixa de estar ao alcance do homem, sendo doravante, possível tão-somente uma verdade (?) por aproximações.

Registre-se que Michel de Montaigne foi tio pelo lado materno de Santa Joana de Lestonnac.

——————————————————————————————-

1548 – 1600

Ficheiro:Giordano Bruno.jpg

Giordano Bruno (Nola, Reino de Nápoles, 15482 — Roma, Campo de Fiori, 17 de fevereiro de 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana (Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício) por heresia. É também referido como Bruno de Nola ou Nolano.

Notas biográficas

Origem e formação

Filho do militar Giovanni Bruno e Fraulissa Savolino,4 seu nome de batismo era Filippo Bruno. Adotou o nome de Giordano quando ingressou na Ordem Dominicana, aos 15 anos de idade.

No seminário, estudou Aristóteles e Tomás de Aquino, predominantes na doutrina Católica da época, doutorando-se em Teologia.

Suas ideias avançadas, porém, suscitaram suspeitas por parte da hierarquia da Igreja. Em 1576 foi acusado de heresia e levado a Roma para ser julgado. Poucos meses depois, abandonou o hábito e em 1579 deixou a Itália.

Iniciou-se, então, o período de peregrinação de sua vida. Em Gênova, ainda em 1579, aparentemente, adotou o Calvinismo, o que negaria mais tarde, ao ser julgado em Veneza. Acabou sendo excomungado pelos calvinistas e expulso de Gênova. Viajou sucessivamente para França (Toulouse, Paris), Suíça e Inglaterra.5 Em Londres, onde permaneceu de 1583 a 1585, esteve sob a proteção do embaixador francês, e frequentou o círculo de amigos do poeta inglês Sir Philip Sidney. Em 1585, Bruno retornou a Paris, indo em seguida para Marburg, Wittenberg, Praga, Helmstedt e Frankfurt, onde conseguiu publicar vários de seus escritos.

Prisão, julgamento e execução

O Julgamento de Giordano Bruno pela Inquisição Romana. Relevo em bronze por Ettore Ferrari, Campo de’ Fiori, Roma.

Em Roma, o julgamento de Bruno durou sete anos durante os quais ele foi preso, por último, na Torre de Nona. Alguns documentos importantes sobre o julgamento estão perdidos, mas outros foram preservados e entre eles um resumo do processo, que foi redescoberto em 1940. As numerosas acusações contra Bruno, com base em alguns de seus livros, bem como em relatos de testemunhas, incluíam blasfêmia, conduta imoral e heresia em matéria de teologia dogmática e envolvia algumas das doutrinas básicas da sua filosofia e cosmologia. Luigi Firpo lista estas acusações feitas contra Bruno pela Inquisição Romana:

  • sustentar opiniões contrárias à fé católica e falar contra ela a seus ministros;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a Trindade, a divindade de Cristo e a encarnação;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre Jesus como Cristo;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a virgindade de Maria, mãe de Jesus;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica tanto sobre a Transubstanciação quanto a Missa;
  • reivindicar a existência de uma pluralidade de mundos e suas eternidades;
  • acreditar em metempsicose e na transmigração da alma humana em brutos, e;
  • envolvimento com magia e adivinhação.

Giovanni Mocenigo (1558-1623), membro de um das mais ilustres famílias venezianas, encontrou Bruno em Frankfurt em 1590 e convidou-o para ir a Veneza, a pretexto de lhe ensinar mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, em que Bruno era perito. Segundo Will Durant, Bruno estava havia muitos anos na lista dos procurados pela Inquisição, ansiosa por prendê-lo por suas doutrinas subversivas, mas Veneza gozava da fama de proteger tais foragidos, e o filósofo sentiu-se encorajado a cruzar os Alpes e regressar. Como Mocenigo quisesse usar as artes da memória com fins comerciais, segundo alguns, ou esperasse obter de Bruno ensinamentos de ocultismo para aumentar seu poder, prejudicar seus concorrentes e inimigos, segundo outros, Bruno se negou a ensiná-lo. Segundo Durant, Mocenigo, católico piedoso, assustava-se com “as heresias que o loquaz e incauto filósofo lhe expunha”, e perguntou a seu confessor se devia denunciar Bruno à Inquisição. O sacerdote recomendou-lhe esperar e reunir provas, no que Mocenigo assentiu; mas quando Bruno anunciou seu desejo de regressar a Frankfurt, o nobre denunciou-o ao Santo Ofício. Mocenigo trancou-o num quarto e chamou os agentes da Inquisição para levarem-no preso, acusado de heresia. Bruno foi transferido para o cárcere do Santo Ofício de San Domenico de Castello, no dia 23 de maio de 1592.

No último interrogatório pela Inquisição do Santo Ofício, não abjurou e, no dia 8 de fevereiro de 1600, foi condenado à morte na fogueira. Obrigado a ouvir a sentença ajoelhado, Giordano Bruno teria respondido com um desafio: Maiori forsan cum timore sententiam in me fertis quam ego accipiam (“Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la”).

A execução de sua sentença ocorreu no dia 17 de fevereiro de 1600. Na ocasião teve a voz calada por um objeto de madeira posto em sua boca.

Ideário

Ao contrário do que se pensa comumente, Giordano Bruno não foi queimado na fogueira por defender o heliocentrismo de Copérnico.

Um dos pontos chaves de sua cosmologia é a tese do universo infinito e povoado por uma infinidade de estrelas, como o Sol, e por outros planetas, nos quais, assim como na Terra, existiria vida inteligente. Sua perspectiva se define a partir das idéias de Nicolau da Cusa, Copérnico e Giovanni Battista della Porta.

As suas ideias sobre a relatividade anteciparam as de Galileu: num universo infinito, qualquer perspectiva de qualquer objeto é sempre relativa à posição do observador, há infinitos referenciais possíveis e não existe nenhum privilegiado em relação aos demais. Além de defender a existência de planetas extrassolares, pode ter introduzido algumas idéias do que seria depois a Teoria da Evolução de Darwin.

Seu livro Spaccio de la Bestia Trionfante era um ataque à religião e mostrava o ateísmo do seu autor.

Segundo John Gribbin, em seu livro Science: A History (1543-2001), Bruno filiou-se ao hermetismo, baseado em escrituras egípcias, da época de Moisés. Entre outras referências, esse movimento utilizava os ensinamentos atribuídos ao deus egípcio Thoth, cujo equivalente grego era Hermes (daí hermetismo), conhecido pelos seguidores como Hermes Trismegisto. Bruno teria abraçado a teoria de Copérnico porque ela se encaixava bem na ideia egípcia de um universo centrado no sol.

Deus seria a força criadora perfeita que forma o mundo e que seria imanente a ele. Bruno defendia a crença nos poderes humanos extraordinários, e enfrentou abertamente a Igreja Católica e seus preceitos.

Filosofia

Monumento erguido em 1889 por círculos maçônicos italianos, no local onde Giordano Bruno foi executado. Campo de Fiori, Roma, Itália. Bronze por Ettore Ferrari.

Giordano Bruno foi o grande defensor da ideia de infinito.

“Nós declaramos esse espaço infinito, dado que não há qualquer razão, conveniência, possibilidade, sentido ou natureza que lhe trace um limite.” (Giordano Bruno, Acerca do Infinito, o Universo e os Mundos, 1584).

Bruno era hilozoísta (pensava que tudo tem vida) e panpsiquista (pensava que tudo tem uma natureza psíquica, uma alma).

“A Terra e os astros (…), como eles dispensam vida e alimento às coisas, restituindo toda matéria que emprestam, são eles próprios dotados de vida, em uma medida bem maior ainda; e sendo vivos, é de maneira voluntária, ordenada e natural, segundo um princípio intrínseco, que eles se movem em direção às coisas e aos espaços que lhes convêm” (A ceia de cinzas).
“Todas as formas de coisas naturais têm almas? Todas as coisas são animadas? pergunta Dicson. Theophilo, porta-voz de Bruno, responde: Sim, uma coisa, por minúscula que seja, encerra em si uma parte de substância espiritual, a qual, se encontra o sujeito [suporte] adequado, torna-se planta, animal (…); porque o espírito se encontra em todas as coisas, e não há mínimo corpúsculo que não o contenha em certa medida e que não seja por ele animado.” (Causa, Princípio e Unidade, 1584).
“E o que se pode dizer de cada parcela do grande Todo, átomo, mônada, pode se dizer do universo como totalidade. O mundo abriga em seu coração a Alma do mundo” (idem).
“O mundo é infinito porque Deus é infinito. Como acreditar que Deus , ser infinito, possa ter se limitado a si mesmo criando um mundo fechado e limitado?” (idem)
“Não é fora de nós que devemos procurar a divindade, pois que ela está do nosso lado, ou melhor, em nosso foro interior, mais intimamente em nós do que estamos em nós mesmos.” (A ceia de cinzas).

——————————————————————————————-

1549 – 1623

Arquivo: Duplessis-Mornay.jpg

Philippe de Mornay (05 novembro de 1549 – 11 de novembro de 1623), seigneur du Plessis Marly, geralmente conhecido como Du-Plessis-Mornay ou Mornay Du Plessis, era um francês protestante escritor e membro do anti-monarquistas Monarchomaques .

Biografia

Ele nasceu em Buhy , agora situado em Val-d’Oise . Sua mãe tinha tendências para o protestantismo, mas seu pai tentou neutralizar sua influência, enviando-o para o Collège de Lisieux em Paris . Com a morte de seu pai em 1559, no entanto, a família aprovou formalmente a fé reformada. Mornay estudou direito e jurisprudência na Universidade de Heidelberg , em 1565 e no ano seguintehebraico e alemão na Universidade de Pádua . Durante as Guerras Religiosas Francesas em 1567, ele se juntou ao exército de Luís I de Bourbon, príncipe de Condé , mas uma queda de seu cavalo o impediu de tomar parte ativa na campanha. Sua carreira como huguenote apologista começou em 1571 com o trabalho de Dissertação sur l’Église visível , e, como diplomata, em 1572, ele empreendeu uma missão confidencial para o Almirante de Coligny para William, o Silencioso , Príncipe de Orange .

Ele escapou do St. Massacre do dia de Bartholomew com a ajuda de um amigo católico, refugiando-se em Inglaterra . Retornando à França no final de 1573, ele participou durante os próximos dois anos, com vários sucesso nas campanhas do futuro Henrique IV de França , então só o rei de Navarra. Ele foi feito prisioneiro pelo duque de Guise em 10 de outubro 1575 era, mas resgatado por uma pequena quantia, que foi paga pelo Charlotte Arbaleste , com quem se casou pouco depois no Sedan .

Mornay foi gradualmente reconhecido como o braço direito de Henrique, representá-lo na Inglaterra 1577-1578 e novamente em 1580, e no Baixo Países 1581-1582. Com a morte do duque de Alençon-Anjou em 1584, pelo qual Henry foi trazido à vista do trono da França, o período de maior atividade política de Mornay começou, e após a morte do príncipe de Condé , em 1588, sua influência tornou-se tão grande que ele era popularmente estilo do ” huguenote papa “. Ele estava presente no cerco de Dieppe , lutou em Ivry , e foi no cerco de Rouen em 1591-1592, até que ele enviado em uma missão para a corte de Rainha Elizabeth . Tanto ele como sua esposa fez amizade com protestantes ingleses como Francis Walsingham , Mary Sidney , e seu irmão Philip Sydney .

Ele estava amargamente desapontado com abjuração do protestantismo de Henrique IV em 1593 e gradualmente se retiraram do tribunal, dedicando-se à Academia de Saumur , que teve uma história distinta até a sua supressão por Louis XIV em 1683.

Seus últimos anos foram tristes pela perda de seu único filho em 1605 e de sua dedicada esposa em 1606, mas passou-os no aperfeiçoamento da organização huguenote. Ele foi escolhido um deputado em 1618 para representar os protestantes franceses no Sínodo de Dort . Ele foi proibido de frequentar por Louis XIII , mas contribuíram de forma relevante para as suas deliberações por comunicações escritas. Ele perdeu o cargo de governador de Saumur, no momento da insurreição huguenote em 1621 como Saumur foi capturadopor forças reais francesas, e morreu na aposentadoria em sua propriedade de La Forêt-sur-Sèvre , Deux-Sèvres .

Obras

Em 1598 ele publicou um trabalho em que ele há muito estava envolvido, intitulado De L’instituição, o uso de et du doutrina santo sacrement de l’eucharistie en l’Église ancienne , contendo cerca de 5.000 citações das Escrituras, pais e escolásticos. Jacques Davy Du Perron , bispo de Évreux , depois cardeal e arcebispo de Sens , o acusou de citar erroneamente pelo menos 500, e um debate público foi realizado em Fontainebleau em 4 de Maio de 1600. Decisão foi atribuído a Du Perron com nove pontos apresentados, quando a disputa foi interrompida pela doença de Mornay. Mornay também foi fundamental para a elaboração do Édito de Nantes (1598), que estabeleceu os direitos políticos e alguma liberdade religiosa para os huguenotes.

Suas principais obras, além dos mencionados acima, são excelentes discours de la vie et de la mort (Londres, 1577), uma noiva presente para Charlotte Arbaleste; Traité de l’Église où l’on traite des Principales perguntas qui ont été Mues sur ponto ce temps en Nostre (Londres, 1578); Traité de la vérité de la religião chrétienne contre les Ateus, Epicuriens, Payens, juifs, maometanos et autres infidèles (Antuérpia, 1581); Le Mystère d’iniquité, c’est à dire, l’histoire de la papauté (Genebra, 1611). Dois volumes de Mémoires, 1572-1589, apareceu em La Forêt (1624-1625), e uma continuação em 2 vols. em Amesterdão (1652), uma edição mais completa, mas muito imprecisa ( Mémoires, correspondances, et vie ), em 12 vols. foi publicado em Paris em 1624-1625. Ele também é um – muitos consideram o mais provável – candidato por ser autor dos Vindiciae contra tyrannos (1579), um panfleto defendendo a resistência à coroa francesa.

——————————————————————————————-

1563 – 1638

File:JohannesAlthusius.png

Johannes Althusius (cerca de 1563 – 12 de agosto, 1638) foi um jurista alemão e calvinista filósofo político .

Ele é mais conhecido por seu trabalho 1603, “Politica Methodice digesta, atque Exemplis Sacris et Profanis Illustrata” ; edições revistas foram publicadas em 1610 e 1614. As idéias nele expressas levaram muitos a considerá-lo um dos primeiros verdadeiros federalistas , como o maior pensador intelectual no desenvolvimento inicial do federalismo nos séculos 16 e 17 e na construção de subsidiariedade .

Biografia

Althusius nasceu por volta de 1563, em uma família de meios modestos em Diedenshausen , County Sayn-Wittgenstein ( Siegen-Wittgenstein ), um condado calvinista no que é hoje o estado de Renânia do Norte-Vestfália , mas era então a sede de um Estado independente Grafschaft ou County. Sob o patrocínio de um conde local, ele compareceu ao Ginásio Philippinum em Marburg de 1577 e iniciou os seus estudos em 1581, concentrando-se em direito, filosofia e lógica, pela primeira vez em Colônia , depois em Basel e, provavelmente, com excursão de estudo em Genebra 1585/1586 .

Em 1586, depois de completar seus estudos, Althusius ingressou na faculdade de Direito da protestante-calvinista Herborn Academia de Nassau County, 1592-1596, ele mudou para a Academia calvinista em Burgsteinfurt / Westphalia, e após o retorno, foi nomeado presidente do Colégio Nassau em Siegen (removido nesta cidade 1594-1600), em 1599/1600 e em Herborn em 1602, também o início de sua carreira política, servindo como um membro da Nassau (Alemanha) Conselho do Condado. Para os próximos anos, ele se envolveu em várias faculdades em toda a área, diferentemente de servir como seu presidente e palestras sobre direito e filosofia, e em 1603, ele foi eleito para ser um administrador municipal da cidade de Emden , na Frísia Oriental , onde ele finalmente fez a sua fama. Ele tornou-se uma cidade Síndico em 1604, que o colocou à frente da governança de Emden até sua morte.

Johannes Althusius morreu em 12 de agosto de 1638, em Emden.

Fundo

Até o momento Althusius começou seus estudos formais em 1581, a revolta holandesa contra a Espanha já tinha chegado a um ponto crítico, e não era para ser resolvido até a independência holandesa foi reconhecida em 1609. Porque a natureza do conflito foi em grande parte religiosa – estados calvinistas se rebelar contra seus senhores católicos – era de especial interesse para calvinista pensadores políticos como Althusius.

Nos séculos XVII e início do XVI atrasados, Emden na Frísia Oriental (atual Alemanha) foi no cruzamento da atividade política e religiosa na região. Um porto próspero situado entre a Holanda e o Sacro Império Romano , com acesso marítimo conveniente para a Inglaterra, Emden era uma cidade de destaque na política e política de todos os três países, e foi, portanto, capaz de reter uma quantidade significativa de liberdade política. Ele foi localizado nos territórios sobrepostos da Católica Habsburgo imperador e um luterano senhor provincial, mas a sua população era principalmente calvinista, e a cidade teve um forte espírito calvinista. Emden também foi palco de dois sínodos protestantes, pela primeira vez em 1571 e novamente em 1610, e foi amplamente considerado como o “Geneva do Norte” ou a “alma mater” da Igreja Reformada Holandesa . Esses atributos fizeram da cidade o lugar ideal para Althusius propor sua marca particular de filosofia política; destaque teológico e político de Emden juntamente com a sua ienes para a independência religiosa e cívica fez a teoria política Althusian tanto tópica e popular.

Obras

Politica , a primeira edição do que foi concluída em 1603, é considerado não só o esquema mais plenamente desenvolvida da teoria política calvinista, mas também a única justificação sistemática da revolta holandesa. Althusius tirou de pensadores em vários campos, incluindo Aristóteles , Calvin , Bodin , Maquiavel , Grotius , e Peter Ramus ; Politica citado cerca de 200 livros no total.

A primeira edição da Politica foi recebido com grande aclamação em Emden e na Holanda além.

Recente controvérsia

O editorial da mais recente edição da Politica foi financiado pela American libertário think tank Liberty Fund . A controvérsia vem desde a colocação da palavra “associação”. A maioria dos estudiosos argumentam que esta é uma deturpação do seu significado e a palavra consociation é mais apropriado porque Althusius estava se referindo a grupos sociais que você não pode retirar-se da vez de associações por escolha. O termo “consociatio ‘foi usado por o cientista político Arend Lijphart para dar nome aos sistemas democráticos estáveis ​​em sociedades profundamente divididas: consociacionalismo.

——————————————————————————————-

1561 – 1626

Arquivo: Pourbus Francis Bacon.jpg

Francis Bacon, 1 º Visconde St. Alban , (22 de janeiro de 1561 – 09 de abril de 1626), foi um filósofo Inglês, estadista, cientista, jurista, orador, ensaísta e autor. Serviu tanto como procurador-geral e Lorde Chanceler da Inglaterra. Depois de sua morte, ele manteve-se extremamente influente através de suas obras, especialmente como defensor filosófico e praticante do método científico durante a revolução científica .

Bacon tem sido chamado o criador do empirismo . Suas obras estabelecida e popularizada indutivos metodologias de investigação científica, muitas vezes chamado o método baconiano , ou simplesmente o método científico . Sua procura por um procedimento planejado de investigar todas as coisas naturais marcados um novo rumo no âmbito retórico e teórico para a ciência, muitos dos quais ainda cerca concepções de adequada metodologia hoje.

Bacon foi nomeado cavaleiro em 1603 (sendo o primeiro cientista a receber o título de cavaleiro), e criou Barão Verulam em 1618 e Visconde St. Alban em 1621; como ele morreu sem deixar herdeiros, ambos os títulos de nobreza foram extintos após a sua morte. Ele morreu famosa por contrair pneumonia , enquanto estudava os efeitos do congelamento sobre a preservação da carne.

Biografia

Início da vida

A 18-year-old Francis Bacon. Inscrição em torno da cabeça diz: “Se alguém pudesse pintar, mas a sua mente.” National Portrait Gallery, em Londres

Francis Bacon nasceu em 22 de janeiro de 1561 na York House , perto do Strand, em Londres , filho de Sir Nicholas Bacon por sua segunda esposa, Anne (Cooke) Bacon , a filha do notável humanista Anthony Cooke . A irmã de sua mãe era casada com William Cecil, 1 º Barão de Burghley , fazendo o tio de Burghley Bacon.

Os biógrafos acreditam que Bacon foi educado em casa, em seus primeiros anos, devido a problemas de saúde, o que atormentá-lo ao longo de sua vida. Ele recebeu aulas de John Walsall, um graduado de Oxford, com uma forte inclinação para o puritanismo . Ele entrou Trinity College, Cambridge , em 05 de abril de 1573, com a idade de 12, a viver por três anos lá, junto com seu irmão mais velho Anthony Bacon sob a tutela pessoal do Dr. John Whitgift , futuro arcebispo de Canterbury . Educação de Bacon foi conduzido em grande parte em latim e seguiu o currículo medieval. Ele também foi educado na Universidade de Poitiers . Foi em Cambridge que ele conheceu a rainha Elizabeth , que ficou impressionado com sua inteligência precoce, e estava acostumado a chamá-lo de “O jovem goleiro senhor”.

Seus estudos o levou à crença de que os métodos e resultados da ciência como então praticados estavam erradas. Sua reverência por Aristóteles em conflito com a sua aversão de filosofia aristotélica , que lhe parecia estéril, disputatious, e errado em seus objetivos.

O italiano Água Portão York – a entrada a York House, construído sobre 1626 após a morte de Bacon

Em 27 de junho 1576, ele e Anthony entrou de societate magistrorum a de Gray Inn . Alguns meses mais tarde, Francis foi para o exterior com Sir Amias Paulet , o embaixador Inglês em Paris, enquanto Anthony continuou seus estudos em casa. O estado do governo e da sociedade na França sob Henrique III lhe proporcionou instrução política valioso. Para os próximos três anos, ele visitou Blois , Poitiers , Tours , Itália e Espanha. Durante suas viagens, Bacon estudou a língua, política e direito civil durante a execução de tarefas diplomáticas de rotina. Em pelo menos uma ocasião, ele entregou cartas diplomáticas para a Inglaterra para Walsingham , Burghley , eLeicester , bem como para a rainha.

A morte repentina de seu pai, em fevereiro 1579 Bacon solicitado para voltar à Inglaterra. Sir Nicholas tinha colocado uma soma considerável de dinheiro para comprar uma propriedade para seu filho mais novo, mas ele morreu antes de fazê-lo, e Francis ficou com apenas um quinto do que o dinheiro. Tendo dinheiro emprestado, Bacon tem em dívida. Para se sustentar, ele assumiu a sua residência em Direito de Gray Inn em 1579.

Parlamentar

Bacon tinha três objetivos: descobrir a verdade, para servir o seu país, e para servir a sua Igreja. Ele procurou promover esses fins, buscando um cargo de prestígio. Em 1580, através de seu tio, Lord Burghley , ele se candidatou para um cargo na corte que pode capacitá-lo a levar uma vida de aprendizagem, mas a sua aplicação falhou. Por dois anos ele trabalhou em silêncio em Gray Inn , até que ele foi admitido como advogado externo em 1582.

A estátua de Francis Bacon no Salão de Gray Inn

Sua carreira parlamentar começou quando ele foi eleito deputado por Bossiney, Devon , em uma eleição suplementar em 1581. Em 1584 ele assumiu sua cadeira no parlamento para Melcombe em Dorset, e em 1586 para Taunton . Neste momento, ele começou a escrever sobre a condição das partes na igreja, bem como sobre o tema da reforma filosófica no trato perdido Temporis Partus Maximus. No entanto, ele não conseguiu ganhar uma posição que ele pensou que iria levá-lo para o sucesso. Ele mostrou sinais de simpatia ao puritanismo, atendendo os sermões do capelão puritana de Gray Inn e acompanhando sua mãe para a Igreja Templo de ouvir Walter Travers . Isto levou à publicação de seu trato mais antiga sobrevivente, que criticou a supressão da igreja Inglês do clero puritanos. No Parlamento de 1586, ele pediu abertamente execução para a católica Mary, Queen of Scots .

Sobre este tempo, ele novamente se aproximou de seu tio poderosa ajuda, este movimento foi seguido por seu progresso rápido no bar.Ele se tornou Bencher em 1586, e ele foi eleito um leitor em 1587, entregando o seu primeiro conjunto de palestras na Quaresma do ano seguinte. Em 1589, ele recebeu a nomeação valiosa de reversão à Secretaria de a Câmara de estrela , embora ele não tomou formalmente funções até 1608, a mensagem foi R $ 1.600 por ano.

Em 1588 ele se tornou MP para Liverpool e depois para Middlesex em 1593. Mais tarde, ele sentou-se três vezes para Ipswich (1597, 1601, 1604) e uma vez para a Universidade de Cambridge (1614).

Ele se tornou conhecido como um reformador liberal-minded, ansioso para alterar e simplificar a lei. Apesar de ser um amigo da coroa, ele se opôs privilégios feudais e os poderes ditatoriais. Ele falou contra a perseguição religiosa. Ele bateu na Câmara dos Lordes em sua usurpação das contas de dinheiro. Ele defendeu a união da Inglaterra e Escócia, que ele uma influência significativa para a consolidação do feito do Reino Unido , e ele também defendeu, mais tarde, a integração da Irlanda na União Europeia. Estreitamento dos laços constitucionais, acreditava, iria trazer mais paz e força para esses países.

Procuradoria-Geral

Memorial de Francis Bacon, na capela do Trinity College, em Cambridge

Bacon logo tornou-se familiarizado com Robert Devereux, 2 º Conde de Essex , a rainha Elizabeth favorito’s. Por 1591, ele atuou como conselheiro confidencial do conde.

Em 1592 ele foi contratado para escrever um tratado, em resposta ao jesuíta Robert Parson polêmica anti-governo, que ele intitulouCertas observações feitas em cima de uma calúnia , identificando Inglaterra com os ideais de democracia de Atenas contra a beligerância da Espanha.

Bacon levou seu terceiro mandato parlamentar para Middlesex , quando em fevereiro 1593 Elizabeth convocou o Parlamento para investigar uma conspiração católica contra ela. A oposição de Bacon a um projeto de lei que cobrar subsídios triplos em metade do tempo habitual ofendeu o Queen: adversários o acusavam de buscar popularidade, e por um tempo o Tribunal de Justiça excluiu-o de favor.

Quando o Procurador-Generalship caiu vago em 1594, a influência de Lord Essex não foi suficiente para garantir Bacon que o escritório, que foi dado a Sir Edward Coke . Da mesma forma, Bacon não conseguiu garantir o menor gabinete do procurador-geral em 1595, a rainha incisivamente esnobando ele, nomeando Sir Thomas Fleming em seu lugar. Para consolá-lo para essas decepções, Essex lhe presenteou com uma propriedade em Twickenham , que vendeu posteriormente por £ 1.800.

Em 1596 tornou-se Bacon conselho da rainha , mas perdeu a nomeação do Mestre dos Rolls . Durante os próximos anos, a sua situação financeira permaneceu embaraçoso. Seus amigos não conseguia encontrar um cargo público para ele, e um esquema para recuperar sua posição de um casamento com o rico e jovem viúva Lady Elizabeth Hatton falhou depois que ela rompeu o relacionamento após aceitar o casamento com um homem rico. Em 1598 Bacon foi preso por dívida. Depois disso, no entanto, sua posição nos olhos da rainha melhorado. Gradualmente, Bacon ganhou a posição de um dos conselhos aprendidas, embora ele não tinha comissão ou mandado, e não recebeu salário. Sua relação com a rainha melhorada quando ele rompeu os laços com Robert Devereux, 2 º Conde de Essex , um movimento astuto, como Essex foi executado por traição em 1601.

Com os outros, Bacon foi nomeado para investigar as acusações contra Essex, seu ex-amigo e benfeitor. Um número de seguidores de Essex confessou que Essex tinha planejado uma rebelião contra a rainha. Bacon foi posteriormente uma parte da equipe jurídica chefiada pelo Procurador-Geral Sir Edward Coke no julgamento traição de Essex. Após a execução, a Rainha ordenou Bacon para escrever a conta oficial do governo do julgamento, que mais tarde foi publicado como uma declaração de Práticas e traições e tentativas cometido por Robert tarde Earle of Essex e seus Cúmplices, contra ela Majestie e seus reinos … depois do primeiro projeto de Bacon foi fortemente editada pela rainha e seus ministros.

De acordo com o seu secretário pessoal e capelão William Rawley , como um juiz Bacon foi sempre de bom coração, “olhando para os exemplos com o olho da gravidade, mas à pessoa com os olhos da piedade e compaixão” . E também que “ele estava livre de malícia” , “não vingador dos ferimentos” , e “não difamador de qualquer homem”.

James I vem ao trono

A sucessão de James I trouxe Bacon em maior favor. Ele foi nomeado cavaleiro em 1603. Em outro movimento astuto, Bacon escreveu suas desculpas em defesa de seus processos, no caso de Essex, como Essex tinha favorecido James para suceder ao trono.

No ano seguinte, durante o curso da primeira sessão do parlamento sem intercorrências, Bacon casou com Alice Barnham . Em junho 1607, ele foi finalmente recompensado com o cargo de procurador-geral. No ano seguinte, ele começou a trabalhar como a Secretaria de a Câmara de Estrela . Apesar de uma renda generosa, dívidas antigas ainda não puderam ser pagas. Ele buscou uma maior promoção e riqueza, apoiando King James e suas políticas arbitrárias.

Retrato de Sir Francis Bacon

Sir Francis Bacon, 1618

Em 1610 a quarta sessão do primeiro James parlamento atendidas. Apesar do conselho de Bacon com ele, James e os Espaços Públicos encontraram-se em desacordo sobre as prerrogativas reais e extravagância embaraçoso do rei. A casa foi finalmente dissolvido em fevereiro de 1611. Ao longo desse período Bacon conseguiu ficar em favor do rei, mantendo a confiança dos Comuns.

Em 1613 Bacon foi finalmente nomeado procurador-geral , depois de aconselhar o rei para baralhar as nomeações judiciais. Como procurador-geral, Bacon processado com sucesso Robert Carr, 1 º Conde de Somerset , e sua esposa, Frances Howard, Condessa de Somerset , por assassinato em 1616. O chamado Parlamento do príncipe de abril 1614 opôs-se a presença de Bacon no banco de Cambridge e os vários planos reais que Bacon haviam apoiado. Embora ele foi autorizado a ficar, o parlamento aprovou uma lei que proibia o procurador-geral de sentar-se no parlamento. Sua influência sobre o rei evidentemente inspirado ressentimento ou apreensão em muitos de seus pares. Bacon, no entanto, continuou a receber o favor do rei, o que levou à sua nomeação março 1617 como o Regent temporária de Inglaterra (por um período de um mês), e em 1618 como Lord Chancellor . Em 12 de julho de 1618, o rei criou Bacon Barão Verulam , de Verulam , no Peerage de Inglaterra . Como um novo par ele então denominou-se como Francis, Lord Verulam.

Bacon continuou a usar sua influência com o rei para mediar entre o trono e o Parlamento, e é nesta qualidade que foi ainda mais elevada dentro da mesma nobreza, como Visconde St Alban , em 27 de Janeiro 1621.

Lord Chancellor e desgraça pública

Francis Bacon e os membros do Parlamento no dia da sua queda política

Carreira pública de Bacon terminou em desgraça em 1621. Depois que ele caiu em dívida, uma comissão parlamentar sobre a administração da lei acusaram de 23 acusações separadas de corrupção. Seu inimigo ao longo da vida, Sir Edward Coke , que tinha iniciado essas acusações, foi um dos nomeados para preparar as acusações contra o chanceler. Para os senhores, que enviaram uma comissão para investigar se a confissão era realmente seu, ele respondeu: “Meus senhores, é o meu ato, minha mão e meu coração, rogo vossas senhorias para ser misericordioso com uma cana quebrada.” Ele foi condenado a uma multa de £ 40.000 e comprometida com a Torre de Londres , no prazer do rei, a prisão durou apenas alguns dias e a multa foi remetido pelo rei. Mais a sério, o parlamento declarou Bacon incapazes de manter futuro escritório ou sentado no parlamento. Ele escapou por pouco de sofrer degradação , o que teria lhe despojado de seus títulos de nobreza. Posteriormente, o visconde desgraça dedicou-se a estudar e escrever.

Parece haver pouca dúvida de que Bacon havia aceitado presentes de litigantes, mas isso era um costume aceito do tempo e não necessariamente evidência de comportamento profundamente corruptos. Apesar de reconhecer que sua conduta foi negligente, ele respondeu que nunca tinha permitido presentes para influenciar seu julgamento e, de fato, ele tinha na ocasião dado um veredicto contra aqueles que ele tinha pago. Ele até tinha uma entrevista com o rei James, em que ele garantiu:

A lei da natureza me ensina a falar em minha defesa: Com relação a essa acusação de suborno eu sou tão inocente como qualquer homem nascido em St. Dia Inocentes. Eu nunca tive um suborno ou recompensa no meu olho ou pensamento ao pronunciar sentença ou despacho … Estou pronto para fazer uma oferta de mim para o Rei

-17 Abril 1621

Ele também escreveu o seguinte para Buckingham:

Minha mente está calma, para minha sorte não é a minha felicidade. Eu sei que tenho as mãos limpas e o coração puro, e eu espero que a casa limpa para amigos ou servos, mas o próprio trabalho, ou quem foi o juiz justest, por tal caça para assuntos de encontro a ele vos como foi usado contra mim, pode por um tempo parece falta, especialmente em um momento em que a grandeza é a marca e acusação é o jogo.

A verdadeira razão para o seu reconhecimento de culpa é o tema do debate, mas alguns autores especulam que ele pode ter sido motivada por sua doença, ou por uma visão que, através de sua fama e da grandeza de seu escritório, ele seria poupado punição severa. Ele pode até ter sido chantageado, com uma ameaça ao acusá-lo de sodomia, em confissão.

Os britânicos jurista Basil Montagu escreveu em defesa de Bacon, sobre o episódio de sua desgraça pública:

Bacon foi acusado de servilismo, de dissimulação, de vários motivos de base, e sua ninhada imundo das ações de base, tudo indigno de seu alto nascimento, e incompatível com sua grande sabedoria, e a estimativa em que foi realizada pelos espíritos mais nobres da a idade. É verdade que havia homens em seu próprio tempo, e serão homens em todos os tempos, que são melhor prazer de contar pontos no sol do que alegrar-se com o seu brilho glorioso. Esses homens têm difamado-lo abertamente, como Dewes e Weldon, cuja falsidade foi detectada assim que pronunciou, ou que se firmou em certos elogios solenes e dedicatórias, a moda de sua época, como uma amostra de seu servilismo, passando por seus nobres cartas para a Rainha, seu desprezo sublime para o Senhor Keeper Beicinho, sua negociação aberta com Sir Robert Cecil, e com os outros, que, poderoso quando ele não era nada, poderia ter arruinadas suas fortunas abertura para sempre, esquecendo sua defesa dos direitos do povo em face da quadra, e os verdadeiros e honestos conselhos, sempre dada por ele, em tempos de grande dificuldade, tanto para Elizabeth e seu sucessor. Quando foi um “bajulador de base” amado e honrado por piedade, como a de Herbert, Tennison e Rawley, por espíritos nobres como Hobbes, Ben Jonson, e Selden, ou seguido para a sepultura, e além dele, com carinho dedicado como que de Sir Thomas Meautys.

Vida pessoal

Quando ele tinha 36 anos, Bacon se dedica ao namoro de Elizabeth Hatton , uma jovem viúva de 20. Alegadamente, ela rompeu o relacionamento após o casamento aceitando a um homem rico, rival de Bacon, Edward Coke . Anos mais tarde, ainda Bacon escreveu sobre sua tristeza que o casamento com Hatton não tivesse ocorrido.

Com a idade de 45 anos, casou-se com Bacon Alice Barnham , a 14 anos de idade, filha de uma Londres bem relacionado vereador e MP. Bacon escreveu dois sonetos proclamando seu amor por Alice. O primeiro foi escrito durante seu namoro e o segundo no dia de seu casamento, 10 de maio de 1606. Quando Bacon foi nomeado lorde chanceler, “por mandado especial do Rei,” Lady Bacon foi dada precedência sobre todas as outras damas da corte.

Relatórios de aumentar o atrito no seu casamento com Alice apareceu, com especulações de que algumas delas podem ter sido devido a recursos financeiros não ser tão prontamente disponível para ela enquanto ela estava acostumada a ter no passado. Alice era declaradamente interessada em fama e fortuna, e quando as reservas de dinheiro já não estavam disponíveis, houve reclamações sobre onde todo o dinheiro estava indo. Alice Chambers Bunten escreveu em seu Life of Alice Barnham que, após a sua descida para a dívida, ela na verdade foi em viagens para pedir favores financeiros e assistência de seu círculo de amigos. Bacon deserdados ela ao descobrir seu segredo relacionamento romântico com Sir John Underhill . Ele reescreveu a sua vontade, que anteriormente tinha sido muito generoso, deixando suas terras, bens e renda, ele revogou tudo.

Bacon do secretário pessoal e capelão, William Rawley, no entanto, escreveu em sua biografia de Bacon de que seu casamento com Alice Barnham foi um dos “muito amor conjugal e respeito” , mencionando um manto de honra que ele deu a ela, e que “ela usava até ela morrer dia, sendo 20 anos e mais depois de sua morte “ .

Gravura de Alice Barnham

O bem-conectado antiquário John Aubrey notável em suas breves vidas relativos Bacon: “Ele era um Pederast. Sua Ganimeds e Favoritos Tooke subornos”. Biógrafos continuam a debater sobre inclinações sexuais de Bacon e da natureza exata de suas relações pessoais. Vários autores acredita que, apesar de seu casamento, Bacon foi atraído principalmente para o mesmo sexo. Forker, por exemplo, explorou as “preferências sexuais historicamente bem documentados” de ambos King James e Bacon, e concluiu que eles estavam todos orientados para o “amor masculino”, um termo contemporâneo, que “parece ter sido utilizado exclusivamente para se referir a a preferência sexual de homens para os membros de seu próprio gênero”. Os jacobinos de antiquário Sir Simonds D’Ovelhas implícita tinha havido uma questão de trazê-lo a julgamento por sodomia.

Esta conclusão foi contestado por outros, que apontam para a falta de evidências consistentes, e consideram as fontes a ser mais aberto à interpretação. Em sua “Nova Atlântida”, Bacon descreve sua ilha utópica como sendo” a nação mais casto debaixo do céu “, em que não havia prostituição e adultério, e dizendo ainda que “como o amor masculino, eles não têm contato dela” .

Morte

Em 09 abril de 1626 Bacon morreu de pneumonia , enquanto no Arundel mansão em Highgate fora de Londres. Uma conta influente das circunstâncias de sua morte foi dada por John Aubrey Breves Vidas . Aubrey tem sido criticado por sua credulidade evidente neste e em outros trabalhos, por outro lado, ele sabia que Thomas Hobbes , Bacon do companheiro de filósofo e amigo. Relato vívido de Aubrey, que retrata Bacon como um mártir para o método científico experimental, o tinha viajando para Highgate pela neve com o médico do rei quando ele é subitamente inspirado pela possibilidade de usar a neve para conservar a carne: “Eles foram resolvidos eles tentariam o experimento atualmente. Eles desceram para fora do ônibus e foi para casa de uma mulher pobre na parte inferior da Highgate Hill, e comprou uma ave, e fez a mulher exenterate-lo.”

Monumento a Bacon em seu local de sepultamento, a Igreja de St Michael em St Albans

Depois de encher as aves de neve, Bacon contraiu um caso fatal de pneumonia . Algumas pessoas, incluindo Aubrey, considere estes dois eventos contíguos, possivelmente coincidentes como relacionados e causador de sua morte: “The Snow tão geladas que ele imediatamente caiu tão extremamente doente, que ele não poderia voltar ao seu alojamento … mas foi para o Earle da casa de Arundel em Highgate, onde colocá-lo em uma cama … úmido que não tinha sido Layn-in … que lhe deu tal frio que em 2 ou 3 dias, como eu me lembro o Sr. Hobbes me disse, ele morreu de asfixia “.

Sendo involuntariamente em seu leito de morte, o filósofo escreveu sua última carta ao seu amigo ausente host e Lord Arundel :

Meu muito bom Senhor,-Eu não susceptíveis de ter tido a sorte de Caio Plínio, o Velho , que perdeu a vida ao tentar um experimento sobre a queima do Monte Vesúvio , pois eu também estava desejoso de tentar uma experiência ou dois tocando a conservação e endurecimento dos corpos. Como para a própria experiência, conseguiu excelentemente bem, mas na viagem entre Londres e Highgate, fui levado com tal ajuste de fundição , como eu não sei se foram os Stone, ou algum excesso ou frio, ou mesmo um toque de todos os três. Mas quando cheguei à casa de Vossa Senhoria, eu não era capaz de voltar e, portanto, foi forçado a tomar a minha hospedagem aqui, onde sua governanta é muito cuidadoso e diligente sobre mim, que eu me asseguro Vossa Senhoria não só perdoará para ele, mas acho que o melhor dele para ele. Porque, na verdade a casa de Vossa Senhoria estava feliz por mim, e eu beijo as mãos nobres para as boas-vindas que eu tenho certeza que você me dê a ela. Eu sei como imprópria é para mim escrever com qualquer outro lado do que é meu, mas por minha fidelidade meus dedos são tão desarticulada com a doença que eu não posso firmemente segurar uma caneta.

Outro relato aparece em uma biografia escrita por William Rawley, secretário e capelão pessoal de Bacon:

Ele morreu no nono dia de abril no ano de 1626, no início da manhã do dia então celebrado para a ressurreição de nosso Salvador, no sexagésimo sexto ano de sua idade, ao conde de casa de Arundel em Highgate, perto de Londres, para que lugar ele casualmente reparados cerca de uma semana antes, Deus assim ordenar que ele deveria morrer ali de uma febre suave, acidentalmente acompanhado com um grande frio, em que o defluxion de reumatismo caiu tão abundantemente no peito, que ele morreu por asfixia.

Na notícia de sua morte, mais de 30 grandes mentes reunidas seus elogios dele, que foi, posteriormente, publicados em latim.

Ele deixou bens pessoais de cerca de £ 7.000 e terras que percebeu £ 6,000 quando vendidos. Seus débitos totalizam mais de £ 23.000, o equivalente a mais de £ 3 milhões ao valor atual.

Filosofia e obras

A filosofia de Francis Bacon é exibido nas vastas e variadas obras que ele deixou, o que pode ser dividida em três grandes ramos:

  • Trabalhos científicos – em que as suas ideias para uma reforma universal do conhecimento, método científico e à melhoria da situação da humanidade são apresentados.
  • Obras literárias religiosos – no qual ele apresenta sua filosofia morais e teológicas meditações.
  • Obras jurídicas – em que são propostas as reformas na lei.

Influência

“Para frontispício” da história da Royal-Society de Londres “, retratando Bacon (na direita) entre as influências fundadores da Sociedade . National Portrait Gallery, em Londres

Ciência

Idéias de Bacon foram influentes na década de 1630 e 1650 entre os estudiosos, em especial, Sir Thomas Browne , que em sua enciclopédia Pseudodoxia Epidemica (1646-1672) freqüentemente adota uma abordagem baconiana para suas investigações científicas.Durante a restauração , Bacon era comumente invocada como um espírito orientador da Royal Society fundada sob Charles II em 1660. Durante o século 18 – Iluminismo francês , a abordagem não-metafísica de Bacon para a ciência tornou-se mais influente do que o dualismo de seu contemporâneo francês Descartes , e foi associado com críticas ao antigo regime . Em 1733 Voltaire “apresentou-o como o” pai ” do método científico “para o público francês, um entendimento que se tornou generalizada em 1750. No século 19, sua ênfase na indução foi reavivado e desenvolvido por William Whewell , entre outros. Ele tem sido reputado como o “pai da ciência experimental”.

Bacon também é considerada a influência filosófica por trás do alvorecer da era industrial . Em suas obras, Bacon pediu uma “Primavera de uma progênie de invenções, que deve superar, até certo ponto, e subjugar as nossas necessidades e misérias “, sempre propondo que todo trabalho científico deve ser feito para fins de caridade, como questão de aliviar a miséria da humanidade, e que, portanto, a ciência deve ser prático e tem como objetivo a inventar coisas úteis para a melhoria da propriedade da humanidade.Isso mudou o curso da ciência na história, a partir de um estado meramente contemplativa, como foi encontrado em épocas antigas e medievais, a um estado criativo prático – que teria, eventualmente, levou às invenções que tornaram possível as revoluções industriais dos séculos seguintes .

Ele também escreveu um longo tratado sobre Medicina , História da Vida e da Morte, com as observações naturais e experimentais para o prolongamento da vida.

Para um de seus biógrafos, o historiador William Hepworth Dixon , a influência de Bacon no mundo moderno é tão grande que todo o homem que monta em um trem, envia um telegrama, segue um arado de vapor, se senta em uma poltrona, cruza o canal ou o Atlântico , come um bom jantar, gosta de um belo jardim, ou sofre uma intervenção cirúrgica sem dor, deve-lhe alguma coisa.

América do Norte

A visão de Bacon por um utópico Novo Mundo na América do Norte pode ter sido colocado para fora em seu romance A Nova Atlântida , que acontece em uma ilha fictícia, Bensalem, no Oceano Pacífico, entre Peru e Japão. A liberdade de religião existia em Bensalem – um judeu é tratada igualmente em uma ilha de cristãos – mas se New Atlantisinfluenciado outras reformas, como os direitos das mulheres, abolição da escravatura , a eliminação de prisões dos devedores , a separação entre Igreja e Estado , e da liberdade de expressão política, é uma questão de debate. Não há nenhuma referência a qualquer destas reformas no The New Atlantis em si, mas o seu propostas de reforma legal (que não foram estabelecidos durante a sua vida) pode ter influenciado o Código Napoleônico .

Um selo de Terra Nova onde se lê “Lord Bacon – o espírito-guia no esquema de colonização”

Bacon desempenhou um papel fundamental na criação das colônias britânicas, especialmente na Virgínia , Carolina do Norte e Terra Nova no nordeste do Canadá. Seu relatório do governo sobre a “colônia de Virgínia” foi apresentado em 1609. Em 1610 Bacon e seus associados receberam uma carta do rei para formar o Tresurer e o Empresae de Aventureiros e plantador do Cittye de Londres e Bristoll para o Collonye ou plantacon em Terra Nova e enviou João Guy de fundar uma colônia lá. Em 1910, Terra Nova emitiu um selo postal para comemorar o papel de Bacon no estabelecimento da província. O selo descreve Bacon como “o espírito orientador em projetos de colonização em 1610”. Além disso, alguns estudiosos acreditam que ele foi o grande responsável pela elaboração, em 1609 e 1612, de duas cartas de governo para a colônia de Virgínia. Thomas Jefferson , o terceiro presidente dos Estados Unidos e autor da Declaração de Independência , escreveu: “Bacon, Locke e Newton . Eu os considero como os três maiores homens que já viveram, sem nenhuma exceção, e como tendo lançado os alicerces dessas superestruturas que foram levantadas nas ciências físicas e morais”. William Hepworth Dixon considerado que o nome de Bacon poderia ser incluído na lista dos fundadores dos Estados Unidos da América.

O Rosacruz organização AMORC acredita que a obra de Bacon The New Atlantis inspirou uma colônia de místicos Rosacruzes liderados por Johannes Kelpius para navegar para a América do Norte no final do século 17. Kelpius e seus seguidores se estabeleceram às margens do Wissahickon Creek , na colônia da Pensilvânia, onde ficou conhecido como “Eremitas de Místicos da Wissahickon” ou simplesmente “Monges da Wissahickon”. De acordo com a AMORC, desta e de outras comunidades Rosacruz “… fez contribuições valiosas para a cultura norte-americana recém-emergente nas áreas de impressão, a filosofia, as ciências e as artes”.

Lei

Estátua de Francis Bacon na Biblioteca do Congresso , Washington, DC.

Embora grande parte de suas propostas de reforma legal não foram estabelecidos em sua vida, seu legado legal foi considerado pela revista New Scientist , em uma publicação de 1961, como tendo influenciado a elaboração do Código Napoleônico , e as reformas da lei introduzida por Sir Robert Peel .

O historiador William Hepworth Dixon referiu-se ao Código de Napoleão como “a única encarnação do pensamento de Bacon” , dizendo que o trabalho legal de Bacon “teve mais sucesso no exterior do que ele foi encontrado em casa” , e que em França “que floresceu e entram em frutas “ .

O estudioso Harvey Wheeler atribuída a Bacon, em sua obra “de Francis Bacon Verulamium – o modelo Common Law de The Modern em Inglês Ciência e Cultura”, a criação dessas características distintivas do sistema de direito comum moderna:

  • Usando casos como repositórios de evidências sobre a “lei não escrita”;
  • Determinar a relevância dos precedentes por princípios de exclusão de evidência e lógica;
  • Tratar opondo documentos jurídicos como hipóteses contraditório sobre a aplicação da “lei não escrita” a um novo conjunto de fatos.

Ainda no século 18 alguns júris ainda declarou que a lei, em vez de o fato, mas já antes do final do século 17 Sir Matthew Hale explicou procedimento de adjudicação de direito comum moderno e reconhecido Bacon como o inventor do processo de descoberta de leis não escritas do evidências de suas aplicações. O método de empirismo e indutivismo combinados em uma nova forma que era para imprimir sua assinatura em muitas das características distintivas da sociedade moderna Inglês.

Em breve, Bacon é considerado por alguns juristas para ser o pai da moderna jurisprudência .

James McClellan, cientista político da Universidade de Virgínia, considerado Bacon ter tido “um grande número de seguidores” nas colônias americanas .

Bolsa de estudos mais recentes sobre a jurisprudência de Bacon tem se concentrado em sua tortura defendendo como um recurso legal para a coroa. O próprio Bacon não era um estranho para a câmara de tortura: em suas várias capacidades legais, tanto Elizabeth I de e James I do reina, Bacon foi listado como um comissário de cinco mandados de tortura. Em 1683, em carta dirigida ao rei James I sobre a questão do lugar de tortura dentro da lei Inglês, Bacon identifica o escopo de tortura: um meio para aprofundar a investigação de ameaças ao Estado: “Nos casos de traições, a tortura é usada para descoberta, e não por provas “. Para Bacon, a tortura não era uma medida punitiva, uma forma pretendida de repressão do Estado, mas em vez ofereceu um modus operandi para o agente do governo encarregado de descobrindo atos de traição.

Debates históricos

Bacon e Shakespeare

A hipótese Baconian de autoria de Shakespeare, proposto pela primeira vez em meados do século 19, afirma que Francis Bacon escreveu algumas ou todas as peças convencionalmente atribuídas a William Shakespeare , em oposição à tradição acadêmica que William Shakespeare de Stratford foi o autor.

Hipóteses Ocultas

Francis Bacon muitas vezes se reuniram com os homens no de Gray Inn para discutir política e filosofia, e para experimentar várias cenas teatrais que ele admitiu por escrito suposta ligação de Bacon para os rosacruzes e a Maçonaria tem sido amplamente discutido por autores e estudiosos em muitos livros. No entanto, outros, incluindo Daphne du Maurier (em sua biografia de Bacon), argumentaram que não há provas materiais para apoiar alegações de envolvimento com os Rosacruzes. Frances Yates não faz a afirmação de que Bacon era um Rosacruz, mas apresenta evidências de que ele estava, no entanto, envolvido em alguns dos movimentos intelectuais mais fechadas de sua época. Ela argumenta que o movimento de Bacon para o avanço da aprendizagem estava intimamente ligado com o movimento Rosacruz alemão, enquanto de Bacon Nova Atlântida retrata uma terra governada por Rosacruzes. Ele, aparentemente, viu seu próprio movimento para o avanço de aprender a estar em conformidade com os ideais rosacruzes.

Um volume velho de Francis Bacon e uma rosa

A ligação entre a obra de Bacon e os ideais rosacruzes que Yates supostamente encontrados, foi a conformidade dos propósitos expressos pelos Manifestos Rosacruzes e plano de um “Grande Instauração” de Bacon, para os dois estavam pedindo uma reforma de ambos “divina e compreensão humana “, bem como ambos tinham em vista o objetivo de retorno da humanidade ao “estado antes da queda”.

Outra ligação importante é dito ser a semelhança entre “Nova Atlântida” de Bacon e o alemão Rosacruz Johann Valentin Andreae “Descrição da República de Cristianópolis (1619)”. Em seu livro, Andreae mostra uma ilha utópica em que Christian teosofia e ciência aplicada governados, e em que a realização espiritual e atividade intelectual constituíram os principais objetivos de cada indivíduo, as atividades científicas, sendo a maior vocação intelectual – ligados à realização da perfeição espiritual. Ilha de Andrea e também retrata um grande avanço da tecnologia, com muitas indústrias separados em diferentes zonas que forneceram as necessidades da população -. Que mostra grande semelhança com métodos e fins científicos de Bacon.

A organização Rosacruz AMORC afirma que Bacon foi o “Imperador” (líder) da Ordem Rosacruz na Inglaterra e no continente europeu, e teria dirigido-lo durante sua vida.

A influência de Bacon também pode ser visto em uma variedade de autores religiosos e espirituais, e sobre os grupos que utilizaram seus escritos nos seus próprios sistemas de crença.

Bibliografia

Algumas das mais notáveis ​​obras de Bacon incluem:

  • Ensaios (1 ª ed., 1597)
  • O Avanço e proficience de Aprendizagem Divino e Humano (1605)
  • Ensaios (2 ª edição – 38 ensaios, 1612)
  • Novum Organum Scientiarum (‘New Method’, 1620)
  • Ensaios ou Conselhos Civis e Morais (edição 3rd/final – 58 ensaios, 1625)
  • Nova Atlântida (1627)

——————————————————————————————-

1568 – 1639

Tommaso Campanella Italiano:  [tommazo kampanɛlla] ; 05 de setembro de 1568 – 21 de maio 1639), batizado Giovanni Domenico Campanella , era um italiano filósofo , teólogo, astrólogo e poeta.

Biografia

Nascido em Stignano (no condado de Stilo ), na província de Reggio di Calabria na Calábria , no sul da Itália , Campanella foi uma criança prodígio . Filho de um pobre e analfabeto sapateiro , entrou na Ordem Dominicana antes da idade de quinze anos, tomando o nome de Frei Tommaso em homenagem a Tomás de Aquino . Ele estudou teologia e filosofia com vários mestres.

Logo no início, ele ficou desencantado com a aristotélica ortodoxia e atraídos pelo empirismo de Bernardino Telesio (1509-1588), que ensinou que o conhecimento é sensação e que todas as coisas na natureza possuem sensação. Campanella escreveu sua primeira obra, Philosophia sensibus demonstrata (“Filosofia demonstrado pelos sentidos”), publicado em 1592, em defesa da Telesio.

Em Nápoles , ele também foi iniciado em astrologia ; especulações astrológicas se tornaria uma característica constante em seus escritos. De Campanella heterodoxas vistas, especialmente sua oposição à autoridade de Aristóteles , o colocou em conflito com as autoridades eclesiásticas. Denunciado à Inquisição e citou antes do Santo Ofício em Roma , ele foi confinado em um convento até 1597.

Depois de sua libertação, Campanella voltou para Calabria, onde ele foi acusado de liderar uma conspiração contra o espanhol regra em sua cidade natal de Stilo. O objetivo de Campanella foi estabelecer uma sociedade baseada na comunidade de bens e esposas, para com base nas profecias de Joaquim de Fiore e suas próprias observações astrológicas, ele previu o advento da Era do Espírito, no ano de 1600. Traído por dois de seus companheiros de conspiração, ele foi capturado e preso em Nápoles, onde foi torturado na cremalheira . Ele fez uma confissão completa e teria sido condenado à morte se não tivesse fingido loucura e colocou o celular no fogo. Ele foi torturado ainda (um total de sete vezes) e, em seguida, aleijado e doente, foi condenado à prisão perpétua.

Campanella passou 27 anos preso em Nápoles, muitas vezes em piores condições. Durante sua detenção, ele escreveu suas obras mais importantes: a monarquia da Espanha (1600), Aphorisms Políticos (1601), Atheismus Triumphatus ( Ateísmo Conquistada , 1605-1607), Quod reminiscetur (? 1606), Metaphysica (1609-1623), Theologia (1613-1624), e sua obra mais famosa, A Cidade do Sol (originalmente escrito em italiano em 1602, publicado em latim em Frankfurt (1623) e mais tarde em Paris (1638).

Ele defendeu Galileo Galilei em seu primeiro teste com a sua obra A Defesa da Galileo (escrito em 1616, publicado em 1622). Durante o tempo antes de seu segundo julgamento, Setembro 25, 1632, Campanella escreveu a Galileu que:

Eu me senti muito desgosto na compreensão de que os teólogos da Congregação devem proibir os Diálogos da sua verdade, e nenhuma pessoa será (em que o conselho) que sabe matemática, ou coisas sobre recônditos. Esteja avisado que, embora sinceramente faz afirmar a opinião completamente-impedidos pelo movimento da terra, você não é obrigado a acreditar nas razões daqueles que o contradizem. Esta regra é teológico, e a validade é como a do segundo Concílio de Nicéia, que decretou que Angelorum imagina depingi debent, quam’am vere corporei sunt (As imagens de anjos deve ser descrito como eles estão na carne): enquanto este decreto é válido, a razão não é, uma vez que todos os estudiosos de nossos dias aceitar que os anjos são incorpóreos. Há outras razões próprias. Duvido violência para as pessoas que você não conhece. O atual Papa, provavelmente, não fez a sua mente neste caso … mas, de minha parte, vou escrever e avisar o grão-duque da Toscana, que se puseram dominicanos, jesuítas, Teatinos e sacerdotes seculares contra os seus livros neste conselho , eles também devem admitir o Pai Castelli e eu.

Campanella foi finalmente libertado de sua prisão em 1626, por meio de Papa Urbano VIII , que, pessoalmente, intercedeu a seu favor com Filipe IV de Espanha . Levado para Roma e mantido por um tempo pelo Santo Ofício, Campanella foi restaurada a plena liberdade em 1629. Ele viveu por cinco anos em Roma, onde foi assessor de Urban em assuntos astrológicos.

Em 1634, no entanto, uma nova conspiração, na Calábria, liderada por um de seus seguidores, ameaçou novos problemas. Com a ajuda do cardeal Barberini e o embaixador francês de Noailles, ele fugiu para a França , onde foi recebido na corte de Luís XIII com favor marcado. Protegido pelo Cardeal Richelieu e concedeu uma pensão liberal pelo rei, ele passou o resto de seus dias no convento de Saint-Honoré, em Paris . Seu último trabalho foi um poema que comemora o nascimento do futuro Luís XIV ( Ecloga em portentosam Delphini nativitatem ).

——————————————————————————————-

1583 – 1648

Arquivo: Edward Herbert 1o Baron Herbert de Cherbury por Larkin.jpg

Edward Herbert, 1o Baron Herbert de Cherbury (ou Chirbury ) (3 de março de 1583 – 20 de agosto de 1648) foi um Anglo-Welsh soldado, diplomata, historiador, poeta e filósofo religioso do Reino de Inglaterra .

Vida

Início da vida

Edward Herbert era o filho mais velho de Richard Herbert de Montgomery Castelo (membro de um ramo colateral da família do Condes de Pembroke ) e de Madalena, filha de Sir Richard Newport, e irmão do poeta George Herbert . Ele nasceu em Inglaterra em Eyton-on-Severn perto Wroxeter , Shropshire . Depois de aulas particulares, ele se matriculou na University College, Oxford , como um plebeu cavalheiro em maio de 1596. Em 28 de fevereiro 1599, com a idade de 15 anos, ele casou com sua prima Maria, depois de 21 anos, (‘apesar da disparidade de anos entre nós’), que era filha e herdeira de Sir William Herbert (m. 1593) . Ele voltou para Oxford com sua esposa e mãe, continuou seus estudos, e aprendeu francês, italiano e espanhol, bem como música, equitação e esgrima. Durante esse período, antes que ele tinha 21 anos, ele começou uma família.

Herbert entrou no Parlamento como cavaleiro da shire para Montgomeryshire em 1601. Sobre a adesão de Rei James I apresentou-se na corte e foi criado um cavaleiro do banho em 24 de Julho 1603. De 1604-1611, ele foi membro do Parlamento de Merioneth . Desde 1605 ele era magistrado e nomeado xerife na Montgomeryshire para 1605.

Soldado

Edward Herbert, retrato por Isaac Oliver (1560-1617).

Em 1608, Edward Herbert foi para Paris, com Aureliano Townshend , desfrutando da amizade e hospitalidade do velho condestável de Montmorency em Merlou e conhecer o rei Henrique IV , ele apresentou por muitos meses com Isaac Casaubon . Em seu retorno, como ele escreveu sobre si mesmo, ele estava “em grande estima, tanto em tribunal e da cidade, muitos dos maiores desejando minha empresa.” Neste período ele estava perto de tanto Ben Jonson e John Donne , e na do Jonson Epicoene, ou a mulher silenciosa Herbert provavelmente é mencionado. Tanto Donne e Jonson homenageou na poesia.

Em 1610, Herbert servido como voluntário nos Países Baixos sob o Príncipe de Orange , cujo amigo íntimo ele se tornou, e distinguiu-se na captura de Juliers do imperador. Ele se ofereceu para decidir a guerra por se envolver em um combate com um campeão escolhido entre o inimigo, mas seu desafio foi recusado. Durante um intervalo nos combates, ele fez uma visita ao Spinola , no campo espanhol perto Wezel e, posteriormente, para o eleitor palatino em Heidelberg , posteriormente, viajando na Itália. No caso do duque de Sabóia , ele liderou uma expedição de 4.000 huguenotes de Languedoc em Piedmont para ajudar os Savoyards contra a Espanha, mas depois de quase perder a vida na viagem para Lyon , ele foi preso em sua chegada lá, e a empresa passou a nada. Daí ele voltou para a Holanda e o Príncipe de Orange, chegando à Inglaterra, em 1617.

Diplomat

Em 1619, Herbert foi feito embaixador em Paris, levando em sua comitiva Thomas Carew . A briga com de Luynes e um desafio enviado por ele para o último ocasionou sua retirada em 1621. Após a morte de de Luynes, Herbert retomou seu posto em fevereiro de 1622.

Edward Herbert era muito popular no francês tribunal e mostrou habilidade diplomática considerável. Seus principais objetos eram para realizar o casamento entre Charles, Príncipe de Gales e Henrietta Maria , e para garantir a assistência de Luís XIII por Frederick V, Eleitor Palatino . Ele falhou no segundo, e foi demitido em abril de 1624.

Herbert voltou para casa muito em dívida e recebeu pouca recompensa por seus serviços além da nobreza irlandesa de Castle Island em 31 de Maio 1624 e o baronato Inglês de Cherbury ou Chirbury , em 7 de Maio de 1629.

Vida posterior

Em 1632, Herbert foi nomeado membro do conselho de guerra. Ele participou do rei no Iorque em 1639, e em maio de 1642 era preso pelo parlamento para exortando o aditamento da expressão “sem justa causa” para a resolução que o rei violou seu juramento, fazendo guerra contra o parlamento. Ele determinou após este tomar nenhuma outra parte na luta, retirou-se para Montgomery Castle, e se recusou convocação do rei, implorando problemas de saúde.

Em 5 de setembro de 1644, ele entregou o castelo, por meio de negociação, para as forças parlamentares liderados por Sir Thomas Myddelton . Ele voltou para Londres, enviado, e foi concedida uma pensão de £ 20 por semana. Em 1647, ele fez uma visita a Pierre Gassendi em Paris, e morreu em Londres, no verão seguinte, sendo enterrado na igreja de St Giles de nos Campos.

Família

Senhor Herbert deixou dois filhos, Richard (1600-1655), que o sucedeu como 2 Lord Herbert de Cherbury, e Edward , o título extinção na pessoa de Henry Herbert , o quarto barão, neto do primeiro Senhor Herbert, em 1691. Em 1694, no entanto, foi reavivado em favor de outro Henry Herbert (1654-1709), filho de Sir Henry Herbert (1595-1673), irmão do 1 º Lord Herbert de Cherbury. Primo e homônimo do Senhor Herbert, Sir Edward Herbert , também foi uma figura de destaque na Guerra Civil Inglês .

De Veritate

O principal trabalho de Herbert é o De Veritate , Prout distinguitur um revelatione, um verisimili, uma possibili, et um falso (On Verdade, como Ele é diferenciado do Apocalipse, o provável, o possível e o False) Ele publicou em o conselho de Grotius.

No De veritate , Herbert produziu o primeiro puramente metafísica tratado, escrito por um inglês. Verdadeira a afirmação de Herbert à fama é como “o pai do Inglês deísmo”. As noções comuns da religião são os famosos cinco artigos, que se tornou o fundador do Inglês deístas. Charles Blount , em particular, atuou como assessor para a idéia de Herbert.

Outros trabalhos

Senhor Herbert de Cherbury.

religione gentilium De foi uma obra póstuma, influenciado pela De theologia gentili de Gerardus Vossius , e visto na cópia por Isaac Vossius . É um trabalho inicial sobre religião comparada , e dá, em David Hume palavra’s “, uma história natural da religião”. É também, em certa medida dependente do De dis Syris de John Selden , e o celeberrimae Quaestiones em Genesim de Marin Mersenne . Ao examinar as religiões pagãs Herbert encontra a universalidade de seus cinco grandes artigos, e que estes são claramente reconhecíveis. A mesma linha é mantida no trato De Errorum causis , uma obra inacabada em falácias lógicas, Religio laici , e do anúncio de Sacerdotes religione laici (1645).

Primeiro trabalho histórico de Herbert foi o Expeditio Buckinghami Ducis , uma defesa do Duque de Buckingham conduta’s na expedição La Rochelle de 1627. The Life and raigne do rei Henrique VIII (1649) é considerado bom para o período, mas dificultada por fontes limitadas.

Seus poemas, publicados em 1665 (reproduzido e editado por John Churton Collins em 1881), mostra-lhe, em geral, um fiel discípulo de Donne. Suas sátiras são pobres, mas alguns de seus versos líricos mostrar poder de reflexão e de inspiração verdadeira, enquanto o seu uso do medidor depois empregada por Tennyson , em seu “In Memoriam” é particularmente feliz e eficaz. Seus Neo-latinas poemas são evidência de sua bolsa de estudos. Três delas tinham aparecido junto com o Errorum causis De em 1645.

Para essas obras devem ser adicionados um diálogo entre um tutor e um aluno , que é de autenticidade contestada; e um tratado sobre a supremacia do rei na Igreja (manuscrito na Record Office e no Colégio da Rainha, Oxford ). Sua autobiografia bem conhecido, publicado pela primeira vez por Horace Walpole , em 1764, uma narrativa ingênua e divertida, está muito ocupada com seus duelos e aventuras amorosas, e quebra em 1624. Ausente do que são as suas amizades e do lado diplomático de sua embaixada na França, em relação ao que ele descreveu apenas o esplendor da sua comitiva e seus triunfos sociais.

Ele era um alaudista e Lord Herbert de Cherbury do alaúde-Book sobrevive em manuscrito.

Herbert de Visualizações de Cherbury de Oração

Joseph Waligore, em seu artigo “a piedade dos deístas Inglês” mostrou que Herbert de Cherbury foi um dos mais piedoso dos deístas, como Herbert fervorosamente orou a Deus e acreditava que Deus deu sinais em resposta às nossas orações. . Herbert estava tão certo de que Deus respondeu as nossas orações que, segundo ele, a oração era uma idéia que Deus colocou em cada ser humano Ele disse que:

cada religião acredita que a divindade pode ouvir e responder às orações; e somos obrigados a assumir um especial Providence – para omitir outras fontes de prova a partir do testemunho universal do sentido da ajuda divina em tempos de aflição

Para Herbert, este testemunho universal de Deus responder às nossas orações significava que era uma noção comum ou algo gravado em nosso coração por Deus.

Herbert estava falando por experiência própria. Em sua autobiografia, Herbert disse que uma vez orou e recebeu um sinal divino. Ele havia escrito o livro De Veritate e queria saber se ele deveria publicá-lo. Então ele se ajoelhou e orou fervorosamente a Deus um sinal instruindo-o que fazer. Mesmo que fosse um dia claro e ensolarado, sem vento, Herbert disse que ouviu um barulho suave no céu claro de que modo o confortava que ele decidiu que era um sinal de Deus de que ele deveria publicar o seu livro. Herbert escreveu:

Sendo assim, em dúvida na minha Câmara, um dia justo no verão, meu Casement sendo aberto para o Sul, o Sol brilhando clara e sem agitação do vento, peguei meu livro, De Veritate, na minha mão, e, ajoelhando-se de joelhos, devotamente, disse estas palavras: ‘Ó Tu Eterno Deus, Autor da Luz que agora brilha sobre mim, e Doador de todas as internas Iluminações, eu Vos suplico, de tua bondade infinita, para perdoar uma solicitação maior do que um pecador deve fazer; Eu não estou satisfeito o suficiente se vou publicar este livro, De Veritate , se for para Tua glória, peço-te me dar algum sinal do céu, se não, eu suprimi-la’. Que eu tinha mal falado estas palavras, mas um sonoro ‘tho’ ainda ruído suave veio dos Céus (pois era como se nada na Terra), que fizeram conforto e alegrar-me, que eu levei a minha petição como certo, e que eu tinha o sinal eu exigi, quando então também resolvi imprimir o meu livro.

Por mais estranho que possa parecer para as pessoas que assumem deístas teve uma divindade inativo, Herbert foi atacado por ministros protestantes ortodoxos do século XVIII como um entusiasta religioso. Um ministro, John Brown, disse que a afirmação de Herbert ter recebido um sinal de Deus estava “entusiasmado”. Outro ministro, John Leland, disse que mesmo pedindo um tal sinal era imprópria, como Deus não se envolver assim em pessoas de vive. Leland disse que a afirmação de Herbert “passou por um alto ajuste de entusiasmo. . . . Eu acho que talvez justamente duvidava, se um endereço de um tipo tão particular, como aquela feita por seu senhorio, era adequado ou regular. Não parece-me que estamos bem fundamentada de pedir ou esperar um sinal extraordinário do céu”. É evidente que esses dois comentaristas cristãos do século XVIII não viu o deus de Herbert como distante e não envolvido. Em vez disso, Herbert foi atacado por acreditar em uma divindade excessivamente envolvido que tinha um relacionamento excessivamente íntimo com as pessoas.

Estudiosos modernos do deísmo, muitas vezes têm dificuldade em encaixar visões religiosas de Herbert em seu esquema de o que deístas acreditavam. Por exemplo, Peter Gay disse que Herbert – que viveu no século XVII cedo – foi atípico da tarde deístas porque Herbert pensei que ele tinha recebido um sinal divino. Mas José Waligore, em seu artigo sobre a piedade deísta, diz que em vez de dizer Herbert não era um deísta, devemos mudar nossas noções sobre a deístas e sua relação com Deus através da oração.

Além de acreditar em orações e sinais divinos, Herbert de Cherbury também acreditava em milagres, revelação e inspiração divina direta. Herbert estava tão certo de que Deus realizou milagres que ele pensou que esta doutrina, e a noção relatou que Deus respondeu a nossas orações, era uma idéia que Deus colocou em cada ser humano. Herbert de Cherbury disse que sua ênfase na religião natural não significa revelação era supérfluo . Ele disse que pensou que a Bíblia era a fonte mais segura de consolo e apoio do que qualquer outro livro e lê-lo agitado todo o homem interior para a vida. Herbert de Cherbury pensei que a inspiração divina geralmente aconteceu por meio dos espíritos. . .variadamente chamados de anjos, demônios, inteligências e gênios. Ele disse que poderíamos ter certeza de que teve inspiração divina, se nos preparamos para isso e respeitadas determinadas condições. Para começar, disse Herbert, devemos empregar orações, promessas, fé e cada faculdade que pode ser usado para invocar o divino. Em seguida, o sopro do Espírito Divino deve ser imediatamente sentida e o curso de ação recomendado deve ser bom. Quando essas condições foram cumpridas e nós sentimos a orientação divina em nossas atividades, devemos reconhecer com reverência a boa vontade de Deus.

——————————————————————————————-

1585 – 1638

Arquivo:. Cornelius Jansen por Evêque d'Ypres (1585-1638) png

Corneille Janssens , comumente conhecido pelo nome latinizado Cornelius Jansen ou Jansenius (28 de outubro de 1585 – 06 de maio de 1638), era católico bispo de Ypres (Flandres) e pai de um movimento teológico conhecido como jansenismo .

Biografia

Ele nasceu de ascendência católica humilde em Acquoy então, na província de Holanda , agora em Gelderland , Holanda. Em 1602 ingressou na Universidade de Leuven , então no meio de um conflito ideológico entre o jesuíta – ou escolar – o partido e os seguidores de Michael Baius , que jurou por St. Agostinho. Jansen acabou unindo-se fortemente a este último partido “agostiniana”, e logo fez uma amizade importante com um colega estudante-like-minded, Jean du Vergier de Hauranne , depois Abbé de Saint-Cyran .

Depois de tirar a sua licenciatura foi a Paris, em parte para melhorar sua saúde por uma mudança de cenário, em parte para estudar grego. Eventualmente, ele se juntou Du Vergier em sua casa de campo perto de Bayonne , e passou alguns anos ensinando na faculdade do bispo. Todo o seu tempo livre foi gasto em estudar os primeiros Padres com Du Vergier, e estabelece planos para uma reforma da Igreja.

Em 1616 ele voltou para Leuven , para encarregar-se da faculdade de St Pulquéria , um albergue para Holandês estudantes de teologia. Alunos encontrou-o um mestre um pouco colérico e exigente e uma grande recluso da sociedade acadêmica. No entanto, ele teve um papel ativo na resistência da universidade para os jesuítas, pois eles haviam estabelecido uma escola teológica de sua própria em Leuven, que foi provando-se um rival de peso para o corpo docente universitário oficial da divindade. Na esperança de suprimir as suas invasões, Jansen foi enviado duas vezes para Madrid , em 1624 e 1626, a segunda vez que ele escapou por pouco da Inquisição . Ele calorosamente apoiado a Católica missionário arcebispo ( vigário apostólico ) do (do Norte) Holanda, Philippus Rovenius , em suas competições com os jesuítas, que tentavam evangelizar aquele país sem levar em conta os desejos do Arcebispo. Ele também cruzou mais de uma vez os holandeses calvinistas – Presbiteriana campeão, Gisbertus Voetius , ainda lembrado por seus ataques a René Descartes .

Antipatia aos jesuítas trouxeram Jansen não mais perto protestantismo , pelo contrário, ele ansiava para vencê-los com suas próprias armas, principalmente, mostrando-lhes que os católicos romanos poderiam interpretar a Bíblia em tão místico e pietista forma. Isto tornou-se o grande objetivo de suas palestras, quando foi nomeado professor régio de interpretação bíblica em Leuven em 1630. Ainda mais era o objeto de seu Augustinus, um tratado volumoso sobre a teologia de Santo Agostinho, mal terminou no momento da sua morte. A sua preparação foi a sua principal ocupação desde o seu retorno para Leuven. Ele tinha introduzido neste tratado um longo desenvolvimento favorável à contrição (IIIrd parte, De gratia Christi salvatoris , livro V, chap.XXI-XXV). Na sua appendice, intitulado Erroris Massiliensium, et opinionis quorumdam recentiorum parallelon et Statera , ele condenou duramente os jesuítas , em particular Luis de Molina , Gabriel Vasquez e Leonardus Lessius .

Mas Jansen, como ele disse, não queria ser um pedante escola toda a sua vida, e houve momentos em que ele entretido ambições políticas. Ele olhou para a frente para um momento em que a Flandres se libertar do jugo espanhol e tornar-se uma república independente Católica, possivelmente, até mesmo Flamengo -governado, de acordo com o modelo dos protestantes Províncias Unidas . Essas idéias tornou-se conhecido por seus governantes espanhóis, e para amenizar-lhes ele escreveu um philippic chamado gallicus Mars (1635), um violento ataque ambições franceses em geral, e sobre o Cardeal Richelieu indiferença aos interesses católicas internacionais, em particular. O gallicus Mars fez pouco para ajudar os amigos teológicas bastante perseguidos da Jansen, na França, mas inverteu a ira de Madrid com Jansen, em 1636, foi nomeado bispo de Ypres (Ieper) em Flandres Ocidental pelo Papa e pelo Tribunal espanhol. Dentro de dois anos, ele foi no entanto reduzir por uma doença súbita, o Augustinus , o livro de sua vida, foi publicado postumamente em 1640.

Contrapondo-se a jansenismo, um pequeno grupo de médicos teológicas da Sorbonne extraído oito proposições de Jansenius Augustinus , mais tarde reduzida a 5, tratando dos problemas sobre a relação entre natureza e graça . Eles acusaram Jansenius de ter interpretado mal Santo Agostinho, misturando jansenistas com os luteranos . Isso levou o Papa Inocêncio X para condenar, em 1643 estes 5 proposições na Cum Occasione bula papal , e novamente dez anos depois, sem atribuir-lhes Jansenius em particular. Os jesuítas, que, em seguida, apreciado poder político e teológico predominante (incluindo um confessor pessoal para o rei da França), então persuadiu o Papa a forçar todos os jansenistas a assinar um formulário levando-os a admitir a bula papal e confessar os seus erros. A controvérsia formulário levou Pascal para escrever as famosas Lettres provinciales (1657) em que ele atacou duramente os jesuítas e sua moral, em particular a sua casuística.

Na sequência desta publicação anônima, o Rei enviou espiões em todos os lugares, condenou os bibliotecários e com sucesso tentou descobrir o autor das provinciales Lettres. Os jansenistas de Port-Royal , Antoine Arnauld , Pierre Nicole , la Mère Angélique , Soeur Agnès, etc, foram forçados a assinar o formulário. Embora aparentemente obedecendo a autoridade papal, acrescentaram que a condenação só seria sensato se as cinco proposições supostamente heréticos eram de fato encontrado em Janseniu’s Augustinus , e afirmou que eles não figura lá. Os jansenistas ‘raciocínio era de que o Papa tinha, naturalmente, o poder de condenar proposições heréticas, mas não para fazer que o que não figura em Janseniu’s Augustinus estar lá. Esta estratégia iria impor décadas de disputas teológicas e debate, assim permitindo-lhes ganhar tempo.

Por outro lado, Pascal e alguns outros jansenistas adotou uma estratégia radical, alegando que condenar Jansenius foi equivalente a condenar o Padre da Igreja, o próprio Santo Agostinho, e se recusou terminantemente a assinar o formulário, com ou sem reserva. Este, por sua vez, levou a uma maior radicalização do Rei e dos jesuítas, e em 1661 o Convento de Port-Royal foi fechada e a comunidade jansenista dissolvido – que seria, em última análise arrasada em 1710 por ordem de Louis XIV . A controvérsia não envolve apenas a autoridade papal, mas sim a sua autoridade sobre a exegese bíblica .

Além disso controvérsia levou à touro Unigenitus , emitido por Clemente XI, em 1713, que marcou o fim da tolerância católica da doutrina jansenista. O touro Unigenitus , datada de 8 de setembro de 1713 foi produzido com a contribuição de Gregorio Selleri, um leitor no Colégio de São Tomás, o futuro Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, Angelicum, promoveu a condenação do jansenismo , condenando 101 proposições a partir das reflexões morales de Quesnel como heréticas e, como idênticos com proposições já condenados nos escritos de Jansen.

<<   1  –  2  –  3   >>

Fonte: Wikipédia

You are free to comment