Espiritual

teologia espiritual é uma parte da teologia cristã que estuda a perfeição, espiritualidade e vida cristãs como realidades dinâmicas, isto é, como caminhada de configuração da personalidade humana, sob a ação do Espírito Santo, até esta atingir a santidade e, inclusivamente, a perfeição.

Por isso, esta teologia preocupa-se das atitudes e comportamentos pelos quais o homem entra em relação consciente com Deus, bem como, num contexto diferido, dos meios que tornam possível ou facilitam esta relação espiritual.

O caminho espiritual da Igreja, a Tradição, a Bíblia são as fontes principais da teologia espiritual.

A teologia espiritual engloba a teologia ascética, que estuda a ascética e tem por objeto próprio a teoria e a prática da perfeição cristã até aos umbrais da contemplação infusa; e a teologia mística, que estuda a mística e tem por objeto a teoria e a prática da vida contemplativa.

A teologia espiritual, apesar de ser considerada uma teologia prática, associa-se por vezes também à teologia especulativa e à teologia sistemática.

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Espiritualidade

espiritualidade é uma dimensão da pessoa humana que traduz, segundo diversas religiões e confissões religiosas, o modo de viver característico de um crente que busca alcançar a plenitude da sua relação com o transcendental. Cada uma das referidas religiões comporta uma dimensão específica a esta descrição geral, mas, em todos os casos, se pode dizer que a espiritualidade “traduz uma dimensão do homem, enquanto é visto como ser naturalmente religioso, que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração”.

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Espiritualismo é uma denominação comum a várias doutrinas filosóficas e/ou religiosas, e tem como fundamento básico a afirmação da existência do espírito (ou alma) como elemento primordial da realidade, bem como sua autonomia, independência e primazia sobre a matéria. É o contrário de materialismo, que só admite a existência da matéria.

Afirma a existência de uma alma imortal no homem, isto é, de um princípio substancial distinto da matéria e do corpo, razão absoluta de ser da vida e do pensamento. Em sentido mais amplo, doutrina que, além da tese referida, reconhece a existência de Deus, a imortalidade da alma e da existência de valores espirituais ou morais que são o fim específico da atividade racional do homem.

O termo Espiritualismo, atualmente, é utilizado para denominar uma variedade enorme de religiões, sistemas filosóficos, doutrinas, crenças e seitas. Cada qual apresentando características próprias e regras particulares. Possuindo, em comum, o fato da crença na preponderância do mundo espiritual sobre o mundo material.

Frequentemente confundido com Esoterismo. No entanto, este último tem uma conotação de “doutrina iniciática”, ou seja, um conjunto de conhecimentos que só devem ser transmitidos à algumas pessoas escolhidas e preparadas para tal fim (os “iniciados”), não devendo ser vulgarizados.

Nos países de língua inglesa, o termo Espiritualismo é usado como sinônimo de Espiritismo, no sentido de em “espiritualismo experimental”. No início do século XIX, também era usado o termo “Espiritualismo Moderno” para identificar aquilo que foi nomeado de Espiritismo por Allan Kardec em 1857. Todo Espírita é necessariamente espiritualista; mas pode o espiritualista não ser um espírita.

O materialismo admite que pensamento, emoção e sentimentos são exclusivamente reações físico-químicas do sistema nervoso. Portanto, todos os religiosos, se aceitam a Alma e Deus, são, por isso mesmo, espiritualistas, visto que essa doutrina admite outros tipos de visões.

Tal vocábulo também é empregado como referência à postura de certos indivíduos que possuem espiritualidade sem religiosidade: são contrários ao materialismo e, ao mesmo tempo, não estão filiados a qualquer segmento religioso.

História

Origens

Antigo Egito: Anúbis, deus dos mortos, preparando um corpo.

Do xamã da América, passando pelo griot ou pelo marabuto islâmico na África, os personagens encarregados de contactar com o mundo dos espíritos (de que o submundo é uma parte), ou pelo contrário, encarregados de impedi-lo, são característicos de múltiplas culturas.

O moderno espiritualismo é geralmente apresentado como a continuação de uma tradição ancestral comum à maior parte das civilizações.

A pré-História

A crença em uma vida após a morte surge primeiramente em fins do período Paleolítico, expressa pela prática de rituais de sepultamento dos mortos e em culto aos ancestrais.

A antiguidade Oriental

No Antigo Egito, o culto dos mortos atesta a sobrevivência do espírito, constituindo-se o Livro dos Mortos em um guia com preceitos e orientações para a viagem após a morte.

No Antigo Testamento, encontram-se diversas passagens alusivas a fenômenos mediúnicos, nomeadamente no Livro dos Números e no Deuteronômio. Numa delas, Moisés proíbe pitonisas e feiticeiras de se comunicar com espíritos. Por outro lado, aprova as atividades mediúnicas de Eldad e Medad. Em outro trecho, Saul, primeiro rei de Israel, consultou a chamada Bruxa de Endor para evocar o espírito do profeta Samuel.

A Civilização Minoica também praticou o culto aos mortos.

A antiguidade clássica

Na Grécia Antiga, era prática corrente a consulta aos oráculos, em busca de conselhos, auxílio e previsões do futuro. O mais famoso localizava-se no Templo de Delfos, dedicado ao deus Apolo, onde a pitonisa, após um banho ritual em uma fonte sulfurosa, sentava-se numa trípode (banco de três pernas) e, entre vapores de enxofre, a mascar folhas de louro (árvore sagrada de Apolo), entrava em transe e transmitia as palavras do deus. No poema “Odisseia”, Homero narra o diálogo entre Ulisses e a alma de Tirésias, oráculo de Tebas. O filósofo Sócrates acreditava na imortalidade da alma. O tirano Periandro, de Corinto, consultou a alma de sua mulher (que ele próprio havia mandado degolar).

Na Roma Antiga, cuja religião sofreu forte influência dos antigos gregos, um festival, a “Parentalia“, celebrado anualmente de 13 a 21 de fevereiro, homenageava os mortos. Durante o resto do ano, as mensagens do além eram recebidas e interpretadas pelos arúspices, personagens que interpretavam os presságios. Complementarmente, as sibilas entravam em transe para consultar os espíritos sobre as inquietudes da população. Cícero, na obra “Tusculanae“, afirma que o seu amigo Ápio conversava frequentemente com os espíritos, e que no lago Avernus, sombras dos mortos apareciam na escuridão.

É através dos romanos que temos conhecimento dos druidas Celtas, que afirmavam que os homens constroem o seu destino com as ações praticadas neste mundo. As lendas de sua mitologia estão repletas de “espíritos protetores”. Numa delas, o guerreiro Vercingetórix conversa com a alma de heróis mortos em combate.

A Idade Média

No contexto da Guerra dos Cem Anos, a francesa Joana d’Arc afirmava ouvir “vozes sagradas” desde menina. Entre essas destacavam-se as de São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida, que a incentivavam a lutar contra os ingleses. Giordano Bruno, na obra “Il Candelaio” (1582), regista a sua convicção da possibilidade de conversar com os mortos.

Moderno Espiritualismo

Emanuel Swedenborg com o manuscrito de “Apocalypsis Revelata” (1766).

O Moderno Espiritualismo é um movimento religioso, que teve origem por volta do século XIX. A característica marcante deste movimento é a crença em que os espíritos dos mortos podem ser contatados pelos vivos. Assim como os termos Espiritismo (1857) e Espiritualismo não tem o mesmo significado, o Moderno Espiritualismo também difere destes em sua definição, pois especifica o movimento espiritualista surgido por volta do século XIX.

Em O Livro dos Espíritos (1857), Allan Kardec (o codificador do Espiritismo), define o Espiritualismo: “As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo têm uma significação bem definida; … Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo; quem quer que acredite haver em si mesmo alguma coisa além da matéria é espiritualista; mas não se segue dai que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível.” Portanto o Espiritualismo é uma denominação comum a várias doutrinas filosóficas e/ou religiosas, crendo estas nas comunicações com o mundo incorpóreo ou não.

Enquanto que, o Moderno Espiritualismo, especifica o espiritualismo desenvolvido, aproximadamente, a partir de Emanuel Swedenborg ao início do século XX, baseando-se na crença da comunicação dos espíritos com o mundo visível. Como é possível identificar o Espiritualismo e o Moderno Espiritualismo estão interligados, mas não possuem o mesmo significado, visto que o primeiro é um termo abrangente e o segundo trata-se de algo mais específico.

O Espiritismo trata-se de uma Filosofia Espiritualista como tantas outras que sejam contrárias ao materialismo, estas poderiam também estar enquadradas no Espiritualismo como filosofias. Esta foi a razão pela qual Allan Kardec escreveu em O Livro dos Espíritos, “Como especialidade O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases. Essa a razão por que traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista.” Todo espírita é espiritualista, mas pode o espiritualista não ser espírita.

O Espiritismo está enquadrado como uma doutrina que surgiu no período que recebeu a denominação de Moderno Espiritualismo (de Swedenborg (1688-1772) ao início do século XX), portanto faz parte do Moderno Espiritualismo da época. Com a tentativa de explicar os movimentos espiritualistas desta época, Kardec codificou a chamada “Doutrina Espírita” (ou Espiritismo) que está sistematizada e codificada nas obras básicas do espiritismo. O Espiritualismo, o Moderno Espiritualismo e o Espiritismo estão basicamente interligados, porém não possuem o mesmo significado. A seguir serão apresentados os pioneiros do Moderno Espiritualismo (chamados assim pelas contribuições nos estudos das comunicações com os espíritos).

Precursores do Moderno Espiritualismo

John Dee (1527-1608) foi um matemático e astrólogo inglês que testemunhou a comunicação com os anjos através de médiuns.

Jakob Böhme (1575-1624) foi um filósofo e místico luterano alemão. as suas ideias conquistaram muitos seguidores em toda a Europa e os seus discípulos ficaram conhecidos como os boehmistas.

Surgimento do Moderno Espiritualismo

Franz Anton Mesmer.

As irmãs Fox (1852).

Salão parisiense com as “mesas girantes” (revista “L’Illustration“, 1853).

Senhoras em uma reunião espiritualista (Chicago, 1906).

Emanuel Swedenborg (29 de janeiro de 1688 – 29 de março de 1772) foi um cientista e filósofo sueco. Formado na Universidade de Uppsala no equivalente hoje a Engenharia de Minas, viajou pela Inglaterra, os Países Baixos e a França. Ao retornar ao seu país, Carlos XII da Suécia convidou-o para aluno do inventor Christopher Polhem, uma das figuras mais importantes no processo de industrialização do país.

Abalado pela morte do pai em 1736, passou a empregar o seu tempo livre para provar a existência da alma, o que desembocou num estudo de anatomia. Anos mais tarde, em 1743, durante um jantar em Londres viu um espírito que lhe disse: “Não coma demais“. A mesma entidade manifestar-se-ia mais tarde, acordando Swedenborg de seu sono, identificando-se como Jesus Cristo e comunicando-lhe que o cientista tinha sido escolhido para revelar ao mundo o significado da Bíblia.

Cquote1.png O mundo dos espíritos abriu-se para mim Cquote2.png
— Swedenborg

De 1747 até à sua morte, em 1772, viveu em Estocolmo, nos Países Baixos e em Londres. Durante esses 25 anos redigiu 14 trabalhos de natureza espiritual dos quais a maioria foi publicada durante a sua vida. Considerado um farsante por Immanuel Kant e um poderoso médium por Arthur Conan Doyle, as suas ideias encorajaram novas correntes de pensamento, como o Martinismo e a Teosofia.

Franz Anton Mesmer (23 de maio de 1734 – 5 de março de 1815) descobriu o que chamou “magnetismo animal”, também referido como “mesmerismo”. O desenvolvimento das ideias e práticas de Mesmer levou o cirurgião escocês James Braid (1795–1860) a desenvolver o hipnotismo em 1841.

O espiritismo incorporou e conservou algumas práticas inspiradas ou diretamente tiradas do Mesmerismo, entre as quais o passe, e a chamada “água fluidificada” (fluidoterapia), utilizada como um remédio para o corpo físico e o corpo espiritual.

Justinus Kerner (1786-1862) publicou em 1830 o relato de suas observações sob o título “Die Seherin von Prevorst, Eröffnungen über das Leben – Menschen und über das Hineinragen einer Geisterwelt die unsere” (“A vidente de Prevorst, considerações iniciais sobre a vida interior do ser humano e a intervenção de um mundo dos espíritos no nosso”).

As irmãs Fox – Catherine “Kate” (1838–1892), Leah (1814–1890) e Margaret (1836–1893) -, tiveram um papel decisivo no surgimento do espiritismo. Eram filhas de David e Margaret Fox, e foram residir em Hydesville, Nova Iorque. Em 1848 a família começou a ouvir sons de pancadas inexplicados. Kate e Margaret realizaram sessões de canalização numa tentativa de contato com a suposta entidade espiritual que promovia os sons, e declararam ter estabelecido contato com o espírito de um mascate que fora alegadamente assassinado e enterrado sob a casa. Um esqueleto, posteriormente encontrado na cave pareceu confirmar isso. As irmãs Fox tornaram-se imediatamente em celebridade. Suas demonstrações de comunicação com os espíritos incluíam principalmente batidas e pancadas e Kate tinha também a mediunidade de escrita direta, psicofonia, luzes espirituais,materialização e poltergeist.

Os céticos suspeitaram que isto foi apenas um engano inteligente e uma fraude. Margaret posteriormente afirmou a utilização das juntas dos dedos dos seus pés para produzir sons mas depois ainda desmentiu essa sua afirmação, alegando tê-la feito em troca de dinheiro de religiosos que se aproveitaram da situação de pobreza dela e de suas irmãs. Todavia, a crença na capacidade de comunicar-se com os mortos cresceu rapidamente, constituindo um movimento religioso chamado moderno espiritualismo, e contribuindo em grande medida para as ideias de Allan Kardec.

Andrew Jackson Davis (1826-1910) sem qualquer educação científica foi capaz de produzir livros muito complexos para a sua época. Ditava os seus textos enquanto se encontrava em um estado de transe profundo e adquiriu nos Estados Unidos uma reputação de médium e de magnetizador.

Logo após as notícias acerca das Irmãs Fox terem chegado à França, o interesse do público foi despertado pelo que por vezes foi denominado de “telégrafo espiritual”. No início uma mesa girava com a “energia” dos espíritos presentes através de um ser humano intermediário (de onde a expressão “médium”). Mas, como o processo era demasiado lento e embaraçoso, um novo foi criado, supostamente por uma sugestão dos próprios espíritos: a “tábua falante”.

Os primeiros exemplares de “tábuas falantes” eram cestos atados a um objeto pontiagudo que se movia sob as mãos dos médiuns, apontado para letras impressas em cartões espalhados em volta de, ou gravados em, uma mesa. Tais dispositivos foram chamados “corbeille à bec” (“cesto com um bico”). O objeto pontiagudo era normalmente um lápis.

Esses dispositivos eram de montagem e operação simples. Uma sessão típica consistia em pessoas a sentar-se em uma mesa redonda, os pés a descansar nos suportes das cadeiras e as mãos sobre o tampo de mesa ou, mais tarde, na própria tábua falante. A energia canalizada dos espíritos pelas mãos dos presentes fazia a tábua movimentar-se e indicar as letras que, uma vez registadas por um dos presentes, formavam palavras, frases e orações inteligíveis. O sistema foi um primitivo e menos eficiente antecessor dos tabuleiros Ouija que posteriormente se tornariam tão populares.

Espiritismo

O pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido pelo pseudônimo Allan Kardec.

Na França, o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail interessou-se pelo moderno espiritualismo quando ouviu falar das Irmãs Fox, mas o seu primeiro contato com o fenômeno foi por meio das mesas dançantes ou mesas girantes, dos salões de Paris, em 1854. As explicações para a causa deste, do mesmo modo que o sistema filosófico delas derivado, constituiu a base da chamada Doutrina Espírita (que Rivail também denominou como “Espiritismo”, tendo sido a primeira oficialização desse termo, por isso a Doutrina Espírita é o único verdadeiro Espiritismo).

As investigações de Rivail resultaram na publicação, sob o pseudônimo de Alan Kardec, de “O Livro dos Espíritos” (1857), “O Livro dos Médiuns” (1861), “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (1864), “O Céu e o Inferno” (1865) e “A Gênese” (1868). Em 1858 fundou a “Revue Spirite”, que dirigiu até 1869, ano em que faleceu.

Logo na segunda metade do século XIX, muitas personalidades de renome, na Europa e nos Estados Unidos vieram a abraçar o espiritismo como uma explicação lógica da realidade, inclusive de temas relacionados com a transcendência, como Deus e a vida após a morte.

Espiritualismo e ciência

Para maiores detalhes, consulte Fenômenos espíritas e a ciência

Historicamente, em termos de medicina, indivíduos com sintomas como audição ou visão de “espíritos” foram tratados como sendo portadores de transtornos mentais; contudo, há muito a Organização Mundial de Saúde reconhece que esses sintomas não necessariamente implicam causas patogênicas de natureza física; e que em certos casos ou contextos, esses nem sequer implicam doença, para ser exato. Em verdade, desde sua fundação em 1948, mesmo que criticada por vários autores que sugerem e esperam por alterações – para alguns considerada utópica, para outros incompleta por excluir o bem estar espiritual ou mesmo coletivo da definição – segundo a Organização Mundial de Saúde, a definição de “saúde” faz-se pelo “estado de completo bem-estar físico, psicológico, e social” do ser humano.

Um dos experimentos do cientista Sir William Crookes, pelo qual ele atestou a mediunidade de Daniel Home (c. 1870).

No tocante à ausência de “saúde”, a Organização Mundial de Saúde mantém a Classificação internacional de doenças (CID), atualmente em sua décima revisão, e no que tange o assunto espiritualismo essa é recorrente em discussões, sobretudo os que visam à valoração científica, dado o fato de na CID-10 encontrar-se referência explicita aos transtornos “possessivos”.

Com esse enfoque, verifica-se que é realmente verdade que a CID-10 reconhece que podem ser comprometedores a saúde, em seu item F.44.3, os chamados “Estados de transe e de possessão”, nela definidos como:

Transtornos caracterizados por uma perda transitória da consciência de sua própria identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio ambiente.”

Contudo, explicitamente descreve em alínea seguinte:

Devem aqui ser incluídos somente os estados de transe involuntários e não desejados, excluídos aqueles de situações admitidas no contexto cultural ou religioso do sujeito.

“Croquis” de um médium: gravura da obra “Extériorisation de la sensibilité” de Albert de Rochas (Paris, 1899).

Nesse sentido é feita a distinção entre o estado de transe normal – a exemplo a hipnose, não considerado doença – e o transtorno dissociativo psicótico, uma patologia psiquiátrica. Exclui-se desse item também, entre outros, a esquizofrenia. E mesmo que muitos adeptos da existência dos “espíritos” afirmem o contrário, e busquem na presença da palavra “possessão” no referido item da CID a implicação de que a Organização Mundial de Saúde reconhece a existência de espíritos, evidencia-se também na CID-10 que os estados de transe tidos por espiritualistas como oriundos de “possessões espirituais” – certamente os defendidos em ambientes religiosos – não são reconhecidos como possuindo tal causa; não encontram-se acobertados por tal item, e não constituem estados que requerem tratamento, acompanhamento ou intervenção, quer médico, quer psicológico, quer similar. O item F.44.3 inclui-se no grupo das desordens neuróticas, relacionadas ao estresse ou ainda somatoformes.

A expressão “possessão” figura no referido item da CID com acepção que remete aos estados de agitação demasiada, de agressividade ou mesmo de fúria; e mediante tal acepção a leitura do item associado em íntegra implica, nitidamente, o não reconhecimento da tal causa “espiritual” (vide alínea). Argumento em favor da asserção inicial deriva também do fato de que o reconhecimento de tal causa pela Organização Mundial de Saúde implicaria a necessidade de tratamento ou acompanhamento específicos visto serem tais estados de “possessão” prontamente reconhecido, antes de mais nada pelos próprios espiritualistas, como situações muitas vezes prejudiciais à saúde do “possuído”; e que requerem por tal tratamento ou mesmo acompanhamento “espiritual” imediato, tratamentos esses certamente fornecidos – segundo suas crenças – pelos referidos grupos ou autoridades religiosas “capacitadas” junto aos seus templos ou ambientes de reuniões; contudo ainda não definidos, estabelecidos, e pelo que consta não cogitados pela Organização Mundial de Saúde.

A OMS segue assim a posição científica: mesmo estudados por várias personalidades de renome que acabaram por contribuir de outras formas, significativas ou não, à ciência em sua acepção moderna, tais cientistas não foram capazes de elucidar ou concluir pela existência de fatos que obedeçam aos rigores científicos e que levem à conclusão segura da realidade natural dos espíritos. A metodologia utilizada pelas correntes espíritas ou é bem diferente ou transcende o método científico, e por tal o espiritismo permanece, ainda hoje, como tema não científico quando se considera a acepção “stricto sensu” de ciência, encontrando-se o espiritismo notoriamente muito mais atrelado às religiões do que às academias científicas propriamente ditas.

Assim, embora evoluindo gradualmente e já reconhecendo a influência do estado de espírito na saúde e bem-estar, verifica-se que, sendo uma cadeira científica, a medicina e a OMS mantêm-se alinhadas com a metodologia científica; e como a existência de espíritos não encontra-se cientificamente estabelecida ou tampouco provada, questões de saúde a eles atrelados transcendem necessariamente a medicina moderna.

Impacto cultural

Na cultura popular, muitas obras de arte apresentam ou contêm alusões a fatos, circunstâncias e conceitos que se assemelham ou retratam algumas crenças espiritualistas (principalmente crenças espíritas):

Literatura

O percurso de Dante do mundo espiritual, em um exemplar da Divina Comédia: ao lado da entrada para o inferno, os sete terraços do Monte Purgatório e a cidade de Florença, com as esferas do Céu acima (afresco de Domenico di Michelino,1465).

“Hamlet e o fantasma” (gravura de Henry Fuseli, 1789).

  • A Bíblia, no Antigo Testamento, regista a prática mediúnica, assim como a proibição de Moisés à prática da “consulta aos mortos“, a invocação do espírito de Samuel pelo primeiro rei de Israel, Saul, com o recurso a uma necromante, e, no Novo Testamento, a comunicação de Jesus com Moisés e Elias no Monte Tabor.
  • A Odisseia, de Homero, na Grécia Antiga, regista a crença em que as almas dos mortos habitavam o Hades e que era possível entrar em contacto com eles. A obra narra que Odisseu (Ulisses), rei de Ítaca viajou até à terra dos Cimérios, onde realizou um ritual conforme indicações da feiticeira Circe, logrando conversar com as almas de sua mãe, e dos seus companheiros que haviam perecido durante a Guerra de Troia.
Cquote1.png “Outrora, quando vivias, honramos-te como um deus, / nós os argivos; hoje, aqui exerces o teu poder sobre os mortos. / A ti, nem mesmo a morte te causa tristeza, Aquiles.” / Assim falei. De imediato, disse-me em resposta: / “Não me elogies a morte, ilustre Ulisses. / Eu preferia trabalhar a terra como teta [escravo] de alguém, / De um homem pobre que não tivesse grandes recursos, / A reinar sobre quantos mortos pereceram.” Cquote2.png
— HOMERO, Odisseia, 11.484-491.
  • Platão, também na Grécia Antiga, deixou-nos comentários sobre o “dáimon” ou gênio que acompanharia Sócrates. O mesmo Platão utiliza o termo anamnese (“Anamnesis“) na teoria epistemológica e psicológica que desenvolve em seus diálogos Mênon e Fédon (e em uma alusão em Fedro), referindo-se a conhecimentos obtidos pela alma em vidas anteriores.
  • Ainda na literatura da antiga Grécia, o personagem mitológico Euforbo terá reencarnado em Pitágoras.
  • Ao final da Idade Média, Dante Alighieri, no poema Divina Comédia (início do século XIV), descreve uma viagem sua através do Inferno, do Purgatório, e do Paraíso, primeiramente guiado pelo poeta romano Virgílio (símbolo da razão humana) através do Inferno e do Purgatório e, em seguida, pela mão da sua amada Beatriz (símbolo da graça divina), no Paraíso.
  • Na Idade Moderna, popularizam-se as narrativas sobre fantasmas e assombração de locais, ilustradas, por exemplo, pela peça de teatro Hamlet(c. 1600), em que o dramaturgo inglês William Shakespeare apresenta o fantasma do rei assassinado demandando vingança ao protagonista, seu filho.

Cinema

O médium e filantropo conhecido como Chico Xavier já foi retratado em diversos filmes brasileiros.

  • Sole Survivor (1970), um filme para a televisão protagonizado por Vince Edwards e Richard Basehart, desenvolve um enredo que se inicia com a queda de um bombardeiro B-25 Mitchell no deserto da Líbia durante a Segunda Guerra Mundial com a morte de todos os membros da tripulação. Décadas mais tarde, os destroços são localizados e uma equipa da Força Aérea é enviada ao local do acidente para investigá-lo. Os espíritos dos membros da tripulação, inconscientes de sua condição de mortos, continuam no local, à espera de serem salvos por uma expedição de resgate. O comportamento dos espíritos dos mortos nesta história é coerente com os ensinamentos da doutrina espírita.
  • Joelma 23º Andar (1979), filme brasileiro dirigido por Clery Cunha e protagonizado por Beth Goulart, baseado na obra “Somos Seis”, psicografadapor Francisco Cândido Xavier. É o primeiro no país com temática espírita e o único que retratou o incêndio do Edifício Joelma que deixou 179 mortos e mais de 300 feridos (1 de fevereiro de 1974).
  • O Médium (1983), filme brasileiro dirigido por Paulo Figueiredo, narra a história de Adriano Jordão, um médico auxiliado espiritualmente em suas cirurgias.
  • Ghost (Ghost: Do Outro Lado da Vida – 1990) é um filme estadunidense do gênero romance, dirigido por Jerry Zucker e com roteiro de Bruce Joel Rubin. Estrelado por Patrick Swayze, Demi Moore e Whoopi Goldberg. É uma das primeiras representações de fenômenos após-vida similares aos referidos pela Doutrina Espírita em uma produção cinematográfica. Swayze desempenha o papel de um homem jovem que é morto por um ladrão, deixando a sua esposa (Moore). Ele, como Espírito, faz contato com uma médium, interpretada por Whoopi Goldberg e tenta auxiliar a sua esposa antes de partir do plano terrestre. A trama gira em torno da existência e sobrevivência dos Espíritos e da possibilidade de comunicação entre os dois planos da vida. Ganhou Óscar de Melhor Roteiro Original e de Melhor Atriz Coadjuvante. Em 2010, foi lançado um remake japonês deGhost, intitulado Ghost: In Your Arms Again (ゴースト もういちど 抱きしめ たい, Gōsuto Mouichido Dakishimetai?).
  • O Espiritismo – De Kardec aos Dias de Hoje (1995), o filme brasileiro com atuação de Ednei Giovenazzi no papel de Allan Kardec e narração por Aracy Balabanian, traz uma visão geral sobre os preceitos básicos da Doutrina Espírita e sua contribuição para o progresso e a felicidade do ser humano. Abrangendo desde as obras que compõem a Codificação do Espiritismo por Kardec, ao Movimento Espírita do momento em que o filme foi lançado.
  • What Dreams May Come (1998), protagonizado por Robin Williams, falecido marido de uma artista plástica que já havia perdido os filhos num acidente de automóvel. A trama gira em torno da existência de diferentes planos espirituais, da possibilidade de comunicação entre eles, e da influência que os espíritos além da vida podem exercer sobre os vivos.
  • The Sixth Sense (1999), protagonizado por Haley Joel Osment no papel de um rapaz com capacidades mediúnicas, que recebe assistência de um psicólogo infantil (Bruce Willis) que não acredita em vida após a morte. A trama gira em torno da imortalidade da alma e da comunicação com os mortos. O filme teve seis indicações ao Óscar.
  • The Gift (2000), protagonizado por Cate Blanchett, no papel de uma viúva, médium, que cobra pelos seus dons. A trama gira em torno de dois conceitos importantes para o espiritismo: os bons sempre recebem ajuda nos momentos difíceis e a mediunidade não deve servir a interesses materiais.
  • What Lies Beneath (2000), dirigido por Robert Zemeckis e protagonizado por Michelle Pfeiffer no papel de uma esposa traída que começa a ouvir vozes e a ver a imagem de uma jovem. É encaminhada a um psiquiatra pelo marido (Harrison Ford) que acredita tratar-se de algum distúrbio psicológico. O filme aborda a temática da mediunidade involuntária, que se manifesta independentemente da vontade do médium e que muitas vezes é confundida com perturbação mental.
  • Yesterday’s Children (2000), filme baseado no livro autobiográfico de Jenny Cockell. O filme conta a história de Jenny (Jane Seymour), uma mulher que tem visões e sonhos de sua última encarnação, como Mary, uma mulher irlandesa que faleceu em 1932, aos 37 anos. Intrigada, Jenny viaja para a Irlanda, em busca de seus filhos da encarnação passada.
  • The Others (Os Outros – 2001) é um filme de suspense hispano-franco-norte-americano, realizado por Alejandro Amenábar, com Nicole Kidman no papel principal. Retrata uma casa considerada mal-assombrada por fenômenos mediúnicos de efeitos físicos, além de retratar a mediunidade da psicografia e da vidência.
  • Shutter (2004) filme tailandês que retrata uma situação de obsessão espiritual razoavelmente precisa com o que relata o Espiritismo. Teve um remake norte-americano em 2008.
  • Just Like Heaven (E se fosse verdade… – 2005) é um filme estadunidense do gênero comédia romântica, com temática espírita (desdobramento), estrelado por Reese Witherspoon, Mark Ruffalo e Jon Heder. É baseado no livro Et si c’était vrai de Marc Levy. Bollywood lançou o filme I See You com uma história similar.
  • Passengers (2008) protagonizado por Anne Hathaway e Patrick Wilson. Muito semelhante à abordagem de temas do espiritismo em “The Sixth Sense“.
  • Bezerra de Menezes – O Diário de um Espírito (2008), filme brasileiro dirigido por Glauber Filho e Joe Pimentel. Narra a história de Bezerra de Menezes, o “médico dos pobres”. Nas 27 semanas em que esteve em cartaz, de agosto de 2008 a março de 2009 foi visto por mais de 500 mil espectadores.
  • A Christmas Carol (Os Fantasmas de Scrooge – 2009) é um filme infanto-juvenil, comédia dramática de Natal estadunidense de animação digital 3D em captura de movimento, escrito e dirigido por Robert Zemeckis. É uma adaptação da história de mesmo nome de Charles Dickens e estrelado por Jim Carrey em uma infinidade de papéis, incluindo Ebenezer Scrooge como um homem jovem, de meia-idade e idoso, e os três espíritos que assombram e esclarecem Scrooge.
  • Chico Xavier (2010), filme brasileiro protagonizado por Nelson Xavier e Ângelo Antônio. Narra a biografia do mais famoso e aclamado médium brasileiro, Francisco Cândido Xavier, tendo alcançado a marca de 3,5 milhões de espectadores nos cinemas em 2010.
  • Nosso lar (2010), filme brasileiro dirigido por Wagner de Assis, com base no livro homônimo psicografado por Francisco Cândido Xavier, retrata a vida após a morte na colônia espiritual Nosso Lar. Foi distribuído pela 20th Century Fox e tem a trilha sonora composta por Philip Glass. Em 2010 o filme alcançou a marca de mais de 4 milhões de espectadores nos cinemas.
  • As Cartas Psicografadas por Chico Xavier (2010), documentário brasileiro dirigido por Cristiana Grumbach mostrando o testemunho de famílias que receberam notícias de seus entes queridos falecidos por meio de cartas psicografadas por Francisco Cândido Xavier. Foi selecionado para participar da mostra competitiva do 3º Festival Paulínia de Cinema, para o 38º Festival de Cinema de Gramado e para a 5ª Mostra de Cinema de Ouro Preto.
  • As Mães de Chico Xavier (2011), filme brasileiro dirigido por Glauber Filho e Halder Gomes, com roteiro dos mesmos diretores baseado no livro “Por Trás do Véu de Ísis”, de Marcel Souto Maior. Narra a história de três mães que, após perderem os filhos, recorrem a Francisco Cândido Xavier na esperança de receberem mensagens do plano espiritual.
  • Hereafter (2011), filme dirigido por Clint Eastwood, mostra o ator Matt Damon no papel de um médium que conversa com espíritos e a atriz Cécile de France como uma jornalista que passa por uma experiência de quase-morte no tsunami de 2004.
  • E a Vida Continua… (filme) (2012), filme brasileiro dirigido por Paulo Figueiredo, com base na obra homônima (E a Vida Continua…), psicografada por Francisco Cândido Xavier. Narra a trajetória do casal Ernesto e Evelina após a morte.

Televisão

  • Medium (2005), série de televisão produzida pela NBC em que a personagem principal, uma médium, auxilia o Promotor Público a resolver crimes. A série é baseada na vida da médium norte-americana Allison DuBois, nomeadamente em sua obra “Don’t Kiss Them Good-Bye“.
  • Ghost Whisperer (2005), série de televisão produzida pela CBS, em que a personagem principal, uma médium, auxilia espíritos com “assuntos inacabados” a “fazer a travessia” para a “luz”. A série é baseada nas atividades do médium norte-americano James van Praagh, um dos seus produtores.
  • Crossing Over with John Edward (1999-2004), programa de televisão produzido pelo SyFy nos Estados Unidos e pela LIVINGtv na Grã-Bretanha com o médium estadunidense John Edward.
  • Depois da Vida (2010), programa de televisão produzido pela TVI (Portugal) e pela Telecinco (Espanha) com a médium britânica Anne Germain, membro da “Spiritual Workers Assotiation”. O formato do programa é o de “talk-show“, com uma apresentadora, a médium, personalidades convidadas e uma pequena plateia. Na primeira parte a médium descreve os espíritos familiares e suas mensagens à personalidade convidada para, num segundo momento, fazê-lo com pessoas na plateia. No encerramento a apresentadora regista o agradecimento e palavras finais da médium, assim como os comentários do convidado e dos elementos da plateia. A temporada de 2012 do programa apresenta novo formato, com as médiuns Janet Parker(em contato com o público) e Su Downs (desenhado o rosto de quem faleceu e deseja contato com o público).
  • Segundo o site americano “Deadline”, o filme Ghost – Do Outro Lado da Vida, de 1990, será uma série de TV. A adaptação será feita pelo roteirista Akiva Goldsman (vencedor do Oscar por Uma Mente Brilhante) e pelo produtor-executivo Jeff Pinkner, que trabalhou nas séries Alias, Lost e Fringe. Será o primeiro projeto do departamento de televisão dos estúdios Paramount, recentemente reativado.

Telenovelas

No Brasil, diversas telenovelas apresentaram conceitos espiritualistas, semelhantes aos que são contidos no espiritismo:

  • “A Viagem” (1975), produzida pela extinta TV Tupi, desenvolveu uma trama complexa abordando os conceitos de mediunidade, morte, obsessão espiritual, reencarnação, e outros. Conheceu um “remake” pela TV Globo em 1994 (ver A Viagem (1994).
  • “O Profeta” (1977), produzida pela extinta TV Tupi, e que também conheceu “remake” pela TV Globo (ver O Profeta (2006)), mostra o personagem principal como um médium, capaz inclusive de predizer o futuro.
  • “Terra Nostra” (1999) incluiu uma subtrama acerca de um jovem obsidiado pelo espírito do jovem amante da sua mãe que havia sido morto por seu avô.
  • “Alma Gêmea” (2005), produzida pela TV Globo, narra a história de uma mulher que morre e renasce para reencontrar a sua alma gémea.
  • “Duas Caras” (2007), produzida pela TV Globo, incluiu um personagem chamado Ezekiel, que era anti-cristão graças a manifestações de sua mediunidade.
  • “Escrito nas Estrelas” (2010), apresenta muitos temas espíritas, tais como a reencarnação, a evolução dos espíritos e a mediunidade.
  • “Amor Eterno Amor” (2012), apresenta forte presença do espiritismo kardecista, com inúmeras cenas retratando práticas mediúnicas.

Fonte: Wikipédia

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