Psicodélica

Psicoterapia psicodélica refere-se à prática de psicoterapia envolvendo o uso de substancias psicoativas específicas conhecidas como “psicodélicas”, “alucinógenos” ou “enteógenos”. Tais nomes são construídos funcionalmente, por propriedades específicas e contexto de uso do grupo drogas classificadas farmacologicamente como psicodislépticos, particularmente com ação serotoninérgica, tais como: LSD, psilocibina e DMT. O uso do termo psicodélico enfatiza a possibilidade que essas substancias proporcionam para facilitar a exploração da psique, que é fundamental para a maioria dos métodos de psicoterapia.

Assoc. Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos

Secretaria Nacional Antidrogas

Uma revisão dos artigos e livros sobre esse tema tranquilamente enfrentará a tarefa de classificar alguns milhares artigos, capítulos de livros e livros já escritos de meados do início do século XX até hoje. Segundo Fontana (1969) , que procedeu uma revisão de pelo menos duas centenas de artigos tomados como referência de suas publicações, essas substâncias devem ser consideradas como auxiliares da psicoterapia no sentido de aumentar o insight e favorecer a conexão e não como um uso per se, que pode remover ansiedades latentes que deveriam ser elaboradas no processo psicoterápico. Assinala a indicação para a maioria dos pacientes neuróticos e chama atenção do risco de surto psicótico em pacientes susceptíveis.

Peiote

História

Psicoterapia psicodélica, no mais amplo senso, confunde-se com o estudo e utilização de técnicas de meditação e êxtase religioso pela psicologia que é provavelmente tão antigo quanto o conhecimento humano sobre plantas alucinógenas. Embora predominantemente visto como espiritual por natureza, elementos da prática psicoterapêutica podem ser reconhecidos nos rituais enteogênicos que integram as práticas médicas de muitas culturas. Notavelmente em algumas regiões da América Central (integrantes das culturas Maia e Asteca) e América do Sul (Incas e alguns povos da Amazônia e Nordeste do Brasil) reúnem a maioria das substancias conhecidas como alucinógenos e Enteógenos.

Alguns estudos precursores poderiam ser citados entre estes o estudo sistemático do Peiote o cacto Anhalonium lewinii em 1886 utilizado pelos índios do México e Sudoeste dos Estados Unidos (atualmente integrantes da Native American Church) pelo farmacologiasta Ludwig Lewin que dele isolou a Mescalina a partir do que se iniciaram estudos realizados por psicólogos famosos como Havelock Ellis, Jaensch e Weir Mitchell (Huxley, 1953/ 1965) e os estudos e experiência de Richard Spruce (1817-1893) e Alfred Russel Wallace (1823-1913) com a Aya-huascana Amazônia na segunda metade do séc. XIX.

O uso de agentes psicodélicos na psicoterapia ocidental se iniciou na década de 1950, depois da distribuição de LSD para pesquisadores, feita por seu fabricante, Sandoz Laboratories. Pesquisas extensivas quanto ao uso experimental, quimioterapêutico e psicoterapêutico de drogas psicodélicas em todo o mundo por 15 anos após sua descoberta. Muitos estudos descobriram que o uso das drogas psicodélicas facilitaram em muito os processos psicoterapêuticos, e provaram particular utilidade para pacientes com problemas que de outra forma seriam de difícil tratamento, incluindo sobretudo alcoólicos, viciados em drogas, pacientes terminais além de autistas, alguns tipos de enxaqueca (cefaleia em salvas) com esperanças de capacidade nas grandes patologias mentais tipo esquizofrenia, delinquência, ampliando a capacidade de reestruturação da personalidade de modo comparável à “lavagem cerebral” e conversão religiosa.

Outra forma de traçar a história dessa prática é associar sua origem ao desenvolvimento da “narcoanálise” ou utilização do soro da verdade na prática jurídica. Atribui-se a origem da narcoanálise à descoberta de Arthur S. Lovenharth, 1916, e colaboradores na Universidade de Wisconsin, experimentando estimulantes respiratórios em pacientes esquizofrênicos catatônicos reafirmadas em estudos independentes de Erich Lindemann e Lawrence Z. Freedmann que mostravam a seletividade da ação psicotrópica e o “relaxamento verbal” dos estado de “sono crepuscular” induzido. Quanto a utilização jurídica atribui-se a utilização da escopolamina ao médico Robert House em voluntários na cadeia do condado de Dallas, Texas em 1922 (Freedman o.c.) e à Stephen Horsley, nos anos 30, que inclusive propôs o termo narco-análise para designar a ação de todos os produtos farmacêuticos incluídos no grupo dos narcóticos (amitalsódio, pentotalsódio, escopolamina etc.) com o objetivo de vencer a resistência dos indivíduos, levando-os a revelar a verdade.

Entre os marcos históricos da sua utilização estão as contribuições de:

Lauretta Bender (1897-1987) uma neuropsiquiatra pediátrica, consultora do Child Psychiatry, New York State Department of Mental Hygiene, Creedmoor State Hospital, Queens Village que pesquisou sobre a utilização do LSD-25 para tratamento esquizofrenia e autismo infantil em 1959.
Humphry Osmond (1917 – 2004) conhecido por sua relação de amizade com Aldous Huxley (1894 — 1963), e proposição do termo psicodélico em 1957, talvez relacionando a utilização do LSD como soro da verdade, mas ampliando suas pesquisas para tratamento da esquizofrenia. Teve experiência com a “Native American Churh” e foi o diretor do Bureau of Research in Neurology and Psychiatry at the New Jersey Psychiatric Institute in Princeton e professor de psicologia na Universidade de Alabama e Birmingham.
Timothy Leary (1920 – 1996), que trabalhou com os psicanalistas Harry Stack Sullivan (1892 – 1949), e Karen Horney (1885 – 1952) publicando nesse linha o livro “The Interpersonal Diagnosis of Personality”, 1957 (O diagnóstico interpessoal da personalidade) e principalmente no Harvard Psilocybin Project juntamente com Richard Alpert (Ram Dass – 1931) e e o psicólogo Ralph Metzner (1936) antes de voltar do México e fundar a League for Spiritual Discovery e ser expulso de Harvad por insistir no uso do, então proibido (6 de outubro de 1966) LSD.

Em meados da década de 1960, em resposta a interesses ainda não esclarecidos associados a fracasso do uso militar do LSD e/ou em relação a proliferação do uso desautorizado das drogas psicodélicas pelo público em geral (especialmente a contracultura), vários passos foram dados para cortar seu uso. Cedendo à pressão do governo, em 1965 a Sandoz suspendeu a produção de LSD, e em muitos países este foi banido, ou disponibilizado tão limitadamente que tornou difícil a sua pesquisa. Em 1980 a pesquisa autorizada em aplicações psicoterapêuticas de drogas psicodélicas tinham sido essencialmente descontinuadas ao redor do mundo.

Uso terapêutico

Uma das intrigantes formas de uso de vegetais que contém substâncias alucinógenas é o caso da Ipomoea purpurea ou I. violácea conhecida como Glória da Manhã (Morning Glory) que para alguns autores corresponde ao ololiuhqui que contém substancia semelhantes ao ácido lisérgico e faz parte do sistema etnomédico nahuattl dos astecas/toltecas, com a qual se prepara uma essência floral diluída centenas ou milhares de vezes assim como os medicamentos homeopáticos. Observe-se que o seu elemento ativo básico é o LSA – Amida do Ácido Lisérgico (Lysergic Acid Amides) e não a Dietilamida do Ácido Lisérgico (lysergic acid diethylamide) ou LSD, ignora-se entretanto a possibilidade de ocorrer espontaneamente uma biotransformação e/ou os efeitos enteogênicos específicos da Ergina (LSA).

Como essência floral a Ipomeia é comercializada em vários sistemas, como no Sistema Floral de Minas, com o nome de Ipomea, no Sistema Floral do Nordeste com o nome de Água Azul, no Sistema Florais da Califórnia com o nome de Morning Glory a sua indicação é a recuperação dos usuários de drogas e de todos aqueles que possuem estilos de vida desregrados.

As diferenças entre as distintas substâncias enteógenas ou mesmo sua presença em doses homeopáticas (independente dos questionamentos da sua presença material ou efeito placebo) reforçam a ideia que o efeito da substância e de sua função terapêutica têm que ser compreendidos na perspectiva de um conjunto (set) de expectativas e vivências simbólicas para o que o terapeuta precisa estar preparado para conduzir, pois não é apenas administrar a indicação e o risco de ingestão de um medicamento.

A formação de terapeutas com tal especialização no momento no Brasil, nos Estados Unidos da América do Norte, em alguns países da América do Sul e em muitos países ainda é apenas uma possibilidade teórica, pois a utilização de tais substâncias apenas é permitida no contexto de uso tradicional delimitada por teorias, ainda dispares entre si, advindas da psiquiatria, psicologia das religiões, antropologia da saúde e religião e controlada no Brasil pelo CONAD – Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas e nos EUA o é FDA – Food and Drug Administration e o DEA – Drug Enforcement Administration.

Perspectivas teóricas

Apesar de não legalmente instituída pelos órgãos de regulação e controle profissional do Brasil, no plano teórico já existem como referidas pesquisas de resultados terapêuticos de seu emprego na medicina tradicional e/ou segurança quanto a ser inofensivo à saúde o consumo dentro das práticas tradicionais. Contudo no plano teórico ainda não se formou um consenso quanto à forma do método terapêutico ou linha teórica de atuação. Sem dúvida esse conflito reflete a própria dificuldade de conceituação e intervenção das teorias e técnicas psicoterápicas.

Diversos protocolos de pesquisa vêm sendo desenvolvidos a exemplo Psicoterapia com LSD (LSD – assisted psychotherapy) em pessoas sofrendo de ansiedade associado à estágio avançados de doenças terminais tal como o Psilocybin Cancer project do Departamento de Psiquiatria e Ciências do Comportamento da Johns Hopkins School of Medicine, ou proposições de intervenção que vem sendo desenvolvidas em centros para tratamento e recuperação de drogadicção a exemplo do Takiwasi Centre.

Já existem institutos que acompanham apoiam e desenvolvem pesquisas como o MAPS que é uma associação multidisciplinar para o estudo de substâncias psicodélicas e utilização medicinal da Cannabis sativa que tem como objeto de pesquisa o stress pós – traumático, drogadicção; Sociedades médicas como a SÄPT – Sociedade suíça de médicos para terapia psicodélica criada por Peter Baumann e no Brasil o NEIP – Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre Psicoativos, entre outras associações.

Considerando então esse conjunto de pesquisas das áreas médicas e sociais o que se pode antever como proposição psicoterápica são a combinação das técnicas que possuem evidências clínicas no tratamento nos transtornos mentais já referidos a exemplo do emprego psicologia analítica jungniana com pacientes terminais, as proposições da psicologia transpessoal principalmente porque inclui pesquisadores de substancia psicodélicas como Stanislav Grof ou associadas à outras formas de intervenção como o treinamento autógeno terapia cognitivo comportamental no controle da drogadicção e outros agravos, naturalmente além das intervenções que já se realizam a partir da psicofarmacologia e terapias com essências florais como no caso da Ipomoea purpurea.

Em recente publicação pesquisadores departamentos de psiquiatria e neurociências da Johns Hopkins e da Divisão de Psiquiatria Infantil e Adolescente no Harbor-Ucla Medical Center chegaram a conclusão que em horas, substâncias psicoativas são capazes de induzir realinhamentos psicológicos profundos que exigiriam décadas para serem alcançados no divã. (Griffiths; Grob, 2011). Entre outras fontes fundamentaram-se em resultados de pesquisas realizadas na Johns Hopkins usando questionários originalmente desenvolvidos para avaliar experiências místicas que ocorriam sem drogas. Analisando também os estados psicológicos gerais dos participantes entre dois e 14 meses após a sessão com psilocibina. Os dados mostraram que os participantes experimentaram um aumento na autoconfiança, maior sensação de contentamento interior, melhor capacidade de tolerar frustrações, diminuição do nervosismo e aumento no bem-estar geral.

Numa lista provisória de pesquisadores com contribuições relevantes inclui-se:

  • Gordon Wasson
  • Rick Strassman
  • Jonathan Ott
  • Luis Eduardo Luna
  • Peter Baumann
  • Betty Eisner
  • Ralph Metzner
  • Albert Hofmann
  • Rick Doblin
  • Samuel Widmer
  • Humphry Osmond
  • Ronald A. Sandison
  • Stanislav Grof
  • Alberto E. Fontana

Contudo não se pode ignorar as contribuições dos principais centros urbanos de utilização da hoasca: o Santo Daime a União do Vegetal e a Igreja Nativa Americana que em função de sua legitimação social e convívio com pesquisadores vêm produzido uma nova interface entre a ciência terapêutica e a religião.

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experiência psicodélica é caracterizada pela percepção de aspectos mentais originalmente desconhecidos por parte do indivíduo em questão. Os estados psicodélicos fazem parte do espectro de experiências induzidas por substâncias psicodélicas. Neste mesmo campo de estados, encontram-se as alucinações, distorções de percepção sensorial, sinestesia, estados alterados de consciência e, ocasionalmente, estados semelhantes à psicose e ao êxtase religioso.

Nem todos que experimentam drogas psicodélicas (como o LSD e psilocibina) têm uma experiência psicodélica. Além disso, muitos alcançam estados alterados de consciência através de outros meios, como pela meditação, yoga, privação sensorial, etc.

Níveis da experiência psicodélica

O Psychedelic Experience FAQ (em inglês) descreve cinco níveis da experiência. Deve-se ressaltar que apresentar uma definição dos níveis e intensidade de uma experiência psicodélica é atividade demasiada subjetiva, sendo os dados resultantes não passíveis de confiança plena.

  • Nível Primário:
Aumento das capacidades sensitivas (principalmente visuais), tornando as cores mais “brilhantes”. Ligeiras anomalias na memória de curto prazo. Mudanças na comunicação entre ambos os lados do cérebro, tornando a música mais expressiva.
  • Nível Secundário:
Cores realçadas, ligeiras alucinações visuais (ex. objetos se movimentam), desenhos parecem adquirir terceira dimensão. Pensamentos confusos; considerável aumento das capacidades criativas.
  • Nível Terciário:
Alucinações visuais claras, tudo parece curvado ou alterado em outros aspectos, caleidoscópios ou imagens fractais vistas nas paredes, paisagens, imagens de pessoas, etc. Alucinações com os olhos fechados se tornam tridimensionais. Há alguma confusão entre os sentidos (ex. o indivíduo começa a “ver os sons como cores”). Distorções na percepção temporal e “momentos eternos”. Movimentação corporal se torna extremamente difícil (muito esforço necessário).
  • Nível Quaternário:
Alucinações extremamente fortes (ex. objetos se fundem com outros). Destruição ou divisão múltipla do ego (ex. objetos parecem conversar com o indivíduo, ou este começa a sentir sensações contraditórias simultaneamente). Alguma perda da realidade. O tempo perde seu significado. Experiências extracorporais. Fusão dos sentidos.
  • Nível Quinário:
Total perda de conexão visual com a realidade. Os sentidos deixam de funcionar em seu estado normal. Total perda da noção de ego. Sensação de fusão do indivíduo com o espaço, outros objetos, ou universo. A perda da realidade torna-se tão severa que desafia sua expressão verbal. Os primeiros estágios são relativamente fáceis de se explicar em termos de mudanças mensuráveis de consciência e padrões cognitivos. Este nível é diferente porque o universo no qual as coisas são normalmente percebidas deixa de existir.

 Fonte: Wikipédia

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