A Terapia Comportamental Dialética é uma forma recente de psicoterapia desenvolvida especificamente para o tratamento de Transtornos de Personalidade Limítrofe.
Departamento de Psiquiatria da Unifesp
O nome vem da proposta do Método dialético, que confronta duas ou mais teses (e/ou antíteses) competidoras e busca chegar a uma síntese. Em linhas gerais, a TCD segue essa proposta e busca conciliar e/ou resolver conflitos de forma racional através de sua exposição direta, sem com isso deixar de priorizar a serenidade e qualidade de vida do paciente.
Proposta por Marsha M. Linehan, a TCD tem um componente de psicoterapia individual e outro de terapia em grupo. Seu fundamento teórico vem basicamente do Behaviorismo com elementos do Cognitivismo.
A terapia individual da TCD tende a ser bastante direta e confrontatória, e busca abordar em uma sessão semanal os conteúdos que venham a se apresentar. A prioridade é dada à atenção a comportamentos suicidas e autodestrutivos, e depois a comportamentos que interfiram com a própria terapia. A seguir vêm assuntos ligados à qualidade de vida e à sua melhora.
Durante a terapia individual frequentemente se discute como melhorar as perícias ou habilidades que compõem o modelo da TCD, ou como superar os obstáculos ao seu desenvolvimento.
A terapia de grupo consiste geralmente em uma sessão semanal de duas horas a duas horas e meia, orientada ao desenvolvimento de perícias ou habilidades específicas, organizadas em quatro módulos:
- Perícias básicas de Atenção plena
- Perícias de Regulagem de Emoções
- Perícias de Tolerância à Pressão
- Perícias de Efetividade de Relações Interpessoais
Os Quatro Módulos
Atenção Plena
Considerada a base de sustentação das demais perícias, a atenção plena (ou mente alerta) tem inspiração no budismo (especificamente no Zen), e consiste em uma postura de atenção ampla e tolerante dirigida a todos os fenômenos que se manifestam na mente consciente – ou seja todo tipo de pensamento, fantasias, recordações, sensações e emoções percebidas no campo de atenção são percebidas e aceitas como elas são.
Regulagem de Emoções
Pacientes de Transtornos de Personalidade Limítrofe e suicidas tendem a vivenciar emoções intensas e um tanto oscilantes. Por esse motivo têm muito a se beneficiar do aprender a regular suas emoções e expressá-las nos momentos mais convenientes. Entre as perícias dialéticas voltadas à regulagem de emoções estão inclusas:
- identificar e classificar as emoções
- identificar os obstáculos à mudança das emoções
- reduzir a vulnerabilidade à mente emotiva (emoções descontroladas)
- aumentar e melhorar os eventos emocionais positivos
- tomar consciência das emoções presentes em cada momento
- adotar ações contrárias à tendência emocional indesejada
- aplicar as Técnicas de Tolerância à Pressão (descritas no próximo item)
Tolerância à pressão
Muitas abordagens de saúde mental deixam de abordar a tolerância a pressões externas. Em vez disso, tradicionalmente deixa-se o desenvolvimento dessa capacidade por conta de movimentos religiosos e/ou espirituais. A TCD, porém, lida explicitamente com este componente da saúde mental.
A tolerância à pressão desenvolve-se a partir das perícias de atenção plena e envolve a capacidade de aceitar como são no presente momento tanto a situação externa que se está vivendo quanto a situação interna do próprio paciente, de percebê-la com clareza e tranquilidade sem cair em reações angustiadas ou violentas. Note-se que aceitar a realidade da situação não implica aprová-la ou querer mantê-la como está. A meta não é conformidade, mas serenidade diante do que efetivamente existe.
Os comportamentos de tolerância à pressão envolvem a tolerância e resistência a crises e a aceitação da vida como ela é no momento presente. São ensinadas quatro categorias de estratégias de sobrevivência a crises:
- Distração
- Auto-cuidado
- Melhorar o momento
- Considerar prós e contras
As habilidades de aceitação incluem
- Aceitação Radical
- Condução da mente até a aceitação
- Contraste da vontade receptiva com o desejo impulsivo
Efetividade Interpessoal
As perícias de Efetividade Interpessoal da TCD envolvem o desenvolvimento da Assertividade e de soluções para problemas interpessoais. Incluem a habilidade de se pedir o que se necessita, de dizer “não”, e de se lidar com conflitos interpessoais.
Muitas vezes os pacientes tratados pela TCD tem boa compreensão teórica das perícias interpessoais, mas precisam de treinamento para se acostumar a aplicá-la em sua vida cotidiana.
Neste módulo focalizam-se situações em que se procura causar mudanças (geralmente pedindo que outra pessoa faça algo) e/ou resistir a mudanças propostas pelo meio (“dizendo não”). O objetivo geral é melhorar as chances de que as metas pessoais do paciente sejam atingidas, sem com isso comprometer sua auto-estima ou a qualidade de seus relacionamentos com outras pessoas.
Fonte: Wikipédia